terça-feira, setembro 06, 2022

Política não precisa do cristão (37/92)

      “Porque tu és grande e fazes maravilhas; só tu és Deus.” Salmos 86.10

      Desculpem-me evangélicos que creem que podem e devem estabelecer um reino de Deus no Brasil, mas isso não é reino de Deus, além de ser inviável e desnecessário, é o reino de um outro ser, aquele que se opõe ao que representa o Cristo. Pergunto a esses, qual o tamanho do Deus de vocês? Quem acha que um Deus poderoso só se realiza plenamente com hegemonia visível de seu poder no mundo físico quer retrocesso, pensa um Deus pequeno, material, não espiritual, Deus é muito mais que isso. Deus é tão grande que não cabe em trono ou cargo, mas só no coração do humilde, eis o mistério, e isso através de seu Santo Espírito, não por qualquer imposição, mesmo que democrática, e muitos menos militar ou econômica. 
      Muitos evangélicos que acham que cristãos devem ser envolver com política podem contra-argumentar assim à consideração que fiz sobre o tamanho de Deus, “justamente por eu crer num Deus todo-poderoso é que creio que ele pode colocar cristãos em posições altas para comandarem o Brasil”. Novamente peço desculpas a quem pensa assim, mas isso é entender errado o evangelho puro e original de Jesus, principalmente os ensinos do Sermão da Montanha em Mateus 5-7. O ensino de Jesus é justamente o contrário, sua vida prática como homem mostrou isso, vida está na morte, poder está em amar e dar a outra face, coragem é para ser pacificador e humilde, não vitorioso numa guerra física na Terra contra inimigos.
      Aliás, no evangelho não existem inimigos, e eis outro equívoco terrível que cristãos que apoiam a direita política cometem, acham que existem inimigos e se põem a lutar contra quem pensa diferentemente deles, acreditando que Deus os apoia. Não, Deus não está nesta luta, e quem for para ela achando que terá vitória sairá derrotado, talvez assim entendam o que realmente é o evangelho e o que Deus tem para eles, planos de paz, não de guerra. Eu acredito que o mundo chegará num tempo onde a salvação de Jesus será entendida por uma grande maioria, nesse momento fé e ciência não se oporão mais, não haverá diferenças e injustiças, mas será um tempo onde o Espírito Santo liderará os indivíduos, não políticos ou religiões. 
      “Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6.33), usamos tanto esse versículo e ainda assim não o entendemos, não temos que ficar perdendo tempo com ideologias políticas, cumpramos nossas obrigações básicas como cidadãos e nos coloquemos a conhecer e praticar as virtudes morais. Isso é buscar o reino de Deus, não é lutar para que cristãos tenham cargos nos poderes da república, e me refiro mais ao judiciário, onde é preciso ao menos alguma competência e experiência profissionais. Mas no que envolve articulações políticas, fiquemos fora, é coisa deste mundo, usando armas deste mundo para beneficiar a poderes deste mundo, isso não nos diz respeito. 
      “Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos” (Mateus 21.43), se de Israel, a nação escolhida a princípio para testemunhar Deus no mundo, foram retirados privilégios, que diria de nós? Deus não procura cristãos em cargos políticos, não é glorificado com governos deste mundo identificados como cristãos, se fosse assim haveria só duas posições religiosas no mundo, cristãos e ateus. Mas não é assim, além de cristãos existem muitas outras religiões, muitas outras escolhas para se conhecer o divino, muitas outras experiências, e acreditem, cristãos, muitas são legítimas e entregam paz e significado a muitas vidas, permitem frutos do bem que permanecem. 
      “E esta palavra: ainda uma vez, mostra a mudança das coisas móveis, como coisas feitas, para que as imóveis permaneçam; por isso, tendo recebido um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e piedade; porque o nosso Deus é um fogo consumidor” (Hebreus 12.27-29). O reino que não pode ser abalado não é o que depende de votos, de revolução, de golpe ou de guerra, é o espiritual, inabalável e eterno, existia no tempo de Israel do antigo testamento, nos primeiros séculos com a igreja primitiva na Terra, e depois, com a igreja católica e a reforma protestante neste mundo. Deus nunca precisou ser visto e reconhecido aqui para ter um reino lá.
      Se querem saber, está tudo na Bíblia, entenderá quem interpretá-la com oração e liberdade no Espírito, indo além de tradições, preconceitos e vaidades, discernindo contextos culturais e históricos pertinentes a todos os seus escritores, incluindo Daniel, os evangelistas registrando as palavras de Cristo, Paulo e João, codificador de Apocalipse. Um erro que muitos cometem é a pressa, achar que o tempo atual é especial quando não é, ainda que as coisas estejam acontecendo mais depressa. Muitas pestes, fomes, eventos violentos da natureza e guerras, acontecem como sempre aconteceram e sempre acontecerão. Ainda há muito para ocorrer, mas o final não é de derrota, é de vitória e para todos, no final a luz mais alta triunfará. 
      Na verdade a humanidade vive, sim, um momento especial, mas esse representa justamente relevâncias, que a extrema direita do Brasil, que muitos cristãos apoiam, diz não serem coisas importantes. São causas que justamente a esquerda tomou como agenda, quando homens se calam as pedras falam, direitos das minorias, cuidado com conservação de rios, mares, terras, ar, florestas e animais. Vendo a coisa por esse prisma quem está adiantando o fim do mundo não são os não cristãos, mas muitos que se autodenominam cristãos. Se o juízo moral ocorrerá na eternidade, o juízo material ocorre neste mundo, cobrando da humanidade seu desrespeito pelo planeta. Será que muitos evangélicos estão preparados para esse juízo? 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

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