segunda-feira, setembro 19, 2022

Esotérico ou exotérico? (50/92)

      “Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.” I Coríntios 13.12

      Por várias vezes tenho dito aqui que Deus pode ser conhecido mais profundamente, não sem religiões, mas apesar delas, e mais, além delas. Existe um conhecimento público (exotérico) e um secreto (esotérico), e não confunda aqui secreto com satanista, há conhecimentos públicos do bem como há do mal, assim como há conhecimentos secretos de ambos. Costumamos entender algo escondido como errado, como do mal, e isso também é verdade, mas o próprio Deus esconde coisas boas de seus filhos quando eles não estão preparados para tais conhecimentos. Até o bem conhecido no momento errado e por pessoas erradas pode fazer mal. 
      O termo esotérico nos é mais conhecido, os cristãos o aliam ao ocultismo, à magia, a ordens secretas e mesmo a religiões orientais. Já o termo exotérico, com “x”, é menos usado, mas ele é justamente o que tecnicamente se refere ao nível de cristianismo com o qual a maioria dos cristãos interage. Católicos, evangélicos e protestantes leigos, e mesmo muitos sacerdotes, pastores e reverendos, só conhecem o cristianismo exotérico, não o esotérico. O que seria o cristianismo esotérico? Os dons espirituais, descritos por Paulo em I Coríntios 12, são a porta para esse cristianismo, o preservado por Deus dos não devidamente preparados. 
      As religiões criam cercas e deixam portas bem fechadas, principalmente a católica, no intuito de manterem certos conhecimentos nas mãos de poucos para dominarem sobre muitos. Se pensarmos assim, as denominações protestantes mais tradicionais, mais próximas da teologia original da reforma, apesar de terem se descartado de doutrinas católicas adicionais à Bíblia, incluindo livros de seu cânone, estão mais próximas da intenção católica de manter a maioria no exoterismo cristão. Já as pentecostais, por permitirem experiências com dons espirituais, deixam a porta aberta ao cristianismo esotérico, é claro que isso é faca de dois gumes.
      Um cristianismo amarrado a dogmas e à palavra escrita na Bíblia, fica limitado a leis, mas impede mais facilmente desvios, já aquele livre para dons espirituais pode ser presa da subjetividade humana. Se alguém diz que sabe de algo ou que deve fazer algo porque o Espírito Santo lhe mandou, fica mais difícil ir contra, ainda que não se tenha tido a mesma experiência. Nesse caso, o mais sensato é utilizar com sabedoria as duas coisas, a palavra revelada e a escrita, cuidando que uma não contrarie a outra, não de maneira extrema. Uma causa de tantas sizões na igreja evangélica é o pentecostalismo, mas até que ponto isso é realmente problema? 
      Conhecimento público é mais material, já o secreto é mais espiritual, indiferente se sejam do bem ou do mal. Não que o cristianismo exotérico não nos ensine sobre coisas espirituais, mas ele vai só até um ponto, e nos prende ao tradicional e coletivo. Já o esotérico é busca pessoal, vai além da tradição e nos revela o mundo espiritual com mais profundidade. Liberdade nunca é ruim, mas ela deve ser o início, que nos conduza no final a conhecimentos e práticas corretas e altas. Assim, o pentecostalismo, apesar de parecer levar muitos a infantilidades, pode ser o começo da maturidade, já o não pentecostalismo mantém todos na infância sempre. 
      Mas não sejamos limitados nem façamos generalizações, o que conduz o ser humano ao conhecimento espiritual mais elevado é seu coração e a aprovação de Deus, que nada mais são que demonstradores de sua vocação, isso é indiferente da igreja ou da religião que o ser professa. Existem cristãos protestantes mais esotéricos que pentecostais que falam línguas espirituais estranhas, e mesmo no catolicismo Deus chama muitos para conhecê-lo com intimidade. Igreja e religião não importam, a chamada é espiritual, se existe, de algum jeito e em algum momento da vida, a pessoa ouvirá o Espírito Santo e buscará respostas a seus questionamentos.

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

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