16/05/23

Não há medo em Deus (1/2)

      “Não terás medo do terror de noite nem da seta que voa de dia, nem da peste que anda na escuridão, nem da mortandade que assola ao meio-dia. Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti.Salmos 91.5-7

      Muitas coisas muitos não sabem, em áreas variadas, material, emocional, espiritual, e por não terem conhecimento têm medo. A primeira coisa que temos que saber é que muitas coisas não sabemos porque não queremos saber, ainda que a aquisição do conhecimento sobre certas coisas exija de nós esforços e tempo que podemos não dispor com facilidade. Ainda assim, com boa vontade e paciência, grande parte das pessoas pode conhecer muitas coisas, ainda que umas demorem mais tempo que outras. O conhecimento intelectual, que implica diretamente na qualidade de nossa profissão e respectiva melhor remuneração, pode ser alcançado com estudo, mesmo que numa faculdade que exija menos esforço que outras.
      O conhecimento emocional também pode ser adquirido, também com orientação científica e com honesta e humilde autoavaliação, que deseja saber para ser melhor, para si e para os outros. Esse conhecimento está diretamente ligado à qualidade moral que desejamos ter. Buscarmos limpeza do corpo e da alma, amando as pessoas, dá-nos clareza mental para nos enxergarmos como somos, os outros, e melhorarmos, entendendo que felicidade real e que permanece só acontece com valores morais. Mas tanto conhecimento material quanto conhecimento emocional, só podem ser plenos quando temos conhecimento espiritual, esse por sua vez só alcançamos quando temos uma conexão profunda com o verdadeiro Deus. 
      A teologia tradicional cristã dá informações sobre o mundo espiritual, contudo, colocando em extremo o mal, mais confundi que explica. A doutrina cristã diz, o diabo é o responsável pelo mal, os maus serão condenados a uma danação eterna no plano espiritual, não temos acesso ao mundo espiritual, só a Deus pai, Deus filho e Deus espírito, só Cristo salva. Essas afirmações é tudo que a teologia tradicional cristã oferece para muitos mistérios, assim, para serem amparados pelas igrejas, cristãos devem se conformar com elas. Mas será que na prática elas bastam? Cristãos sentem-se satisfeitos com elas, de maneira a não terem medo do desconhecido? O problema dessas afirmações é que deixam mais coisas em trevas que na luz. 
       Não podemos conhecer música erudita se nosso rádio estiver sintonizado o tempo todo em estação de rock and roll. O mundo espiritual conhece-se sintonizando-se nele, mas isso não é tão restrito como muitos evangélicos acham. O máximo que muitos sabem é: pessoas de religiões satanistas conectam-se com demônios, crentes conectam-se pelo Espírito Santo. Mas será que é só isso? Na verdade é isso, ainda que haja termos melhores que esses. Ocorre que assim como espíritos malignos possuem níveis, influências e conhecimentos diferentes, o Espírito Santo revela coisas diferentes para pessoas com níveis diferentes. Jesus como meio mais elevado para Deus é verdade maior e mais útil, mas existem outras nuanças. 
      Considere esta reflexão como conjecturas, e não é pecado fazê-las, você não precisa aceitá-las, mas penso que deve considerá-las, depois orar com convicção a Deus, pedindo que se você estiver errado em alguma crença que ele te mostre isso de forma clara. Medo no mundo espiritual não é só um sistema de alerta contra mentiras, é também uma porta espessa de ferro, com uma tranca cheia de segredos, para verdades espirituais, que obviamente poderão ser perigos para o que não está preparado para elas. O povo judeu assim como os primeiros cristãos e depois os católicos, sabiam disso, assim usaram um regra única: coisas que a maioria das pessoa não pode saber, devem ser protegidas com dogmas extremos. 
      Não devemos temer o desconhecido porque na verdade o único desconhecido que existe é aquele que escolhemos não conhecer, assim, quem cria o que nos causa medo somos nós mesmos. Mas pode-se dizer: eu não sei porque a religião diz que eu não devo saber, a responsabilidade é da religião, não minha. Não, isso não é verdade, você escolhe obedecer a religião. Mas pode-se responder: mas a religião é de Deus, é Deus que diz que eu não posso saber. Não, não é verdade, Deus pode usar a religião, mas a religião não é Deus, Deus é muito maior que a religião. A responsabilidade é sempre pessoal, por errar e por acertar, por saber e por não saber, por se deixar ser enganado, e para dizer não ao medo e conhecer a verdade.
      Se na infância humana fez, hoje o medo não faz parte do plano de Deus para a humanidade. Deus não precisa usar em nenhuma circunstância medo para nos restringir ou nos aperfeiçoar. Não há medo em Deus, não há trevas, mentiras, nem qualquer espécie de violência. Medos podem ser vencidos se nos dermos ao trabalho de saber mais. Medo de ficarmos doentes, a ciência pode nos ajudar a resolver, de ficarmos desempregados, mais estudo pode nos habilitar para acharmos mais oportunidades de emprego. Medo de ficarmos deprimidos, mesmo loucos, amor verdadeiro e médicos adequados podem nos auxiliar. Mas medo do desconhecido espiritual depende de nós, em fé, santidade e humildade, vencermos em Deus. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

15/05/23

O ser humano

      “Por que se concede luz ao miserável e vida aos de coração amargurado, que esperam a morte, e ela não vem, que cavam em procura dela mais do que tesouros ocultos, que se alegrariam por um túmulo e exultariam se achassem a sepultura? Por que se concede luz ao homem cujo caminho é oculto, e a quem Deus cercou de todos os lados?Jó 3.20-23

      Ah, o ser humano, quão maravilhoso é. Quantos mundos cabem dentro dele, que universo infinito de sonhos e pesadelos, dores e alegrias sustenta. Quem pode dizer onde sua imaginação, sua paixão, sua curiosidade podem levá-lo? Falar do homem não é ser menor, egoísta, carnal, é falar de Deus, ser espiritual, é glorificar o supremo criador por sua obra prima. Pobres dos religiosos, que prendem ao invés libertarem, que deixam vagar num pequeno quarto o ser humano que foi feito para voar, elevar-se às maiores alturas, transcender a Terra, conquistar o paraíso. A morte, temida e necessária, que não finda, mas eterniza, revela ao ser humano sua maior vocação, que ele conhece por fé antes da morte chegar. 
     A imaginação, eis uma ferramenta poderosa que o todo-poderoso entrega ao homem, não é só instrumento de criação de vãs e fantasiosas imagens mentais, de poesia e música que descobrem que o plano físico é só metáfora do plano espiritual, que vislumbra o paraíso ainda neste mundo. Imaginar é separar as espessas cortinas da matéria, de veludo pesado e negro azul, e enxergar o mundo dos espíritos, todos atraídos por feixes da luz mais alta emanada do Altíssimo. Quem imagina liberta-se, acha-se, voa, e se insistir, se deixar e se tornar leve como criança, será arrebatado por aquele que nada faz sem propósito, por acaso ou por algum capricho pessoal, mas com amor, para ter perto, ensinar e cuidar.
      Engana-se quem mata a imaginação, quem a vê como ferramenta de liberalidades, da perdição, que enxerga só o corpo e tenta subjugar esse à moral divina. Nisso há morte, não vida, e morte do espírito, mas o desejo de libertar-se está implícito na essência humana, é uma ideia imortal, e ideias não podem ser mortas. Sofre o espírito neste mundo, seu único consolo é fazer arte e buscar o divino, nisso voa, ainda que preso ao corpo por um fino mas resistente fio de prata. Sofre o espírito, se teimar em quebrar esse fio antes do tempo, mas acha paz se respeitar os limites do voo, assim, ainda que preso, manter-se, durante o sonho do sono, quando ora e quando faz arte, à alguma distância do cárcere do corpo material. 
      Por que alguns textos bíblicos nos tocam mais que outros? Porque não são só leis morais, mas obras de arte. Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, as parábolas de Jesus, são textos espirituais, mas são arte. Toda arte é espiritual, ainda que não leve o ser humano à sala do trono de Deus, vasculha os escuros quartos da alma humana. O texto bíblico inicial é artístico, Jó amaldiçoa seu nascimento, sua vida, reclama com Deus, não vê sentido no sofrimento, mas ele estava em meio a um processo de autoconhecimento, assim como  do conhecimento de Deus. Esses conhecimentos estão diretamente relacionados, quem se conhece, conhece a Deus, quem conhece a Deus, se conhece. “Na tua luz veremos a luz” (Salmos 36.9b). 
      Por que se concede luz ao homem cujo caminho é oculto? Jó se refere à luz do mundo, ainda que o homem desfrute dela, não enxerga de fato seu caminho, de onde veio, para onde vai. Mas a interpretação pessimista da vida que Jó teve, pode ser mudada quando o ser humano descobre a luz espiritual, que leva-o a mais que à prosperidade material e aos prazeres físicos. O segredo da vida eterna só nosso espírito pode descobrir, esse encontra consolo quando liberta-se espiritualmente. Esperar tal iluminação do ser humano do antigo testamento, que via a vida só neste mundo, é exigir demais, olhemos para Jesus, esse sofreu mais que Jó e não teve direitos devolvidos aqui como Jó teve, eis o exemplo a seguirmos. 

14/05/23

Qual teu sonho de vida?

      “Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça. Por isso, amados, aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz.II Pedro 3.13-14

      Se Deus te concedesse um pedido, como concedeu a Salomão (passagem bíblica no final deste texto), o que você pediria? Não sejamos hipócritas, nem insanos, todos nós queremos vidas materiais dignas para nós e nossas famílias, mas isso é resultado de temor a Deus e muito trabalho honesto, ninguém se engane. Contudo, será que nos satisfazemos com o suficiente, ou se tendo isso desejamos mais? Quem não está no espírito plenamente satisfeito em Deus, sempre terá a alma vazia, assim, sempre desejará mais prazeres e bens materiais para preencherem esse vazio, ainda que sejam prazeres e bens mais baratos. 
      Muitos nem querem ser milionários, mas terem o suficiente para usufruírem quando e quanto quiserem. Mas seja com filé mignon ou com asas de frango, ainda é solução material para problema espiritual, alma vazia não se satisfaz com comida, mas só com a água do Espírito Santo. A história de Salomão tem seu propósito, uma lição que ensina os seres humanos e sempre ensinará. Quem pede sabedoria terá inteligência para adquirir e administrar bens. Salomão foi sábio, não pediu o peixe, mas o ensinamento de como pescar, contudo, precisamos entender que mesmo ele quis usufruir neste mundo, não na eternidade. 
      Nosso mestre mais elevado sempre será Jesus, ele tinha sabedoria, mas para abrir mão dos valores materiais, então, amar os homens e obedecer a Deus em santidade. Se Salomão achou o segredo de saciar o efeito, Jesus ensinou como anular a causa, a causa é espiritual, só totalmente superada com ferramentas espirituais. Quem quer ter vida religiosa e fé para ter vida próspera neste mundo, pode acabar tentando encher sacola furada. Quando entenderemos o ensino de Pedro, no texto bíblico inicial? Nossa esperança está em aguardar novos céus e nova terra, não em tentarmos construir um mundo confortável.
      Isso não significa que não temos que tratar bem o planeta e crescer intelectualmente, melhorando a vida da humanidade com justiça e ciência para todos. A providência divina coloca espíritos eternos em corpos mortais neste mundo, para que o ser humano encontre as prioridades da existência e cresça moralmente. Cuidarmos bem do plano físico é deixarmos para filhos e descendentes, um lugar melhor para que esses cresçam espiritualmente. Imagina um mundo onde não precisássemos trabalhar tanto, não para sobrar tempo para prazeres físicos, mas para conhecermos mais a Deus e ajudarmos os mais fracos? 
      Isso é vivermos, não pensando no fim do mundo para termos eternidades melhores, mas na continuação da vida na Terra, para que outros também possam, com mais possibilidades até que nós, conhecerem mais a Deus e também viverem conosco bem na eternidade. O cristão precisa, sob alguns aspectos, pensar mais no mundo que no céu, não para usufruir prazeres materiais, mas para crescer espiritualmente. Esse crescimento, nossa decisão por Cristo, nossa prática de caridade com o próximo, nossa vitória contra vícios e obras da carne, a anexação do fruto do Espírito em nossos espíritos, isso tudo é feito aqui. 

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      “E em Gibeom apareceu o Senhor a Salomão de noite em sonhos; e disse-lhe Deus: Pede o que queres que eu te dê.” “A teu servo, pois, dá um coração entendido para julgar a teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; porque quem poderia julgar a este teu tão grande povo? E esta palavra pareceu boa aos olhos do Senhor, de que Salomão pedisse isso. E disse-lhe Deus: Porquanto pediste isso, e não pediste para ti muitos dias, nem pediste para ti riquezas, nem pediste a vida de teus inimigos; mas pediste para ti entendimento, para discernires o que é justo; eis que fiz segundo as tuas palavras; eis que te dei um coração tão sábio e entendido, que antes de ti igual não houve, e depois de ti igual não se levantará. E também até o que não pediste te dei, assim riquezas como glória; de modo que não haverá um igual entre os reis, por todos os teus dias.I Reis 3.5, 9-13

13/05/23

Conectados no Espírito temos paz

      “Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O Espírito que em nós habita tem ciúmes? Antes, ele dá maior graça. Portanto diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.Tiago 4.4-6

      Ainda que vivendo uma vida, na maior parte do tempo, buscando agradar a Deus, nós pecamos, não necessariamente adulterando fisicamente, mas por outros pecados, que ainda que julguemos menores nos fazem perder a paz. O amigo de Deus solicita perdão instantes depois de ter errado, a Deus e se possível a homens, mas ainda que tenha reiniciado certo, com a obrigação de seguir praticando obras boas, se apossando do perdão de Deus pela fé e sabendo que Deus está em paz com ele, a paz que ele tem consigo mesmo pode não vir tão depressa. É assim que é e é assim que tem que ser, o ser humano maduro espiritualmente prosseguirá não cometendo o mesmo erro, indiferente se está ou não sentindo paz interior.
      Por que a paz interior pode demorar a vir? Podemos entender que somos e precisamos ser seres sensíveis, o normal é agirmos certo, não errado, assim se erramos nosso emocional se machuca. Mas será que é só isso, o “templo” do Espírito Santo se suja e sente-se mal com isso? Isso é só parte da verdade. Ainda que pela fé tenhamos o restabelecimento de nossa aliança com Deus, assim direito à paz, à sua proteção, a sermos ouvidos e atendidos pelo Deus Altíssimo, o Espírito Santo também se “ressente”, e precisamos entender isso do jeito certo, sem antropomorfizarmos Deus. É difícil explicarmos isso sem sairmos da doutrina cristã tradicional, ainda que não usando antropomorfismos que essa se acostumou usar. 
      Nesse caso usaremos a frase do texto bíblico inicial, o Espírito que em nós habita tem ciúmes, não entenda esse ciúmes como aquele que temos uns dos outros, sentimento de possessão egoísta, experimentado bastante em relações afetivas, isso de fato não existe em Deus. Mas existe o respeito, reconhecimento de graduações, posições e do protocolo moral necessários para que haja comunicação. A pessoa do Espírito Santo, e é importante que o vejamos assim, como uma pessoa, não como influência ou energia, nos respeita, assim como precisa de respeito para agir. Se não fosse assim, vida com Deus não seria busca de aperfeiçoamento moral, e o Santo Espírito é a presença santa de Deus que se conecta conosco. 
      A frase final do texto bíblico inicial esclarece, Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. O Espírito de Deus resiste ao soberbo, assim como se afasta temporariamente de templo que foi recentemente desrespeitado pelo próprio dono do templo, nosso coração por nós. Mas Deus dá graça aos humildes, assim, por mais sério que tenha sido nosso pecado e por mais sérios que forem os efeitos que teremos que enfrentar no mundo e com os homens por causa do pecado, se o Espírito Santo ver humildade em nós não resistirá, nos conectará novamente com Deus e sentiremos paz. Humildade, contudo, não é virtude natural, ainda que muitos a aparentem com facilidade e desde jovens, humildade interior se aprende no tempo. 
      Não podemos entrar na sala de nosso chefe, muito menos no gabinete de nosso pastor, de qualquer jeito, a qualquer hora. Com Deus não é muito diferente. Deus não se cansa, não se magoa, não se esquece, não se enfraquece no amor, na santidade, na justiça e no poder em nenhum momento, mas ele pede respeito, isso para que possamos aprender a dar valor para as coisas. Eis um mistério, o crente, santo e humilde, tem sempre acesso imediato a Deus, quem sabe perguntar sempre é respondido, quem sabe pedir, nada lhe é negado. Contudo, enquanto estamos aprendendo, Deus precisa calar às vezes sua voz e reter sua paz maior, para que nossos homens interiores sejam impressionados e aprendam a ser crentes, santos e humildes. 

12/05/23

A diferença está no coração

      “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno.Salmos 139.23-24

      A diferença não está no intelecto, mas no coração. Tenho insistido muito aqui na necessidade, que o momento atual já nos permite ter, de reavaliarmos o cristianismo, católico e protestante, multiplicado em tantas igrejas evangélicas, pentecostais e outras. Isso é entendermos Bíblia como contendo a palavra de Deus, e não como sendo e ao pé da letra, respeitando contextos históricos, culturais, sociais e religiosos. Isso nos permite ver o antigo testamento como testemunhos de homens do passado sobre experiências com o verdadeiro Deus, muitas dessas experiências já mitificadas. Leva-nos também a retirar do novo testamento o principal da Bíblia, o exemplo de prática de vida de Jesus como homem, e sua posição espiritual eterna como porta para Deus e meio para sermos perdoados e termos paz com o Altíssimo.
      Como tantas vezes tenho repetido aqui, nosso mestre vivo e ensinador é o Espírito Santo, a Bíblia é só o início de uma experiência com Deus, ainda que muitos de seus textos possam nos consolar sempre. Quem estiver limpo e crente, querendo conhecer a Deus, e não a qualquer outro espírito, será fortalecido pelo Espírito Santo para que tenha vitória sobre o pecado e se aprimore, mas esse fortalecimento se dá à medida que conhecemos a verdade mais alta e os mistérios de Deus pelo Espírito Santo. O que temos instado aqui é que o cristão pode saber muito mais sobre o mundo espiritual que o que aprende em igrejas, delimitadas por doutrinas, rituais, liturgias e dogmas. Conhecimento de Deus é intelectual, mas é muito mais espiritual, não é só opção de curiosos que querem saber mais, mas alimento para todos que querem vitória moral.
      E quanto a tantos cristãos, que são maioria na humanidade atual, que se conformam com a doutrina tradicional das igrejas, serão surpreendidos na eternidade? Sim, serão. Mas isso fará diferença na qualidade da existência que terão como espíritos liberados de corpos físicos? Depende de seus corações. Muitos sabem pouco e seguirão assim até à morte, lá “acordarão” com esse nível de conhecimento, mas a surpresa os deixará muito felizes. Eles sempre tiveram corações humildes, que ainda que não achassem explicações para tudo no que igrejas lhes diziam, confiaram pela fé em Deus, amaram a todos sem preconceitos e julgamentos, buscaram vidas santas. Por Jesus bastar, mesmo para quem sabe menos, é que o cristianismo, ainda que limitado, tem existido por tanto tempo no mundo e sido usado por Deus para salvar o homem.
      Quanto a outros, ainda que saibam muito, terão surpresas tristes na eternidade. Foram arrogantes, acharam-se donos da verdade, quiseram usar a Deus para propósitos materialistas no mundo, não serem usados por Deus para se aprimorarem moralmente para a eternidade. Esses são preconceituosos, julgadores, limitadores do amor de Deus, dentro ou fora do cristianismo, com muito ou pouco conhecimento. Não conheceram o verdadeiro evangelho, e se conheceram, se desviaram dele assim que Jesus lhes mostrou os preços que tinham que pagar para seguirem esse evangelho. Não pense que esses estão no mundo, vivendo os prazeres da carne, não, são religiosos, reconhecidos em suas igrejas, exercem cargos e lideranças, conhecem a Bíblia de cabo a rabo, mas não param para ouvir a voz transformadora do Espírito Santo. 

11/05/23

Identidade se constrói

      “Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oraçãoRomanos 12.12

      Identidade se constrói com reputação que permanece no tempo. Somos aquilo que fazemos na maior parte do tempo, ainda que tenhamos feito muita coisa inadequada, temos até o final de nossas vidas para revertermos essa situação. Se temos uma reputação ruim, ainda podemos ter tempo de construirmos uma boa, basta que trabalhemos e persistamos em melhorarmos. Mas não devemos dar atenção àquilo que as pessoas pensam, muitas nos julgarão e nos condenarão por toda a vida por algo que fizemos lá no início, quando éramos jovens. Não importa, Deus é amigo paciente, é pai misericordioso, é mestre eterno, ele tem sempre a porta aberta para que construamos em nossos homens interiores identidades de qualidade moral. 
      Você se sente derrotado pois aos cinquenta anos vê que muitos projetos pessoais, na área profissional e talvez na área afetiva, desmoronaram? Que fez com que você desse as costas para grupos sociais, empresas, famílias e mesmo igrejas, para se reconstruir? Não desanime, Deus sempre prioriza o aqui e agora, considera a decisão que você toma no presente para, em primeiro lugar, te perdoar e te dar paz, e depois para permitir novas oportunidades profissionais e afetivas para que você possa construir uma identidade de ser humano do bem. Só seja responsável, não se vitimize, não jogue a culpa nos outros, administre as consequências ruins e duradouras de seus erros passados com amor e justiça, e siga em frente trabalhando. 
      Não podemos desistir, ainda que nossos corpos estejam fracos e nossas mentes cansadas, nosso espírito pode ser renovado no Espírito Santo. Não nos enganemos, algumas oportunidades não teremos de novo na vida, se perdidas, portas se fecharão de forma irrevogável, mas calma, em Deus mesmo isso tem propósito maior. Como sabemos se uma grande derrota não foi Deus quebrando nosso ego, libertando-nos de ilusões, abrindo nossos olhos para a vaidade humana, não só nossa como dos que nos colocaram a partir dessa derrota num lugar de derrotados irreversíveis? “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Romanos 8.28). 
      Entretanto, tenham outros uma certeza, se insistimos em fazer algo para termos uma identidade que agrada a nós, aos homens, mesmo à nossa família e à nossa igreja, ainda que seja algo que a princípio até é bom, Deus respeitará isso. Deus chama muitos a vocações mais espirituais, mas esses, depois de sofrerem decepções, ao invés de buscarem a Deus e entenderem o que ele quer deles, abrem mão de espiritualidade, ainda que não de religião, e insistem em fazerem o que Deus não pediu deles. No final até terão boa reputação no mundo, construirão uma identidade de ser humano trabalhador, honesto e bom profissional, mas como ocorre com todo que se rebela contra Deus, com identidades arrogantes, rancorosas e solitárias. 

10/05/23

Somos seres humanos

      “Que é o homem, para que tu lhe dês tanta importância, para que dês a ele atenção, para que a cada manhã o visites, e que a cada momento o ponhas à prova?Jó 7.17-18

      Não somos eternos, ainda que a paixão maximize-nos, maior que nossos corações, elevando-nos às estrelas, ainda que a tristeza nos comprima, tornando-nos grãos de areia presos ao chão, em meio a incontáveis outros grãos, somos seres com início, meio e fim. Aceitar os tempos, viver cada um deles de maneira adequada, sem culpa e sem ansiedade, é o que nos permite viver o presente em paz, isso é o mais próximo que chegamos da eternidade aqui. O humilde acha equilíbrio entre estrelas e grãos de areia, não cobra do homem, mas o ama, não dá a si mais valor que possui, mas se guarda do mal como guarda um tesouro. 
      Não somos deuses, ainda que buscando, assumindo e compartilhando a nossa verdade, não a temos como um quarto fechado, mas como chave para infinitas salas. Pisarmos um degrau, firmarmo-nos nele, mas olharmos o próximo e prosseguindo, com responsabilidade sobre o que aprendemos, mas sem medo de mudarmos de opinião se isso for para sermos melhores. Uma verdade não é chão, é um degrau da escada, não deve ser esquecida, mas fortalecida, expandida, iluminada, fundamento para a próxima verdade. Só Deus é a verdade mais alta sobre tudo e sempre, nós somos seres humanos, aprendendo a aprender sempre.
      Não somos super-heróis. Não podemos tudo, não sabemos tudo, não somos maior que ninguém, não temos mais direito que ninguém, devemos ser servos, não patrões, ouvidos, não bocas. Ainda que no centro da vontade de Deus descubramos e possamos usar uma qualidade só nossa, que nos faz especial para sermos úteis no meio de pares, cada um de nós tem sua kriptonita, que pode levar-nos de super-homem a um fraco, rendido no chão, caso percamos o temor do Senhor. Se houve super-herói no mundo esse foi Jesus, que foi forte, mas não se impôs por isso, foi humano e ainda assim amou a todos e até à morte. 
      Não somos “santos”. Não “santos” como são os estereotipados pelo catolicismo, empoderados por superstições e invencionices, só para darem a homens um lugar para apoiarem espiritualidades infantis. “Santos”, anjos e fantasmas podem ser usados de maneira semelhante, mesmo que cada um se diga enviado por divindade distinta. Ainda que muitos “santos” tenham sido cristãos separados, têm suas missões manipuladas, não receberam honra em vida, mas são usados por maus religiosos para terem após a morte a utilidade que a religião desses não tem. Santo, só Jesus, que convida a todos para serem santificados nele.  
      Não somos eternos neste mundo, não somos deuses do outro mundo, não temos que ser super-heróis para sermos felizes, muito menos sermos vistos pelos outros como “santos” para agradarmos a Deus. Nossa espiritualidade mais alta só pode iniciar-se numa posição, a de seres humanos sem medo de serem só isso, sem auto-exigências, sem nos importarmos com cobranças externas, sem mentiras, nem certezas. A única certeza que precisamos é que Deus existe e nos atrai pelo seu amor à sua luz mais alta de santidade. O resto Deus até usa, religião, dinheiro, dores, mas só como meios para nos tornarmos seres humanos melhores.