domingo, outubro 23, 2022

Responsabilidades com quem sofre (84/92)

      “Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações. Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza. Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará.Tiago 4.7-10

     Muitos sofrem ao nosso redor e necessitam urgentemente de ajuda, suas religiões não estão bastando para eles, mesmo o amor verdadeiro de parentes e amigos não estão resolvendo suas questões. Até que ponto o problema alheio nos toca? Sentimo-nos responsáveis pelos outros? E nesta reflexão, o ponto nem é responsabilidade material, mas espiritual. Enquanto alguns sofrem bem ao nosso lado, nós estamos olhando só para nossos próprios umbigos, até tratamos com educação os sofredores, temos noção de suas dificuldades, podemos até orar por eles. Mas será que só isso resolve? Será que só isso nos permite cumprir nossa vocação de luzeiros de Deus no mundo?
      Muitos de nós só entendem o poder da oração quando têm problemas pessoais, e principalmente nas áreas financeira e de saúde, quando a dificuldade nos atinge diretamente, ou no máximo a nossos cônjuges e filhos. Em situações assim, conseguimos elevar ao Senhor um clamor diferenciado, totalmente conectado ao Espírito Santo, que toca o coração do Altíssimo por Jesus e recebe uma resposta poderosa, completa, que resolve de maneira milagrosa um problema. Infelizmente, para fazermos essa oração temos que ser confrontados por uma dor ou a uma vergonha muito grande, senão nem por nós e por nossas famílias nos consagraremos e faremos um clamor diferente. 
      Em algumas situações exercemos fé especial? Sim. Nos apossamos de toda a espiritualidade para nos ligar a Deus? Sim. Provamos milagres? Sim, incontestáveis. Mas exercemos amor? Não, não precisamos necessariamente de amor para clamar ao Senhor por nós, por cônjuges e filhos, só precisamos de alguma vergonha na cara, e perdoem-se o termo. Pedimos porque não queremos ser envergonhados na sociedade e porque é nossa obrigação ajuda-los. Exercer amor é fazer algo ainda que não estejamos sofrendo, ainda que um problema não tenha a ver conosco, ainda que estejamos bem com Deus e a vida. Contudo, queremos ajudar porque amamos quem sofre.
      Amar não é fácil, dá trabalho, leva-nos a sair de zonas de conforto, da segurança de nossos castelos, bem construídos e protegidos, para entrarmos na choupana do necessitado, sentir sua dor, chorar com ele e por ele clamar a Deus. Como eu disse antes, o ponto desta reflexão não é auxílio material, mas emocional, moral e espiritual, assim a choupana não é o imóvel que muitos residem ou sua condição financeira, mas uma condição de sofrimento interno. Essa condição pode fazer adoecer mente e corpo mesmo dos ricos, de maneira que médicos de várias especialidades são consultados sem que se ache solução. Dor de alma só Deus cura, para essa a medicina é o amor. 
      Não faça porque religião manda, faça e deixe para lá necessidade de reconhecimento, conheça em detalhes a razão da dor, sinta profundamente a dor e chore com quem chora. Isso é viver o evangelho, isso é seguir a Jesus, isso é ser cristão. Se a pessoa não for da mesma religião que você não seja preconceituoso, não ataque suas crenças, nas palavras seja o mais genérico e resumido possível. Ore, contudo, diretamente a Deus pedindo solução, se achar liberdade da pessoa em Deus, imponha suas mãos na cabeça dela, e faça a melhor oração de tua vida, com convicção, de todo o coração. Feche os olhos e visualize a pessoa ligada ao Deus Altíssimo por uma feixe de luz. 
      O ensino bíblico que define esta reflexão é “chorai com os que choram”, mas se você ler o texto bíblico inicial e senti-lo, não por você, mas pelo outro, praticará Romanos 12.15b. Não, não estou dizendo que o texto inicial não seja para nós, mas não adianta o usarmos para colocarmos nossas vidas em ordem e desprezarmos o que sofre. Amar é sofrer pelo outro, ainda que não se precise ou que não se tenha pelo que sofrer. Assim, quando ler sujeitai-vos a Deus, resisti ao diabo, achegue-se a Deus, limpe as mãos, purifique o coração, quando ler essas palavras sinta as misérias do outro, lamente e chore, convertendo teu riso em pranto, como se o sofrimento fosse teu.
      Isso não é exercício de encenação, teatro, é empatia, trabalho espiritual que Deus nos chama a fazer. Se temos vidas com Deus só por nós e pelos mais próximos a nós, só chegamos ao primeiro nível de espiritualidade e estacionamos nele. Muitos se acham bastante espirituais, por terem vidas pessoais vitoriosas, quando são só crianças mimadas abençoadas pelo pai. Somos chamados à maturidade exercendo amor empático, sofrendo com os que sofrem, servindo ao próximo, oração com a pessoa em sofrimento é ferramenta poderosa nesse serviço. Ajudemos materialmente com urgência, ouçamos os problemas com paciência, mas oremos com quem sofre.

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