07/09/22

Quando Deus usa o errado (38/92)

Introdução

      “Quem é aquele que diz, e assim acontece, quando o Senhor o não mande? Porventura da boca do Altíssimo não sai tanto o mal como o bem?Lamentações 3.37-38

      Muitos aliam o bem a Deus e o mal ao diabo, assim criam um embate maniqueísta que na verdade não existe. Deus administra tudo, ainda que para alguns trabalhos use seres espirituais de luz e homens de bem, e para outros use seres espirituais das trevas e homens estúpidos e sem sabedoria. ”Diabo” não é um poder equivalente a Deus só que do outro lado, é apenas uma criatura não querendo fazer o bem, ainda que só aja com autorização do Senhor. 
      Esta reflexão pode receber vários nomes, um deles é uma afirmação, “A coisa não é tão simples assim”, outro nome é “Palavras imediatas, palavras eternas”, visto que palavras proféticas diferentes podem ser entregues pelo Espírito Santo, sejam para resolver questões imediatas, sejam para questões mais duradouras. O texto a seguir cita dois governantes, o persa Ciro, que libertou Israel do cativeiro babilônico, e Saul, primeiro monarca de Israel.
      Nenhum desses homens foram, como pessoas, exemplos de homem de Deus, mas ambos foram usados por Deus para esse cumprir seus propósitos. Podemos encontrar nessas crônicas israelitas antigas similaridades com a história política recente do Brasil? Talvez. Mas com certeza eu achei uma lição importante no posicionamento do profeta Samuel e na maneira como Deus age no mundo, usando o bem e o mal para conduzir a humanidade. 

1. A coisa não é tão simples assim

      “Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que tu não me conheças; para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.Isaías 45.5-7

      Assisti um vídeo que me deixou estarrecido, políticos e apoiadores importantes do governo do presidente do Brasil entre 2019 e 2022, comemorando em 2021 a aprovação de um evangélico ao S.T.F. (refletimos sobre isso nas duas postagens anteriores). O que me estarreceu foi uma mulher, importante nesse contexto, se levantar louvando a Deus e falando em línguas espirituais estranhas, visto o êxtase que ela sentia pelo ocorrido. Podemos analisar esse evento, que na minha opinião é mais importante que muitos cristãos acham que é, sob vários aspectos, mas o mais importante é entendermos que as coisas não são tão simples assim como avaliações rasas e tendenciosas podem achar que são, a vida nunca é simples. 
      A primeira coisa que preciso dizer é que sou cristão que acredita em dons espirituais para os dias de hoje, ainda que reconheça que eles sejam usados muitas vezes com boa intenção, mas de maneira infantil, e às vezes até encenados e forçados com más intenções. Mas a existência do falso não inviabiliza o verdadeiro, e mais, acredito que experiências com os dons espirituais descritos no novo testamento sejam caminho imprescindível para a espiritualidade mais elevada, que pode dar acesso a muitos mistérios da existência humana no universo. Exatamente por levar esse assunto tão a sério é que tenho dificuldade para aceitar que sua manifestação possa ocorrer em vidas em pecado ou equivocadas de alguma maneira. 
      Quem acompanha este espaço sabe do posicionamento deste que vos escreve sobre cristãos apoiando extrema direita política, principalmente um presidente negacionista da ciência e a favor de legalização mais ampla de armas, dentre outras coisas, assim, não considero que cristãos lúcidos estavam naquele grupo que vi no vídeo comemorando a aprovação do evangélico ao S.T.F.. Isso é o que eu penso, mas o que Deus pensa? Deus ama igualmente a todos e dá do seu Espírito a todos que buscam, assim, julgar que algo não é de Deus por ocorrer numa pessoa que em minha opinião não age corretamente em alguns assuntos não é sábio. Se fosse assim Deus não teria usado o catolicismo por séculos para abençoar a humanidade. 
      “Te cingirei ainda que tu não me conheças”, diz o texto de Isaías 45.5-7, tomo para mim essa palavra, eu não conheço a Deus como acho. “Faço a paz e crio o mal, eu, o Senhor, faço todas estas coisas”, o que dizer de uma declaração assim? Deus faz tudo, até usa o malvado para cumprir um propósito benigno neste mundo, e o contexto histórico desse texto se refere exatamente a isso, o rei persa Ciro, seguidor de outros “deuses”, sendo usado para livrar Israel, povo do Deus mais alto, de Nabucodonosor. A verdade é que não sabemos e não entendemos os caminhos do Senhor, eles muitas vezes são complicados, não por causa de Deus, esse é essencialmente reto, mas por causa dos homens e seus sistemas num mundo em confusão.
      Se Deus usou Ciro em seus propósitos, por que não pode usar um político de extrema direita? Isso é possível, apesar de muitos acharem que não é, dentre esses uns que idolatram outro mito, e na opinião desses, um mártire que foi preso injustamente como resultado de um golpe arquitetado por juízes do Paraná na operação Lava-a-jato. Como seres humanos, que buscam a luz mais alta de Deus, não podemos nos deixar ser enganados nem por um, nem por outro, ainda que um deles tenha apoio de lideranças cristãs, contudo, temos que aceitar que Deus usa quem quer. Nossos sentidos presos à matéria, ao tempo e ao espaço, não fazem ideia do que algo pode desencadear, do que deve ocorrer para que o fim melhor ocorra. 

2. Palavras imediatas, palavras eternas

      “Então todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, e disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações. Porém esta palavra pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos julgue. E Samuel orou ao Senhor. E disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles.”  I Samuel 8.4-8

      Palavras imediatas e palavras eternas, o Espírito de Deus nos dá esses dois tipos de palavras, ambas verdadeiras, ambas acontecerão de um jeito ou outro. As imediatas refletem a misericórdia do Senhor, que precisa ajudar alguém em curto prazo, de qualquer jeito, principalmente se esse alguém, ainda que equivocado em muitas questões, o buscou com sinceridade. Eu vejo um cristianismo evangélico equivocado no Brasil, mas ainda assim sincero, que pai não se toca com um filho, que ainda que teimoso para cumprir sua vocação maior, procura sua ajuda aos prantos? Eu não sou Deus, mas sou pai, e como pai posso entender, pelo menos um pouco, a misericórdia do Senhor com o Brasil, ninguém duvide dela. 
      Os que não temem a Deus não podem entender a Deus, e muitos que se dizem cristãos agem assim, julgam e condenam muitos cristãos, mas não percebem a extensão da misericórdia do Senhor. Sim, penso que um momento espiritualmente tão íntimo como o registrado no vídeo que citei inicialmente, não deveria vir a público. Teve um propósito político para os que aparecem, agradando um eleitorado que acha o que é mostrado relevante, mas quando conveniência humana usa o nome de Deus comete sério pecado, em minha opinião, advertido nos mandamentos de Moisés (Êxodo 20.7). Exibir publicamente, algo que creio ser tão especial, vulgariza o dom do Espírito Santo, mas Deus tem paciência com isso, mais que eu tenho.
      Existe, contudo, uma palavra eterna de Deus que deve ser entregue, de um jeito ou de outro, essa é a que este espaço procura entregar, não com arrogância, mas como missão. Essa palavra revela uma vontade de Deus que vai além do momento atual do Brasil, e que conduz o homem a uma espiritualidade muito mais alta, que o cristianismo do mundo, que as igrejas protestantes e evangélicas, que o catolicismo e outras religiões, podem entender neste início do século XXI no planeta Terra. Nessa vontade mais alta, estupidez e infantilidade em nome do evangelho não cabem, mesmo com intenção sincera, e eu penso que o momento para que Deus cobre essa vontade mais alta já está chegando, ao Brasil e à toda a humanidade. 
      Quando Israel pediu um rei (I Samuel 8.4-8), Deus disse que não precisavam de um rei como as outras nações, ele era seu rei. Ainda assim, na insistência, Deus deu um rei conforme o coração de Israel, Saul, uma intenção sincera, mas errada, alcançou um objetivo vão que deu no que deu. Então, Deus levantou Davi, você acha que Davi era a vontade eterna de Deus para Israel? Também não era, mas era o melhor que Deus podia fazer com a realidade, e de fato Davi era um homem com um coração especial, que realizou grandes coisas, ainda que tenha cometido sérios pecados (II Samuel 11-12). A vontade maior do Senhor para Israel e para toda a humanidade sempre foi Jesus, um rei espiritual que conduz a um reino espiritual. 
      Você acha que durante o reinado de Saul, Israel não cultuava a Deus? Não oferecia sacrifícios, não adorava ao Senhor, não era cuidado pelo Altíssimo? Claro que tudo isso acontecia, e a religiosidade de Israel era sincera, assim como autêntica a atuação de Deus em suas vidas. O que um homem como o profeta Samuel devia pensar quando via tudo isso? Agia com temor a Deus, sabia que aquilo não era o melhor para Israel, mas que ele devia respeitar a escolha do povo e a vontade do Senhor, que tinha dado ao povo aquilo que o povo desejou. Situação semelhante ocorre com muitos cristãos com o governante eleito em 2018 no Brasil, nunca foi e nunca será o melhor, mas foi o que muitos quiseram, que “Samuel” respeite isso. 

Conclusão

      “Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.” Mateus 16.27
 
      Este texto representa algo muito especial para mim, uma palavra do Espírito Santo que mudou meu posicionamento diante de posicionamentos que muitos protestantes e evangélicos têm tomado diante da política, principalmente nos últimos quatro anos. Uma parte desses cristãos apoia envolvimento cristão com política no Brasil há algum tempo, pentecostais fazem isso há décadas, colocando membros de suas igrejas nas várias esferas da administração pública, mas o que temos visto, depois que o governante de extrema direita venceu a eleição de 2018, é mais significativo.
      Eu estou entendendo em Deus que não posso julgar, ainda que tenha entendimento de Deus que a igreja cristã precisa sair da infância e que o mais correto seria nenhum envolvimento de pessoas realmente espirituais com as coisas deste mundo, a não ser no mínimo exigido pela lei ao cidadão (Lucas 20.25). Contudo, aprendi muito com o procedimento do profeta Samuel, ele não abriu mão de sua chamada, da iluminação que tinha recebido, mas ainda assim respeitou as escolhas do povo de Israel, e principalmente, acatou o respeito de Deus diante das escolhas não tão adequadas do povo. 
      Assim, de fato, a coisa não é tão simples assim, aquele que quer viver com lucidez deve ter paciência, não se vender a lados, ainda que possa ser julgado como “isentão” ou “em cima do muro”, mas vigiar em Deus, esperando novos céus e nova Terra onde haverá justiça. Deus por sua vez abençoa mesmo o imperfeito, dá do seu Espírito mesmo ao infantil, ouve as orações mesmo do que pede algo que a longo prazo não será o melhor para ele, mas quem não é imperfeito, infantil ou que não pede insistentemente algo que poderá lhe prejudicar depois? A eternidade revelará a verdade.
      O título desta reflexão é “Quando Deus usa o errado”, mas muitos poderão dizer, “Deus usou para que esse governante de extrema direita, ele fez tudo errado?”, também tenho essa opinião, mas esse era o “Saul” que o povo cristão pediu, o “Ciro” que o povo cristão precisava no seu ponto de vista. Mas eu creio que Deus usou, sim, para mostrar que aquilo que o homem acha ser bom, mesmo bem intencionado, pode não ser. Muitos cristãos entendem isso hoje, após quatro anos? Não, na verdade muitos acham que o tal presidente fez tudo certo. Mas de novo digo, a eternidade os fará entender. 

      “Respondeu Jesus, e disse-lhe: O que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois.João 13.7

José Osório de Souza, 13/12/2021

06/09/22

Política não precisa do cristão (37/92)

      “Porque tu és grande e fazes maravilhas; só tu és Deus.” Salmos 86.10

      Desculpem-me evangélicos que creem que podem e devem estabelecer um reino de Deus no Brasil, mas isso não é reino de Deus, além de ser inviável e desnecessário, é o reino de um outro ser, aquele que se opõe ao que representa o Cristo. Pergunto a esses, qual o tamanho do Deus de vocês? Quem acha que um Deus poderoso só se realiza plenamente com hegemonia visível de seu poder no mundo físico quer retrocesso, pensa um Deus pequeno, material, não espiritual, Deus é muito mais que isso. Deus é tão grande que não cabe em trono ou cargo, mas só no coração do humilde, eis o mistério, e isso através de seu Santo Espírito, não por qualquer imposição, mesmo que democrática, e muitos menos militar ou econômica. 
      Muitos evangélicos que acham que cristãos devem ser envolver com política podem contra-argumentar assim à consideração que fiz sobre o tamanho de Deus, “justamente por eu crer num Deus todo-poderoso é que creio que ele pode colocar cristãos em posições altas para comandarem o Brasil”. Novamente peço desculpas a quem pensa assim, mas isso é entender errado o evangelho puro e original de Jesus, principalmente os ensinos do Sermão da Montanha em Mateus 5-7. O ensino de Jesus é justamente o contrário, sua vida prática como homem mostrou isso, vida está na morte, poder está em amar e dar a outra face, coragem é para ser pacificador e humilde, não vitorioso numa guerra física na Terra contra inimigos.
      Aliás, no evangelho não existem inimigos, e eis outro equívoco terrível que cristãos que apoiam a direita política cometem, acham que existem inimigos e se põem a lutar contra quem pensa diferentemente deles, acreditando que Deus os apoia. Não, Deus não está nesta luta, e quem for para ela achando que terá vitória sairá derrotado, talvez assim entendam o que realmente é o evangelho e o que Deus tem para eles, planos de paz, não de guerra. Eu acredito que o mundo chegará num tempo onde a salvação de Jesus será entendida por uma grande maioria, nesse momento fé e ciência não se oporão mais, não haverá diferenças e injustiças, mas será um tempo onde o Espírito Santo liderará os indivíduos, não políticos ou religiões. 
      “Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6.33), usamos tanto esse versículo e ainda assim não o entendemos, não temos que ficar perdendo tempo com ideologias políticas, cumpramos nossas obrigações básicas como cidadãos e nos coloquemos a conhecer e praticar as virtudes morais. Isso é buscar o reino de Deus, não é lutar para que cristãos tenham cargos nos poderes da república, e me refiro mais ao judiciário, onde é preciso ao menos alguma competência e experiência profissionais. Mas no que envolve articulações políticas, fiquemos fora, é coisa deste mundo, usando armas deste mundo para beneficiar a poderes deste mundo, isso não nos diz respeito. 
      “Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos” (Mateus 21.43), se de Israel, a nação escolhida a princípio para testemunhar Deus no mundo, foram retirados privilégios, que diria de nós? Deus não procura cristãos em cargos políticos, não é glorificado com governos deste mundo identificados como cristãos, se fosse assim haveria só duas posições religiosas no mundo, cristãos e ateus. Mas não é assim, além de cristãos existem muitas outras religiões, muitas outras escolhas para se conhecer o divino, muitas outras experiências, e acreditem, cristãos, muitas são legítimas e entregam paz e significado a muitas vidas, permitem frutos do bem que permanecem. 
      “E esta palavra: ainda uma vez, mostra a mudança das coisas móveis, como coisas feitas, para que as imóveis permaneçam; por isso, tendo recebido um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e piedade; porque o nosso Deus é um fogo consumidor” (Hebreus 12.27-29). O reino que não pode ser abalado não é o que depende de votos, de revolução, de golpe ou de guerra, é o espiritual, inabalável e eterno, existia no tempo de Israel do antigo testamento, nos primeiros séculos com a igreja primitiva na Terra, e depois, com a igreja católica e a reforma protestante neste mundo. Deus nunca precisou ser visto e reconhecido aqui para ter um reino lá.
      Se querem saber, está tudo na Bíblia, entenderá quem interpretá-la com oração e liberdade no Espírito, indo além de tradições, preconceitos e vaidades, discernindo contextos culturais e históricos pertinentes a todos os seus escritores, incluindo Daniel, os evangelistas registrando as palavras de Cristo, Paulo e João, codificador de Apocalipse. Um erro que muitos cometem é a pressa, achar que o tempo atual é especial quando não é, ainda que as coisas estejam acontecendo mais depressa. Muitas pestes, fomes, eventos violentos da natureza e guerras, acontecem como sempre aconteceram e sempre acontecerão. Ainda há muito para ocorrer, mas o final não é de derrota, é de vitória e para todos, no final a luz mais alta triunfará. 
      Na verdade a humanidade vive, sim, um momento especial, mas esse representa justamente relevâncias, que a extrema direita do Brasil, que muitos cristãos apoiam, diz não serem coisas importantes. São causas que justamente a esquerda tomou como agenda, quando homens se calam as pedras falam, direitos das minorias, cuidado com conservação de rios, mares, terras, ar, florestas e animais. Vendo a coisa por esse prisma quem está adiantando o fim do mundo não são os não cristãos, mas muitos que se autodenominam cristãos. Se o juízo moral ocorrerá na eternidade, o juízo material ocorre neste mundo, cobrando da humanidade seu desrespeito pelo planeta. Será que muitos evangélicos estão preparados para esse juízo? 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

05/09/22

Deus não precisa da política (36/92)

      “Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça. Por isso, amados, aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz.” II Pedro 3.13-14

      Ouvi de um evangélico as seguintes palavras: “eu sei que o presidente do Brasil, entre 2019 e 2022, não foi o melhor exemplo de cristão, mas com que presidente teríamos um pastor presbiteriano no S.T.F.?”. Em primeiro lugar o S.T.F. é do Brasil, não de uma religião, ele precisa não de sacerdotes, médiuns ou de qualquer outro tipo de religioso ou de ateu, mas de profissionais competentes e experientes que façam cumprir a Constituição Brasileira para todos os brasileiros, esses também, indiferente das religiões ou não que professem. Se não há mais protestantes ou evangélicos no S.T.F. é porque até agora não apareceu nenhum com competência e experiência profissional suficiente para preencher os requisitos necessários. 
      Por outro lado, não podemos garantir que o pastor presbiteriano que foi aceito no S.T.F. em 2021, tenha competência e experiência profissional para tal, já que o que o colocou lá foi uma bancada evangélica politicamente forte que fez as devidas articulações. Assim, eis outro equívoco de evangélicos que comemoram como vitória divina essa nomeação, confiarem e se apoiarem em políticos, que mesmo que sejam honestos cuidam das coisas deste mundo, não do reino de Deus. Mas por que muitos evangélicos, incluindo fortes lideranças, acham tão importante terem representantes de suas igrejas em cargos políticos nacionais? Seria por pensarem que só assim evangélicos têm seus direitos garantidos? 
      Isso não é verdade, todo cidadão brasileiro tem direitos garantidos pela Constituição, então, a resposta só pode ser para estabelecer no Brasil, assim como no que o meio cristão chama de “mundo”, um reino político baseado em princípios cristãos, ou seja, na tradição judaica-cristã. A pergunta final que podemos fazer é: isso é vontade de Deus? Muitos evangélicos vão dizer que é, talvez baseados no ide de Jesus, dizendo que o evangelho será pregado a toda criatura. Mas penso que achar apologia no novo testamento para isso é difícil, a história narrada por ele se encerra com profecias, ditas por Cristo e por João em Apocalipse, que falam que haverá uma grande perseguição aos justos, não um fortalecimento de cristãos.
      Penso que os evangélicos brasileiros, que desejam poder político no Brasil, se baseiam mais no poder que tinha a nação de Israel nos tempos do antigo testamento, assim como na hegemonia protestante que sempre houve nos E.U.A.. Isso explicaria a relevância que o governante do Brasil entre 2019 e 2022 deu ao Israel moderno e ao governante norte-americano Donald Trump. A verdade é que Deus não tem nenhum interesse em que cristãos tenham poder político no mundo, simplesmente porque o reino de Deus não é aqui, é no plano espiritual, isso Jesus deixou bem claro em João 18.36: “meu reino não é deste mundo, se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus”.
      Mas se nem os cristãos primitivos compreenderam, quando formaram uma comunidade no estilo hippie-marxista, como entendemos em Atos 2.42-47, e depois apoiando a criação da Igreja Católica, por que acharmos que evangélicos atuais entendem? Mas o que penso que muitos evangélicos não entendem, e se entendem aí então é que estão mais equivocados que eu penso que estão, é que o que eles querem fazer a Igreja Católica fez por quase 1.700 anos e deu no que deu. Só se for isso que pretendam, como parece que denominações como a I.U.R.D. e a Renascer em Cristo claramente têm tentado fazer no Brasil e fora dele, serem uma nova igreja católica, para depois mandarem na religião, na política, na cultura e na ciência. 
      Se fosse plano de Deus para os dias atuais haver uma ou mais nações escolhidas, como era Israel nos tempos do antigo testamento, ele já teria feito isso, mas Deus não age assim há milênios, não é mais assim que ele trabalha para conduzir o homem à sua luz. Crer que evangélicos devam ter poder político no Brasil hoje é querer a aliança de Moisés e o reino de Davi de volta, mas é pior que isso, é negar a missão de Jesus, é negar uma iluminação superior que Deus permitiu à espiritualidade humana através de Cristo. Muitos evangélicos não aceitam isso porque se desviaram há algum tempo de Deus, são bons religiosos, mas muitos católicos também são, e ainda assim aceitam e respeitam uma igreja poderosa, mas corrompida. 
      Vou dizer algo que muitos poderão discordar: a política não precisa de evangélicos tanto quanto os evangélicos não necessitam de política, mas todos precisam de justiça. Mas se Deus usou a meretriz Raabe para dar continuidade à genealogia de Davi e de Jesus (Mateus 1.5-6 e Hebreus 11.31), se usou um Sansão, cego e humilhado, para destruir filisteus inimigos de Israel (Juízes 16), se usou o monarca Ciro que confiava em “outros” deuses para livrar seu povo do cativeiro babilônico (Esdras 1), Deus não precisa de homens que obedeçam-lhe em tudo, só homens que obedeçam-lhe no lugar e no momento necessário. É assim que Deus age com as nações neste mundo, na política, na economia, nas guerras, independe do livre arbítrio moral. 
      Quanto à escolha individual que cada ser humano faz para se preparar para a eternidade, isso é outro assunto, e para isso pode ser necessário o contrário, que o homem se distancie dos poderes deste mundo, seguindo o exemplo de Jesus. Se Jesus tivesse vindo para estabelecer um reino neste mundo, pouco tempo depois de sua ascensão, descida do Espírito Santo e fundação da igreja, o povo judeu não teria vivido o cerco de Jerusalém no ano de 70 d.C., onde seu Templo foi destruído e suas intenções de se libertar do império romano foram sufocadas. Israel nunca mais teve a glória que teve com Davi e Salomão, e nunca mais terá, depois de Cristo o que Deus faz na sociedade e nos indivíduos são coisas que independem-se.

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

04/09/22

O poder da grana (35/92)

       “Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor! Porque será como a tamargueira no deserto, e não verá quando vem o bem; antes morará nos lugares secos do deserto, na terra salgada e inabitável.” Jeremias 17.5-6

     Não se engane achando que a mídia, jornais, redes de televisão e páginas na internet, dão espaço para afrodescendentes porque reconhecem que a civilização tem uma dívida histórica com esses por causa da escravidão. Os poderosos não desprezam mudanças, as usam a seu favor, assim, ainda que haja noção que a mudança é implacável, não há pureza de intenções. Empresas de comunicações dão lugar de fala em programas, matérias e sites, para quem se torna uma maioria utilizável. 
      Isso significa que um direito é adquirido quando se é maioria? Sim, mas não maioria como ser humano, mas maioria como consumidor, como comprador de fast-food, cervejas, celulares, eletrodomésticos, roupas, carros, escolas, serviços bancários etc. A mídia não é nem de direita, nem de esquerda, nem de centro, ela é pela grana, por indústrias, bancos e outras corporações que vendem produtos e usam o marketing divulgado na mídia para promoverem seus produtos. 
      Quando a agenda afrodescendente era “vendida” (desculpe-me o termo) como minoria ainda que não fosse, a mídia pouco se manifestava a respeito. Acreditem, quando lutas por direitos de afrodescendentes deixarem de ser moda, quando a miscigenação estiver tão generalizada que não se identificará mais branco, negro, amarelo, europeu, africano ou asiático, a mídia mudará o foco, de olho não em direitos humanos iguais, mas em consumidores para os produtos dos que pagam a ela por publicidade.  
      A mídia apoiará os donos da grana e esses apoiarão políticos que lhes deem liberdade para ganharem mais grana, independente de serem políticos de direita, de esquerda ou de centro, ninguém também se engane sobre isso. Em nome disso políticos farão qualquer negócio, mesmo dizerem-se a favor dessa ou daquela ideologia. A mídia, orientada por quem a paga, sabe o que será lançado e dará lucro, assim preparará o consumidor, primeiro cria a necessidade para depois vender a solução. 
      Ingênuo quem se envolve com esse sistema só vendo a ponta do iceberg, mas irresponsável o cristão que se põe como militante de político. Também existem muitos administradores de O.N.G.s (eis nessa sigla um mundo tenebroso que não é bem o que parece ser) que são enganados, assim como existem outros administradores de O.N.G.s que se escondem atrás de bandeiras de direitos humanos para promoverem ou destruírem o que interessa aos donos da grana que os pagam. 
      Não há nenhuma novidade nisso, o mundo sempre funcionou assim, ainda que nos tempos antigos as pessoas ligassem poder a direitos recebidos legitimamente dos deuses. Mas será que o Deus verdadeiro tem interesse em grana e poder neste mundo? Não. Assim é lógico concluir que poder neste mundo, de um jeito ou outro, está ligando a “falsos deuses”, seres espirituais malignos. A prova disso é que poder e grana sempre foram para beneficiar alguns, não a maioria mais necessitada. 
      Quem detém a grana não está interessado em teus direitos, mas em teu dinheiro. Deus está interessado em teus direitos, entende isso quem para de olhar para os homens e olha para ele. “Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja confiança é o Senhor, porque será como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro, e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde, e no ano de sequidão não se afadiga, nem deixa de dar fruto” (Jeremias 17.7-8). 
      Perdoem-me a visão pessimista, ela não significa que não haja evolução moral no planeta. Sim, há, como sempre houve e haverá, mas lentamente, sempre opondo matéria a espírito. As trevas persistirão até que a luz se manifeste totalmente, com o bem vencendo o mal, numa humanidade onde as pessoas não serão percebidas por aparência externa, origem geográfica, nível financeiro ou intelectual, sexualidade e mesmo por religião, mas pelo amor que serve a todos equitativamente.

03/09/22

Não sabemos tudo! (34/92)

      “Porque, assim como desce a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir, e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que come, assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei.” Isaías 55.10-11

      Sei que tua vida deve ser corrida, no mundo atual, no Brasil de hoje, todos temos que trabalhar e muito para termos o mínimo de dignidade em nossas vidas e de nossas famílias. Mas você deve ter um tempo de lazer, talvez para ver um filme, uma série, uma novela, talvez até para ler um livro. Que tipo de livro você lê? Só a Bíblia, livros cristãos, romances, ou então, sites da internet, de fofoca, de política? Talvez o máximo que faça é ver vídeos no Youtube e passar o dedo na tela do celular para se atualizar com as bobagens do dia, bem, todos fazemos isso. Aqui vai uma dica, caso tenha algum tempo livre e já tiver lido a Bíblia, conheça um pouco sobre outras religiões.
      Muitos de nós cristãos, e eu me incluo entre esses, ou pelo menos me incluía, têm impressões fechadas sobre outras religiões, e na maioria das vezes opiniões negativas. Acontece conosco aquilo que se tornou ditado, “não li e não gostei”, assim demonizamos muitas religiões, muitos fundadores de religiões, muitos palestrantes e representantes de religiões não cristãs, sem nunca termos procurado saber mais sobre esses. Se sabemos é geralmente a opinião de um dos lados, de teólogos e estudiosos protestantes, que obviamente vão deslegitimar quem não é evangélico, principalmente se esse acredita em princípios que vão contra a doutrina cristã protestante tradicional. 
      Já tive oportunidade de saber mais sobre a vida de muitos que o catolicismo elegeu como santos, sim, há muitos que o são só baseados em crendices populares, superstições, que a liderança católica deu o título mais para agradar o povo e segurar adeptos que realmente por terem algo especial em suas vidas. Contudo, há outros que foram verdadeiros cristãos, e não me refiro só àqueles citados em textos do novo testamento, apóstolos e discípulos do primeiro século, mas em verdadeiros homens de Deus que viveram depois. Como evangélico ou protestante você vai se surpreender com o testemunho real de muitos chamados santos católicos, será edificado com suas vidas. 
      Isso não significa que evangélicos usarão o nome e a posição espiritual dos chamados santos para pedir algo a Deus (ou diretamente a eles), sei que a doutrina protestante só aceita Jesus como intercessor entre Deus e os homens. O posicionamento católico de permitir que homens mortos específicos sejam intermediários é semelhante ao ensino do espiritismo kardecista, que ensina que espíritos superiores (guias) podem abençoar os homens no plano físico. Há mais em comum entre o catolicismo e o espiritismo que entre o protestantismo e o espiritismo. A teologia dos santos abre várias possibilidades, incluindo o procedimento inverso, onde vivos podem interceder por mortos. 
      Falando em kardecismo, eis uma religião que protestantes e evangélicos se mantêm absolutamente distantes, o fato de crerem que não existe reencarnação, comunicação entre vivos e mortos e que tudo que é escrito em nome de espíritos de falecidos pelos espíritas é só mentira de demônios que enganam os homens, faz com que muitos julguem sem ter nenhum conhecimento. Se você se der ao trabalho de ler, não só Allan Kardec, mas Léon Denis e Chico Xavier, verá em primeiro lugar entendimentos históricos sobre muitas religiões e depois orientações morais, com tal profundidade e lucidez, que terá dificuldades para afirmar que tudo foi inspirado pelo diabo. 
      Mas não são só os livros de outras religiões que contêm sabedoria, e em muitos casos muito mais esclarecida que a que achamos em muitos textos bíblicos. As vidas de escritores como Hippolyte Léon Denizard RivailLéon Denis e Francisco Cândido Xavier podem ensinar muito sobre vocação missionária e prática do bem. Todas elas contêm polêmicas, aliás, como há nas vidas dos personagens bíblicos Moisés, Davi, Pedro e Paulo, dentre outros, e na trajetória do reformador protestante Martinho Lutero. Sobre esse, procure uma biografia dele escrita por protestantes e outra escrita por católicos, em ambas achará enganos, então tire a média e se aproximará da verdade. 
      Só na vida de Jesus não há polêmicas, mas havemos de concordar que pouco sabemos sobre ele, e historicamente no que sabemos pela Bíblia também há divergências. Contudo, a fatos históricos resistiu de Cristo seus ensinos únicos (fundamentados no Sermão da MontanhaMateus 5-7) e sua morte sacrificial por toda a humanidade, isso basta. Deixo claro que apesar de afirmar que pouco sabemos e assim não podemos como protestantes e evangélicos afirmar muitas coisas, sobre Jesus podemos afirmar que ele é único e suficiente. Existem outros caminhos, e creia, não são do mal, mas o caminho Jesus Cristo é o mais alto, quem busca a Deus por ele acha a verdade. 
      Neste início de século XXI, com tanta informação disponível por fácil acesso pela internet, com a ciência desenvolvendo-se mais e mais, e com os frutos ruins do falso cristianismo escancarados para quem tiver olhos para ver, não podemos mais simplesmente dizer, “isso é do diabo porque não está na Bíblia”. Meus queridos e minhas queridas, repetirei isso aqui tantas vezes quantas sentir do Espírito Santo, e me perdoe se isso te escandaliza, mas os “últimos tempos”, ainda que não sejam o que muitos creem que são, ocorrerão e exigirão de todos posicionamentos sérios com Deus e seus destinos eternos. É tempo de acordar, de tirar o véu da religião e confiar no Espírito Santo. 
      Compartilho aqui não teoria, mas prática, minhas experiências de cura emocional são reais, meus consolos diários de Deus são verdadeiros, as ações, que aos meus olhos são extraordinárias do Senhor a meu favor, são autênticas. Não me calarei sobre o quanto Deus tem me amado, com paciência e sempre acreditando no meu melhor, se isso te abençoa, siga comigo aqui até onde Deus quiser. Mas o “Como o ar que respiro” tem uma chamada profética, a essa não renunciarei, não por buscar aprovação de homem, por querer polemizar ou como coisa da minha cabeça, mas por temor à palavra de Deus. Não temos todo o tempo do mundo, não mais, apressemo-nos. 
      O caminho da sabedoria é o caminho de Deus e esse nunca tende para homens, ele leva à verdade mais alta. Homens falando de homens sempre enaltecerão a si e menosprezarão o outro, é assim desde que o mundo existe, por isso história, jornalismo e mesmo textos sagrados não merecem confiança de fatos, são narrativas relativas. Fique com a narrativa de Deus, para achá-la é preciso coragem e trabalho, coragem para não depender de aprovação humana, trabalho para crer e ser santo, assim se conhece a sabedoria de Deus sobre tudo. Palavra de Deus não é como palavra de homem, ela traz vida, faz diferença para melhor que permanece, a essa tem direito os humildes. 

02/09/22

Fé: cega ou inteligente? (33/92)

      “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.Gálatas 6.7-8

      Fé não é problema, se for fé inteligente, é caminho de solução para a área espiritual da existência, mas se for fé cega pode trazer mais problemas, e não solução. Crer sem ver e sem que nenhum dos sentidos físicos sejam impressionados por manifestação material, isso é exercer fé. Contudo, não significa que não vejamos, ouçamos ou sintamos quando cremos, esses sentidos podem ser impressionados e de formas bem claras. A diferença está na origem, enquanto experiências puramente físicas independem de fé, de qualidade moral ou de espiritualidade, as espirituais originam-se da fé. 
      A fé funciona como chave para portas que dão entradas a salas, mas mesmo as salas não são as mesmas para todos e nem sempre as mesmas para alguém, variam de acordo com preparo do ser humano e a providência do Altíssimo. Algo muito importante sobre o mundo espiritual deve ser entendido por todos, seja sob a ótica religiosa que for: ele requer respeito porque é constituído em primeiro lugar do criador e Senhor de tudo, santíssimo e todo-poderoso, e depois de criaturas (anjos), que desejam respeito tanto quanto nós queremos. Fé é a chave, mas deve haver respeito para abrir a porta.  
      Fé cega não discerne as coisas, até abre portas, mas não desfruta das salas, acredita no que os outros dizem sobre as salas. Fé cega pode ser usada por tipos diferentes de pessoas, por superficiais que querem qualquer coisa pela fê, e por profundos estudantes do mundo espiritual, mas que só desejam satisfazer curiosidades intelectuais, não querem se expor moralmente, assim todos esses abrem portas, mas não entram nas salas. Salas espirituais contêm tanto o bem quanto o mal, assim fé cega pode enganar as pessoas, levando-as a achar que estão se relacionando com Deus quando não estão. 
      Muitos acreditam na existência de coisas espirituais, convivem no meio de homens e mulheres que exercem fé genuína, mas eles mesmos nunca têm experiências de fé. Para esses o mundo espiritual é só fantasia, às vezes interpretações imaginárias que lhes dão o mesmo prazer que se tem lendo livros, ou assistindo peças e filmes ficcionais. Outros, ainda que nunca se aprofundem na fé, ainda que não tenham fé inteligente, mas crendo nas experiências dos outros, principalmente nas experiências dogmatizadas das religiões, têm experiência reais com fé, afinal, Deus ama a todos.
      Mas o que seria fé inteligente? Fé e inteligência podem parecer conceitos antagônicos, materialistas dizem que o inteligente não precisa crer. Em termos materiais, a ferramenta ciência examina meticulosamente, experimenta em laboratório, faz e repete processos para então estabelecer princípios e fórmulas. É nesse conhecimento aprovado e conhecido que pode-se crer no plano físico, e a ciência tem a missão de nos dar esse conhecimento para que dominemos o planeta, respeitemo-lo e o utilizemos para termos vidas físicas de qualidade para todos, de forma equilibrada e renovável.
      O que materialistas e ateus não entendem é que pode-se usar metodologia científica em experiências espirituais, obviamente desde que elas sejam legítimas e inicialmente experimentadas do jeito certo. Depois que a “porta” é aberta, pela fé e com respeito, a “sala” pode ser conhecida com inteligência, para saber o que é verdade, o que é mentira, o que é bom, o que é mal, e o que é passageiro e o que é perene. O princípio bíblico que melhor define a principal ferramenta para se verificar a qualidade de uma experiência espiritual está em Mateus 7.20, “portanto, pelos seus frutos os conhecereis”.
      Contudo, enquanto uns extremistas adoram a ciência e desprezam religiões e outros adoram religiões e desprezam ciência, muitos não podem provar o melhor da ciência e da religião. O melhor, além do fato de ambas serem instrumentos para campos diferentes, um físico e o outro espiritual, é que cada uma pode auxiliar a outra, completar a outra, e não negar ou anular a outra. Se a fé inteligente pode dar à ciência horizontes ainda não provados fisicamente e ainda assim reais, a ciência pode ajudar os que têm fé cega a avaliar melhor suas experiências para conhecerem o verdadeiro Deus. 
      Eu não estou dizendo aqui que deve-se provar cientificamente as coisas espirituais, ainda que muitas manifestações espíritas já tenham tido certas comprovações, a verdade é que só poderemos ter provas científicas de Deus e dos espíritos no futuro, eu penso assim. Mas talvez no futuro é que provas serão menos necessárias, um ser humano moralmente elevado não exigirá provas para crer, crerá e as provas naturalmente acontecerão, numa interação perfeita entre matéria e espírito. Estou dizendo que fé inteligente é crer e seguir crendo em algo que foi causa de efeito bom e duradouro.
      Por ter fé cega, e não inteligente, é que a humanidade foi e segue enganada por tantos homens maus, seja no catolicismo, no protestantismo ou em outras religiões, e consequentemente foi por isso que a ciência foi e é tão perseguida e negada, ainda hoje em pleno século XXI. O simples fato de acreditarmos em coisas espirituais não nos faz espirituais, o diabo é espiritual e confiar nele é algo carnal, a fé só é espiritual, isso é, só conduz à espiritualidade mais alta, quando é inteligente pois nela inteligência não é limitador mas purificador, separa misticismos e superstições da verdade. 
      Fé inteligente não nos desvia de Jesus, mas nos permite conhecê-lo mais de perto, sem os filtros das religiões, usando-se, sim, Bíblia e a tradição religiosa, mas como base e início, não fim. Uma experiência plena com o verdadeiro Espírito de Deus nos ensinará em todos os níveis, moral, intelectual e espiritual, e nos deixará mais abertos e respeitosos com a ciência. Deus é luz e nele não há treva alguma, se há treva, ainda que tenha nos permitido receber bênçãos do amor de Deus, nos limitará no conhecimento da luz. Deus é inteligente e chama suas criaturas para serem inteligentes. 

Leia nas postagens anteriores
as outras partes desta reflexão
José Osório de Souza, 8/10/2021

01/09/22

Acreditar é confiar (32/92)

      “Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.Hebreus 11.6

      Como você se sentiria, se teu filho viesse te pedir uma coisa e você lhe dissesse que daria, mas teria que esperar um tempo? Passada só uma hora teu filho voltasse e te dissesse que você tinha dito que daria a ele uma coisa, mas que você não tinha cumprido tua palavra? Então, você novamente diria que daria, mas ele teria que esperar um tempo, contudo, passada só mais meia hora ele voltasse, muito triste, dizendo que você não tinha dado o que prometeu, alegando que sabia porque você não tinha atendido seu pedido, que era porque ele tinha te desobedecido no dia anterior? Então, novamente você teria lhe dito que ele deveria ter paciência, que não havia dado ainda, não por estar triste com ele, mas por motivos pessoais teus? 
      Depois de tudo isso, você poderia até pensar que teu filho não confia em você, que não acredita no teu perdão, que não crê que você pode dar a ele o que ele te pede, que acha que você não o ama de fato. Como homens podemos pensar algumas coisas de quem não acredita em nós, mas Deus não é homem, ainda que ajamos como o filho da estória, ansiosos, descrentes e cheios de culpas. Crer é confiar que uma vez que pedimos algo a Deus, e ele nos diz que dará, ele dará. Quando? Não sabemos. Por que ele pode demorar? Podemos também não saber, mas devemos confiar e esperar em paz. Agir assim é a mais pura e sincera forma de adoração, do filho que acredita sem ter recebido, só por confiar que seu Deus o ama e é fiel. 
      Se Deus mandou, confie e obedeça, e entenda, obedecer ordem de Deus não é igual a soldado obedecer seu oficial, nisso pode haver posicionamento sem sentimento, sem afeição, mesmo sem concordância, se obedece friamente, porque o soldado tem patente inferior ao oficial. Com Deus não é assim, obedecer é se colocar em íntima comunhão com ele, estar plenamente conectado a ele, assim, compartilhando de seu amor, de sua paz, de sua luz, o que nos fortalece para obedecer uma orientação sua. Deus é paciente, mas se insistirmos em desobedecer, mesmo que seja a ordem para esperar que ele atenda um pedido que já disse que atenderia, poderá nos disciplinar para que aprendamos a obedecer, nisso podemos ter que esperar mais. 
      Na verdade Deus não muda seus planos, seu tempo, somos nós que podemos mudar, se esperamos em paz muito tempo parece pouco, mas se esperamos na desconfiança uma hora pode parecer dias. Só a vida para nos ensinar a esperar do jeito certo, assim amadurecermos na fé que crê sem ver, mas que não demoremos muito para aprender a viver pela fé, nem fujamos de oportunidades que Deus nos dá para isso. Muitos, sem paciência para crer, lançam sobre seus ombros cargas pesadas demais, usando para coisas desnecessárias tempo que poderia usar para crescer espiritualmente. Esses, ainda que digam que confiam em Deus, só confiam em si mesmos, esperar em Deus pode ser trabalho difícil, mas é o mais útil que há. 
      O Senhor se agrada muito dos que creem do jeito certo e no momento certo, esses experimentam a eternidade ainda no mundo, conhecem mistérios que de muitos são escondidos, recebe antes de outros o início da iluminação que terá plenamente quando deixar a matéria. Deus não nos impõe fé como castigo, para dificultar nossas vidas, ele nos desafia por ela, quem a prova sentir-se-á depois muito satisfeito. Esse galardão, conhecimento científico não pode dar, e ainda que conquistarmos bens pelo nosso trabalho nos faça felizes, não se compara a vivenciar a fé. Confie no teu Deus, se ele disse para você esperar que dará tudo certo, fique em paz, Deus se agrada daqueles que creem nele e esperam dele o melhor para suas vidas. 

Leia nas postagens anteriores e na
próxima as outras partes desta reflexão
José Osório de Souza, 8/10/2021