17/03/23

Temos amor suficiente?

      “Vós, filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto é agradável ao Senhor. Vós, pais, não irriteis a vossos filhos, para que não percam o ânimo.” “E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens, sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis. Mas quem fizer agravo receberá o agravo que fizer; pois não há acepção de pessoas.” 
Colossenses 3.20-21, 23-25

      Muitos de nós pensam assim, “sou deste jeito porque não fui amado o suficiente”, a primeira coisa que precisa ser dita é: isso é verdade. Apesar de falta de amor verdadeiro ser parte da razão de muitos serem o que são, muitos experimentaram isso de maneira extremada, indiferença e mesmo violência, se não física, emocional, de quem deveria amar de maneira necessária. Muitos que criam crianças e jovens, pais, tios, avós e outros, de fato exageram em não amar, ainda que muitos por razões legítimas, podem não dar porque também não receberam, ou porque não têm tempo, estão mais ocupados em pôr comida em casa. 
      Mas mesmo os que receberam criações mais normais, digamos assim, experimentaram amor verdadeiro insuficiente, e mesmo que tenham recebido o suficiente, lá no fundo acham que não foi amor do jeito que realmente necessitavam. Contudo, quem recebe também pode ser injusto com quem dá, ainda que onde se planta laranja se colhe laranja, não limão, assim bons pais produzem bons filhos, não perfeitos, mas o suficiente para serem pessoas gratas e bem resolvidas. Pode ser difícil de ler isso no mundo atual, mas a trajetória espiritual da humanidade é em direção à luz, não às trevas, portanto a um amor igual para todos e de todos.
      Quem não teve bons pais pode quebrar o loop, com humildade e superação emocional, e se tornar um pai bom, essa é a revolução que a humanidade mais precisa, quebra do loop da injustiça. Isso o evangelho ensina há quase dois mil anos, abençoar os que amaldiçoam, não devolver o mal que se recebeu. O que pensa um Deus, que conforme o cristianismo é amor, sobre tanta falta de amor com que muitos têm que viver, e quando crianças sem merecerem? Bem, Deus tem um propósito nisso, e ao que parece, para ele um propósito mais interessante, que se o homem fosse amado do jeito que esse acha que precisaria ser. 
      Não viemos a este mundo para sermos felizes, mas para permanecermos em paz mesmo sofrendo, não viemos a este mundo para fazermos amigos, mas para desfazermos inimizades, não viemos a este mundo para sermos amados, mas para amarmos. Desculpe-me se essas afirmações são duras, mas o quanto antes as aceitarmos do jeito certo, antes poderemos ser felizes, acharmos amigos, amarmos e termos a paz que permanece para sempre. Se fôssemos amados como queremos não evoluiríamos, o ser humano sempre tende a se acomodar a zonas de conforto, ele só se move para frente empurrado por imprevisibilidades. 
      Devemos trabalhar para termos vidas estáveis para nós e nossas famílias, materialmente e afetivamente, mas não devemos nos desesperar quando imprevistos ocorrem. A vida sempre nos surpreenderá, Deus a faz funcionar assim, e isso até o final de nossas trajetórias aqui, ninguém se iluda. Dessa forma não dependa que tudo esteja resolvido, que você seja amado como deseja, que os outros te honrem, para ser alguém útil nas mãos de Deus para melhorar a sociedade, e foi dito sociedade, não igrejas. Deus nos chama para mudar pelo menos uma parte do mundo, não grêmios religiosos privados que existem em igrejas. 
      De minha parte posso dar meu testemunho como filho e como pai, com sessenta e dois anos sou de uma geração quando pais eram presentes, mães ainda mais, mas havia muita cobrança e pouco elogio. Já passei do tempo de colocar a culpa por meus problemas na criação que recebi, hoje sei que meus pais me deram mais que receberam, mas devo admitir que levei muitos anos para resolver isso em minha alma, carreguei rancor por muito tempo. Mas crescer em Deus nos dá libertações, e a primeira delas é amar os pais e assumir que com o tempo podemos cometer erros piores que os que eles cometeram nos criando.
      O principal foi entender que devia e podia criar minhas filhas diferentemente, e consegui. Não, fui e sou um pai imperfeito, mas nunca cometi violência contra minhas filhas, e desde que elas eram pequenas eu aprendi a pedir perdão a elas quando me excedia. Hoje elas são seres humanos mais normais que eu fui, têm suas idiossincrasias, seu defeitos, mas não são medrosas como eu era, têm opinião sobre as coisas, opiniões equilibradas e atuais, não têm medo de declará-las, mas principalmente, na prática são bons seres humanos, trabalhadoras, estudiosas, não dadas à superficialidade do mundo, com bom caráter moral. 
      Se amigas próximas a minhas filhas, lhes perguntarem se foram amadas por seus pais como elas queriam ser, se elas forem honestas dirão que não foram, não me engano sobre isso. Mas penso que a falta que elas tiveram foi menos traumática que a minha, assim como a minha foi menos traumática que a falta que meus pais tiveram. Creio que minha família tem quebrado loops de injustiça, principalmente porque todos conhecem a Jesus como salvador e têm Deus como amigo. Na eternidade haverá uma consonância espiritual entre gerações, avós, pais, filhos e netos, para a glória de Deus, todos na luz mais alta, eu creio. 
      Deus nos ama como precisamos! Se soubermos disso teremos amor suficiente para convivermos com as injustiças do mundo e com seres humanos como nós, também aprendendo a superar as trevas e seguirem para a luz. Muitos sofrem porque vivem exigindo de homens aquilo que eles não podem lhes dar, e isso ainda que se digam cristãos. Enquanto o amor de Deus não nos bastar, não amadureceremos, seremos crianças carentes, amargas e vingativas. A verdade é que devemos aprender a fazer uma aliança e a darmos prioridade a ela, nossa amizade com Deus, ainda que sendo bons cidadãos na sociedade e na família. 

16/03/23

O resto não importa

      “Mas o que tendes, retende-o até que eu venha.” Apocalipse 2.25

      Uma das razões para sofrermos nesta vida é querermos guardar e levar conosco coisas desnecessárias. O que de fato temos que reter e conduzir conosco até que se findem nossos dias neste mundo? Paz com Deus. Só isso? Sim, só. Mas tem que ser uma profunda e verdadeira paz com o Senhor, que só temos quando estamos em íntima comunhão com ele, conhecendo sua vontade, fazendo sua vontade, assim tendo as prioridades certas nesta vida e nos preparando devidamente para a outra vida.
      Quando temos paz com Deus somos aprovados por ele, o agradamos como filhos, por isso mesmo que o mundo nos peça coisas, bens, dinheiro, posições profissionais, aprovações de grupos, que podemos perder para permanecermos em paz com Deus, não fará diferença. Muitos querendo manter antigos negócios de família, reputações baseadas em concessões, perdem a paz, assim ganham tudo, menos o mais importante. Paz com Deus nos permite conquistar virtudes morais, dessas não abramos mão. 
      Mas que não sejamos obsessivos, conquista de bens e de status profissional podem se tornar uma obsessão, como tal não terem fim, nunca satisfazendo. As virtudes morais que adquirirmos quando andamos em paz com Deus são infinitas e eternas, diferentes de bens materiais que sempre envelhecem e podem ser destruídos. Contudo, ainda assim nossas capacidades para adquirirmos virtudes são limitadas, por isso estejamos em paz com o que conquistamos e seguremos isso com humildade. 
      Os mais velhos entenderão melhor esta reflexão, chegamos num ponto, onde por mais sinceros e crentes que sejamos, nos veremos limitados para sermos melhores. Alguns pecados continuarão nos assediando dia a dia, algumas fraquezas, mas não desistamos, peçamos perdão, nos perdoemos, e não coloquemos todos os nossos anos de trabalho a perder por causa de algo que até agora não conseguimos superar. Não aprendemos só lutando e vencendo, mas também parando de lutar e aceitando certas coisas. 
      Deus pode permitir que vivamos tendo que aceitar limites para que não dependamos de nossa perfeição para termos paz. Com aceitar limites não me refiro a não chamar pecado de pecado e a não buscar perdão para ele, desejando de todo o coração não cometê-lo mais, me refiro a não sofrer tanto com cobranças que nem Deus nos faz. Querer ser santo, ainda que seja objetivo espiritual, por causa de cobrança humana, nossa e dos outros, pode ser, não para agradar a Deus, mas a um ídolo.
      Se você já entendeu pelo Espírito Santo que precisa amar a todos, ter paciência com todos, não se irar com ninguém e não ter inveja de ninguém, mas percebe que em certas situações e com certas pessoas você perde o controle e não consegue ser tão bom quanto você sabe que precisa ser, limite os lugares e os eventos que frequenta. Você não tem que salvar o mundo, mas apenas um grupo pequeno de pessoas, se souber se colocar no lugar certo e na hora certa, com humildade e com temor a Deus. 
      Coloque tua vida no eixo, seja fiel com alianças, com cônjuge, com patrões e clientes, isso é santidade, não se perca nos apetites do corpo, eles não te satisfarão no final. Depois entregue tua vida e de tua família nas mãos de Deus, peça provisão material, mas que todos temam antes de tudo ao Senhor. Então, não se importe com o mundo, não seja ganancioso ou vaidoso, melhor o pouco com Deus que o muito longe dele. Faça cada vez mais firme tua vocação de salvo por Jesus, cidadão do céu. 

15/03/23

Fizeste em nós as nossas obras

      “Senhor, concede-nos a paz, porque todas as nossas obras tu as fazes por nós. Ó Senhor, nosso Deus, outros senhores têm tido domínio sobre nós, mas nós louvamos unicamente o teu nome. Eles estão mortos, não voltarão a viver; são apenas sombras, não ressuscitarão. Porque tu os castigaste e destruíste, e apagaste completamente a lembrança deles. Tu, Senhor, aumentaste o povo, aumentaste o povo e tens sido glorificado; alargaste todas as fronteiras do país.Isaías 26.12-15

      Outra versão cita o versículo de Isaías 26.12 assim, “Senhor, tu nos darás a paz, porque tu és o que fizeste em nós todas as nossas obras”, ao invés de fazes por nós diz fizeste em nós. É sutil, mas pode aprofundar ainda mais o ensino, se Deus faz em nós significa que ainda que no final nós façamos as coisas, Deus não faz pelo homem a parte que é do homem, isso será efeito de Deus ter trabalhado antes, não no mundo, mas dentro de nós, capacitando-nos para depois fazermos as coisas. De um jeito ou de outro a glória é de Deus, mas quando entendemos que Deus não realiza no mundo material coisas por nós, nos prontificamos a ter vidas morais de mais qualidade, para podermos trabalhar melhor e darmos bons e perenes frutos.
      Entretanto, há coisas, sim, que Deus faz objetivamente por nós, essas ele permitirá acontecer no mundo exterior sem que façamos materialmente qualquer coisa, temos só que confiar. Isso ocorre porque Deus tem as vidas de outros seres humanos assim como toda a mecânica do universo em suas mãos, dessa forma pode nos dar algo pelo trabalho de outros. Nessa experiência é preciso ainda mais fé de nossa parte, porque não conhecemos os intrincados sistemas do mundo, assim não sabemos o que está sendo preparado para ocorrer, que logo ocorrerá e que nos beneficiará de alguma maneira. Mas Isaías faz uma solicitação nesses modos maravilhosos da ação de Deus, concede-nos paz, se Deus faz tudo, também pode nos dar paz.
      Isaías cita também os outros “senhores”, todos temos que suportar “senhores” neste mundo, nem sempre opressores injustos, mas sempre de algum jeito “donos” de liberdades nossas. Deus permite esses “senhores”, todos têm direito de serem prósperos, se há trabalho, há boa colheita disso, nisso muitos, ainda que não vivam perto de Deus, serão patrões de muitos que vivem perto de Deus. Mas esses “senhores”, por mais poder que tenham sobre nós em um período de nossas vidas, têm tempo determinado, depois não haverá lembranças deles, como é com todas as ilusões neste mundo. Não se preocupe com ”senhores”, os que temem a Deus não são “diminuídos” para sempre, serão “alargados” pelo Senhor no tempo certo. 
      O trabalho mais importante que temos que desempenhar é deixar Deus trabalhar em nós, e muitos fazem de tudo, inclusive trabalho honesto, sacrifício pela família, obras sociais e serviços em igrejas, para não deixarem Deus trabalhar neles. Permitir o trabalho do Senhor em nós exige humildade, não ser visto pelos homens como alguém ativo e esforçado, Jesus era visto por muitos líderes religiosos judeus, não como um homem de Deus, mas como um vagabundo (Mateus 11.19). O maior esforço não é do corpo, mas do espírito, esse é feito em silêncio, sem buscar aprovação de outros, esse é o que separa religiosos e trabalhadores, de pessoas realmente espirituais e que se colocam no centro da vontade do Senhor.

14/03/23

Quebre o loop, siga em frente

      “Porque também nós éramos noutro tempo insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiando-nos uns aos outros. Mas quando apareceu a benignidade e amor de Deus, nosso Salvador, para com os homens, não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que abundantemente ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso SalvadorTito 3.3-6

      Dois aprendizados que já compartilhei aqui e que sinto de repetir. Quando alguém é injusto conosco ou nos fere de alguma forma, se não perdoarmos e esquecermos, guardaremos uma mágoa que em algum momento desabafaremos sobre outra pessoa. Essa pessoa, por sua vez, recebendo nosso mal, que pode nem ter sido merecedora dele, se não o administrar corretamente também guardará uma mágoa, que em algum momento também será desabafada em uma terceira pessoa. 
      Nesse raciocínio existe um loop, um laço do mal, criando efeito que se tornará causa que se tornará efeito que se tornará causa e seguirá. Por isso Jesus enfatiza tanto no sermão do monte (Mateus 5-7) o perdão da ofensa, o amor ao inimigo, a bênção sobre o que nos persegue, esse é o único jeito de quebrar o loop do mal e iniciar um loop do bem. 
      Missão que todos recebemos neste mundo, esse é o primeiro aprendizado, quebrar loops do mal e iniciar loops do bem. Isso não interfere só em nossas vidas, mas também nas vidas dos outros, principalmente daqueles que se colocam como nossos inimigos, tanto no mundo quanto no plano espiritual. “Demônios” perdem a legalidade de vibrarem na mesma “frequência” que nós quando paramos de ser veículos do mal, eles não acham mais ressonância em nós e se afastam. 
      Mas quebrar o loop vai além de perdoar e oferecer a outra face, tem a ver também com estar aberto para mudar de opinião, aprender coisas novas, deixar as velhas para trás e seguir em frente aprendendo, numa renovação de vida espiritual, que tem implicações em nossa vida moral e social. Mudar e seguir mudando, eis o segundo aprendizado. 
      Os dois aprendizados são intrinsecamente conectados, quem não quebra loops do mal, cria desculpas para seguir magoado, acha nisso identidade de vítima que pode ser útil para quem não quer se assumir como agressor. Nessa condição de morte nos tornamos conservadores, achamos zonas de conforto em crenças estabelecidas, já que essas não cobram de nós mudanças que não queremos fazer. 
      Não se cresce sem se libertar, não se liberta sem encarar o novo, o desconhecido, não se conhece coisas melhores sem humildade, sem amor, sem santidade, sem fé, assim, conhecimento espiritual mais elevado não está relacionado com curiosidade intelectual, mas com virtudes morais. Quem não perdoa não abre portas, segue encarcerado naquilo que é, assim tem medo do que não sabe e nunca será melhor que é. 

13/03/23

O céu vencerá o inferno

      “Invoquei o Senhor na angústia; o Senhor me ouviu, e me tirou para um lugar largo. O Senhor está comigo; não temerei o que me pode fazer o homem. O Senhor está comigo entre aqueles que me ajudam; por isso verei cumprido o meu desejo sobre os que me odeiam. É melhor confiar no Senhor do que confiar no homem. É melhor confiar no Senhor do que confiar nos príncipes. Todas as nações me cercaram, mas no nome do Senhor as despedaçarei.Salmos 118.5-10

      Já disse isso aqui e repetirei tantas vezes quantas o Espírito Santo me pedir: nosso inimigo não é o homem, ainda que esse possa se opor a nós, nosso inimigo é o nosso medo, e quando esse existe nem precisa o homem se opor, basta que haja insegurança em nossos corações. O salmista, existindo num tempo de guerras como modo de vida, até deveria e podia pedir a Deus que destruísse seus inimigos humanos e externos. Deus, contudo, permitiu que textos bíblicos como o acima ficassem na Bíblia como simbolismos, aliás, a Bíblia é na maior parte do tempo só metáforas de situações emocionais e espirituais, não regras para serem interpretadas ao pé da letra.
      Quem não se sente assim tantas vezes, amedrontado, preso, limitado a um buraco escuro, quente e mal arejado? Ainda que não esteja necessariamente e fisicamente em um lugar claustrofóbico e cercado por pessoas que o deixam desconfortáveis? E acredite, quando isso ocorre uma situação emocional interior em nós acha simpatia com espíritos malignos externos, o que faz com que nossa percepção de opressão se potencialize. Assim, podemos orar a Deus para que nos livre de nossos inimigos, mas não necessariamente homens no mundo, mas pensamentos, emoções e demônios em nossas mentes. Como já dissemos aqui, a existência é essencialmente mental. 
      Depois disso podemos entregar nas mãos de Deus todos os que sentimos que nos oprimem de alguma maneira, mas sempre com a visão do novo testamento, não com a do antigo. Nessa visão Deus ama igualmente todos os homens, mesmo os que se colocam como nossos inimigos, e quer abençoar a todos. Deus não destrói suas criaturas, nenhuma delas, mesmo a mais perversa, mas pode nos proteger de suas intenções e ações ruins. Deus sempre espera o arrependimento, de todos, por outro lado muitas vezes nosso juízo que coloca alguns como inimigos pode ser enganoso, ainda que Deus nos ouça e nos livre de toda a nossa situação mental de opressão. 
      Mas faça a coisa nessa ordem: peça libertação do medo, entregue possíveis inimigos nas mãos de Deus e depois tome posse de perdão e de amor por todos. A verdade espiritual mais profunda, e que muitos cristãos não entendem, é que o que vence as trevas e o mal é a luz e o amor. Deus não aniquila opositores, mas atrai-os para ele para que se tornem seus amigos, a intenção realmente espiritual da luz mais alta não diminui exércitos inimigos, mas aumenta o seu exército, anexando inimigos transformados como correligionários. No final só haverá um exército, de amigos de Deus caminhando para sua luz mais alta, eis o mistério, o céu vencerá o inferno. 

12/03/23

Vossa tristeza se converterá em alegria

      “Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria.João 16.20

      Seguir em direção a Deus dói, sim, achamos consolo, conhecemos a melhor paz, mas há sofrimento. O motivo é simples, perto de Deus somos iluminados e a luz moral do Altíssimo expõe nossas imperfeições, a verdade faz doer. Quem não quer seguir para Deus inventa motivos para dizer que ele não existe como ele realmente é, diz que crer no mundo espiritual é coisa de ignorante, que culpa é para fracos, com isso fica em trevas. Com as luzes apagadas não se vê defeitos, não se sabe a verdade, há o torpor da irresponsabilidade moral, que não assume erros nem sente culpas, assim não se sofre. 
      Quem quer ser feliz neste mundo sempre, prefere ficar longe de Deus, quem se aproxima do Senhor se aproxima da dor, mas só a dor aperfeiçoa, faz melhorar, e só quem busca melhorar entende a verdadeira razão de estar neste mundo. Pode ser duro o que vou dizer, mas não viemos para este mundo para sermos felizes, viemos para sofrer, viemos para sentir dor. Mas não se desespere, quem aceita humildemente esse tratamento, quem aceita a verdade e busca com todo o coração ser alguém melhor em Deus, acha a paz, é tratado de forma diferenciada pelo universo, sabe onde anda porque está na luz. 
      Você já deve ter percebido que algumas pessoas parecem não sofrer muito, isso acontece com gente diferente, de níveis financeiros e intelectuais distintos. Essas pessoas têm problemas, e acredite, piores que os daqueles que se aproximam do Senhor e assumem a verdade, mas elas conseguem se livrar da dor e seguirem em frente. Fazem isso principalmente jogando a culpa nos outros, dizendo que elas estão certas, que são as outras pessoas que não estão agindo corretamente. Já você, que segue para Deus, sente uma aflição constante, uma cobrança permanente, é a luz de Deus tratando tua vida. 
      É importante que fique claro que a dor dos filhos da luz, que não é de pecado não resolvido ou de ansiedade não entregue ao Senhor, existe, mas é curada na humildade, assim a luta do que segue para Deus não é para anular a dor, mas para permanecer humilde. Aquele que nega essa dor insiste na arrogância, coloca-se acima do sofrimento, foge do Senhor, por isso consegue ter no mundo mais alegria que os filhos da luz. Entretanto, na eternidade, onde todos são confrontados com a luz mais alta, onde não há como fugir do juízo, os que aqui sofreram corretamente terão alegria duradoura. 
      Temos vivido um momento onde a mensagem pregada pela mídia e outros poderes é de negação da dor, ninguém quer sofrer, ou pior, mostrar que sofre, a imagem nas redes sociais tem que exibir um ser humano sempre maquiado, bem vestido, festejando. Não negamos que o objetivo final do ser seja a felicidade, mas a verdadeira felicidade não se consegue neste mundo e muito menos do jeito que se é pregado. É preciso muita dor no plano físico, digerida da maneira certa, esculpindo valores morais na pedra dura do ego humano, para que se possa colher felicidade, e isso só no plano espiritual.
      Desculpe-me ser humano pós-moderno, não posso esconder de você a verdade, o evangelho de Jesus não é livro de auto-ajuda, palestra motivacional ou filme da Disney. Todo o dinheiro que se pode gastar em academias, dietas alimentares, cirurgias plásticas, viagens, bebidas, festas, roupas, tênis, celulares, remédios ou psicoterapia, não trará felicidade, só aumentará o buraco da alma para caber mais vazio. O arrogante que foge de Deus adentra mais as trevas, isso faz com que se engane mais, longe da luz do Altíssimo só há mentira. Quantos sofrem enquanto alguém não assume sua verdade?
      No texto bíblico inicial João registra o momento quando Jesus revela aos discípulos que eles ficariam sem ele, que isso os deixaria tristes, enquanto os outros estariam felizes, mas Jesus diz que depois os discípulos estariam felizes novamente com a presença do mestre. Vossa tristeza se converterá em alegria, como tantas passagens bíblicas, essa possui mais de uma camada de interpretação, a mais próxima dos discípulos naquele momento é que Jesus morreria e ressuscitaria, mesmo nessa interpretação há um milagre que os discípulos não estavam preparados para entender, só entenderiam depois.
      Mas a interpretação mais abrangente tem a ver com as vidas de todos os seres humanos, de todos os tempos, que creem em Deus e caminham espiritualmente em sua direção. A lição do texto segue o princípio que permeia todo o evangelho, que diz que se ganha quando se perde, que se vive quando se morre, assim só haverá alegria quando houver tristeza para se transformar nela. Mas como querem ter alegria na eternidade os que querem ter alegria no mundo, mesmo em nome do que muitos creem ser o evangelho? A lição não é alerta só para os do mundo, mas também para muitos da igreja. 

11/03/23

O Senhor peleja por nós

      “Moisés, porém, disse ao povo: Não temais; estai quietos, e vede o livramento do Senhor, que hoje vos fará; porque aos egípcios, que hoje vistes, nunca mais os tornareis a ver. O Senhor pelejará por vós, e vós vos calareis. Então disse o Senhor a Moisés: Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem. E tu, levanta a tua vara, e estende a tua mão sobre o mar, e fende-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco. E eis que endurecerei o coração dos egípcios, e estes entrarão atrás deles; e eu serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército, nos seus carros e nos seus cavaleiros, e os egípcios saberão que eu sou o Senhor, quando for glorificado em Faraó, nos seus carros e nos seus cavaleiros.” Êxodo 14.13-18

      O texto bíblico inicial é o epílogo do livramento da nação de Israel do Egito. Podemos analizar esse episódio sobre vários pontos de vista, Israel, Egito, o faraó e os egípcios, o deserto, o milagre da abertura do mar e Canaã, são simbolismos para várias coisas em nossas vidas pessoais. Egito é uma condição de vida dura, onde muito se trabalha, mas pouco se recebe, onde se dá lucro para os outros não para si mesmo. É uma condição difícil, mas é para ser só uma fase, principalmente no início de jornadas, o lado positivo dela é que como uma família, a de Jacó e seus filhos, se transformou numa nação, nós como indivíduos crescemos e nos fortalecemos, preparados para atravessar um deserto e conquistar Canaã. 
      O faraó pode parecer um opressor injusto, mas no tempo certo é instrumento de Deus para fazer de uma família uma nação, todos nós temos nossos “faraós” em nossas jornadas. O correto é no momento adequado nos livrarmos dos egípicios, e esses, se forem sábios, saberem que devem deixar partir os que temem a Deus para serem livres. Se os egípcios de Israel tivessem tido essa lucidez, essa humildade, teriam ficado sem aqueles que de alguma forma lhes proporcionavam lucros, no caso de Israel como mão de obra escrava, mas ainda permanecido com alguma dignidade, mas não foi assim que ocorreu. Se Deus tem propósito na luz dos que o temem, também tem nas trevas dos que não confiam nele. 
      Israel, vendo os exércitos egípcios perseguindo-o teve novamente sua fé testada, e novamente falhou. Depois de ver tantos sinais que o todo-poderoso tinha feito para livrá-lo de seus opressores, saber que quando Deus quer ele faz e não é preciso temer, mas confiar e seguir em paz, Israel duvidou. Povo de dura cerviz? Sim, como eu e você. O próprio Moisés temeu, por isso Deus lhe respondeu, “por que clamas a mim? dize aos filhos de Israel que marchem, e tu, levanta a tua vara, e estende a tua mão sobre o mar, e fende-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco”. Nada de novo Deus tinha a dizer, a libertação de Israel já havia sido dada, bastava que Moisés e o povo seguissem com fé.
      Se o povo de Deus não creu, quanto mais os egípcios, depois de todos os sinais que viram o Deus verdadeiro fazer a favor de um povo seu, ainda insistiram na perseguição, achando que ainda poderiam voltar a subjugar Israel. Mas quem se rebela contra Deus tem o coração endurecido, olhos e ouvidos espirituais fechados, anda em trevas e caminha para uma humilhação maior. “Estes entrarão atrás deles e eu serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército, nos seus carros e nos seus cavaleiros, e os egípcios saberão que eu sou o Senhor”, não era uma situação onde seria perdida a liberdade conquistada, mas uma em que essa liberdade se estabeleceria por completo e os opressores seriam totalmente punidos. 
      Eis uma experiência que todos nós podemos viver, termos um grande livramento de Deus e depois sentirmos como se esse livramento fosse perdido. Mas quando isso ocorre é para nós confiarmos ainda mais no Deus que começou a nos libertar e entendermos que Deus intenta nos livrar mais ainda. Se os egípcios não tivessem vindo atrás poderiam ter dado a Israel uma sensação de liberdade, mas temporária, porque depois poderiam se fortalecer e voltar a atacar Israel. Deus queria dar a Israel não uma libertação temporária, mas definitiva, não era Deus interrompendo no meio uma obra, tirando o que havia dado, mas aumentando ainda mais a bênção, acabando com qualquer possibilidade do faraó oprimir de novo seu povo. 
      “Não temais, estai quietos, e vede o livramento do Senhor, que hoje vos fará, porque aos egípcios, que hoje vistes, nunca mais os tornareis a ver, o Senhor pelejará por vós e vós vos calareis”, essa é uma das palavras mais poderosas da Bíblia, Deus a diz também a mim e a você. Estais quietos, sem murmuração, sem reclamação, sem tristeza, mas naquela paz profunda que se vive em silêncio. Vede o livramento do Senhor, quando Deus age nós assistimos, de camarote, quietos, porque não somos nós quem lutamos, mas ele, a glória por sua vez será só dele. Os egípcios que hoje vistes nunca mais os tornareis a ver, o que nos oprimiu por anos será só lembrança, nunca mais nos afligirá, estará submerso no fundo do mar. 
      Israel, quando viu o mar à frente e os egípcios atrás, talvez tenha se sentido novamente preso, oprimido, mas esse mar não era para oprimi-lo, mas para destruir seu opressor. Precisamos ter discernimento, o temos quando não olhamos para trás, para nossos opositores, para nossos erros, para a confiança errada em egípcios, que a princípio podem até nos ajudar, num momento de falta de suprimentos materiais, mas depois nos tornarão seus escravos. Mas também temos esse discernimento quando não olhamos para o mar à nossa frente, o Deus que quebrou a opressão pode abrir o mar, o mar do desconhecido futuro, de outros inimigos que poderão tentar nos impedir de entrar em Canaã. Olhemos para cima, para Deus. 
      Refletimos sobre os pontos de vista dos egípcios e de Israel, mas há um terceiro ponto de vista, de Moisés. Muitos de nós somos chamados como líderes por Deus para tomarmos a frente e conduzirmos outras pessoas às suas canaãs, de tais é exigido firmeza de propósito e confiança no Senhor que vigia na qualidade moral. Quem Deus chama Deus prepara, se Deus te colocou como Moisés em uma causa esteja preparado para ser cobrado, não por Deus, mas pelas pessoas, quando a fé delas for confrontada elas não cobrarão o Senhor, mas você. A quem tem chamada de Moisés é preciso certeza do que faz, serenidade que olha sempre para cima. Se mostrar-se fraco aquele que guia, como findará a jornada o guiado?