25/09/22

Disciplinas e julgamentos (56/92)

      “Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos.” “E ninguém seja devasso, ou profano, como Esaú, que por uma refeição vendeu o seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou.” Hebreus 12.7-8, 16-17

      Esta reflexão é uma análise do tratamento ao qual Deus nos submete para nos aperfeiçoar, tratamento que dividirei em quatro procedimentos: disciplinas menores, disciplinas maiores, julgamentos primários e julgamento final. Isso não refere-se especificamente a uma metodologia bíblica, mas você já deve ter verificado esse tratamento em tua jornada, ainda que com outros nomes. Acima de tudo, a reflexão é uma exortação para que não tenhamos que passar pelo terrível e derradeiro julgamento. 
      Com paciência Deus espera que nos arrependamos dos erros morais diários e não coloquemos nossas cabeças nos travesseiros sem nos sentirmos perdoados. Com paciência Deus aguarda que assumamos vícios mais duradouros e queiramos viver um novo dia sem cair neles, ainda que os tenhamos praticado por algum tempo. Mas com paciência vemos Deus nos disciplinar, não para que fiquemos na disciplina para sempre, mas para que entendamos que o pecado prejudica, a nós e aos outros, por isso melhor é não pecarmos
      Depois de nos dar muitas chances, de aguardar que entendamos que posições que nos afastam do melhor de sua moral para nossas vidas no final darão frutos amargos, vemos Deus nos julgar e nos deixar numa situação onde teremos que perder muitas coisas, passar muito sofrimento, para que corrijamos os caminhos errados. Contudo, se ainda assim persistirmos no orgulho, em não aceitarmos o plano de Deus como o melhor para nós, um segundo julgamento do Senhor poderemos provar. 
      Esse segundo julgamento é terrível, nele perdemos tudo, todas as nossas referências precisarão ser aniquiladas, uma “morte”, não necessariamente do corpo, haverá para que uma nova vida comece. Nisso Deus tentará nos reconstruir, agora não haverá modo de fugirmos, mas para alguns isso pode ser até perda da vida física. Esse último julgamento tem uma característica, entre ele e um menor anterior, um bom tempo pode se passar, é a paciência de Deus revelando que o que virá será bem sério. 
      Por ser esse hiato longo, muitos pensam que insistiram tanto que prevaleceram, acham que fizeram braço de ferro com o destino e foram vitoriosos. Mas só é a bonança antes do temporal, é um tempo a mais que Deus dá ao ser humano para mudar de atitude. Se nos erros menores a disciplina é rápida, se mesmo julgamentos primários vêm depressa, o segundo julgamento pode levar uma vida. Muitos morrem no erro, em boa situação material, mas longe de Deus, esses serão surpreendidos na eternidade. 
      Tem muita gente aguardando esse segundo julgamento, isso é muito triste. Já vi gente ser avisada e ser avisada e ser avisada e não mudar de vida, então, sofrer um final trágico. Entenda bem, gente assim não é criminosa, violenta ou marginal, esses têm um tratamento adequado mas diferente dos que me refiro aqui como réus do último julgamento. A principal característica dos réus desse julgamento é o orgulho, teimam em fazer as coisas dos seus jeitos, não se rendem humildemente à vontade de Deus. 
      Passamos por disciplinas menores quase que diariamente. Disciplinas maiores passamos por muitas, mas nelas sofremos como filhos. Julgamentos primários podem ser necessários, às vezes mais de um em nossas vidas. Neles precisamos aprender a crer em Deus ainda que em exílios, cárceres ou desertos, mas mesmo nesses Deus cuida de nós e eles passam. Contudo, o segundo julgamento só ocorre uma vez, alguns ainda conseguem superá-lo neste mundo, mas muitos terão que morrer para sofrê-lo. 
      O texto bíblico inicial fala-nos de dois procedimentos de Deus, primeiro a disciplina, e depois, pelo menos até onde entendemos o escritor sobre Esaú, um julgamento. Até um ponto sofremos como filhos, não perdemos direitos, há apenas a tristeza que o afastamento de Deus precisa nos trazer, e precisa para que entendamos que erros têm preços ruins. Mas depois desse ponto julgamentos podem nos humilhar e muito neste mundo, chegando ao ponto do Senhor nos deixar seguir sob a nossa própria sorte. 

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a 1ª parte desta reflexão

24/09/22

Mente, mãos e coração (55/92)

     “Ainda assim, agora mesmo diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, e com choro, e com pranto. E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal.Joel 2.12-13

      A primeira vergonha é difícil, mas a segunda pode ser muito pior se algo de bom não for aprendido com a primeira. Vemos isso na história da Alemanha na primeira metade do século XX, derrotada e humilhada na primeira guerra mundial, não aprendeu algo útil com isso. Ocorreu que o oportunista e insano Adolf Hitler apareceu e usou uma nação orgulhosa, levando os alemães a uma vergonha maior na segunda guerra mundial. (Refletimos sobre isso na postagem Hitler, arquétipo diabólico). 
      Paciência, eis uma característica decisiva no amor de Deus pelos homens, o Senhor não se apressa para disciplinar, nem para julgar, só para amar. Na verdade espiritual maior, Deus não envergonha ninguém, não disciplina ninguém, não julga ninguém e não condena ninguém, a escolha é sempre do ser humano. Perto de Deus o homem vivencia libertação moral e iluminação espiritual, assim como dignidade material. Longe, contudo, experimenta só prazeres materiais e isso só por um tempo. 
      O homem enxerga disciplinas e julgamentos, são pontos de vista seus. É o ser humano, principalmente o do antigo testamento com uma ótica antropomórfica de Deus, que interpretou um Deus ativamente punidor e executor de sofrimentos. Deus nunca se coloca nessa posição, está sempre disponível para amar e abençoar. O ser humano, contudo, afastando-se do Senhor, fica indisponível para ser beneficiado pelas bênçãos que existem nas altas regiões espirituais às quais Jesus dá acesso. 
      Para ser didático vou antropomorfizar Deus, perdoem-me a licença poética. A mente de Deus sabe tudo, acompanha tudo, sua providência administra todas as coisas. Suas mãos tomam a iniciativa para alcançarem todos que tomam a iniciativa de o buscarem, mesmo que estejam longe. O coração de Deus, e o entendamos como sendo o centro ativo das virtudes do Senhor, perdão, misericórdia, amor, luz, paz, ele está na posição mais alta. Têm acesso ao coração os que são conduzidos a Deus por suas mãos.
      Enquanto as mãos executam como que um movimento mecânico, de retirar de uma posição e colocar em outra, o coração executa a intenção que abençoa os próximos de Deus. O movimento das mãos do Senhor são condicionados ao nosso livre arbítrio, já o coração de Deus abençoa sempre, ainda que só alcançando os próximos. Os distantes são conhecidos pela mente de Deus, são chamados por Deus ao arrependimento, Deus não se esquece deles, mas enquanto não se decidem estão longe do coração. 
      O coração de Deus está longe dos que não querem obedecer a Deus porque em seu coração só existem virtudes. Se estivesse perto desses significaria que o coração do Senhor conteria vingança, punição, dores e trevas ativas. O que está ativo nas regiões espirituais longe de Deus são outros seres rebeldes, como o diabo e os demônios, são esses que fazem os distantes de Deus sofrerem, não Deus. O seres espirituais distantes do Senhor são eles mesmos os castigos do mal, punem a si mesmos e aos pares. 
      Os distantes provam disciplinas e julgamentos, assim como, em situação extrema, o inferno ou a pior eternidade, longe do coração de Deus. A melhor eternidade, o céu, está perto de Deus, nela estão os próximos do Senhor, praticantes de fé e de boas obras em Cristo. Há sérios enganos ao aliar a um Deus espiritual formas humanas, principalmente na área moral, contudo, na funcionalidade o antropomorfismo pode ser útil ao ensino, ainda que Deus não tenha cabeça, membros, tronco ou coração. 
      Deus delega a anjos e outros seres espirituais as tarefas de “movimentos” espirituais, perceba como é maravilhoso. Distantes, Deus nos e se importa, e ainda que não possa agir porque não autorizamos, seu coração nos ama e mostra-nos isso. O Senhor anda pela Terra procurando quem o queira. Então, decidimos nos achegar a ele, ele nos ouve, suas mãos nos tomam, seus braços nos aproximam de seu peito, abraçam-nos forte e nos colocam em seu coração, onde nos limpa, nos cura, nos ensina e nos protege

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a 2ª parte desta reflexão

23/09/22

O que se faz, não com o quê (II) (54/92)

      “O Senhor olha desde os céus e está vendo a todos os filhos dos homens. Do lugar da sua habitação contempla todos os moradores da terra. Ele é que forma o coração de todos eles, que contempla todas as suas obras.” Salmos 33.13-15

      Se acompanhou o raciocino da primeira parte desta reflexão, entendeu que fiz uma espécie de negação a algo que a maioria dos cristãos gosta de afirmar. “Só Cristo salva”, dizem os evangélicos, os católicos dizem algo mais extremo, ”Fora da Igreja (católica) não há salvação”, mas os espíritas contra-atacam com “Fora da caridade não há salvação”. Todos querem ser proprietários exclusivos da verdade dizendo que receberam de Deus a chancela. 
      A vaidade leva pessoas a se acharem donas de verdades, não entendendo que: Cristo nos capacita para sermos caridosos e assim fazermos parte de uma igreja celestial! Eis a harmonização de todas as afirmativas anteriores, vindas de origens distintas. Não tem a ver com religião e o mundo, mas com Deus e o plano espiritual. Os homens não aceitam que Deus ama a todos, entrega ferramentas conforme os limites humanos, para que todos façam boas obras. 
      Os fins justificam os meios? Não nesse caso, só existe um meio para Deus, Jesus. Até que ponto importa que as pessoas conheçam suas ferramentas, importa que saibam usá-las bem. Nem todos sabem como um computador funciona, mesmo assim podem usá-lo com eficiência. O Sol é o Sol, não importa se o olhamos a olhos nus ou com um potente telescópio. Se usarmos um telescópio saberemos de mais detalhes que quem olha a olhos nus, mas isso importa?
      Cientistas estudam mais a fundo o Sol para saber coisas importantes sobre o universo e a relação desse com a Terra. Mas para nós, seres humanos comuns, importa-nos ter o Sol brilhando num período suficiente para beneficiar agricultura, os animais e nos permitir exercer atividades produtivas com mais facilidade. Deus é Sol que brilha para todos, ainda que muitos não tenham ferramentas sofisticadas para saber com profundidade como ele age. 
      Confortáveis em templos cristãos, muitos não se atêm ao fato que milhares de pessoas no mundo não possuem as ferramentas igreja e Bíblia para conhecer Jesus como eles conhecem. Essas pessoas estão condenadas ao inferno porque não tiveram acesso a ferramentas melhores para chegar a Deus? Mas quem disse que muitas dessas pessoas, em suas religiões e com outras ferramentas, não têm experiências reais com o Deus verdadeiro? Deus é espírito.
      Cristãos, Deus não ama só vocês, ama a todos. Se vocês, de posse de doutrinas e dogmas definidos, de igrejas organizadas e reconhecidas, de tantas versões de Bíblias, de escolas teológicas com um pensamento cristão analisado sob tantos pontos de vista, enfim, com as melhores ferramentas, construíram um cristianismo corrupto, por que exigir dos outros que tenham crenças mais claras com as ferramentas que possuem? Deus vê a intenção do coração. 
      Não tenho dúvida que Jesus é alguém especial e exclusivo enviado por Deus a este planeta, acima de todas as ferramentas espirituais. Contudo, o que muitos cristãos não entendem é que muitos, ainda que não tenham conhecimento intelectual sobre Jesus e a Bíblia, se tiverem fé e intenção correta, têm comunhão com Deus e através de Jesus. Jesus é hoje um ser espiritual numa posição única, ninguém que quer se aproximar do Altíssimo o faz fora de Jesus. 
      Por outro lado tem muita gente dentro de templo e de catedral, falando o nome de Cristo, mas muito distante de Jesus e de Deus. Esses sabem o evangelho, conhecem o Cristo que viveu no primeiro século, foi crucificado e ressuscitou, mas não experimentam o Jesus que reina atualmente nas regiões espirituais mais altas. Eles têm acesso a melhor ferramenta e não constroem muito com ela. Será que só por conhecerem a ferramenta terão créditos na eternidade? 
      Na verdade, existe muita gente chamando Jesus de outro nome, em outro idioma, às vezes só por um dialeto que nem escrita usa, mas se aproximando de Deus. São os bons construtores, construindo castelos com pedaços de pau e pedra, enquanto que muitos que se chamam de cristãos, com a caixa de ferramentas completa nas mãos, estão dentro de cavernas rudimentares. Haverá muitas surpresas na eternidades, diminuí-las é possível aqui, com humildade. 
      Vejo católicos idolatrando Pedro, protestantes idolatrando Martinho Lutero, espíritas idolatrando Chico Xavier, e poderia citar mais exemplos. Só Jesus pode ser totalmente amado e seguido, e não me refiro às religiões cristãs, mas à pessoa espiritual de Cristo hoje. Deus usa muitos para descobrir ferramentas, esses são especiais, mas são homens. Há seres elevados no mundo hoje? Sempre há, mas talvez você nunca os conheça, eles vivem discretos e humildes. 

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22/09/22

O que se faz, não com o quê (I) (53/92)

      “Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas, ou a videira figos? Assim tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce. Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria.Tiago 3.12-13

      Na vida, dentro ou fora das religiões, dentro ou fora do cristianismo, Deus apresenta a todos os seres humanos ferramentas. Elas são conhecimentos religiosos, espirituais, morais, sobre espiritualidade e virtudes, sobre o mundo espiritual e sobre Deus. Através dessas ferramentas as pessoas podem conhecer elas mesmas, o ser humano, o mundo espiritual, Deus e os valores morais, para serem melhores, não só neste mundo, mas para a eternidade pós morte. 
      Existem vários tipos de ferramentas, algumas mais delicadas, específicas, precisas, e outras mais brutas, gerais, não tão precisas. Cabe a cada um de nós neste mundo, pelo trabalho e pelo livre arbítrio, escolher quais ferramentas tomar e usar. Na eternidade, contudo, não seremos avaliados pela sofisticação das ferramentas, mesmo pela aparência delas, mas pelo que fizermos com elas, pela qualidade das obras que construímos com as ferramentas. 
      Nós, seremos humanos, contudo, temos a tendência de julgar as pessoas pela qualidade das ferramentas que elas possuem, e muitas pessoas são hábeis para exibirem suas ferramentas, procurando justamente serem valorizadas por elas. Não percebemos que muitos com pedaços de madeira e pedras constroem lindos palácios, enquanto que outros, com furadeiras de última geração e jogos completos de chaves de fenda, só constróem cavernas rudimentares. 
      Um cuidado especial temos que ter com os que descobrem novas ferramentas, sim, porque ferramentas espirituais não são inventadas por homens, mas criadas por Deus, os homens apenas as descobrem. Não é porque alguém descobre pela primeira vez uma ferramenta que seja seu criador, que saiba usar bem a ferramenta, ou que possa seguir usando-a bem até o fim de sua vida neste mundo. É certo que quem descobre tem a missão de divulgar a ferramenta.
      Como divulgadores, descobridores ganham fama, principalmente se a ferramenta entrega uma iluminação inédita. Mas eles também terão que usar as ferramentas para construir algo, e serão, como qualquer outra pessoa, avaliados pelo que construírem. Nem o fato de terem descoberto uma ferramenta lhes dá créditos adicionais. Não podemos idolatrar alguém só por ser fundador de religião, seu valor está aliado àquilo que ele praticar de bom com ela. 
      Em termo espirituais, o homem que pisou este planeta e compartilhou a ferramenta mais poderosa foi Jesus Cristo. Ele não só mostrou o caminho como viveu esse caminho em toda a sua plenitude. Por isso, mesmo cristianismos corrompidos, resistem até hoje por estarem baseados num elevado exemplo de vida. Mas outros fundadores de religiões também descobriram, autorizados por Deus, ferramentas, e umas bem preciosas, ninguém se engane sobre isso. 
      Mas se o catolicismo, construído sobre a mais elevada ferramenta, se corrompeu, por que não se corromperiam religiões fundadas sobre ferramentas inferiores, tendo em vista que os próprios fundadores dessas viveram abaixo do nível de Cristo? Alguns descobridores, ainda que famosos, não construíram muito e até destruíram no final o que tinham feito. Isso ocorre quando se cai na vaidade de se achar melhor justamente por se ter descoberto algo.
      Por isso não devemos idolatrar nenhuma religião, muitos menos fundadores de religiões, reformadores de religiões ou codificadores de religiões, só Jesus viveu o que pregou e pregou o ensino mais elevado de todos. As ferramentas são de Deus, não dos homens, aos homens cabe tomá-las e usá-las para construir boas obras, os que as descobrem mais responsabilidade ainda têm, de fazer melhor com a nova ferramenta que entregam para que deem exemplo. 
      Mas também não podemos nos escandalizar só porque um descobridor pisou na bola, repito, os homens são descobridores, não inventores, quem cria é Deus. Não é porque alguém traz uma visão mais profunda de Deus e nos abençoa com ela, que ele seja Deus. Ele continua sendo homem, sujeito à vaidade e cabível de livre arbítrio, se ele parar de construir algo verdadeiro ou construir algo falso, a responsabilidade é dele. Nosso compromisso é por Jesus. 
      Cristãos, não sejam preconceituosos, neste século XXI Deus tem disponibilizado muitas ferramentas à humanidade. Sabemos se elas funcionam vendo não a beleza delas, nem a fama dos que as descobriram, mas os bons frutos dos que as utilizam. Saibamos mais que aquilo que nos é ensinado em missas e cultos por homens que se acham donos da verdade e exclusivos proprietários de ferramentas. Tudo é de Deus, dele viemos, a ele voltaremos, a ele a glória.

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21/09/22

Sincera religiosidade: até quando? (52/92)

      “A justiça do sincero endireitará o seu caminho, mas o perverso pela sua falsidade cairá.Provérbios 11.5

      O estilo crítico deste espaço pode levar alguém a interpretar errado sua intenção, e é justamente sobre isso esta reflexão, sobre intenção sincera do bem. Não duvido da boa sinceridade de muitos cristãos em cultuarem a Deus em igrejas católicas, protestantes e evangélicas, não duvido da boa intenção de muitos pastores em pregarem e manterem ministérios. Não podemos duvidar da intenção sincera do bem de ninguém, jamais, Deus ama a todos e a todos atende. O ponto, contudo, que precisa ser levantado nestes tempos atuais, é que muitos, ainda que sinceros e bem intencionados, se acomodam e se acovardam. 
      Por que nestes tempos atuais? Porque vivemos tempos decisivos, quando uma mudança precisa ocorrer, quando o velho e imperfeito cristianismo precisa ser confrontado sem medo para o bem da humanidade. Só assim as pessoas poderão de fato ter experiências retas e puras com Deus, pelo Espírito Santo e através de Jesus. Você que me lê, precisamos agir, e nem vou usar o termo “pensar fora da caixinha”, já que muitos usam esse termo, mas na verdade só saem da caixa menor para outra um pouco maior, e seguem presos. A ação é orar mais, para vivermos mais em santidade, amor e humildade, sermos melhores cristãos. 
      Conheço muitos pastores sinceros, não são só gananciosos vendendo fé para ganhar dízimos, objetivando grandes ministérios só por fama e grana, não, existem muitos pastores homens de bem, tanto nas igrejas protestantes tradicionais quanto nas pentecostais. Existem também padres corretos, que fazem o que podem para ajudar a conduzir a Deus homens e mulheres dentro do catolicismo. Deus conhece o coração sincero de todos esses e lhes recompensa com paz e com vida eterna, ninguém se engane sobre isso. Contudo, muitos seguem, ainda que fazendo tudo que podem, limitados pelas cercas da religião. 
      Critico a religião muito aqui, mas o que seria religião? Não me refiro à definição tradicional, dada principalmente à religião cristã, o religare, a religação do homem a Deus por meio de Cristo, ou em outra religião, por outro meio. Quando digo religião me refiro a construções e tradições humanas, ainda que sobre bases legitimamente de Deus, que homens fazem, para que outros homens creiam. Isso, contudo, de forma cômoda, aceitando sem fazer críticas, só porque acham que são coisas de Deus. Religiões citam Deus, até tentam usar a Deus, e tudo isso Deus usa, mas tudo isso não é o Deus verdadeiro e pleno.
      Deus olha com especial afeto os que se colocam entre cercas e tentam ser fiéis ao que lhes ensinam dentro delas, e muitos fazem isso com todo o coração, com pura humildade, com fidelidade e sem hipocrisia. Conheço, especialmente, irmãos católicos e da Congregação Cristã no Brasil assim, só para citar dois exemplos. Quem conhece sabe que essas religiões em especial exigem seguimento de protocolos nada fáceis, no catolicismo são os sacramentos, os dogmas, as festas, os santos, na Congregação são os costumes e outras diretrizes, que levam pessoas a assumir suas religiosidades sem temer o que outros pensam. 
      Confesso que tenho certa inveja de alguns religiosos, às vezes queria ter a chamada de Deus que eles têm, parece mais fácil, e não veja nisso ironia ou falta de respeito com o que outros creem. Mas para sermos realmente sinceros no que vivemos temos que ser fiéis às nossas chamadas pessoais, à fé em que cada um de nós é chamado para conhecer a Deus e ser um bom ser humano no mundo. Muitos evangélicos acham que podem converter qualquer um à sua religião, isso não é verdade. Se alguém que se dizia de outra religião veio para uma denominação evangélica, é porque na verdade nunca foi da outra religião. 
      Nunca foi porque nunca deveria ter sido, tinha uma chamada de Deus e estava desobedecendo-a em outra religião. Um bom católico nunca vai deixar o catolicismo para ser protestante, muitos podem dizer que conhecem ex-católicos que se tornaram evangélicos, mas será que de fato algum dia foram católicos? Penso que mesmo que tenham sido adeptos atuantes do catolicismo, em seus corações sempre houve dúvidas, não tinham paz onde estavam. Por outro lado, mesmo que sejamos protestantes abertos que até aceitam entendimentos de outras religiões, se nossa chamada é ser protestante devemos permanecer assim. 
      Nem tudo que cremos deve ser compartilhado com os outros, e nem tudo que não cremos deve ser mudado, importa-nos boas obras apoiadas em fé sincera. “A justiça do sincero endireitará o seu caminho”, isso significa que onde há boa sinceridade ainda que se comece torto se achará no final o caminho reto. “Mas o perverso pela sua falsidade cairá”, quem não é sincero do bem é falso, pode até querer mostrar que é uma coisa, mas no coração é outra. Esse não ficará de pé para sempre, um dia a verdade virá à tona, então, terá que tomar uma decisão do lado da boa sinceridade, ou não, seguirá falso e muito infeliz. 
      É a fidelidade a uma fé verdadeira que leva muitos a serem sinceros e bem intencionados mesmo em religiões imperfeitas. Não devemos julgar ninguém porque não sabemos como Deus trabalha nos corações, usando religiosidades, mesmo diferentes da protestante e evangélica, para mudar o caracter das pessoas. Entendamos que o objetivo de Deus não é que as pessoas tenham religiões perfeitas, elas não existem e até agora nunca existiram. O objetivo de Deus é aperfeiçoar as pessoas, liberta-las de vícios, curá-las de feridas emocionais, dar a elas perdão e paz para que ajudem todos a seguirem para a sua luz mais alta em amor. 
      A religiosidade de muitos é sincera, mas até quando isso bastará? Assim, voltamos ao ponto do início desta reflexão, os tempos urgem, logo não bastará mais ser bem intencionado dentro de cercas construídas por homens. Os próprios homens não estão suportando mais ficar entre cercas, o alimento limitado que eles recebem das religiões institucionalizadas não está saciando mais a espíritos que estão sendo libertados pela ciência e por bandeiras sociais que pedem direitos iguais a todos. Os olhos estão sendo abertos, e como o cristianismo tradicional não fez isso, o materialismo fez, contudo, esse não pode alimentar o espírito. 
      A razão foi despertada, isso só deixará mais clara a necessidade espiritual, de forma que religiões tradicionais não bastarão mais. O único que pode evoluir o espírito humano é o Espírito Santo de Deus, o mesmo que as religiões tentaram sufocar e por isso morreram. O novo não se esquecerá da Bíblia, mas a interpretará de maneira mais correta, o novo não desprezará o Cristo, mas porá Jesus em seu lugar mais alto, o novo, apesar de despertado pelo materialismo, não será ateu, mas realmente espiritual e unirá a humanidade, destruindo todas as cercas. Acharão o novo os que se despojarem do comodismo e do medo. 

20/09/22

Leia, ore e viva melhor (51/92)

      “Disse-lhe o seu senhor: Bem está, bom e fiel servo. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.Mateus 25.23

      Podemos dividir os seres humanos em dois grupos: o primeiro grupo é o que tem curiosidades espirituais inatas, o segundo grupo é o que se acomoda ao conhecimento que recebeu em sua juventude. Uns sempre questionam, não se acomodam à hipocrisia ou por medo. Mas entenda certo, pessoa que vê defeito em tudo e que reclama de todos não é necessariamente uma curiosa espiritual, pode ser assim e se acomodar a uma religião ou igreja e ficar nelas a vida toda, sempre insatisfeita. Contudo, também não ache que ter medo é aviso que não deve superar limites, na medida certa medo é saudável, nos protege de riscos desnecessários. 
      Quando Deus nos chama para conhecer mais, sentimos certo medo, assim vamos com calma. A leitura é algo que nos põe em contato com novos conhecimentos, de ler não devemos ter medo. Muitos cristãos têm vidas espirituais limitadas porque têm medo até de ler um texto religioso que não seja a Bíblia ou ensinos teológicos evangélicos. Sobre religião, leia tudo, principalmente o que te causa alguma apreensão, se há medo, há o desconhecido, e aprender requer em primeiro lugar que admitamos que não sabemos tudo e que muitas coisas nos são desconhecidas. Não é porque discordamos que é mal, principalmente se não conhecemos.  
      Há muita coisa interessante para se ler sobre religião, espiritualidade e Deus, sim, também há muita bobagem, da mesma maneira que há no cristianismo. A primeira dica é: vá às fontes, aos textos de fundadores, conheça a raiz antes dos galhos. Um segredo de ler bem é adquirir livro não pelo título ou pelo assunto, mas pelo autor. Pesquise sobre o autor, e esteja preparado para as polêmicas sobre ele, assim como para os críticos, que muitos vezes querem aparecer mais que os autores. Alguns exercem a função de crítico, não por terem experiência para fazer análises justas, mas por recalque, como se diz, quem não faz vira crítico. 
      Li certa vez um livro, o autor escreveu sobre o tema proposto de um jeito simples e profundo, contudo, a biografia inicial do autor, disponível na edição que comprei, me ensinou tanto quanto o resto do livro. Pude conhecer, através de um histórico detalhado feito por um escritor sério, que respeitou o autor, mas não se deixou levar pela paixão, a prática de vida do autor. De fato havia em sua história episódios duvidosos, nada espirituais, e eis outra coisa importante para avaliarmos a relevância de livro religioso. Não considere só a originalidade do autor no assunto, mas em se tratando de espiritualidade, verifique como ele pratica sua teoria. 
      Depois que você ler e entender, ore, com muita sinceridade e sem conceitos pré-concebidos, pergunte a Deus o que é verdade e o que não é, o que poderá abençoá-lo e o que nao poderá, insista nessa oração, preparado para todas as respostas. Deus mostra sua vontade a nós de várias maneiras, em primeiro lugar dando-nos ou não paz sobre um assunto, mas depois, o Senhor pode falar de maneiras bem diversas. Um conselho, certos questionamentos convém que você mantenha em segredo, entre você e Deus, tente não falar com outras pessoas a respeito, principalmente se forem cristãos do tipo conformado, não escandalize ninguém.
      Algo muito importante precisa ser dito: Deus é sábio, não chama uma pessoa para novos conhecimentos para que esses a prejudiquem, para que ela se perca, assim siga avaliando tudo com sabedoria. Leia, ore, então, viva melhor, a busca deve fortalecê-lo, não enfraquecê-lo, deve fazê-lo feliz, com desejo e com forças para ser mais santo. Se a busca estiver prejudicando você de alguma maneira, se estiver te levando a ser alguém pior que era antes da busca, e pior em termos morais, pare tudo. Sê fiel no pouco, antes de querer ser fiel no muito, o que vem de Deus é verdade, luz e excelência, não confunde, esclarece, não rebaixa, eleva. 

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a 1ª parte desta reflexão

19/09/22

Esotérico ou exotérico? (50/92)

      “Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.” I Coríntios 13.12

      Por várias vezes tenho dito aqui que Deus pode ser conhecido mais profundamente, não sem religiões, mas apesar delas, e mais, além delas. Existe um conhecimento público (exotérico) e um secreto (esotérico), e não confunda aqui secreto com satanista, há conhecimentos públicos do bem como há do mal, assim como há conhecimentos secretos de ambos. Costumamos entender algo escondido como errado, como do mal, e isso também é verdade, mas o próprio Deus esconde coisas boas de seus filhos quando eles não estão preparados para tais conhecimentos. Até o bem conhecido no momento errado e por pessoas erradas pode fazer mal. 
      O termo esotérico nos é mais conhecido, os cristãos o aliam ao ocultismo, à magia, a ordens secretas e mesmo a religiões orientais. Já o termo exotérico, com “x”, é menos usado, mas ele é justamente o que tecnicamente se refere ao nível de cristianismo com o qual a maioria dos cristãos interage. Católicos, evangélicos e protestantes leigos, e mesmo muitos sacerdotes, pastores e reverendos, só conhecem o cristianismo exotérico, não o esotérico. O que seria o cristianismo esotérico? Os dons espirituais, descritos por Paulo em I Coríntios 12, são a porta para esse cristianismo, o preservado por Deus dos não devidamente preparados. 
      As religiões criam cercas e deixam portas bem fechadas, principalmente a católica, no intuito de manterem certos conhecimentos nas mãos de poucos para dominarem sobre muitos. Se pensarmos assim, as denominações protestantes mais tradicionais, mais próximas da teologia original da reforma, apesar de terem se descartado de doutrinas católicas adicionais à Bíblia, incluindo livros de seu cânone, estão mais próximas da intenção católica de manter a maioria no exoterismo cristão. Já as pentecostais, por permitirem experiências com dons espirituais, deixam a porta aberta ao cristianismo esotérico, é claro que isso é faca de dois gumes.
      Um cristianismo amarrado a dogmas e à palavra escrita na Bíblia, fica limitado a leis, mas impede mais facilmente desvios, já aquele livre para dons espirituais pode ser presa da subjetividade humana. Se alguém diz que sabe de algo ou que deve fazer algo porque o Espírito Santo lhe mandou, fica mais difícil ir contra, ainda que não se tenha tido a mesma experiência. Nesse caso, o mais sensato é utilizar com sabedoria as duas coisas, a palavra revelada e a escrita, cuidando que uma não contrarie a outra, não de maneira extrema. Uma causa de tantas sizões na igreja evangélica é o pentecostalismo, mas até que ponto isso é realmente problema? 
      Conhecimento público é mais material, já o secreto é mais espiritual, indiferente se sejam do bem ou do mal. Não que o cristianismo exotérico não nos ensine sobre coisas espirituais, mas ele vai só até um ponto, e nos prende ao tradicional e coletivo. Já o esotérico é busca pessoal, vai além da tradição e nos revela o mundo espiritual com mais profundidade. Liberdade nunca é ruim, mas ela deve ser o início, que nos conduza no final a conhecimentos e práticas corretas e altas. Assim, o pentecostalismo, apesar de parecer levar muitos a infantilidades, pode ser o começo da maturidade, já o não pentecostalismo mantém todos na infância sempre. 
      Mas não sejamos limitados nem façamos generalizações, o que conduz o ser humano ao conhecimento espiritual mais elevado é seu coração e a aprovação de Deus, que nada mais são que demonstradores de sua vocação, isso é indiferente da igreja ou da religião que o ser professa. Existem cristãos protestantes mais esotéricos que pentecostais que falam línguas espirituais estranhas, e mesmo no catolicismo Deus chama muitos para conhecê-lo com intimidade. Igreja e religião não importam, a chamada é espiritual, se existe, de algum jeito e em algum momento da vida, a pessoa ouvirá o Espírito Santo e buscará respostas a seus questionamentos.

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão