26/10/22

Acima dos símbolos (87/92)

      “Porque eu conheço que o Senhor é grande e que o nosso Senhor está acima de todos os deuses.” Salmos 135.5

      Existe outro aspecto importante sobre símbolos, verificado com representações de seres híbridos, parte homem, parte animal. Também se referem a seres espirituais, mas cada parte tem um significado, e assim podem conter vários significados espirituais. A esfinge, parte humana, parte leão, parte pássaro, conforme o ocultismo é mais que um animal mítico, é um conjunto de símbolos esotéricos. Quem foca em uma imagem de animal, não está adorando um animal, mas evocando significados espirituais. 
      Povos originais (indígenas) da América do norte têm ligações espirituais com animais, um urso, uma águia, uma cobra, sendo que cada animal representa um espírito ou um significado espiritual específico. Por outro lado religiões hinduístas já consideram certos animais como possuidores de espíritos especiais, por isso, por exemplo, os bovinos são respeitados, mas nesse caso não é simbolismo. Assim, a conexão espiritual que não com Deus por Jesus, pode ser bem variada e complicada. 
      Toda a velha aliança de Israel, recebida e codificada por Moisés, é um grande simbolismo da nova aliança que seria entregue por Jesus (refletimos a respeito em “Os templos de Jerusalém“). Não que os judeus adorassem a construção do templo, ou os objetos usados nas festas e cerimônias, mas Deus ensinava ao homem sobre a obra redentora do Cristo através dos protocolos da religião israelita. Isso construiu um símbolo mental muito poderoso usado pelo catolicismo e pelo protestantismo.
      Por que nos sentimos tão eficientemente purificados quando pedimos que Deus nos lave com o “sangue” de Cristo? Não sei quanto a você, mas eu me sinto, me pego usando esse simbolismo muitas vezes. Ainda que mental, é um símbolo porque o sangue físico e real de Cristo não vem nos limpar quando oramos assim. Jesus hoje é espiritual e numa posição espiritual elevadíssima, acima de toda sorte de seres espirituais e físicos. Mas essa figura funciona, como funcionam outras figuras.
      Baseada em Lucas 22.19-20 a Igreja Católica tem, talvez, o simbolismo mais forte de todos, que mais que um símbolo, creem eles, é uma manifestação física. No sacramento da Eucaristia a hóstia se transforma, dentro do corpo do crente, em corpo e sangue do Cristo (“transubstanciação”). No meio protestante e evangélico a interpretação da ceia varia muito, não é consenso, para uns aproxima-se bastante da doutrina católica, para outros a ceia é só um culto de memória e de confirmação de fé. 
      Pessoalmente acredito que não devemos julgar mal ninguém por usar símbolos materiais para focar ou reforçar sua comunicação com Deus e o mundo espiritual. Deus ouve e atende a todos, indiferente de símbolos, religiões e mesmo de intenções. Contudo, como alguém que tem certeza de suas convicções e acredita que conhece certas verdades, humildemente posso aconselhar. Busquemos a Deus, focando mentalmente nele, e através da verbalização do nome de Jesus Cristo, isso basta.  
      Concluo lembrando algo já dito aqui, nossa comunicação com o plano espiritual é mental, assim imagens, vistas ou imaginadas, não são só percepções e invenções de nossas cabeças, podem ser usadas para interagirmos com Deus e com outros seres. Não faço aqui qualquer juízo de valor, dizendo o que é certo e o que é errado, mas posso dar um testemunho. Buscarmos ao Deus Altíssimo, e não outro “deus”, nos cura, nos limpa, nos protege e nos conduz sem confusão sempre em vitória. 

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e na postagem de amanhã
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25/10/22

O poder dos símbolos (86/92)

      “Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado.I João 1.7

      A reforma protestante negou o poder dos símbolos, e em última instância, para aqueles que atingem espiritualidade mais iluminada e madura, não há necessidade de símbolos materiais para se ter uma experiência com Deus, digo isso com o respeito que tenho com todos que pensam diferente. Não estou dizendo com isso que protestantes e evangélicos tenham maturidade ou que desfrutem de toda iluminação, que sejam por isso melhores que católicos ou outros religiosos. 
      Mesmo que seja só por ideias, símbolos ainda podem ser usados, amarrando o ser humano na infantilidade espiritual que não vê muito mais que quem usa símbolos materiais. A diferença é que a reforma protestante colocou o homem num contato mais direto e reto com o Altíssimo, pela fé exclusiva em Jesus, ainda que negue a maior parte das capacidades que o Espírito Santo pode dar aos seres humanos para conhecerem mais profundamente o mundo espiritual.
      É inegável que os seres humanos precisam de símbolos materiais para concentrarem sua fé, para focarem pensamentos e sentimentos, ainda que muitos não tenham exatamente a noção de com quem estão se comunicando de fato. Assim, imagens em figuras e estátuas de homens e mulheres que já morreram e foram proeminentes em suas crenças, mesmo de arcanjos, de entidades e de outros seres espirituais, ajudam os seres humanos a terem a atenção de seres no plano espiritual. 
      Sim, nenhuma fé fica impune, nenhum intenção mental e emocional direcionada ao plano espiritual é em vão, acreditem nisso protestantes e evangélicos. Há poder nos símbolos desde muito tempo, como o antigo testamento tão bem nos descreve quando fala de “falsos deuses”, ainda que venham à mente de muitos evangélicos mal informados, quando leem sobre idolatria, só estátuas de pedra, madeira ou outro material, vazias, que não podem interagir com os seres humanos. 
      O ser humano precisou, e vejam que usei o verbo no passado, de símbolos nos tempos antigos, ainda que num estado de excessão. A história de Israel no antigo testamento é a de um Deus espiritual tentando convencer a humanidade que símbolos materiais são desnecessários. Mas o motivo de vermos isso com tanta ênfase em tantas passagens, seja pelos registros de Moisés, dos juízes, dos reis ou dos profetas, não era para ensinar que outros deuses não existem, mas que não são confiáveis.
      Não vou entrar em detalhes, mas a coisa funciona mais ou menos assim. Se você moldar uma estátua, ou desenhar uma imagem, de um ornitorrinco, por exemplo, então, invocar o mundo espiritual focado nisso, achará algum “ser espiritual” que se identifique como tal. Seres espirituais ”inferiores” são vaidosos, carentes por interação e adoração, como não querem se render a Deus querem ser deuses e encontram em seres humanos, assim como em outros espíritos ”inferiores”, atenção. 
      Por isso construção física de símbolos espirituais é tão perigosa, não fazemos ideia de quem responderá se chamarmos por eles. O mundo espiritual é complexo, usando um termo cristão, existem toda espécie de “demônios” e “diabos”, seres das trevas em vários níveis de hierarquia. Se são das trevas não são da luz, assim não são da verdade, mas da mentira. Qualquer ser espiritual é espírito, espírito não tem corpo, mas os ”mais baixos” são ligados à matéria, por isso tem predileção por símbolos.

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24/10/22

Todos responsáveis por todos (85/92)

      “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.Romanos 3.23-24

      Quando vejo um grupo de jovens, na média com menos de vinte anos, passando a pé em frente de minha residência, nos finais de semana, muitas vezes após às vinte e duas horas, indo para algum lugar, uma praça, um posto de gasolina, com pouco dinheiro no bolso e muitas vezes com nenhum, me vêm alguns pensamentos à mente. Minha tendência é comparar com minhas filhas, que tiveram um ensino particular com mais qualidade, novas ainda, mas focadas nos estudos, no estágio profissional, que também se divertem, mas de forma mais protegida, mais próximas a mim e à mãe.
      Fico triste, tantos jovens achando razão de viver, alegria, em coisas tão fúteis, em música ruim, em bebidas alcoólicas, em cigarro, quando não em coisa pior. Eles não são tão diferentes de filhas por quem tanto amo e zelo em oração, mas por algum motivo, que só Deus sabe, nasceram em lares com menor poder aquisitivo, e às vezes nem com falta de dinheiro, mas de pais mais próximos, de referências mais altas de cultura, de moral, de Deus. Nesses momentos Deus me fala, “esses jovens têm importância para mim, tanto quanto tuas filhas, como têm os pais deles tanto quanto têm você e tua esposa”.
      Todos somos responsáveis por todos. Parece uma afirmação óbvia, principalmente para cristãos, que participam de igrejas que dizem que têm a missão de salvar o mundo, mas na prática não é bem assim que funciona. Muitas igrejas evangélicas funcionam hoje mais como lojas rápidas de conveniências ou prontos socorros. As pessoas entram em templos quando estão com necessidades iminentes, não querem profundidade espiritual, relação social, só querem soluções, simples e rápidas, de igrejas de alta rotatividade, fáceis de se entrar, fáceis de se sair, sem que haja muita cobrança. 
      Que solução é mais simples e rápida que a que se compra com fé genérica e ofertas de alguma grana? Ninguém precisa conhecer a Deus mais seriamente, experimentar melhorias morais, mesmo acreditar em verdades como únicas, não importa, pode até ser só mais uma verdade, importa é um tratamento célere para uma dor. Isso é o que ocorre em muitas igrejas cujo público são pessoas de poder aquisitivo mais baixo e com menor formação intelectual. Sim, não sejamos injustos, há alguma mudança de vida, libertação de vícios, casamentos arrumados, mas muitas vezes só superficialmente. 
      Já em igrejas protestantes tradicionais, não em todas, mas em muitas, apesar de serem procuradas por motivos menos materialistas e com referências intelectuais mais altas, os templos funcionam mais como clubes fechados. Essas não estão muito cheias atualmente, os frequentadores não são de alta rotatividade como nas outras, mas a maioria as frequenta há anos, muitos desde crianças. Contudo, há algo em comum com as pentecostais e neopentecostais, pouca responsabilidade com os outros, não é qualquer pessoa que entra, assiste um culto, é bem tratada e fica como membro oficial. 
      Perdoe-me se estou sendo injusto com a tua igreja, a crítica que levanto aqui não deve ser generalizada, mas só responda uma coisa, com que frequência você vê batismos em tua igreja, que não sejam de filhos ou mesmo de parentes de membros antigos? O número reduzido de batizados reflete a prioridade que muitas igrejas evangélicas e protestantes dão para aqueles, como os jovens que citei acima, do mundo. Muitos de nós acostumamo-nos a olhar muitos como os outros, não sentindo qualquer responsabilidade por eles. Não os julgamos mal, mas também não os amamos como devíamos amar. 
      Se muitas igrejas protestantes não abraçam os do “mundo” e se as outras igrejas veem os do “mundo” como produtos descartáveis, outros abraçam. Ideologias de esquerda, materialistas, traficantes de drogas assim como vendedores de cigarro e bebidas alcoólicas abraçam os do “mundo”. Enquanto isso muitos cristãos demonizam a orientação de manter templos com menos gente para evitar aglomeração perigosa em pandemia, acham que são servos de Deus preparados para o Apocalipse quanto só querem permanecer em suas zonas de conforto, protegidos do mundo, mas não salvando o mundo. 
      Muitos protestantes e evangélicos terão grandes surpresas quando despertarem na eternidade após a morte de seus corpos físicos, muitos, com certeza do direito ao céu, ficarão torturados por muito tempo em “infernos”, confusos, procurando o que nunca existiu. Muitos, que se achavam donos da verdade, melhores que os outros por crerem na Bíblia interpretada ao pé da letra, que condenaram homoafetivos, afroespíritas, mesmo católicos e outros religiosos, verão que muitos receberam na eternidade o amor do Cristo e eles não, porque não exerceram amor como deviam estando no mundo. 
      Não tenhamos tanta certeza de nossas salvações eternas, mas também não temamos infernos sem fim, confiemos no amor de Deus e amemos. Todos nós somos responsáveis por todos, se não entendermos isso aqui entenderemos lá, se não amarmos aqui teremos que amar lá. Em Jesus há um privilégio diferenciado, não é nossa carteirinha de evangélico, nem nosso nome em rol de membros que importa, usemos esse privilégio para darmos frutos de amor que permaneçam, senão só fé não bastará. “Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta” (Tiago 2.26).

23/10/22

Responsabilidades com quem sofre (84/92)

      “Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações. Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza. Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará.Tiago 4.7-10

     Muitos sofrem ao nosso redor e necessitam urgentemente de ajuda, suas religiões não estão bastando para eles, mesmo o amor verdadeiro de parentes e amigos não estão resolvendo suas questões. Até que ponto o problema alheio nos toca? Sentimo-nos responsáveis pelos outros? E nesta reflexão, o ponto nem é responsabilidade material, mas espiritual. Enquanto alguns sofrem bem ao nosso lado, nós estamos olhando só para nossos próprios umbigos, até tratamos com educação os sofredores, temos noção de suas dificuldades, podemos até orar por eles. Mas será que só isso resolve? Será que só isso nos permite cumprir nossa vocação de luzeiros de Deus no mundo?
      Muitos de nós só entendem o poder da oração quando têm problemas pessoais, e principalmente nas áreas financeira e de saúde, quando a dificuldade nos atinge diretamente, ou no máximo a nossos cônjuges e filhos. Em situações assim, conseguimos elevar ao Senhor um clamor diferenciado, totalmente conectado ao Espírito Santo, que toca o coração do Altíssimo por Jesus e recebe uma resposta poderosa, completa, que resolve de maneira milagrosa um problema. Infelizmente, para fazermos essa oração temos que ser confrontados por uma dor ou a uma vergonha muito grande, senão nem por nós e por nossas famílias nos consagraremos e faremos um clamor diferente. 
      Em algumas situações exercemos fé especial? Sim. Nos apossamos de toda a espiritualidade para nos ligar a Deus? Sim. Provamos milagres? Sim, incontestáveis. Mas exercemos amor? Não, não precisamos necessariamente de amor para clamar ao Senhor por nós, por cônjuges e filhos, só precisamos de alguma vergonha na cara, e perdoem-se o termo. Pedimos porque não queremos ser envergonhados na sociedade e porque é nossa obrigação ajuda-los. Exercer amor é fazer algo ainda que não estejamos sofrendo, ainda que um problema não tenha a ver conosco, ainda que estejamos bem com Deus e a vida. Contudo, queremos ajudar porque amamos quem sofre.
      Amar não é fácil, dá trabalho, leva-nos a sair de zonas de conforto, da segurança de nossos castelos, bem construídos e protegidos, para entrarmos na choupana do necessitado, sentir sua dor, chorar com ele e por ele clamar a Deus. Como eu disse antes, o ponto desta reflexão não é auxílio material, mas emocional, moral e espiritual, assim a choupana não é o imóvel que muitos residem ou sua condição financeira, mas uma condição de sofrimento interno. Essa condição pode fazer adoecer mente e corpo mesmo dos ricos, de maneira que médicos de várias especialidades são consultados sem que se ache solução. Dor de alma só Deus cura, para essa a medicina é o amor. 
      Não faça porque religião manda, faça e deixe para lá necessidade de reconhecimento, conheça em detalhes a razão da dor, sinta profundamente a dor e chore com quem chora. Isso é viver o evangelho, isso é seguir a Jesus, isso é ser cristão. Se a pessoa não for da mesma religião que você não seja preconceituoso, não ataque suas crenças, nas palavras seja o mais genérico e resumido possível. Ore, contudo, diretamente a Deus pedindo solução, se achar liberdade da pessoa em Deus, imponha suas mãos na cabeça dela, e faça a melhor oração de tua vida, com convicção, de todo o coração. Feche os olhos e visualize a pessoa ligada ao Deus Altíssimo por uma feixe de luz. 
      O ensino bíblico que define esta reflexão é “chorai com os que choram”, mas se você ler o texto bíblico inicial e senti-lo, não por você, mas pelo outro, praticará Romanos 12.15b. Não, não estou dizendo que o texto inicial não seja para nós, mas não adianta o usarmos para colocarmos nossas vidas em ordem e desprezarmos o que sofre. Amar é sofrer pelo outro, ainda que não se precise ou que não se tenha pelo que sofrer. Assim, quando ler sujeitai-vos a Deus, resisti ao diabo, achegue-se a Deus, limpe as mãos, purifique o coração, quando ler essas palavras sinta as misérias do outro, lamente e chore, convertendo teu riso em pranto, como se o sofrimento fosse teu.
      Isso não é exercício de encenação, teatro, é empatia, trabalho espiritual que Deus nos chama a fazer. Se temos vidas com Deus só por nós e pelos mais próximos a nós, só chegamos ao primeiro nível de espiritualidade e estacionamos nele. Muitos se acham bastante espirituais, por terem vidas pessoais vitoriosas, quando são só crianças mimadas abençoadas pelo pai. Somos chamados à maturidade exercendo amor empático, sofrendo com os que sofrem, servindo ao próximo, oração com a pessoa em sofrimento é ferramenta poderosa nesse serviço. Ajudemos materialmente com urgência, ouçamos os problemas com paciência, mas oremos com quem sofre.

22/10/22

O fim revela o que sou (83/92)

      “ E, assentando-se ele no Monte das Oliveiras, defronte do templo, Pedro, e Tiago, e João e André lhe perguntaram em particular: dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá quando todas elas estiverem para se cumprir. 
      E Jesus, respondendo-lhes, começou a dizer: Olhai que ninguém vos engane; Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos. 
      “Mas olhai por vós mesmos, porque vos entregarão aos concílios e às sinagogas; e sereis açoitados, e sereis apresentados perante presidentes e reis, por amor de mim, para lhes servir de testemunho.
      “Na verdade vos digo que não passará esta geração, sem que todas estas coisas aconteçam.” 
Marcos 13.3-6, 9, 30

      O conceito do fim do mundo, ainda que baseado em palavras puras de Deus, foi construído e mantido por homens e pelos frutos que esses homens deram e dão. Nas religiões que esses homens criaram, podemos saber que eles não tinham e não têm as intenções mais puras de quem de fato anda em comunhão com Deus. Como podemos aceitar que a igreja católica, com todo seu histórico de aliança com paganismo, inquisição, amor às riquezas e idolatria, pode nos dizer o que é a palavra de Deus?
      Com relação a muitos protestantes e evangélicos um axioma interessante é usado. Eles creem num fim do mundo literal e se acham mais espirituais por isso, porque pensam que creem na Bíblia sem duvidarem dela, não duvidam porque acham que obedecendo a Bíblia obedecem a Deus, visto que creem que a Bíblia é a palavra de Deus. Mas o que esses não aceitam é que o que acham ser a palavra de Deus é só o que eles pensam ser, e uma palavra sustentada por religiões humanas e imperfeitas.
      Conhecemos alguém não pela teoria, mas pela prática, nessa três frutos são fundamentais: santidade, humildade e amor. O santo o é dentro de si, não só na aparência farisaica, no legalismo que só “não bebe, não fuma e não fala palavrões” e que defende falso moralismo por vaidade. O humilde não entra em discussões, principalmente se têm melhores argumentos, quem sabe, cala, não joga pérolas aos porcos. Mas quem ama não considera ninguém porco ou inimigo, tem paciência com todos. 
      Por mais que eu veja sinceridade e fé em muitos evangélicos que creem em fim do mundo equivocado, não acredito que isso seja só um engano menos importante. Ainda que eu creia que Deus abençoe a todos, até heréticos e desviados dentro de igrejas, penso que a um posicionamento errado sobre algo tão importante como fim do mundo, juntam-se dificuldades em outras áreas da vida, que se ainda não vieram à tona, virão. Deus não pode ajudar e proteger quem teima na mentira, não sempre.
      Deus tem tido muita paciência com os seres humanos, e sempre terá principalmente com os cristãos, mas esses têm teimado em permanecerem como crianças, sabendo o mínimo e interpretando a palavra de Deus como quem lê estórias da carochinha, e não verdades divinas eternas, ainda que se achem teólogos. Nessa infantilidade estão também doutores de teologia diplomados, que apesar dos estudos que têm, olham com microscópio a superfície, não cavam fundo com pás, assim só sabem mais do mesmo.
      A luz é o Espírito Santo, não nossos intelectos, nossos achismos, nossas opiniões pessoais, entende isso os amorosos, santos e humildes. Mas mais algum tempo e muitos serão acordados, ou não, visto que o ser humano é hábil para achar mesmo na palavra de Deus aprovação para entendimentos que sejam agradáveis aos seus ouvidos. Seja como for, quem não entender isso aqui, entenderá na eternidade, ainda que os frutos ruins dos anti-cristos estejam aí para serem vistos por quem tiver olhos espirituais.
      Nem sempre a Bíblia nos ensina por interpretação literal que fazemos dela, mas sempre nos ensina pelos princípios. “Que ninguém vos engane porque muitos virão em meu nome e enganarão a muitos”, quem vem em nome de Cristo vem dentro de igrejas cristãs, não no mundo, contudo, muitos evangélicos fazem guerras com inimigos de fora, enquanto deixam passar os inimigos de dentro, como católicos têm aceitado por séculos um catolicismo pagão que quer um reino de Deus no mundo. 
      “Vos entregarão às sinagogas”, Jesus se refere a inimigos dentro de sua religião, e como esses inimigos queriam um messias como o rei Davi, que os livrasse do império romano no mundo, querem religiosos atuais um fim do mundo literal. Percebem como o princípio é o mesmo? Literalmente Jesus podia se referir à destruição do Templo de Jerusalém, que ocorreu em 70 d.C., já que disse que não se passaria uma “geração”, e às perseguições que cristãos teriam até o estabelecimento do catolicismo. 
      Como outras profecias, a da passagem bíblica inicial é uma que já pode ter se cumprido, não se referindo a algo que ocorrerá só no fim do mundo. É claro que os que querem um fim de mundo à sua maneira, vão dizer que a palavra “geração” pode ser interpretada de outra forma, mas sendo assim podemos interpretar a Bíblia de formas diferentes, e todos poderemos dizer que estamos obedecendo uma palavra de Deus. Mas qual é de fato a palavra de Deus sobre o fim do mundo? É mistério. 
      Não estou dizendo que o que muitos pensam do fim do mundo está totalmente errado, que evangélicos, aos quais falo em primeiro lugar porque são os da minha “casa”, devem crer diferentemente. Não, esteja em paz naquilo que crê e que te trouxe até aqui com Jesus, contudo, tenha cuidado, religiões e teólogos não sabem tudo. Deus pode só ter permitido a você saber o que você pode saber para estar perto dele, nem sempre convicção é sinal de espiritualidade, pode ser só falta de humildade.

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

21/10/22

Que fim do mundo eu quero? (82/92)

      “Mas vós vede; eis que de antemão vos tenho dito tudo. Ora, naqueles dias, depois daquela aflição, o sol se escurecerá, e a lua não dará a sua luz. E as estrelas cairão do céu, e as forças que estão nos céus serão abaladas. E então verão vir o Filho do homem nas nuvens, com grande poder e glória. E ele enviará os seus anjos, e ajuntará os seus escolhidos, desde os quatro ventos, da extremidade da terra até a extremidade do céu.Marcos 13.23-27

      O mundo vai acabar? A ciência diz que sim, quando o Sol consumir todo o hidrogênio, o combustível que ele usa para queimar e manter sua coesão, se expandirá e queimará principalmente os planetas mais próximos, incluindo a Terra, mas calma, isso acontecerá só daqui a mais ou menos cinco bilhões de anos, pois é, demora um pouco. Podemos achar apologia para esse fim do mundo na Bíblia? Sim, até para esse, no texto bíblico inicial e em outros, que falam de caos cósmico.
      Contudo, será que é esse fim científico do mundo que esperamos, ou melhor, que queremos? Não é o que querem muitos protestantes e evangélicos, esses aguardam um fim do mundo que justifique a história do mundo conforme o que entendem ter sido relevante nessa história. Esses cristãos veem o mundo como um ringue de luta entre Deus e o diabo, assim, o fim de mundo que desejam é o que derrota o diabo e os que o seguem, aprisiona esses no inferno, e aloja os outros no céu com Deus. 
      Muitos cristãos protestantes e evangélicos, e veja que não são todos já que católicos e cristãos de algumas denominações não têm a mesma interpretação literal do Apocalipse, mas muitos dizem que não são eles que desejam esse fim do mundo, mas é esse fim do mundo que Deus disse a eles que ocorrerá. Baseados em que afirmam isso? Na interpretação que fazem da Bíblia. Essa é a verdade de Deus? Não necessariamente, interpretações diferentes podem ser feitas dos mesmos textos bíblicos. 
      Já refletimos aqui sobre como a Bíblia, apesar de conter registros verdadeiros de experiências de homens antigos com Deus, foi construída por interesses de homens, judeus, católicos e protestantes. Não penso que Deus escolha homens (ainda que Marcos 13.27 use o termo), ele ama a todos e quer que todos se salvem, seria melhor dizer que ele seleciona os preparados. Mas creio no livre arbítrio humano, que o homem escolha não a Deus, mas aquilo que quer acreditar sobre Deus.
      Nunca abrirei mão de Jesus, como ser espiritual que me conduz de forma exclusiva a Deus, e como modelo de vida neste mundo pelo homem que foi no passado, o evangelho são os ensinos espirituais mais elevados que a humanidade já recebeu, e digo isso respeitando todos os líderes e fundadores de outras religiões, assim como os adeptos de outras religiões. Também não nego a relevância do livro de Apocalipse e de outros textos que falam do fim do mundo na Bíblia, há verdades neles.  
      A pergunta não é o que Deus diz, mas o que queremos acreditar que Deus diz, e talvez mais, por que queremos acreditar de um jeito e não de outro? O que isso revela, não sobre Deus, mas sobre nós mesmos? Fins do mundo diferentes revelam coisas diferentes sobre pessoas diferentes, e muito mais que só sobre suas interpretações escatológicas, mas sobre como interagem com outras pessoas, principalmente com aquelas que pensam de maneira diferente delas sobre Deus e espiritualidade. 
      Seres humanos que tiveram pais prepotentes e até violentos, enquanto não forem curados, poderão querer se relacionar com seres humanos com as mesmas características, querendo receber desses o que não receberam dos pais. Assim se submeterão a patrões estúpidos, a maridos e esposas possessivos, mesmo a pastores dominadores, da mesma forma, buscarão religiões moralistas, que pedem sacrifícios e fé cega. Não é a religião que define o homem, mas o homem que define a religião.
      O que é mais extremo que o fim do mundo? Pessoas extremas creem em coisas extremas, onde não há meio termo, mas só sim e não. Mas será que nós seres humanos somos isso, branco e preto, sem nuanças de variação? Podemos nos acomodar em polos porque é mais fácil, principalmente se não queremos pensar, ter trabalho intelectual e espiritual de entender as coisas, mas se buscarmos no Espírito Santo, com perseverança e santidade, veremos que a existência é muito mais complexa.
      Não posso convencer ninguém, mas posso contar minha experiência, eu também já fui extremista, via na Bíblia e no cristianismo aquilo que era mais fácil para mim ver, de acordo com minha formação familiar. Mas ouvi a voz de Deus e busquei a verdade, não, isso não foi para achar desculpas para desobedecer os preceitos de Deus e viver uma vida em pecado, e portanto infeliz, ao contrário. Minha busca me fez valorizar mais a santidade, assim como o preço que o pecado mais sutil cobra. 
      Entendermos que a humanidade tem uma história e que nela o ser humano evolui, adquire ciência, perde medos e aprende a ver as coisas por dentro, não só na aparência, é o começo. Mas o mais importante é entendermos que Deus fala a homens e são esses quem registram e tornam em religiões suas palavras, assim, nas crenças, no cristianismo e mesmo na Bíblia, há mão do homem, interpretando e usando conforme, não a imutabilidade atemporal de Deus, mas as limitações humanas. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

20/10/22

Penitência, indulgência, purgatório (81/92)

      “Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o crêem, e estremecem.Tiago 2.17-19

      Fé e obras, como equilibrá-las de modo a alcançarmos a melhor eternidade de Deus. Reflitamos a respeito comparando doutrinas católicas com outras. 
      Perdão pela fé no nome de Jesus é ponto passivo, agora se obras são para completar o pagamento desse perdão, para evoluir o espírito, para dar direito ao céu e consequentemente livrar do inferno, ou para retirar de um meio termo, o purgatório, são pontos que variam em diferentes teologias cristãs. Vejamos três conceitos importantes no catolicismo, indulgência, penitência e purgatório, que envolvem perdão e penas eternas (para mais detalhes clique nos links).
      Penitência são jejuns, orações, esmolas, vigílias e peregrinações, que fiéis oferecem a Deus como provas de que estão arrependidos dos seus pecadospagando um pecado cometido ou agradecendo uma graça recebida.
      Indulgência é a remissão total ou parcial da pena temporal devida para a justiça de Deus, pelos pecados que foram perdoados, ou seja, do mal causado como consequência do pecado já perdoado através da confissão sacramental. Embora no sacramento da Penitência a culpa do pecado é removida, e com ele o castigo eterno devido aos pecados mortais, ainda permanece a pena temporal exigida pela Justiça Divina, e essa exigência deve ser cumprida na vida presente ou na depois da morte, isto é, no purgatório. Uma indulgência oferece ao pecador penitente meios para cumprir esta dívida durante sua vida na terra, reparando o mal que teria sido cometido pelo pecado.
      A tradição do Purgatório tem uma história que remonta antes de Jesus, à crença encontrada no judaísmo de rezar pelos mortos, especula-se que o cristianismo pode ter tomado a sua prática similar. Desde os primeiros tempos, a Igreja honrou a memória dos defuntos e ofereceu sufrágios em seu favor, em especial o sacrifício eucarístico, a fim de que purificados, eles possam chegar à visão beatífica de Deus. Os católicos consideram que o ensino sobre o purgatório faz parte integrante da fé derivada da revelação de Jesus Cristo que foi pregada pelos apóstolos.

      No catolicismo, a penitência paga perdão por pecado neste mundo, a indulgência adianta no mundo, o pagamento por consequência do pecado, que teria que ser feito no purgatório, no outro mundo. Interessante que os mesmos que acreditavam no que a igreja católica dizia que condenava ao inferno, não praticavam o que a mesma igreja dizia dar direito ao céu, preferiam pagar o céu com bens materiais. É claro que a igreja incentivava isso porque era útil para ela. A reforma protestante aboliu essas doutrinas, assim aos evangélicos basta fé no nome de Jesus para terem perdão dos pecados, sem necessidade de qualquer pagamento adicional, seja aqui ou na eternidade (João 3.18). Também não há purgatório para protestantes, ou é céu ou é inferno, e eternos. 
      Indulgência e purgatório colocam o catolicismo mais próximo do espiritismo kardecista, já que essas doutrinas consideram a possibilidade de interferência de seres humanos do plano físico, na qualidade de vida dos seres desencarnados no plano espiritual. Quando se reza pelos mortos para tirá-los do purgatório e liberá-los para o céu, usa-se uma capacidade que protestantes não admitem que seja possível, para esses é impossível qualquer comunicação ou influência de vivos com mortos. O católico também se aproxima do kardecismo quando admite a intermediação dele com Deus por santos, portanto comunicação com espíritos de mortos, assim quando um santo lhe fala podemos dizer que uma espécie de mediunidade seja exercida. 
      Sobre muitos aspectos o catolicismo, talvez porque tenha refletido em concílios por séculos sobre tantas questões espirituais e filosóficas, é muito mais aberto que o protestantismo. Muitos evangélicos não sabem disso, aliás, sabem pouco sobre as doutrinas de suas igrejas, quanto mais das doutrinas das outras religiões. Aos que têm tanta certeza de penas extremas e eternas, será que de fato céu e inferno são para sempre? Purgatório parece um conceito mais justo e de acordo com o amor Deus, podendo depender de nossa intercessão aqui e de um arrependimento lá. Eis novamente o catolicismo se aproximando das doutrinas espíritas, para o kardecismo sempre há oportunidade para se livrar de uma condenação mais duradoura. 
      Como protestante reconheço benefício na doutrina da penitência, que se aproxima do ensino em Tiago 2.17-19, ela não facilita demais o perdão, não limita o acerto de contas à assunção do pecado e posse de paz com Deus pela fé. É preciso algo mais, mostrar por obras que custem um preço ao pecador o arrependimento. Penso que os evangélicos “vendem” o perdão de Deus barato demais, isso pode conduzir as pessoas a uma ociosidade moral, a acharem que entrada no céu e livramento do inferno é fácil. O lado negativo da penitência, que alcança o extremo na indulgência paga com dinheiro, é que confere ao homem a capacidade de ter perdão e entrar no céu, relegando a graça e a misericórdia de Deus a segundo plano. 
      Na verdade existe indulgência, mas não legislada, aplicada e cobrada pela religião ou pelos homens, mas por Deus, é a lei universal de “causa e efeito”, ou de se colher o que se plantou, usando termos mais bíblicos (Gálatas 6.7). Que arrogância da Igreja Católica achar que pode verificar, medir e fazer cumprir essa lei, com certeza só para obter algum lucro material com isso, por outro lado achou entre os homens seres tolos o suficiente para “comprarem” tal coisa. A Igreja Católica tenta materializar com todos os detalhes um reino de Deus no mundo, e ainda que isso não tenha dado certo, que só tenha atrasado a civilização ocidental, muitos protestantes e evangélicos tentam repetir isso atualmente, ao se envolverem com política. 
      É por esse motivo que leis são inviáveis para conduzirem o ser humano a uma espiritualidade madura, obedecer cegamente uma lei impede a reflexão, conduz a um extremo ou a outro, por isso uma velha aliança foi substituída por uma nova, por isso a Lei de Moisés deu lugar ao evangelho do Cristo. Só uma relação íntima com o vivo Espírito Santo, onde há a necessidade de uma interação inteligente com Deus, onde se fala e se ouve, onde se pensa e se sente, pode mostrar qual é a parte do homem e qual é a parte de Deus com equilíbrio, enfatizando a importância da coerência entre o que se crê e o que se pratica. Quando entenderemos que na eternidade não haverá religião? Só nós, confrontados diretamente com a luz de Deus.