11/09/22

Espírito progride sempre (42/92)

      “Dize-nos, pois, que te parece? É lícito pagar o tributo a César, ou não? Jesus, porém, conhecendo a sua malícia, disse: Por que me experimentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo. E eles lhe apresentaram um dinheiro. E ele diz-lhes: De quem é esta efígie e esta inscrição? Dizem-lhe eles: De César. Então ele lhes disse: Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” Mateus 22.17-21

      O texto inicial é uma daquelas passagens inesquecíveis do evangelho, onde tentando deixar Jesus sem resposta, os enviados dos líderes religiosos judeus recebem aquela palavra simples e profunda que só Deus tem, “dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. A matéria não precisa negar o espírito, nem o espírito negar a matéria, existe equilíbrio possível. O que não se pode é inverter as coisas, tentar espiritualizar a matéria ou materializar o espírito. Homens “espiritualizam” a matéria quando pela ciência tentam explicar coisas espirituais com conceitos físicos, substituem Deus pelo ego humano, sua providência pela inteligência do homem, seus ideais de moral por ideologias terrenas. 
      Os homens tentam “materializar” o espírito quando creem que prosperidade no mundo é o mais alto reflexo de vida com Deus. “César” merece nossos impostos, não nossas almas, o dinheiro merece nossa administração sensata, não nossa adoração. O mundo físico precisa ser progressista, incluindo vida social que administra diferenças com igualdade, contudo, o plano espiritual pode ser conservador se estiver ligado de fato ao Deus verdadeiro. Mas quem conhece plenamente o Deus verdadeiro para se colocar como um conservador das verdades mais altas e imutáveis? Ninguém, assim temos que ser progressistas também para Deus, isso é focarmos no Espírito Santo, não nas tradição, e seguirmos aprendendo. 
      O cristão deve ser conservador ou progressista? Como em outros assuntos, as pessoas têm dificuldades para serem equilibradas, não acham um meio termo entre uma coisa e outra, ou tomam tudo de um lado ou tudo do outro, assim é mais fácil, não é preciso avaliar, escolher e arcar com consequências. Muitos simplesmente dizem, “sigo a orientação da minha religião, do papa, do padre, do pastor, do missionário, do apóstolo, não me importa o que os outros dizem”. Quem delega deveres delega direitos, o que deixa os outros pensarem por si será escravo dos outros, quem segue a homem não conhece a Deus. Deus pode ser conservador, nós não, ainda teremos que ser progressistas por muito tempo. 
      Deus conserva eternamente suas virtudes no mesmo nível de excelência, mas a humanidade ainda está longe de entender essas virtudes. Jesus veio como homem justamente para ensinar como a mais alta espiritualidade pode se manifestar no plano físico. Contudo, ainda assim, os homens engessaram os ensinos do Cristo, o dogmatizaram para dominarem outros homens, calando a voz do vivo Espírito Santo. O que muitos dizem ser o conservador ensino divino é só conveniente conservadorismo humano, para conhecermos a Deus precisamos nos libertar disso. Só nas asas do Espírito Santo progrediremos às regiões espirituais mais altas em Cristo, só assim teremos um conhecimento pleno para poder conservar.
      Sob um certo ponto de vista, podemos até dizer que o homem ou uma religião que se coloca como conservador é um grande arrogante. É achar que já sabe tudo de Deus, de maneira que aquilo que sabe deva ser guardado e lacrado, achando-se, assim, guardião exclusivo de verdades absolutas, que nunca mudarão e portanto devem ser conservadas. A igreja católica é o maior exemplo dessa arrogância, com isso ela trancou a civilização ocidental por séculos no que é denominado “idade das trevas”, negando ciência, perseguindo e matando quem pensasse diferentemente dela. Mas protestantes e evangélicos atuais também se perdem nesse engano, a arrogância, contudo, sempre precede uma vergonhosa queda.  
      Deus é liberdade para se progredir. Muitos religiosos não entendem essa afirmação, pois na verdade eles não querem ser livres, assim é mais fácil construírem um “Deus” que limita e prende para estão ser cegamente obedecido. Por outro lado, aqueles que negam religião, acham que são livres por não crerem em Deus, não entendem que também têm uma visão equivocada do Deus verdadeiro, aliás, a mesma visão que muitos crentes têm. Ocorre que enquanto muitos religiosos escolhem obedecer esse “Deus” equivocado, os não religiosos escolhem não obedecer a esse mesmo “Deus” equivocado, ainda que se tornem crentes equivocados de outra coisa, a ciência, eficiente para a matéria, mas não para o espírito. 
      “Sou progressista mas não sou comunista, sou conservador mas não sou cristão, sou liberal mas não sou materialista, sou crente mas não nego a ciência”, você consegue fazer essas afirmações? Não precisa fazer todas elas, pode até fazer outras mais arrojadas e mais antagônicas, mas o que importa é não se amarrar a definições absolutas e extremas, é usar a razão para encontrar equilíbrios. Isso é conhecer o Deus mais alto, um Espírito superior e livre que nos chama para sermos espíritos elevados e libertos. O mundo está mudando e há algum tempo, e mudará ainda mais, o Senhor nunca muda. Nós, contudo, precisamos humildemente assumir nossas mudanças para progredirmos em direção ao Deus Altíssimo. 

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a 1ª parte desta reflexão

10/09/22

Conservador ou progressista? (41/92)

      “O sábio ouvirá e crescerá em conhecimento, e o entendido adquirirá sábios conselhos; para entender os provérbios e sua interpretação; as palavras dos sábios e as suas proposições. O temor do Senhor é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução.” Provérbios 1.5-7

      Cristianismo: conservador ou progressista? Os termos progressismo e conservadorismo são bem amplos, surgiram com o iluminismo na Europa no século XVIII e depois como uma resposta a esse no século XIX. Eles podem se referir às áreas social, econômica, política, moral, ética e mesmo religiosa. Enquanto o progressista prega uma evolução constante em muitas áreas, baseada na ciência, o conservador ensina a manutenção de valores tradicionais, que na origem incluíam poder do monarca, por ter recebido esse direito pelo sangue, e submissão à igreja católica. Ele está ligado à direita política, e em seus princípios iniciais até o protestantismo era antagonizado.
      O progressismo é ligado à esquerda política, sendo base para o positivismo, o liberalismo econômico, o darwinismo social e o marxismo, que inicialmente lutava mais no ativismo trabalhista, mas que depois deu origem à nova esquerda. É importante entendermos essa mudança da esquerda, que passou a lutar no ativismo social, em questões como direitos civis e políticos, feminismo, direitos homossexuais, pacifismo, questionamento dos papéis de gênero, aborto e reformas de políticas de drogas. Esse papel social anteriormente era mais ligado à religião, o catolicismo que tinha predominância no ensino, por exemplo, perdeu lugar para ensinadores e pedagogos dessa nova esquerda. 
      Muitos cristãos não percebem, mesmo em seu modo de ver as coisas, que na obsessão de conservarem tradições ultrapassavas, perdem a corrida por representarem as necessidades mais relevantes da humanidade, e não me refiro às materiais, essas a ciência deve resolver. Essas causas da nova esquerda, e mesmo do velho marxismo, buscando igualmente e vida digna para todos, deveriam ser do evangelho, não de ideologias ateias. Mas com medo de se opor ao conservadorismo religioso, muitos cristãos fazem parte do problema, não da solução. Por que muitas das pessoas interessadas em mudar o mundo preferiram as propostas da nova esquerda e não do evangelho? Jesus ficou mais fraco?
      De maneira alguma. O argumento que muitos cristãos usam para ficarem do lado do conservadorismo é que esse defende valores da tradição judaica-cristã, principalmente de família e sexualidade, assim acham que estão do lado de Deus, enquanto que o outro lado, o lado progressista, da esquerda, dos comunistas, para eles é o lado do diabo. Mas que diabo é esse que defende minorias e é contra preconceitos? Não estou dizendo que todas as causas da nova esquerda estão de acordo com a vontade mais alta de Deus, como por exemplo não está a luta por direito indiscriminado ao aborto. Contudo, na falta de sabedoria, muitos cristãos se põem num extremo e não veem que Deus está no equilíbrio. 
      Não nos percamos nos extremos, em poucas palavras: progressismo é evolução, conservadorismo é estagnação. O Deus verdadeiro, é estagnado ou evolutivo? O espiritismo de Allan Kardec é claramente progressista, ainda que seja algo espiritual propõe um espiritualismo científico, assim mais caracterizado ainda como progressista. O catolicismo é início e fim do conservadorismo, não só religioso, mas social, moral e mesmo político, ele sobrevive disso. O protestantismo, ainda que visto inicialmente como progressista, não só na religião mas também na política e na economia, se põe hoje como conservador, principalmente na área social. Hoje o termo conservadorismo liberal está em voga.
      O conservador liberal faz uma diferenciação, mesmo que se seja conservador nas outras áreas, na econômica é liberal. Vemos isso claramente no atual governo brasileiro, conservador nas tradições de família e gênero, portanto na religião, mas liberal na economia. Mas isso não é tentar o melhor de dois muitos? Em se tratando de cristãos, conveniente para preconceituosos e materialistas não assumidos. Preconceituosos porque acham que a Bíblia proíbe certas coisas e desobedecer isso é ir contra Deus, conservadorismo é pai do preconceito. Materialistas não assumidos porque apesar de se dizerem espirituais, estão mais interessados, ainda que pela religião, em riquezas e poderes deste mundo. 
      Desculpe-me se não fui preciso em alguns termos citados, não sou especialista no assunto, se possível, entre nos links deixados e informe-se mais, contudo, esses temas estão presentes no mundo atual, é interessante entendermos alguma coisa sobre eles. “O sábio ouvirá e crescerá em conhecimento”, diz o texto bíblico inicial, assim estar bem informado sobre economia, política, mesmo antropologia, é importante para aquele que teme a Deus e o segue de perto. Nossa sabedoria não está só relacionada com religião e Bíblia, a vida moderna pede muito mais dos que querem andar na luz. As trevas, por sua vez, são astutas, se o que caminha com Deus não estiver atento poderá ser presa delas. 

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a 2ª parte desta reflexão

09/09/22

Oremos pelos governantes (40/92)

      “Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens; pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade; porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.” I Timóteo 2.1-4

      Ouvi um grande líder evangélico dizer, “dízimos e ofertas das igrejas são necessários pois sem eles não consigo manter programa de TV que faz trabalho evangelístico”, mas quem disse que Deus precisa de um serviço tão caro para propagar o evangelho? Não seria melhor usar esse recurso para ajudar pobres e outros necessitados, mesmo que não se tornem membros oficiais de igrejas? Contudo, testemunho pessoal não aparece para os homens, não conquista poder político, eleitorado, não sacia vaidade de pastor que só quer poder neste mundo. 
      Os que são sábios, humildes e tementes a Deus, cumprirão seus deveres como cidadãos em eleições, e se manterão longe tanto quanto possível de política. Queremos mudar o Brasil? Ajudemos os indivíduos. Evangélicos, ao invés de se envolverem com política, tornem suas igrejas locais de auxílio a pobres e viciados, distribuam alimentos, roupas, criem cursos para ajuda social e profissional. Façam isso não para aumentarem os dizimistas, mas como caridade desinteressada, respeitando livre arbítrios, visando a pátria celeste, não a brasileira. 
      A afirmação que segue poderá chocar alguns: Deus não é Senhor do Brasil! Deus é criador do universo e nada ocorre sem que ele permita, mas neste mundo ele é Senhor só daqueles que deixam que ele seja. Depois que Jesus cumpriu sua obra de redenção, Deus não usou mais uma nação para testemunhar dele, como usou Israel nos tempos do antigo testamento. Israel podia dizer, “Deus é Senhor dessa nação”, ainda que passasse muito tempo rebelde a Deus e em cativeiro. Hoje Deus é Senhor de indivíduos, indiferente da nação que façam parte. 
      Isso não significa que Deus não atenda clamores apaixonados e sinceros do bem, que pedem que Deus salve o Brasil, que Deus cure o Brasil, que Deus traga prosperidade ao Brasil. Mas esses sinceros precisam aceitar que nem no céu haverá humanidade unânime, mas várias, e aqui no mundo as secções são ainda mais numerosas. O Brasil não é um povo, mas vários, especialmente o nosso país, formado por imigrantes de tantos locais do mundo, junto com os povos originais que já estavam nas Américas. Existir só uma crença no Brasil é difícil. 
      Por várias vezes tenho levantado aqui o posicionamento que o reino de Deus é no céu, não no mundo. Isso é argumento para invalidar intenção de cristão envolver-se com política, elegendo candidato que o represente religiosamente, crendo que isso é vontade de Deus. Um bom político precisa nos representar em muitas áreas, materiais, culturais, até morais, mas não religiosa. Talvez seja aí que muitos cristãos tenham uma dificuldade séria, não conseguem separar área moral da religiosa, acham que por alguém não ser cristão não tem moral.
      “Pelos seus frutos os conhecereis” (Mateus 7.20), quando, como cristãos, daremos importância a isso ao invés de crermos que alguém é evangélico só porque diz que tem em fé em Cristo e é membro de igreja? Assim engaiolamos os pardais e deixamos correr soltos, no meio das cidades, os hipopótamos. Quantos homens no mundo, assumindo-se como não evangélicos, e mesmo como ateus, estão fazendo pela humanidade o que muitos cristãos não estão fazendo, defendendo o planeta, fazendo caridade, lutando pelas minorias, eu conheço muitos. 
      Enquanto isso muitos evangélicos acham que estão no centro da vontade de Deus porque participam de cultos em templos lotados, cantando louvores e ouvindo pregadores carismáticos. Eu não entendo pelo texto bíblico inicial, que devemos orar pelos governantes necessariamente esperando que eles se convertam à religião cristã. A passagem diz “para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade”, entendo que devemos pedir que eles tenham vidas dignas para desempenharem bem suas funções públicas.
      Depois diz “porque isto é agradável diante de Deus que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade”, assim podemos e devemos até desejar que eles se salvem, mas salvação, seja lá como isso for interpretado, não é pré-requisito para que exerçam bem cargos políticos que envolvem vidas de muitos, incluindo dos que se pretendem salvos. Não se enganem, isso não diminui Jesus, ao contrário, o coloca no lugar certo, o espiritual, e nos leva a tratar todos como Deus trata, respeitando escolhas religiosas pessoais. 

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08/09/22

Do Senhor é o Brasil (39/92)

      “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam. Porque ele a fundou sobre os mares, e a firmou sobre os rios. Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente. Este receberá a bênção do Senhor e a justiça do Deus da sua salvação.Salmos 24.1-5

      O Brasil NÃO é do presidente, dos políticos, das forças armadas, nem da ciência, das empresas ou das mídias, e muitos menos dos cristãos, sejam católicos, protestantes, evangélicos, ou de qualquer outros religiosos ou não religiosos. Brasil é de Deus! Sendo assim, antes de quererem fazer isso ou aquilo com o país, deveriam perguntar primeiro a Deus o que ele quer fazer, principalmente muitos protestantes e evangélicos, já que são esses os que se acham ter exclusividade sobre direitos que dizem que receberam diretamente do Senhor. 
      Em primeiro lugar temos que dizer que ninguém, nos dias atuais, tem qualquer direito diferenciado ou privilégio sobre um território geográfico ou político, a não ser aqueles direitos que as leis locais dão a qualquer ser humano sobre a terra, indiferentemente de religião ou ausência de uma. Muitos evangélicos, contudo, pensam de outra forma, querem o reino de Deus no mundo e acham que agem de acordo com a vontade de Deus quando lutam para que sua religião prevaleça na condução política, educacional ou de outra área do país.
      A direita cristã tem predileção pela educação, pois acha que essa tem sido controlada pela esquerda. Primeiro é preciso entender que a nova esquerda não tem só bandeiras trabalhistas, como no início do comunismo, mas bandeiras sociais, pelas minorias, afrodescendentes e indígenas, contra sexismo, preconceitos, a favor da causa LBGTQIA+, da liberação de certas drogas etc. Em grande parte isso vai contra a tradição judaica-cristã, mas não era justamente a igreja católica quem dominava a educação antes? Parece que não deu conta.
      Não existe nenhuma teoria de conspiração na esquerda ter conquistado certas áreas de atuação. O cristianismo falso do mundo, não o de Cristo, teve sua oportunidade e só conduziu a humanidade a um conservadorismo que gerou preconceitos, tentou anular a ciência, e principalmente, negou o evangelho original de Jesus. Pois bem, o progressismo tem agora sua oportunidade, aceitem isso ou não os cristãos, se tivessem administrado certo os ensinos do mestre poderiam estar liderando a humanidade pelo Espírito Santo, ao invés do materialismo ateu.
      Se o Brasil é de Deus, quem tem direito a esse Brasil? O texto bíblico inicial pergunta isso e responde com outras palavras: “quem subirá ao monte do Senhor, quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente”. Primeiro o texto não se refere a um monte físico, mas a uma posição espiritual. Monte do Senhor ou lugar santo é a presença mais elevada de Deus, não na Terra, mas no plano espiritual. O evangelho não promete reino de Deus no mundo.
      Seja como for o privilégio espiritual que é possível ao ser humano exige certas virtudes, mãos e coração limpos, ausência de vaidades e palavra de verdade. Será que vemos isso, principalmente em políticos de direita e em muitos cristãos que se dizem militantes pelo Brasil em nome de Deus? Penso que não, mãos e coração limpos é santidade na ação e na intenção, na prática e no coração. Como podemos dizer que isso existe em vidas que claramente estão envolvidas com corrupção e práticas ilegais usando suas influências como líderes políticos?
      Vaidade na política é querer se manter num cargo, não porque a maioria democrática deseja ou porque se quer o melhor para o país, mas só para ter exaltado o ego, sua visão de mundo sobre as outras, visão baseada em preconceitos e violência. Não há humildade em muitos que se consideram donos legítimos do Brasil, incluindo líderes evangélicos, há nesses egocentrismo e desejo de vingança. Por último, os que merecem a presença mais santa de Deus não devem jurar enganosamente, serem mentirosos. Quem nega a ciência não é mentiroso? 
      Quem insiste em administrar o Brasil de uma maneira, ainda que sacrificando vidas, influenciando milhares que creem em suas palavras com fake new, dizendo que essa é a melhor forma de fazer as coisas, porque é a que protege o país, não é mentiroso? O pior tipo de mentiroso é o que usa até textos bíblicos para justificar suas mentiras, aliando a Deus coisas que Jesus nunca disse, baseado em interpretações preconceituosas e equivocadas da Bíblia. Esse mentiroso é pior que o que se diz ateu e materialista e que mente só em seu nome. 
      Do Senhor é o Brasil e a vontade de Deus para o nosso país pouco tem a ver com aquilo que muitos líderes evangélicos e um grupo político que se diz representante desse cristianismo enganado e herege, dizem ter. A vontade do Senhor é mudar o indivíduo que permite ser mudado, nada mais, a ação divina não é coletiva, é pessoal, não é política, é moral. Não tem legitimidade espiritual apoiarmos, como igrejas cristãs deste mundo, esse ou aquele político, essa ou aquela ideologia. Mudemos o Brasil, mas de dentro para fora do indivíduo.

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07/09/22

Quando Deus usa o errado (38/92)

Introdução

      “Quem é aquele que diz, e assim acontece, quando o Senhor o não mande? Porventura da boca do Altíssimo não sai tanto o mal como o bem?Lamentações 3.37-38

      Muitos aliam o bem a Deus e o mal ao diabo, assim criam um embate maniqueísta que na verdade não existe. Deus administra tudo, ainda que para alguns trabalhos use seres espirituais de luz e homens de bem, e para outros use seres espirituais das trevas e homens estúpidos e sem sabedoria. ”Diabo” não é um poder equivalente a Deus só que do outro lado, é apenas uma criatura não querendo fazer o bem, ainda que só aja com autorização do Senhor. 
      Esta reflexão pode receber vários nomes, um deles é uma afirmação, “A coisa não é tão simples assim”, outro nome é “Palavras imediatas, palavras eternas”, visto que palavras proféticas diferentes podem ser entregues pelo Espírito Santo, sejam para resolver questões imediatas, sejam para questões mais duradouras. O texto a seguir cita dois governantes, o persa Ciro, que libertou Israel do cativeiro babilônico, e Saul, primeiro monarca de Israel.
      Nenhum desses homens foram, como pessoas, exemplos de homem de Deus, mas ambos foram usados por Deus para esse cumprir seus propósitos. Podemos encontrar nessas crônicas israelitas antigas similaridades com a história política recente do Brasil? Talvez. Mas com certeza eu achei uma lição importante no posicionamento do profeta Samuel e na maneira como Deus age no mundo, usando o bem e o mal para conduzir a humanidade. 

1. A coisa não é tão simples assim

      “Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que tu não me conheças; para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.Isaías 45.5-7

      Assisti um vídeo que me deixou estarrecido, políticos e apoiadores importantes do governo do presidente do Brasil entre 2019 e 2022, comemorando em 2021 a aprovação de um evangélico ao S.T.F. (refletimos sobre isso nas duas postagens anteriores). O que me estarreceu foi uma mulher, importante nesse contexto, se levantar louvando a Deus e falando em línguas espirituais estranhas, visto o êxtase que ela sentia pelo ocorrido. Podemos analisar esse evento, que na minha opinião é mais importante que muitos cristãos acham que é, sob vários aspectos, mas o mais importante é entendermos que as coisas não são tão simples assim como avaliações rasas e tendenciosas podem achar que são, a vida nunca é simples. 
      A primeira coisa que preciso dizer é que sou cristão que acredita em dons espirituais para os dias de hoje, ainda que reconheça que eles sejam usados muitas vezes com boa intenção, mas de maneira infantil, e às vezes até encenados e forçados com más intenções. Mas a existência do falso não inviabiliza o verdadeiro, e mais, acredito que experiências com os dons espirituais descritos no novo testamento sejam caminho imprescindível para a espiritualidade mais elevada, que pode dar acesso a muitos mistérios da existência humana no universo. Exatamente por levar esse assunto tão a sério é que tenho dificuldade para aceitar que sua manifestação possa ocorrer em vidas em pecado ou equivocadas de alguma maneira. 
      Quem acompanha este espaço sabe do posicionamento deste que vos escreve sobre cristãos apoiando extrema direita política, principalmente um presidente negacionista da ciência e a favor de legalização mais ampla de armas, dentre outras coisas, assim, não considero que cristãos lúcidos estavam naquele grupo que vi no vídeo comemorando a aprovação do evangélico ao S.T.F.. Isso é o que eu penso, mas o que Deus pensa? Deus ama igualmente a todos e dá do seu Espírito a todos que buscam, assim, julgar que algo não é de Deus por ocorrer numa pessoa que em minha opinião não age corretamente em alguns assuntos não é sábio. Se fosse assim Deus não teria usado o catolicismo por séculos para abençoar a humanidade. 
      “Te cingirei ainda que tu não me conheças”, diz o texto de Isaías 45.5-7, tomo para mim essa palavra, eu não conheço a Deus como acho. “Faço a paz e crio o mal, eu, o Senhor, faço todas estas coisas”, o que dizer de uma declaração assim? Deus faz tudo, até usa o malvado para cumprir um propósito benigno neste mundo, e o contexto histórico desse texto se refere exatamente a isso, o rei persa Ciro, seguidor de outros “deuses”, sendo usado para livrar Israel, povo do Deus mais alto, de Nabucodonosor. A verdade é que não sabemos e não entendemos os caminhos do Senhor, eles muitas vezes são complicados, não por causa de Deus, esse é essencialmente reto, mas por causa dos homens e seus sistemas num mundo em confusão.
      Se Deus usou Ciro em seus propósitos, por que não pode usar um político de extrema direita? Isso é possível, apesar de muitos acharem que não é, dentre esses uns que idolatram outro mito, e na opinião desses, um mártire que foi preso injustamente como resultado de um golpe arquitetado por juízes do Paraná na operação Lava-a-jato. Como seres humanos, que buscam a luz mais alta de Deus, não podemos nos deixar ser enganados nem por um, nem por outro, ainda que um deles tenha apoio de lideranças cristãs, contudo, temos que aceitar que Deus usa quem quer. Nossos sentidos presos à matéria, ao tempo e ao espaço, não fazem ideia do que algo pode desencadear, do que deve ocorrer para que o fim melhor ocorra. 

2. Palavras imediatas, palavras eternas

      “Então todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, e disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações. Porém esta palavra pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos julgue. E Samuel orou ao Senhor. E disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles.”  I Samuel 8.4-8

      Palavras imediatas e palavras eternas, o Espírito de Deus nos dá esses dois tipos de palavras, ambas verdadeiras, ambas acontecerão de um jeito ou outro. As imediatas refletem a misericórdia do Senhor, que precisa ajudar alguém em curto prazo, de qualquer jeito, principalmente se esse alguém, ainda que equivocado em muitas questões, o buscou com sinceridade. Eu vejo um cristianismo evangélico equivocado no Brasil, mas ainda assim sincero, que pai não se toca com um filho, que ainda que teimoso para cumprir sua vocação maior, procura sua ajuda aos prantos? Eu não sou Deus, mas sou pai, e como pai posso entender, pelo menos um pouco, a misericórdia do Senhor com o Brasil, ninguém duvide dela. 
      Os que não temem a Deus não podem entender a Deus, e muitos que se dizem cristãos agem assim, julgam e condenam muitos cristãos, mas não percebem a extensão da misericórdia do Senhor. Sim, penso que um momento espiritualmente tão íntimo como o registrado no vídeo que citei inicialmente, não deveria vir a público. Teve um propósito político para os que aparecem, agradando um eleitorado que acha o que é mostrado relevante, mas quando conveniência humana usa o nome de Deus comete sério pecado, em minha opinião, advertido nos mandamentos de Moisés (Êxodo 20.7). Exibir publicamente, algo que creio ser tão especial, vulgariza o dom do Espírito Santo, mas Deus tem paciência com isso, mais que eu tenho.
      Existe, contudo, uma palavra eterna de Deus que deve ser entregue, de um jeito ou de outro, essa é a que este espaço procura entregar, não com arrogância, mas como missão. Essa palavra revela uma vontade de Deus que vai além do momento atual do Brasil, e que conduz o homem a uma espiritualidade muito mais alta, que o cristianismo do mundo, que as igrejas protestantes e evangélicas, que o catolicismo e outras religiões, podem entender neste início do século XXI no planeta Terra. Nessa vontade mais alta, estupidez e infantilidade em nome do evangelho não cabem, mesmo com intenção sincera, e eu penso que o momento para que Deus cobre essa vontade mais alta já está chegando, ao Brasil e à toda a humanidade. 
      Quando Israel pediu um rei (I Samuel 8.4-8), Deus disse que não precisavam de um rei como as outras nações, ele era seu rei. Ainda assim, na insistência, Deus deu um rei conforme o coração de Israel, Saul, uma intenção sincera, mas errada, alcançou um objetivo vão que deu no que deu. Então, Deus levantou Davi, você acha que Davi era a vontade eterna de Deus para Israel? Também não era, mas era o melhor que Deus podia fazer com a realidade, e de fato Davi era um homem com um coração especial, que realizou grandes coisas, ainda que tenha cometido sérios pecados (II Samuel 11-12). A vontade maior do Senhor para Israel e para toda a humanidade sempre foi Jesus, um rei espiritual que conduz a um reino espiritual. 
      Você acha que durante o reinado de Saul, Israel não cultuava a Deus? Não oferecia sacrifícios, não adorava ao Senhor, não era cuidado pelo Altíssimo? Claro que tudo isso acontecia, e a religiosidade de Israel era sincera, assim como autêntica a atuação de Deus em suas vidas. O que um homem como o profeta Samuel devia pensar quando via tudo isso? Agia com temor a Deus, sabia que aquilo não era o melhor para Israel, mas que ele devia respeitar a escolha do povo e a vontade do Senhor, que tinha dado ao povo aquilo que o povo desejou. Situação semelhante ocorre com muitos cristãos com o governante eleito em 2018 no Brasil, nunca foi e nunca será o melhor, mas foi o que muitos quiseram, que “Samuel” respeite isso. 

Conclusão

      “Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.” Mateus 16.27
 
      Este texto representa algo muito especial para mim, uma palavra do Espírito Santo que mudou meu posicionamento diante de posicionamentos que muitos protestantes e evangélicos têm tomado diante da política, principalmente nos últimos quatro anos. Uma parte desses cristãos apoia envolvimento cristão com política no Brasil há algum tempo, pentecostais fazem isso há décadas, colocando membros de suas igrejas nas várias esferas da administração pública, mas o que temos visto, depois que o governante de extrema direita venceu a eleição de 2018, é mais significativo.
      Eu estou entendendo em Deus que não posso julgar, ainda que tenha entendimento de Deus que a igreja cristã precisa sair da infância e que o mais correto seria nenhum envolvimento de pessoas realmente espirituais com as coisas deste mundo, a não ser no mínimo exigido pela lei ao cidadão (Lucas 20.25). Contudo, aprendi muito com o procedimento do profeta Samuel, ele não abriu mão de sua chamada, da iluminação que tinha recebido, mas ainda assim respeitou as escolhas do povo de Israel, e principalmente, acatou o respeito de Deus diante das escolhas não tão adequadas do povo. 
      Assim, de fato, a coisa não é tão simples assim, aquele que quer viver com lucidez deve ter paciência, não se vender a lados, ainda que possa ser julgado como “isentão” ou “em cima do muro”, mas vigiar em Deus, esperando novos céus e nova Terra onde haverá justiça. Deus por sua vez abençoa mesmo o imperfeito, dá do seu Espírito mesmo ao infantil, ouve as orações mesmo do que pede algo que a longo prazo não será o melhor para ele, mas quem não é imperfeito, infantil ou que não pede insistentemente algo que poderá lhe prejudicar depois? A eternidade revelará a verdade.
      O título desta reflexão é “Quando Deus usa o errado”, mas muitos poderão dizer, “Deus usou para que esse governante de extrema direita, ele fez tudo errado?”, também tenho essa opinião, mas esse era o “Saul” que o povo cristão pediu, o “Ciro” que o povo cristão precisava no seu ponto de vista. Mas eu creio que Deus usou, sim, para mostrar que aquilo que o homem acha ser bom, mesmo bem intencionado, pode não ser. Muitos cristãos entendem isso hoje, após quatro anos? Não, na verdade muitos acham que o tal presidente fez tudo certo. Mas de novo digo, a eternidade os fará entender. 

      “Respondeu Jesus, e disse-lhe: O que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois.João 13.7

José Osório de Souza, 13/12/2021

06/09/22

Política não precisa do cristão (37/92)

      “Porque tu és grande e fazes maravilhas; só tu és Deus.” Salmos 86.10

      Desculpem-me evangélicos que creem que podem e devem estabelecer um reino de Deus no Brasil, mas isso não é reino de Deus, além de ser inviável e desnecessário, é o reino de um outro ser, aquele que se opõe ao que representa o Cristo. Pergunto a esses, qual o tamanho do Deus de vocês? Quem acha que um Deus poderoso só se realiza plenamente com hegemonia visível de seu poder no mundo físico quer retrocesso, pensa um Deus pequeno, material, não espiritual, Deus é muito mais que isso. Deus é tão grande que não cabe em trono ou cargo, mas só no coração do humilde, eis o mistério, e isso através de seu Santo Espírito, não por qualquer imposição, mesmo que democrática, e muitos menos militar ou econômica. 
      Muitos evangélicos que acham que cristãos devem ser envolver com política podem contra-argumentar assim à consideração que fiz sobre o tamanho de Deus, “justamente por eu crer num Deus todo-poderoso é que creio que ele pode colocar cristãos em posições altas para comandarem o Brasil”. Novamente peço desculpas a quem pensa assim, mas isso é entender errado o evangelho puro e original de Jesus, principalmente os ensinos do Sermão da Montanha em Mateus 5-7. O ensino de Jesus é justamente o contrário, sua vida prática como homem mostrou isso, vida está na morte, poder está em amar e dar a outra face, coragem é para ser pacificador e humilde, não vitorioso numa guerra física na Terra contra inimigos.
      Aliás, no evangelho não existem inimigos, e eis outro equívoco terrível que cristãos que apoiam a direita política cometem, acham que existem inimigos e se põem a lutar contra quem pensa diferentemente deles, acreditando que Deus os apoia. Não, Deus não está nesta luta, e quem for para ela achando que terá vitória sairá derrotado, talvez assim entendam o que realmente é o evangelho e o que Deus tem para eles, planos de paz, não de guerra. Eu acredito que o mundo chegará num tempo onde a salvação de Jesus será entendida por uma grande maioria, nesse momento fé e ciência não se oporão mais, não haverá diferenças e injustiças, mas será um tempo onde o Espírito Santo liderará os indivíduos, não políticos ou religiões. 
      “Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6.33), usamos tanto esse versículo e ainda assim não o entendemos, não temos que ficar perdendo tempo com ideologias políticas, cumpramos nossas obrigações básicas como cidadãos e nos coloquemos a conhecer e praticar as virtudes morais. Isso é buscar o reino de Deus, não é lutar para que cristãos tenham cargos nos poderes da república, e me refiro mais ao judiciário, onde é preciso ao menos alguma competência e experiência profissionais. Mas no que envolve articulações políticas, fiquemos fora, é coisa deste mundo, usando armas deste mundo para beneficiar a poderes deste mundo, isso não nos diz respeito. 
      “Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos” (Mateus 21.43), se de Israel, a nação escolhida a princípio para testemunhar Deus no mundo, foram retirados privilégios, que diria de nós? Deus não procura cristãos em cargos políticos, não é glorificado com governos deste mundo identificados como cristãos, se fosse assim haveria só duas posições religiosas no mundo, cristãos e ateus. Mas não é assim, além de cristãos existem muitas outras religiões, muitas outras escolhas para se conhecer o divino, muitas outras experiências, e acreditem, cristãos, muitas são legítimas e entregam paz e significado a muitas vidas, permitem frutos do bem que permanecem. 
      “E esta palavra: ainda uma vez, mostra a mudança das coisas móveis, como coisas feitas, para que as imóveis permaneçam; por isso, tendo recebido um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e piedade; porque o nosso Deus é um fogo consumidor” (Hebreus 12.27-29). O reino que não pode ser abalado não é o que depende de votos, de revolução, de golpe ou de guerra, é o espiritual, inabalável e eterno, existia no tempo de Israel do antigo testamento, nos primeiros séculos com a igreja primitiva na Terra, e depois, com a igreja católica e a reforma protestante neste mundo. Deus nunca precisou ser visto e reconhecido aqui para ter um reino lá.
      Se querem saber, está tudo na Bíblia, entenderá quem interpretá-la com oração e liberdade no Espírito, indo além de tradições, preconceitos e vaidades, discernindo contextos culturais e históricos pertinentes a todos os seus escritores, incluindo Daniel, os evangelistas registrando as palavras de Cristo, Paulo e João, codificador de Apocalipse. Um erro que muitos cometem é a pressa, achar que o tempo atual é especial quando não é, ainda que as coisas estejam acontecendo mais depressa. Muitas pestes, fomes, eventos violentos da natureza e guerras, acontecem como sempre aconteceram e sempre acontecerão. Ainda há muito para ocorrer, mas o final não é de derrota, é de vitória e para todos, no final a luz mais alta triunfará. 
      Na verdade a humanidade vive, sim, um momento especial, mas esse representa justamente relevâncias, que a extrema direita do Brasil, que muitos cristãos apoiam, diz não serem coisas importantes. São causas que justamente a esquerda tomou como agenda, quando homens se calam as pedras falam, direitos das minorias, cuidado com conservação de rios, mares, terras, ar, florestas e animais. Vendo a coisa por esse prisma quem está adiantando o fim do mundo não são os não cristãos, mas muitos que se autodenominam cristãos. Se o juízo moral ocorrerá na eternidade, o juízo material ocorre neste mundo, cobrando da humanidade seu desrespeito pelo planeta. Será que muitos evangélicos estão preparados para esse juízo? 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

05/09/22

Deus não precisa da política (36/92)

      “Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça. Por isso, amados, aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz.” II Pedro 3.13-14

      Ouvi de um evangélico as seguintes palavras: “eu sei que o presidente do Brasil, entre 2019 e 2022, não foi o melhor exemplo de cristão, mas com que presidente teríamos um pastor presbiteriano no S.T.F.?”. Em primeiro lugar o S.T.F. é do Brasil, não de uma religião, ele precisa não de sacerdotes, médiuns ou de qualquer outro tipo de religioso ou de ateu, mas de profissionais competentes e experientes que façam cumprir a Constituição Brasileira para todos os brasileiros, esses também, indiferente das religiões ou não que professem. Se não há mais protestantes ou evangélicos no S.T.F. é porque até agora não apareceu nenhum com competência e experiência profissional suficiente para preencher os requisitos necessários. 
      Por outro lado, não podemos garantir que o pastor presbiteriano que foi aceito no S.T.F. em 2021, tenha competência e experiência profissional para tal, já que o que o colocou lá foi uma bancada evangélica politicamente forte que fez as devidas articulações. Assim, eis outro equívoco de evangélicos que comemoram como vitória divina essa nomeação, confiarem e se apoiarem em políticos, que mesmo que sejam honestos cuidam das coisas deste mundo, não do reino de Deus. Mas por que muitos evangélicos, incluindo fortes lideranças, acham tão importante terem representantes de suas igrejas em cargos políticos nacionais? Seria por pensarem que só assim evangélicos têm seus direitos garantidos? 
      Isso não é verdade, todo cidadão brasileiro tem direitos garantidos pela Constituição, então, a resposta só pode ser para estabelecer no Brasil, assim como no que o meio cristão chama de “mundo”, um reino político baseado em princípios cristãos, ou seja, na tradição judaica-cristã. A pergunta final que podemos fazer é: isso é vontade de Deus? Muitos evangélicos vão dizer que é, talvez baseados no ide de Jesus, dizendo que o evangelho será pregado a toda criatura. Mas penso que achar apologia no novo testamento para isso é difícil, a história narrada por ele se encerra com profecias, ditas por Cristo e por João em Apocalipse, que falam que haverá uma grande perseguição aos justos, não um fortalecimento de cristãos.
      Penso que os evangélicos brasileiros, que desejam poder político no Brasil, se baseiam mais no poder que tinha a nação de Israel nos tempos do antigo testamento, assim como na hegemonia protestante que sempre houve nos E.U.A.. Isso explicaria a relevância que o governante do Brasil entre 2019 e 2022 deu ao Israel moderno e ao governante norte-americano Donald Trump. A verdade é que Deus não tem nenhum interesse em que cristãos tenham poder político no mundo, simplesmente porque o reino de Deus não é aqui, é no plano espiritual, isso Jesus deixou bem claro em João 18.36: “meu reino não é deste mundo, se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus”.
      Mas se nem os cristãos primitivos compreenderam, quando formaram uma comunidade no estilo hippie-marxista, como entendemos em Atos 2.42-47, e depois apoiando a criação da Igreja Católica, por que acharmos que evangélicos atuais entendem? Mas o que penso que muitos evangélicos não entendem, e se entendem aí então é que estão mais equivocados que eu penso que estão, é que o que eles querem fazer a Igreja Católica fez por quase 1.700 anos e deu no que deu. Só se for isso que pretendam, como parece que denominações como a I.U.R.D. e a Renascer em Cristo claramente têm tentado fazer no Brasil e fora dele, serem uma nova igreja católica, para depois mandarem na religião, na política, na cultura e na ciência. 
      Se fosse plano de Deus para os dias atuais haver uma ou mais nações escolhidas, como era Israel nos tempos do antigo testamento, ele já teria feito isso, mas Deus não age assim há milênios, não é mais assim que ele trabalha para conduzir o homem à sua luz. Crer que evangélicos devam ter poder político no Brasil hoje é querer a aliança de Moisés e o reino de Davi de volta, mas é pior que isso, é negar a missão de Jesus, é negar uma iluminação superior que Deus permitiu à espiritualidade humana através de Cristo. Muitos evangélicos não aceitam isso porque se desviaram há algum tempo de Deus, são bons religiosos, mas muitos católicos também são, e ainda assim aceitam e respeitam uma igreja poderosa, mas corrompida. 
      Vou dizer algo que muitos poderão discordar: a política não precisa de evangélicos tanto quanto os evangélicos não necessitam de política, mas todos precisam de justiça. Mas se Deus usou a meretriz Raabe para dar continuidade à genealogia de Davi e de Jesus (Mateus 1.5-6 e Hebreus 11.31), se usou um Sansão, cego e humilhado, para destruir filisteus inimigos de Israel (Juízes 16), se usou o monarca Ciro que confiava em “outros” deuses para livrar seu povo do cativeiro babilônico (Esdras 1), Deus não precisa de homens que obedeçam-lhe em tudo, só homens que obedeçam-lhe no lugar e no momento necessário. É assim que Deus age com as nações neste mundo, na política, na economia, nas guerras, independe do livre arbítrio moral. 
      Quanto à escolha individual que cada ser humano faz para se preparar para a eternidade, isso é outro assunto, e para isso pode ser necessário o contrário, que o homem se distancie dos poderes deste mundo, seguindo o exemplo de Jesus. Se Jesus tivesse vindo para estabelecer um reino neste mundo, pouco tempo depois de sua ascensão, descida do Espírito Santo e fundação da igreja, o povo judeu não teria vivido o cerco de Jerusalém no ano de 70 d.C., onde seu Templo foi destruído e suas intenções de se libertar do império romano foram sufocadas. Israel nunca mais teve a glória que teve com Davi e Salomão, e nunca mais terá, depois de Cristo o que Deus faz na sociedade e nos indivíduos são coisas que independem-se.

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão