sexta-feira, setembro 09, 2022

Oremos pelos governantes (40/92)

      “Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens; pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade; porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.” I Timóteo 2.1-4

      Ouvi um grande líder evangélico dizer, “dízimos e ofertas das igrejas são necessários pois sem eles não consigo manter programa de TV que faz trabalho evangelístico”, mas quem disse que Deus precisa de um serviço tão caro para propagar o evangelho? Não seria melhor usar esse recurso para ajudar pobres e outros necessitados, mesmo que não se tornem membros oficiais de igrejas? Contudo, testemunho pessoal não aparece para os homens, não conquista poder político, eleitorado, não sacia vaidade de pastor que só quer poder neste mundo. 
      Os que são sábios, humildes e tementes a Deus, cumprirão seus deveres como cidadãos em eleições, e se manterão longe tanto quanto possível de política. Queremos mudar o Brasil? Ajudemos os indivíduos. Evangélicos, ao invés de se envolverem com política, tornem suas igrejas locais de auxílio a pobres e viciados, distribuam alimentos, roupas, criem cursos para ajuda social e profissional. Façam isso não para aumentarem os dizimistas, mas como caridade desinteressada, respeitando livre arbítrios, visando a pátria celeste, não a brasileira. 
      A afirmação que segue poderá chocar alguns: Deus não é Senhor do Brasil! Deus é criador do universo e nada ocorre sem que ele permita, mas neste mundo ele é Senhor só daqueles que deixam que ele seja. Depois que Jesus cumpriu sua obra de redenção, Deus não usou mais uma nação para testemunhar dele, como usou Israel nos tempos do antigo testamento. Israel podia dizer, “Deus é Senhor dessa nação”, ainda que passasse muito tempo rebelde a Deus e em cativeiro. Hoje Deus é Senhor de indivíduos, indiferente da nação que façam parte. 
      Isso não significa que Deus não atenda clamores apaixonados e sinceros do bem, que pedem que Deus salve o Brasil, que Deus cure o Brasil, que Deus traga prosperidade ao Brasil. Mas esses sinceros precisam aceitar que nem no céu haverá humanidade unânime, mas várias, e aqui no mundo as secções são ainda mais numerosas. O Brasil não é um povo, mas vários, especialmente o nosso país, formado por imigrantes de tantos locais do mundo, junto com os povos originais que já estavam nas Américas. Existir só uma crença no Brasil é difícil. 
      Por várias vezes tenho levantado aqui o posicionamento que o reino de Deus é no céu, não no mundo. Isso é argumento para invalidar intenção de cristão envolver-se com política, elegendo candidato que o represente religiosamente, crendo que isso é vontade de Deus. Um bom político precisa nos representar em muitas áreas, materiais, culturais, até morais, mas não religiosa. Talvez seja aí que muitos cristãos tenham uma dificuldade séria, não conseguem separar área moral da religiosa, acham que por alguém não ser cristão não tem moral.
      “Pelos seus frutos os conhecereis” (Mateus 7.20), quando, como cristãos, daremos importância a isso ao invés de crermos que alguém é evangélico só porque diz que tem em fé em Cristo e é membro de igreja? Assim engaiolamos os pardais e deixamos correr soltos, no meio das cidades, os hipopótamos. Quantos homens no mundo, assumindo-se como não evangélicos, e mesmo como ateus, estão fazendo pela humanidade o que muitos cristãos não estão fazendo, defendendo o planeta, fazendo caridade, lutando pelas minorias, eu conheço muitos. 
      Enquanto isso muitos evangélicos acham que estão no centro da vontade de Deus porque participam de cultos em templos lotados, cantando louvores e ouvindo pregadores carismáticos. Eu não entendo pelo texto bíblico inicial, que devemos orar pelos governantes necessariamente esperando que eles se convertam à religião cristã. A passagem diz “para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade”, entendo que devemos pedir que eles tenham vidas dignas para desempenharem bem suas funções públicas.
      Depois diz “porque isto é agradável diante de Deus que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade”, assim podemos e devemos até desejar que eles se salvem, mas salvação, seja lá como isso for interpretado, não é pré-requisito para que exerçam bem cargos políticos que envolvem vidas de muitos, incluindo dos que se pretendem salvos. Não se enganem, isso não diminui Jesus, ao contrário, o coloca no lugar certo, o espiritual, e nos leva a tratar todos como Deus trata, respeitando escolhas religiosas pessoais. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

Nenhum comentário:

Postar um comentário