Amar é ser paciente

      “Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” Romanos 5.7-8

      Deus é eternamente vivo porque não peca, se não peca, não sofre, se não sofre não sente o tempo passar, não envelhece e não morre. O inferno dura infinitos anos, o céu, um único e eterno instante. Deus ama-nos porque é paciente conosco, ainda que saiba que fazemos pedidos imperfeitos e temos necessidades vãs, precisa nos atender, senão definhamos na tristeza. Ele vê que algo que parece tão importante para nós e que achamos que resolverá todos os nossos problemas só nos deixará felizes por algum tempo, e que logo depois, frustrados, desejaremos outra coisa, mas ainda assim nos atende. Deus espera que em nossa frustração aprendamos a desejar coisas melhores, para da próxima vez pedirmos a ele algo mais valoroso. 

      Ser espiritual é caminhar para Deus no exemplo de Jesus, isso é ver a nós mesmos e aos outros com os olhos de Deus. Deus olha todos com o filtro do amor, pacientemente. Nós vemos um filho ou um amigo fazendo coisas que sabemos que trarão frutos amargos, e já queremos conversar com a pessoa para tentar convencê-la a mudar de ideia, mas nem sempre, ou na maioria das vezes, conversar resolve. “Não adianta chamar quando alguém está perdido procurando se encontrar”, um amigo muito querido e já falecido, usou essa frase da letra de uma música de Rita Lee, há mais de quarenta anos atrás, para me aconselhar. Na época eu não entendi, hoje entendo, ele me conhecia mais que eu sabia, e me amava, com muita paciência.

      Ele via meus erros, mas sabia que eu não estava pronto para ouvir conselhos e mudar de atitude, assim só me acompanhava, próximo e calado. E de fato ele fez isso, entre 1976 e 2000, quando faleceu, eu morei em várias cidades, tive várias atividades profissionais, mas ele sempre dava um jeito de me visitar, de me ouvir, de me ajudar. Tenho saudades dele, gostaria de ter tido a maturidade e a consciência que tenho hoje naquele tempo, para desfrutar mais de sua amizade angelical, sim, foi um anjo em minha vida. Deus sempre age assim conosco, nos acompanha no tempo, nos vendo como poderemos ser, esperando que aprendamos e acertemos. Em Deus não existe morte ou inferno, só vida e céu, os que descansam nele acham a paz. 

Dia perfeito

      “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.” Provérbios 4.18

      Sigamos caminhando para a luz do Altíssimo. O mundo pode mudar e suas novidades podem ser mais para a perdição que para a iluminação, o ser humano pode se tornar mais injusto e cruel, ainda que se achando mais justo e tolerante, as instituições podem se corromper, todas elas, as religiões se prostituirem, todas elas, os velhos podem se cansar e negar seus destinos de forma irresponsável, os jovens podem se entediar com tanta liberdade e mesmo prazeres modernos podem não lhes bastar, mas na luz de Deus há paz. A liberdade do mundo é falsa, a sabedoria da ciência, insuficiente, as agendas ideológicas dos seres humanos, ilusões, as doutrinas religiosas só manipuluações humanas, mas na luz do Altíssimo há verdade. 

      É preciso fé, se quisermos provas científicas só teremos o vazio do conhecimento de nossas próprias e limitadas mentes, útil para curar o corpo e o planeta, não para limpar o espírito. Pela fé vemos o invisível, ouvimos o intocável, provamos quem está infinitos quilômetros distante do arrogante, e a um passo perto do humilde. Pela fé esperamos um dia perfeito na próxima manhã, não no mundo, não nos homens, mas dentro de nós. Pela fé amamos e então sentimos, pela fé temos paciência e então recebemos, pela fé perdoamos, damos outra oportunidade, recebemos outra oportunidade, nos damos outra oportunidade. Pela fé caminhamos para a luz do Altíssimo onde sempre há amor incondicional, instantâneo, completo, puro. 

      Não temos outro destino que não seja a luz do Altíssimo, inferno existe só enquanto cremos nele, céu existe ainda que não o mereçamos, perdão recebemos mesmo sem o buscarmos, justiça colhemos seja qual for a semente que plantamos. Impossível é aquilo que você não quer em Deus, sem respostas só as perguntas inúteis, mas aquelas cujas respostas te farão alguém melhor, no corpo, na mente, nos sentimento e no espírito, são entregues antes que as perguntas sejam acabadas de serem feitas. Se decidir em tua mente é possível, não para ter as ilusões do mundo, a liberdade equivocada que empurra para o caos, que pesa e amarra, mas a que entrega as asas da liberdade divina que permite flutuar leve às virtudes da luz perfeita.

Imutabilidade divina

      “Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” Tiago 1.17

      Deus não muda, o que muda é o nosso coração, assim na variação e inconstância de nossos sentimentos e pensamentos achamos que tudo fora de nós é que se modifica. Por isso não achamos segurança, chão para nos firmarmos, uma constante em que confiar, e pomos a culpa no universo, enquanto os culpados somos nós. “A candeia do corpo são os olhos, de sorte que se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz” (Mateus 6.22), o problema não está no que se olha, mas em quem olha, bons olhos sempre procurarão e acharão algo bom. O ponto nesta reflexão é: a primeira coisa para se achar Deus é limpar olhos e ouvidos espirituais, assim temos a calma que nos permite focar em Deus e entendê-lo, não em nossas inconstâncias. 

      O Deus que você buscou ontem, em quem você confiou, para o qual entregou tua vida e de teus amados, ele continua o mesmo hoje, suas promessas são as mesmas, suas virtudes imutáveis. Mas você fez alguma bobagem hoje, que te sujou moralmente, que machucou pessoas, sim, isso poderá ter consequências e sérias neste mundo, contudo, confesse, se perdoe e peça os perdões devidos, mas em paz porque Deus já te perdoou em Cristo. Quanto às consequências dos teus erros, bem, você terá que encará-las, não tem outro jeito, mas não fique pensando que Deus mudou com você por causa disso, se pediu perdão está tudo certo com ele. A paz que vem do perdão de Deus é a força para vencermos nosso principal inimigo, nós mesmos.

      Se tivéssemos o entendimento correto da constância das virtudes de Deus, da paz e do amor que há nele, não sofreríamos tanto. Sofremos porque muitas vezes estamos temendo um ídolo, não descansando em Deus, um ídolo parecido com Deus, delimitado por dogmas, doutrinas religiosas e textos bíblicos, mas não o Deus espiritual e vivo. Muitas vezes o mal nos prende ao erro convencendo-nos que nosso erro fez Deus mudar conosco, e isso não é verdade. Deus nunca muda, assim, não se sinta cobrado, condenado, culpado, pesado, olhe para o Altíssimo e siga para sua luz, ainda querendo ser santo e amoroso, ainda buscando ter o caráter de Cristo, ainda com responsabilidade pessoal pelos teus desacertos, mas em paz. 

Necessidades, possibilidades, vontades

      “O caminho de Deus é perfeito; a palavra do Senhor é provada; é um escudo para todos os que nele confiam. Porque quem é Deus senão o Senhor? E quem é rochedo senão o nosso Deus? Deus é o que me cinge de força e aperfeiçoa o meu caminho.” Salmos 18.30-32

      Só Deus consegue equilibrar nossas necessidades com nossas possibilidades e com nossas vontades. Precisamos de muitas coisas, mas realmente só algumas são imprescindíveis para nossa felicidade melhor, são essas coisas que de fato temos possibilidades de ter, porque Deus nos dá forças para conquistá-las. Contudo, o amadurecimento maior é ter o que se pode para saciar o que se precisa e ter prazer nisso, assim achar no mínimo possível a satisfação mais profunda. Mas não entendemos isso depressa, começamos querendo coisas demais, depois nos frustramos ao descobrir que não temos capacidade para ter tudo, assim, apesar de desejarmos muito, não nos é possível possuir. 

      Queremos o que não podemos ter, assim não nos sentimos satisfeitos. Muitos, aos olhos de outros, possuem muitas coisas, regalias, luxos, bens e prazeres caros, podiam estar satisfeitos, mas não estão, assim exigem mais de si mesmos para terem mais. No final estão ricos por fora e pobres por dentro, achando que nunca fizeram e tiveram tudo que queriam. O humilde foca no principal, e o principal é aquilo que Deus mostra como principal, que dá vida digna no mundo físico exterior, mas que não interfere na qualidade interior que se leva para o mundo espiritual. Dessa forma não exige de si mais que pode, sente-se grato por ter conquistado tudo que precisava e gosta de tudo isso. 

      Goste do que você pode ter e possa ter o que você precisa ter, eis o mistério que só entendemos à luz do Altíssimo. Não queira aquém do que você pode trabalhar para adquirir, mas não trabalhe tanto a ponto de poder ter tantas coisas que já não dá valor para elas nem acha gosto nelas. No mundo material, tudo nunca basta e nada é suficiente, assim busque limites em Deus e fique protegido neles. Depois você terá tempo, saúde e desejo para buscar o mais importante, o conhecimento de Deus, esse, sim, é infinitamente maravilhoso. Quem achou o amor quer amar mais, quem encontrou a santidade quer se limpar ainda mais, e quem viu a luz do Altíssimo deseja estar mais perto dela. 

Respeitemos o tempo dos outros

      “Quem guarda o mandamento não experimenta nenhum mal; e o coração do sábio conhece o tempo e o modo certo de agir.” Eclesiastes 8.5

      A dificuldade que temos para entender e para aceitar certas pessoas é porque achamos que elas vivem de um jeito e falam certas coisas que nós seríamos incapazes de viver e de falar hoje. Temos muita dificuldade para aceitar gente diferente, com escolhas diferentes, ideologias diferentes, religiões diferentes. Mas também temos a tendência de nos colocar como juízes, assim usando a nós mesmos como referências de certo e errado, julgando e condenando os outros injustamente. Algo que pode-nos ajudar a ver as pessoas com mais misericórdia é lembrarmos como nós mesmos éramos no passado, mas isso só é possível a quem foi diferente no passado e hoje mudou, e mudou para melhor de acordo com referências de Deus não suas.

      Se alguém tem muita dificuldade, em tua opinião, para ser lúcido hoje, para enxergar certas verdades que estão em sua cara, pense em você no passado. Você também não tinha dificuldade para ver certas coisas? O que você é hoje não é bem diferente do que foi? Como você mudou os outros também podem mudar. Mas podemos responder a isso, “mas certa pessoa tem a mesma idade que eu, passou por coisas parecidas com as que eu passei, e ainda não mudou, assim para ela não há mais jeito”. Essa resposta não é sábia, ninguém é igual a ninguém, e conviver com diferenças é o que nos faz crescer. O segredo é olhar todos com os olhos de Deus, com um amor paciente e crendo que todos podem melhorar em seus tempos. 

      Quem mudou entende o que é dito aqui, mas quem não mudou, não teve coragem para ser humilde, e teima em ser o mesmo achando até que isso é consistência, é virtude, é firmeza de caráter, terá dificuldades para amar e ser misericordioso. Quem não quis mudar, e mudar porque Deus mostrou que a mudança, ainda que aos olhos dos homens era para ser menor, era o jeito de ser feliz e fazer os outros felizes, se colocará como referência de bem e mal, como juiz. Esse não terá paciência com os outros, se achará pronto quando na verdade nem começou a se construir, e isso porque nunca se desconstruiu. Como você vê e avalia os outros, como errados incorrigíveis ou como seres em construção precisando só de tempo para melhorar? 

Afetuoso ou afetado?

      “Aprendei a fazer bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas. Vinde então, e argui-me, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã.” Isaías 1.17-18

      Afetuoso ou afetado? O afetuoso exerce amor, o afetado no amor exerce domínio, o amor liberta, o domínio cerceia a liberdade. Amar é tratar as pessoas como seres independentes e com os mesmos direitos que se dá a si próprio, alguém com amor afetado até pode tratar bem alguém, mas como sua propriedade. Uma das maiores revoluções que a humanidade provou foi entender que seres humanos não podem ser donos de outros seres humanos. Esposas não são propriedades de esposos, africanos não são escravos de europeus, crianças não são posse dos pais, povo não é servo do rei, funcionários não são subalternos de empresários sem oportunidade de um dia também serem empresários. Todos são iguais, superior só Deus. 

      Até que ponto, nós, no século vinte e um e principalmente nós que nos dizemos seguidores do Cristo, somos afetuosos ou só afetivamente afetados? Até que ponto damos liberdade às pessoas ou dispomos de seus serviços e reputações quando desejamos, tratando-as sem respeito e julgando-as inferiores? Até que ponto damos liberdade para nossos filhos fazerem escolhas, ainda que sejam escolhas que nós não faríamos? Isso não significa não dar orientações e exemplos de valores morais, do que entendemos como certo e agradável a Deus, mas sem impor, muito menos usando qualquer forma de agressão. Não vamos até as últimas consequências do amor porque na verdade ainda não experimentamos o poder do amor em nós.

      Sempre que falo sobre amor preciso deixar claro que amar nao é ser violento, mas também não é submeter-se à violência, principalmente de cônjuges, ninguém precisa permanecer casado com alguém possessivo e agressivo. Posto isso sigamos afirmando que o amor tem o poder de mudar as pessoas, por amor fazemos o que não faríamos se fôssemos obrigados por alguém que se acha nosso dono. É triste como muitos não receberam amor, não são humildes para admitir isso, e seguem tratando as pessoas de forma afetada, trocando sexo por afeto, dinheiro por atenção, vendendo a própria alma ao diabo só para sentirem-se amados. Afetuoso ou afetado? Provemos o amor de Deus, então poderemos ser afetuosos, não afetados.

Território mental

      “Escutarei o que Deus, o Senhor, falar; porque falará de paz ao seu povo, e aos santos, para que não voltem à loucura.” Salmos 85.8

      A última grande guerra que a humanidade enfrentará não será por terras físicas, mas será mental, o último território que o mal tentará conquistar será a mente do ser humano. Essa é uma visão adequada e que pode ser útil, mas pelo cristianismo tradicional não é a mais correta. Mas será que o universo deve ser visto só de forma maniqueísta, lugar de guerra entre o bem e o mal, onde um diabo está sempre intentando contra Deus, tendo esse que reagir com armas, ainda que da luz, também agressivas? Em Deus não há agressividade de forma alguma, ele vence à medida que o livre arbítrio do homem permite, assim o mal, o campo de batalha, a batalha e a vitória ocorrem tudo dentro da mente humana. 

      A última batalha ocorrerá na cabeça das pessoas porque esse é o último obstáculo a ser superado para o homem seguir livre para Deus, libertando-se da matéria e priorizando o espírito. Isso já está ocorrendo, e as ferramentas dessa guerra são o mundo virtual da internet através dos dispositivos móveis de comunicação, celulares e outros aparelhos. Você já se atentou a uma sala de espera de consultório médico? Há uns tempos atrás as pessoas aproveitavam o tempo para lerem um livro, para porem os pensamentos em dia ou mesmo para relaxarem. Hoje não, ninguém suporta enfrentar a própria mente, querem ver, ouvir e ler, não coisas importantes e profundas, mas amenidades vãs e superficiais nas telas de smartphones. 

      Mas não sejamos extremistas, nem generalizemos, há coisas boas, profundas e úteis na internet, mas ainda isso é digerido de forma obsessiva, as pessoas não conseguem passar alguns minutos sem olhar se há alguma notificação ou mensagem no celular. O lado ruim é que o tempo fica curto, a vida passa depressa, as pessoas se cansam, enquanto que para o mais importante não há tempo. Quem dorme em paz com tanta atividade mental? Todos parecem beirar à loucura, histéricos por novidades. Por isso o consumo de tanto tabaco, de tanta bebida alcoólica, de tanto calmante, de tanto sexo, numa busca desenfreada por paz. Eis o mal tentando sua última ocupação, cabe-nos parar tudo e buscar o Deus de paz.