quarta-feira, maio 10, 2023

Somos seres humanos

      “Que é o homem, para que tu lhe dês tanta importância, para que dês a ele atenção, para que a cada manhã o visites, e que a cada momento o ponhas à prova?Jó 7.17-18

      Não somos eternos, ainda que a paixão maximize-nos, maior que nossos corações, elevando-nos às estrelas, ainda que a tristeza nos comprima, tornando-nos grãos de areia presos ao chão, em meio a incontáveis outros grãos, somos seres com início, meio e fim. Aceitar os tempos, viver cada um deles de maneira adequada, sem culpa e sem ansiedade, é o que nos permite viver o presente em paz, isso é o mais próximo que chegamos da eternidade aqui. O humilde acha equilíbrio entre estrelas e grãos de areia, não cobra do homem, mas o ama, não dá a si mais valor que possui, mas se guarda do mal como guarda um tesouro. 
      Não somos deuses, ainda que buscando, assumindo e compartilhando a nossa verdade, não a temos como um quarto fechado, mas como chave para infinitas salas. Pisarmos um degrau, firmarmo-nos nele, mas olharmos o próximo e prosseguindo, com responsabilidade sobre o que aprendemos, mas sem medo de mudarmos de opinião se isso for para sermos melhores. Uma verdade não é chão, é um degrau da escada, não deve ser esquecida, mas fortalecida, expandida, iluminada, fundamento para a próxima verdade. Só Deus é a verdade mais alta sobre tudo e sempre, nós somos seres humanos, aprendendo a aprender sempre.
      Não somos super-heróis. Não podemos tudo, não sabemos tudo, não somos maior que ninguém, não temos mais direito que ninguém, devemos ser servos, não patrões, ouvidos, não bocas. Ainda que no centro da vontade de Deus descubramos e possamos usar uma qualidade só nossa, que nos faz especial para sermos úteis no meio de pares, cada um de nós tem sua kriptonita, que pode levar-nos de super-homem a um fraco, rendido no chão, caso percamos o temor do Senhor. Se houve super-herói no mundo esse foi Jesus, que foi forte, mas não se impôs por isso, foi humano e ainda assim amou a todos e até à morte. 
      Não somos “santos”. Não “santos” como são os estereotipados pelo catolicismo, empoderados por superstições e invencionices, só para darem a homens um lugar para apoiarem espiritualidades infantis. “Santos”, anjos e fantasmas podem ser usados de maneira semelhante, mesmo que cada um se diga enviado por divindade distinta. Ainda que muitos “santos” tenham sido cristãos separados, têm suas missões manipuladas, não receberam honra em vida, mas são usados por maus religiosos para terem após a morte a utilidade que a religião desses não tem. Santo, só Jesus, que convida a todos para serem santificados nele.  
      Não somos eternos neste mundo, não somos deuses do outro mundo, não temos que ser super-heróis para sermos felizes, muito menos sermos vistos pelos outros como “santos” para agradarmos a Deus. Nossa espiritualidade mais alta só pode iniciar-se numa posição, a de seres humanos sem medo de serem só isso, sem auto-exigências, sem nos importarmos com cobranças externas, sem mentiras, nem certezas. A única certeza que precisamos é que Deus existe e nos atrai pelo seu amor à sua luz mais alta de santidade. O resto Deus até usa, religião, dinheiro, dores, mas só como meios para nos tornarmos seres humanos melhores. 

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