sexta-feira, maio 20, 2022

Cegos sob o Sol

      “E vi outro anjo forte, que descia do céu, vestido de uma nuvem; e por cima da sua cabeça estava o arco celeste, e o seu rosto era como o sol, e os seus pés como colunas de fogo; e tinha na sua mão um livrinho aberto. E pós o seu pé direito sobre o mar, e o esquerdo sobre a terra; e clamou com grande voz, como quando ruge um leão; e, havendo clamado, os sete trovões emitiram as suas vozes. E, quando os sete trovões acabaram de emitir as suas vozes, eu ia escrever; mas ouvi uma voz do céu, que me dizia: Sela o que os sete trovões emitiram, e não o escrevas.Apocalipse 10.1-4

      Se fecharmos os olhos e mirarmos o Sol, ao meio-dia, num céu limpo, sem nuvens, nossas pálpebras ficarão aquecidas e brilhantes, perceberemos uma cor alaranjada, quase vermelha, mas não veremos o Sol. Neste mundo, presos a corpos físicos, é assim nossa experiência com Deus, ainda que nos preparemos moralmente, nos coloquemos racionalmente em sua direção e nos concentremos em ver sua face espiritual, enxergaremos só contornos embasados, nossa carne funcionará como grosso filtro, que nos impedirá de ver o outro mundo. Obviamente estou usando metáforas, comparando coisas espirituais com materiais.
      Existe algo que permeia as reflexões deste blog, principalmente nos últimos tempos, não é experiência exclusiva, mas é algo que tem crescido em minha vida com Deus, ainda que saiba que tenho essa vocação desde criança e que ganhou relevância com minha conversão ao cristianismo na adolescência. É uma experiência sensorial com o Espírito Santo, que conhece a vontade de Deus através dos dons espirituais interagindo com os sentidos físicos, audição, visão, tato. Não se escandalize, isso não é desvio doutrinário nem está fora da Bíblia, é vivência tanto de homens de Deus do antigo testamento quanto do novo. 
      Homens do antigo testamento registraram fortes experiências com Deus, Moisés falava com Deus face a face (Êxodo 33.11), Sansão adquiria força física com a unção do Espírito (Juízes 16.28), Davi era tomado pela glória de Deus de forma poderosa (I Samuel 16.13), Ezequiel foi transportado fisicamente pelo Espírito (Ezequiel 8.3), Daniel viu um ser espiritual fantástico (Daniel 10.5-7). Mas personagens do novo testamento também tiveram íntimas experiências espirituais, Pedro, João e Tiago viram Jesus transfigurado com os espíritos de Moisés e de Elias (Lucas 9.28-36), Paulo foi arrebatado ao “terceiro” céu (II Coríntios 12.1-4).
      A Igreja Católica tratou de podar os galhos que se alcancem ao Sol, queria manter a árvore nanica, dentro de suntuosa catedral, mas sobrevivendo só com os raios, ainda que do astro rei, filtrados por multicoloridos vitrais. O que já era limitado tornou-se mais restrito, os que quisessem aprender sobre Deus que ouvissem os sacerdotes, não a voz viva do Espírito Santo. Essa voz poderia dar lugar a subjetividades e liberdades que tornariam impossível ao homem dominar homens, mesmo usando o nome de Jesus. Mas o nome do Filho tem poder em si mesmo, quem o ouve, esteja onde estiver, pode se achegar ao Pai.
      As trevas podem ser contidas, a luz, não, a mentira tem existência breve, a verdade é perenal, a vaidade brilha por um início de noite, a humildade resplandece dias e dias mesmo com o Sol a pino. Luz, verdade e humildade são simpáticas aos raios mais claros de Deus, o Espírito Santo vive e atrai os homens a Deus, religiões e matéria não podem detê-lo. Aproxima-se o tempo quando, antagonizada pela incredulidade materialista que ela mesma alimentou e pelo diabo e o inferno que ela mesma inventou, a falsa igreja cristã será derribada, cairá como caem os impérios autoritários no mundo, babilônias que tentam tocar o céu.
      Os limites para interagirmos de forma mais plena com Deus, não nos são impostos pelo pai como punição ou por algum capricho seu, eles nos protegem e nos incentivam para que cresçamos. Por desígnios que só Deus sabe importa-nos viver por algum tempo num mundo material, mas com um desejo intrínseco do mundo espiritual, e ainda que não possamos sequer provar fisicamente que o plano espiritual existe, sabemos que dele viemos e para ele voltaremos. Pela fé quase vemos a Deus, mas não conseguimos segurar essa experiência, por mais que ela nos impressione, logo dela nos esquecemos, e seguimos assim. 
      Fitarmos o Sol, mesmo com os olhos fechados, se ficarmos demais nessa posição poderemos até ter a visão prejudicada quando abrirmos os olhos e tentarmos ver a terra. No mundo a experiência espiritual deve ser temporária, temos que estar lúcidos para administrar a sobrevivência do corpo físico. Contudo, como é prazeroso mirar o Sol, sentir seu calor nas pálpebras, ver que seja só um esboço da realidade, porque a vida material no mundo é que é a ilusão. A existência na Terra é só o sonho de uma noite curta, do qual nossos espíritos anseiam por acordar, para despertarem por Jesus, no dia eterno de paz e do amor do Altíssimo.

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