04/11/23

Siga o rio

      “Há um rio cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo.Salmos 46.4

      Um homem segue pela margem de um rio, sente-se cansado e às vezes tem vontade de parar, mas persiste na caminhada. O rio está num vale com montanhas em ambos os lados, o rio é estreito, mas sua água é limpa e fresca. Nas margens do rio, nas montanhas, não existe vegetação ou qualquer espécie de vida. Tudo está sob terra vermelha, sem árvores, gramas, matos, flores ou qualquer tipo de flora, também não há vida animal. No alto das montanhas há homens e mulheres, procurando lugares melhores, se achando melhores que os que estão no vale, mas onde estão não há água, não há vida, só morte.
      De vez em quando o homem para, estende o braço, com a mão pega um pouco de água e leva à boca, é tudo que ele precisa para se manter vivo, mas logo segue seu caminho. A água desce, o caminho sobe, mas não para uma montanha, para um lugar alto, coberto por nuvens, parece que o rio nasce no céu. O homem olha para trás e vez sua família, mulher, filhas, elas não estão andando, mas permanecem próximas ao rio, alimentam-se dele e perto dele constróem suas vidas. O homem não tem mais nada a construir, assim deve seguir o rio, chegar ao lugar onde ele nasce, escondido nas nuvens. 

      Muitas vezes, depois de orar, no escuro e no silêncio da sala, eu abro os olhos, relaxo e simplesmente vejo cenas. Não me esforço para inventar nada, não é uma história fantasiosa que minha mente inventa, é como um filme, que se passa diante de mim sem que eu me esforce, só preciso descansar em Deus e focar no Espírito Santo. A história acima é mais que uma fantasia, é uma alegoria que o Espírito Santo, para facilitar meu entendimento sobre minha vida, meu passado, meu futuro, o plano espiritual e a vontade do Senhor para mim, me permite conhecer. Quando uma experiência assim nasce em Deus ela é viva, quanto mais refletimos nela, mais nos é mostrado e com mais clareza.
      Três tipos de pessoas são exibidos na história acima: as que estão longe do rio, as que estão perto do rio, mas paradas, e o homem, perto do rio e seguindo em frente. O rio é o Espírito Santo de Deus, estamos no mundo para trabalhar, nos mantermos vivos fisicamente, mas também para aprendermos que vida espiritual só há perto de Deus. Essa posição pode parecer menor para aqueles que vivem sem Deus, esses escalam montanhas, aparecem mais, parecem mais poderosos e sábios, mas ainda que tenham muito no mundo estão mortos espiritualmente. Só o rio que vem de Deus pode alimentar os espíritos humanos, mas ter esse privilégio é ser humilde, limitando-se ao vale onde passa o rio. 
      Muitos desprezam o rio, outros fazem moradas às suas margens, mas alguns devem caminhar perto do rio. Todos que amam a Deus não se sintam menos por habitarem às margens do rio, mas o chamado para seguir pelo rio também não se ache mais por isso. O caminho do homem que segue o rio, em direção à sua nascente é solitário, se no vale há humildade, do que caminha pelo rio mais humildade é pedida. Mas ele deve seguir, nada mais lhe resta a fazer no plano físico, deve dedicar-se às coisas espirituais, preparar-se para a passagem. Todos deveriam fazer esse caminho no final de suas vidas, mas muitos não fazem, ficam parados onde viviam e nada tendo para fazer desfalecem de tristeza.
      De uma pessoa que exalta a ciência e leva uma vida com saúde de qualidade, e entendamos que nada há de errado nisso, ouvi o seguinte: “quando envelhecer vou dedicar-me à natação”. Sim, é sábio cuidarmos bem de nossos corpos e acatarmos a ciência, mas priorizar a matéria na velhice é fazer uma morada no alto da montanha, longe do rio, e querer morrer lá. Essa morte não é feliz, nem a melhor de Deus, a melhor é nos aproximarmos mais de Deus em nossas vidas, nos achegarmos ao rio e pagarmos os preços para vivermos perto dele. Mas é na velhice que o rio ganha sua maior relevância, quando se torna não só alimento em alguns momentos do dia ao orarmos, mas razão de viver. 
      Convém a todos se aproximarem de Deus, mas ao velho isso é mais importante, não só parar de vez em quando para beber a água do rio, para ter forças para trabalhar no mundo mantendo sua excelência moral. Ao velho compete seguir pelo rio, ter mais experiências espirituais, manifestar os dons do Espírito, conhecer os mistérios e as verdades de Deus, santificar-se, acostumando-se com o céu e sendo libertado do mundo. No final isso não é só escolha, é missão, para quem quer a melhor eternidade. Quem segue pelo rio ao morrer no mundo se elevará ao céu sem grandes dificuldades, já estava acostumado com esse caminho no mundo, construiu a melhor eternidade em seu homem interior, salvou-se. 
      Mas quem para no mundo e estaciona mesmo às margens do rio, desfalecerá ainda com o corpo vivo, não terá forças nem para tomar a água do rio. Se enquanto temos que trabalhar no mundo o universo nos dá forças para isso, ainda que bebendo de Deus só de vez em quando, quando temos que parar de trabalhar no mundo e seguir o rio só teremos forças numa comunhão mais íntima e constante com Deus. Felizes os que vivem bem cada tempo de suas existências aqui, trabalha quando precisa, cuida de sua saúde física o quanto precisa, ama quando precisa, ora quando precisa, para de empreender no mundo quando precisa, se consagra quando precisa e se prepara mais para o céu quando precisa. 

03/11/23

Resposta certa vem do silêncio (2/2)

      “Quanto a mim, Daniel, o meu espírito foi abatido dentro do corpo, e as visões da minha cabeça me perturbaram.” Daniel 7.15

      Todos somos dissimulados e orgulhosos, não admitimos tudo que somos e sentimos, assim, não confiemos nos posicionamentos, nas palavras, nos semblantes de muitos que dizem que não precisam de Deus e de religião para terem paz. Todos têm em si espíritos e esses têm sede do grande Espírito, sem saciar essa sede não há paz, ainda que a mente esteja lotada de informação intelectual, da ciência e de todos os seus cuidados. Muitos possuem para cada ensino espiritual que compartilhamos um questionamento, mas não para se aproximarem mais da verdade mais alta, para se distanciarem dela. Muitos não querem Deus pois teriam que assumir humildade que acham que os inferiorizaria diante de pares, puro orgulho.
      Entretanto, mesmo quem crê em Deus, muitas vezes mesmo depois de pôr perdão em ordem pela oração, de receber de Deus e de si mesmo, e de dar aos outros, ainda está sem paz. Esse tenta exercer fé, clamar por necessidades que acha que Deus pode e quer resolver, mas ainda assim não acha consolo. São nesses momentos que a alma deve calar, parar de perguntar e só ouvir. No silêncio do invisível ouvimos o Espírito de Deus nos dizendo pelo que devemos orar, o que temos que pedir, que perguntas podemos fazer. Isso não é um todo-poderoso prepotente tentando forçar sua vontade, mas a luz mais alta nos abraçando em amor e nos pondo como parte de algo maior. Nessa elevada posição há a causa maior e todas as respostas. 
      Daniel sofria por seu povo, pelo cativeiro de Israel, por isso se pôs a buscar a Deus. Muitas vezes Deus permite uma dor, não por ser nosso problema principal, mas para nos levar a buscá-lo, isso é só uma desculpa, que nossas almas facilmente acomodadas a zonas de conforto onde Deus não é buscado, precisam para buscarem o Senhor com mais profundidade. Contudo, nessa busca Daniel recebeu muito mais que respostas para o problema de Israel naquele momento histórico, Deus revelou a seu amigo acontecimentos futuros e sobre toda a humanidade. Por isso ele diz no texto bíblico inicial, “meu espírito foi abatido dentro do corpo e as visões da minha cabeça me perturbaram”, a pergunta que Deus tinha para ele era muito, muito maior. 
      Ah, se conseguíssemos nos desprender de nossos mundinhos, de comer, beber, namorar e pagar boletos, se de fato colocássemos em prática Mateus 6.33-34a, “buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas; não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo”. Se isso acontecesse seríamos levados a servir a Deus em causas muito maiores que as nossas vidas pessoais, então, seríamos cuidado por Deus de forma maravilhosamente natural, ainda que aparentemente milagrosa para muitos. Mas enquanto estivermos ocupados em fazer perguntas mesquinhas, para responder curiosidades infantis, seguiremos insatisfeitos, aquém do melhor do plano de Deus para nossas vidas. 
      A verdade é que falamos demais e vivemos pouco, e muito que fazemos é para nossa própria glória neste mundo e diante dos homens, não é parte da glória de Deus manifestada através de nós e que fará diferença na eternidade. Deus não chama escravos que o adorem de baixo para cima, ainda que o processo de conhecimento de Deus do ser inicie-se assim, com humildade que reconhece um poder maior que tem o melhor para si. Deus quer nos elevar espiritualmente para sermos seus amigos, parte de sua glória, assim sua luz emanará aos outros seres, no plano físico e no espiritual, através de nós. Nessa íntima conexão sabemos as perguntas que devem ser feitas que terão respostas, na tua luz veremos a luz (Salmos 36.9b). 

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a 1ª parte desta reflexão

02/11/23

Pare de fazer pergunta errada (1/2)

      “E quão preciosos me são, ó Deus, os teus pensamentos! Quão grandes são as somas deles!Salmos 139.17

      O mundo atual diz que todos têm direito de saber de tudo, todos podem questionar todas as coisas e nada precisa ser aceito de qualquer jeito. As perguntas são valorizadas mais que as respostas, para o mundo atual responder é estacionar, saber é aprisionar, a liberdade está no confrontamento, na não concordância. Mas será que mesmo após gerações, que tinham que aceitar tudo e de nada duvidar, jovens hoje querem direitos ou querem revanche? Para onde tanta liberdade, tantas perguntas, tanto orgulho de se ter dúvidas, está conduzindo as novas gerações? Perguntas erradas têm respostas erradas, na quantidade de perguntas pode não haver conhecimento, mas só ceticismo. O que pode responder pede fé e fé foca, não se perde.
      Quem pensa que fé é aceitar qualquer coisa sem duvidar não entendeu o que é a verdadeira fé, o que ela busca e o que ela pode achar. Para sabermos sem questionar não precisamos de fé, basta nos acomodarmos com o que sabemos ou com o que os outros sabem. Se precisamos crer é porque queremos ousar, ir além das próprias certezas, saber o que não sabemos e que muitas vezes nem queremos saber, mas que precisamos saber. Fé só tem certeza que será respondida e que a resposta será maravilhosa, mas o resto será surpresa, algo que nem se imagina. Muitos acham que creem, mas no fundo só buscam confirmações de zonas de conforto, do que são e sabem, até serão beneficiados, mas não crescerão tudo que podem crescer.
      A resposta maior, contudo, só achamos quando paramos de perguntar, quando nos calamos e ouvimos a pergunta. A pergunta certa vem do alto, quem a conhece faz a pergunta certa e recebe a resposta certa, que também vem do alto. “Mas como assim, não podemos sequer perguntar, temos que deixar Deus perguntar por nós?” Quem não ama a Deus, quem acha que Deus está no engano do cristianismo do mundo, nas tradições religiosas que só querem controlar os homens para dar poder a homens, não entenderá esse mistério. Materialistas, que não creem sequer que Deus exista, muito menos que colocou o ser no mundo e o atrai para ele, num processo existencial que evolui o ser moralmente, não aceitarão esse lindo mistério. 
      Solitários não entenderão o grande mistério, acham na ciência respostas para suas mentes, cura para seus corpos, soluções para o planeta, mas não acham amor, carregam espíritos frios e vazios. Arrogam saber tudo, pensam poder fazer as perguntas mais lúcidas, mas questionam só a si mesmos, não creem para saberem a melhor pergunta e terem a melhor resposta. Paremos de perguntar que a resposta vem, paremos de explicar, de nos justificar, de nos acharmos deuses, somos só seres criados, a resposta está no incriado. Uma palavra define espiritualidade, não é religiosidade, nem cristandade, é humildade, só o humilde olha para o alto e se coloca como menor, como dependente, como incompetente para fazer qualquer pergunta.
      Ateu não prova a sabedoria mais alta, não usa fé para acessar Deus, é presa de sua arrogante teimosia. É importante dizer que ciência é bênção de Deus, deve ser aprofundada e acatada, mas ela também é efeito da sabedoria mais alta, não causa das outras sabedorias, ainda que experimentada por muitos que nem admitam existir sabedoria mais alta. Mas apesar do Espírito de Deus estar entre nós desde o primeiro ser humano, experimentá-lo é escolha dada ao homem. Quem entra na mente de Deus ouve além e vê o invisível, quem escolhe compartilhar a mente espiritual de Cristo (I Coríntios 2.16), aliando a isso lucidez intelectual, não fazendo ciência e fé como opositoras, saberá mais que a ciência atual sabe na área espiritual.

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a 2ª parte desta reflexão

01/11/23

Só sabemos o fim

      “O seu Deus o ensina, e o instrui acerca do que há de fazer.Isaías 28.26 

      Nós sabemos como todas as coisas vão acabar, mas não sabemos como as boas coisas podem começar, por isso temos que começar todos os dias. Quem para de começar, acaba, e pode morrer antes do tempo. Começar é acreditar sem saber no que vai dar e esperar o melhor, é plantar escondendo uma pequena semente no fundo da terra para colher tempos depois, começar é nascer, é viver. 
      Na luz de Deus mesmo nossa chama mais pequena é forte e útil, e Deus não precisa mais do que uma pequena e pura chama para usar. Cuidado com os que parecem brilhar muito, com uma luminosidade estranha, um azul neon que aparece nas trevas, mas que não vem de Deu, nem para ele retorna. No mundo há muitas luzes, de todas as cores, mas só o Espírito Santo acende em nós a luz mais alta. 
      É essa luz, que acende todos os dias, que nos dá forças para começarmos, recomeçarmos e seguirmos nos transformando. Ela se apagará no final? Não, só será libertada para voltar a ser parte da luz maior do Altíssimo. Sua qualidade é definida nos persistentes começos que executamos no mundo, quando deixamos morrer vaidades e egoísmos e fazemos nascer amor puro e corações limpos.
      Não tenha medo de começar, muitos por orgulho, por não quererem mostrar para os homens o pouco e o pequeno que há no início, viram aquilo que tinham nas mãos, que até era grande, diminuir até sumir, depois disso foram envergonhados. Eternos só os valores morais que anexamos a nossos homens interiores para levarmos à eternidade, o resto é do mundo, aqui nasce, aqui morre, aqui fica. 
      Dois de novembro, dia para lembrar-nos dos mortos, é respeitoso honrá-los, mais útil que muitos acham que é, contudo, importante é avaliarmos suas trajetórias, aprendermos com suas boas verdades, mas também com suas mentiras. A verdade é terra fértil, a única em que a vida eterna cresce. Teremos tempo de ver o fruto do que plantamos, acabar o que começamos? Deus sabe. Será necessário? 
      Talvez não, talvez baste que comecemos, Deus pode estar só esperando que coloquemos o primeiro tijolo na construção, para avaliar, não a construção, mas nossa obediência. Obedecer não mostra que somos servos diligentes, que obedecem cegamente uma ordem, mas que somos amigos que sabem onde a ordem de Deus vai nos levar, pela fé. No final, Deus crê em nós à medida que cremos nele. 

31/10/23

Trabalho eterno (2/2)

      “E por esta causa os judeus perseguiram a Jesus, e procuravam matá-lo, porque fazia estas coisas no sábado. E Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.” João 5.16-17

      O texto de Mateus 25.31-34, 41 expressa a ideia básica que os protestantes têm tradicionalmente do juízo, do céu e do inferno: “E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo,” “então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos”.
      Contudo, Apocalipse 2.26 revela algo que passa batido na leitura que muitos evangélicos fazem da Bíblia. Esse texto pode mudar um pouco a ideia de um céu só contemplativo que normalmente muitos têm: “E ao que vencer, e guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei poder sobre as nações”. Por que os salvos teriam poder sobre as nações no céu? Para que teriam esse poder, com que propósito? Se os salvos estiverem isolados numa região externa denominada “céu”, se nesse lugar, de ruas e construções de pedras e metais preciosos, só haverá salvos, por que salvos teriam direito de dominar pares, de subjuga-los, de controlar nações? Isso nos faz pensar que o céu talvez não vá ser lugar para ociosidade, mas para trabalho.
      Não podemos deixar de considerar que as palavras escritas no livro Apocalipse são de um homem do passado. Ainda que tenha tido uma genuína e poderosa experiência com Deus, João o evangelista registrou o que viu de acordo com o entendimento intelectual e as referências espirituais de um ser humano do primeiro século d.C.. Talvez, na concepção dele, ter poder sobre as nações era a mesma capacidade que tinham vencedores numa guerra física sobre os derrotados, uns tomando outros como escravos, ou, então, João pode só ter entendido que o salvo teria uma posição política superior, como a de governador ou de rei. Lembremos que essa não é a visão do evangelho, que diz que temos que amar e abençoar os inimigos. 
      Nem João o evangelista, que foi mais que um discípulo de Jesus, mas um dos amigos mais próximos do Cristo, pôde entender a profundidade da verdade entregue pelas boas novas do evangelho, sua superioridade sobre a velha aliança de Moisés, senão teria usado palavras diferentes no livro Apocalipse. Deus é perfeito, há um motivo de Jesus ter vindo no século I, mas na verdade isso não faz diferença naquilo que Deus objetivou mostrar à humanidade de todos os tempos pelos textos do novo testamento. Aqueles que de fato querem conhecer a Deus, e não só serem adeptos de religiões, buscarão o Altíssimo e receberão de seu Santo Espírito para saberem o que de fato João viu em suas visões quando preso na ilha de Patmos. 
      Levantemos uma conjectura: será que o trabalho dos que estão no céu não será recuperar os que estão no outro lugar? Para que viemos ao mundo? Não é para acumularmos riquezas materiais, nem para administrarmos o planeta ou nos desenvolvermos cientificamente. Deus nos permite fazer tudo isso, contudo, não para estabelecermos um reino na Terra, mas para conservarmos adequadamente a sala de aula ou o quarto de hospital, que é o plano material, o lugar que Deus usa para conhecermos a Jesus, nos aperfeiçoarmos moralmente e ajudarmos os outros a terem experiências iguais. Estamos no mundo para nos livrar de infernos e ajudar os outros no mesmo propósito, trabalhando para construir o céu dentro de todos. 
      Será que o plano espiritual mudará tanto em relação ao material? Será que tudo que fazemos e cremos aqui bastará para não fazermos mais nada lá? Será que todos que irão ao céu morrerão no mundo no mesmo nível de espiritualidade, assim como todos que forem ao inferno serão igualmente merecedores da mesma e extrema pena? Será que uma passagem neste mundo é suficiente para uns sofrerem terrivelmente para sempre e outros nada fazerem eternamente? Ou será que o amor de Deus seguirá trabalhando em suas criaturas, permitindo que os que já estão próximos dele como amigos ajudem os que estão distantes, mas que também são seus filhos? Tais questões são muito sérias, não vou respondê-las por você, se buscar achará as respostas. (Leia mais sobre esse tema em “Poder sobre as nações (46/90)).

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30/10/23

O que será o céu? (1/2)

      “Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus.I Coríntios 2.9-10

      Alguns dizem, quando morre alguém, “parou de brilhar aqui e foi brilhar lá em cima”, se é músico falam, “não canta mais na terra, foi cantar no coral celestial”, mas se o falecido era um ator dizem que foi brilhar nos palcos superiores, se era carnavalesco dizem que foi sambar no céu. Na verdade a ideia que muitos fazem do céu é aquilo que eles consideram prazeroso, grandioso, valoroso na Terra, mas com proporções maiores no outro plano. Se ser rico é bom no mundo, no céu seremos milionários, algumas religiões até dizem que no paraíso os santos terão direito a se relacionarem com muitas virgens, já que consideram casamento e vida sexual o prazer maior da vida aqui. 
      Mas será que temos capacidade, inteligência, ciência, para entender o que é o céu? A igreja católica construiu uma ideia equivocada de santidade assim como de excelência espiritual, essa ideia vê nos apetites do corpo físico o pecado, o mal, o inferno, assim vê céu como oposição a isso. Tentando estabelecer esse céu na Terra criaram-se as ordens religiosas de monges, frades, freiras, irmãs etc, que usam isolamento e abnegação extrema para serem santos. Talvez para muitos católicos o céu será isso, um convento, um mosteiro, um monastério, onde as tendências pecaminosas estarão dominadas e a existência será só para venerar a Deus. Mas será isso o céu, um lugar só para contemplação? 
      Para tentarmos entender o mais proximamente possível o que é o céu temos que entender qual é o centro da vontade de Deus para os seres humanos no mundo, quem não entende ou não aceita o que de fato Deus quer dele aqui, não conseguirá entender e aceitar o que Deus tem para ele lá. Desculpe-me se for duro, mas tem uma palavra que define nossa existência no mundo, e entendemos isso desde a expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden, a palavra é trabalho (Gênesis 3.17-19). Muitos aliam o céu ao sétimo dia da semana, o dia de descanso, mas céu pode estar mais relacionado aos outros seis dias, dias de trabalho, e mais, a sete dias de trabalho, já que no céu não precisaremos descansar.
      O que cansa, adoece, desgata-se, falece, é nosso corpo físico, bem, no céu não teremos um envólucro material aprisionando nosso espírito, esse estará livre e esse não se cansa, não adoece, não desgasta-se e não falece, pelo menos não em sua composição. Contudo, aqueles que tiverem construído infernos dentro deles, estarão cansados, desanimados, amarrados, insatisfeitos, isso não matará o espírito, mas causará um sofrimento terrível e bem duradouro, por isso inferno. No inferno não poderemos trabalhar, mas talvez daremos trabalho aos outros, eis um mistério. Mas que trabalho faremos no céu? A melhor adoração que podemos dar a Deus não é através de palavras e canções, mas por ações.
      Sim, a ideia que muitos evangélicos têm do céu é válida, lá os salvos louvarão a Deus, mas será que isso não será feito com obras, seguindo num eterno trabalho de servir os outros em amor? Sei que estou entrando numa maneira de entender o céu que escapa um pouco da teologia protestante tradicional, assim de agora em diante sinta-se à vontade para entender o que será dito como suposição, ainda que eu, pessoalmente, tenha certeza que não é suposição. Caminhe conforme tua fé, não conforme a minha fé ou de quem quer que seja, contudo, não tenha medo de pensar um pouco mais fundo sobre as doutrinas cristãs em que acredita, depois ore e peça que Deus e só ele te mostre a verdade. 
      Haverá prazeres sem iguais no céu, ninguém duvide disso, não será só exaltação do melhor que temos no mundo. O melhor que tivemos aqui será visto como pequeno, tolo, inútil, no céu. Entenderemos como somos mesquinhos, egoístas, vaidosos, que mesmo em nossas crenças religiosas, que procuramos guardar com tanta fidelidade e sinceridade, havia prisões, medos, superstições, não a liberdade que o Espírito Santo, ainda no mundo, tentava nos fazer conhecer. Se aqui nos encantamos com arte, com música, com louvores cristãos, isso tudo lá será tão menor que nem saudades teremos, só sentirá saudades do mundo quem estiver num inferno. Mas a esses, será que não poderemos ajudar lá com trabalho? 

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29/10/23

Provando a glória de Deus

      “Porque o Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão.Salmos 84.11

      Se conhecer a Deus fosse ler a Bíblia e aprender com personagens antigos que vale a pena ser amigo de Deus como foi Abraão, que vale a pena superar a própria natureza má e ser um vencedor como foi Jacó, que vale a pena vencer a inveja dos irmãos e as prisões do mundo para ser a salvação da família como foi José, que vale a pena esperar trinta anos no deserto para ser manso para conduzir um povo à terra prometida como foi Moisés, que vale a pena suportar a perseguição de um líder deposto, não se vingar dele e ainda chorar sua morte para enfim ser rei, só isso já compensaria o que sofri pelos erros que cometi. 
      Se conhecer a Deus fosse estudar os evangelhos e conhecer, não as religiões cristãs, mas o próprio Cristo, quando ele foi santo, mas foi amigo dos homens sem importar-se com seus níveis morais, quando ele, ainda que conhecendo a incredulidade e a superficialidade dos seres humanos, os curou, os alimentou, seus corpos e suas almas, sabendo que no final ninguém lhe faria companhia em sua maior prova, quando ele, ainda que de uma espiritualidade de nível superior a qualquer um que pisou este planeta, foi humilde, manso, calado, não se defendeu, só amou, só isso valeria à pena ter perseverado para ser alguém melhor. 
      Se conhecer a Deus fosse trabalhar em igrejas, tocar em vários cultos por semana, pilotando tantos instrumentos de teclas, dos velhos harmônios, que nos deixavam sem fôlego quando tínhamos que pressionar pedais para manter os foles cheios de ar, até lindos pianos de cauda, passando por sintetizadores dos anos 1970 até os atuais, sentindo o louvor maravilhoso de centenas de vozes, unidas só para adorar, mas também orando em tantas vigílias, clamando pela liderança, pelos ministérios, para que o nome de Cristo fosse pregado, só isso valeria a pena ter sido injustiçado muitas vezes pelos que cantavam comigo. 
      Hoje faço sessenta e quatro anos, quarenta e oito anos de conversão em igreja protestante, mas com uma necessidade intrínseca e misteriosa de Deus desde que tenho consciência que existo. Não foi fácil, minha libertação foi lenta, deixei baixas no caminho que só pela misericórdia de Deus se restabeleceram após minha passagem em suas vidas, mas o final tem sido iluminado, e o que deixo aqui faz com que me sinta satisfeito por ter cumprido minha expiação. Contudo, minha experiência foi mais que conhecimento bíblico, encantamento com a vida de Jesus e ministração de louvor, provei a glória de Deus de perto. 
      Sinto pena dos fortes, inveja, não, pelo menos, não mais, mas me entristeço por saber que eles podem ter conhecido profundamente doutrinas de religiões cristãs, mas por se acharem capazes o suficiente para agradarem a Deus só tiveram experiências intelectuais com Deus. Tentaram fazer o melhor, mas com as próprias forças, nunca precisaram se levantar do fundo do poço escuro dos próprios fracassos e só acharem forças para isso na glória de Deus. Minha experiência não foi teoria fria, mas vivida com um sentimento maravilhoso, um êxtase que nenhum prazer deste mundo se compara, o dom do vivo Espírito Santo.
      Ainda que devamos tomar a iniciativa de falar com o Senhor todos os dias, Deus nos chama para orar, quando isso ocorre sentimos algo diferente. Nessa chamada a presença de Deus é poderosa, para quem já manifestou dom de línguas a boca se enche de palavras ininteligíveis e nos sentimos puxados como que por um choque elétrico, nosso espírito é arrebatado num instante a elevadas regiões espirituais. Nessa posição o Espírito Santo nos fala, são frases curtas e diretas, mas são mais que semântica, é a glória de Deus nos tocando. É essa experiência sobrenatural que tem me mantido firme no caminho que Deus me vocacionou.