14/08/22

Vício: culpa e ansiedade (14/92)

      “O homem que anda desviado do caminho do entendimento, na congregação dos mortos repousará. O que ama os prazeres padecerá necessidade; o que ama o vinho e o azeite nunca enriquecerá.” Provérbios 21.16-17
      “Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis.” Gálatas 5.16-17

      A lei de Moisés e o evangelho de Cristo não são só duas propostas religiosas para uma nação, antes resumem dois caminhos espirituais para humanidades de tempos diferentes. A velha aliança de Moisés evidencia o efeito do pecado, proibindo a prática do fruto, enquanto que a nova aliança de Cristo mostra a causa do pecado, propondo a retirada da raiz antes de crescer e dar o fruto. Pelo evangelho aprendemos que o problema não é comer demais, mas viver com dores morais que buscam na gula uma reparação. 
      As dores mais perigosas que levam a vícios podem ser as mais desnecessárias: a culpa e a ansiedade. Não que essas não sejam legítimas, mas podem ser, em grande parte das vezes, inúteis. Depois que erramos, para que culpa? Inicialmente é útil para reconhecermos o erro e tentarmos não errar mais, mas precisa parar aí. Sobre ansiedade, uma coisa é preocupação responsável pela vida, mas se for maior que a capacidade de vivermos bem é só ansiedade inútil. Às vezes é melhor sermos pragmáticos e só seguirmos. 
      Culpa, ansiedade, cobrança, são as causas, o processo de vencer tudo isso inicia-se com uma decisão racional, precisamos decidir mentalmente que queremos cura para essas coisas. Só sem esses males teremos paz e só em paz não acharemos legitimidade para vícios, os efeitos finais. Mas é preciso entender que causas coexistem com efeitos, assim temos que curar as causas e cessar os efeitos. As causas são morais e espirituais, se resolvem com vida com Deus, mas os efeitos, como vícios de sexo e de gula, são físicos. 
      Pode ser difícil saber o que podemos vencer só com Deus, e o que poderemos precisar da ajuda de profissionais da área de saúde e de remédios. Para não sermos irresponsáveis, se você estiver em algum tratamento, compartilhe sua religiosidade com os médicos, eles são sensatos, ainda que pela ciência, não desprezarão oração e fé. Entretanto, só posicionamentos morais podem não substituir orientação médica e remédios, assim tenhamos sabedoria para receber várias formas de ajuda, Deus usa a ciência. 
      Tendo em mente que você já procurou ajuda da ciência, e que já se aprumou com Deus, assumindo erros, pedindo perdão e se apossando da paz, a questão é como seguir em frente sem recaídas. Vícios não acabam assim num passe de mágica, principalmente se forem os mais leves, e esses podem ser os mais difíceis de ir embora, como os citados, sexo e gula. A frase “um dia de cada vez” tem um sentido importante na cura, liberta-nos da ansiedade de temer o futuro e nos dá paz no que conquistamos hoje. 
      Vícios nos acostumam com um modo de vida, com uma maneira de termos forças para viver, assim livrar-nos deles requer que nos acostumemos com um modo diferente de vida, deixarmos velhos costumes e existirmos com outros. A cura começa na mente porque ela é porta para tudo, o pecado não está nos olhos, nas mãos, no estômago ou nos genitais, mas em nosso interior subjetivo de pensamentos e emoções. Pecado não é material, é espiritual, se não fosse, após a morte, sem corpos físicos, todos iriam para o céu. 
      Como diz o ditado, mente vazia é oficina do diabo, assim uma orientação sempre válida é não ter tempo para bobagens, use momentos livres para coisas boas. Exercícios físicos e boas leituras são atividades que ocupam mente e corpo com ações produtivas e positivas, não adianta ficar na frente da TV ou passando o dedo na tela do celular e achar que estará forte para vencer vícios. Por isso coisas que podem até ser costumes meio obsessivos, como estudo de música e artes, podem ajudar-nos a vencer vícios mais graves. 
      O ideal é acharmos serenidade plena, onde mesmo não fazer nada não nos deixa fracos, só substituir uma coisa por outra um dia não resolverá mais. Essa serenidade se conquista com equilíbrio de todo nosso ser, corpo físico, mente, coração e espírito. Nela nos alimentamos certo, fazemos exercícios físicos, temos o afetivo resolvido, indiferente se estamos sozinhos ou acompanhados, crescemos intelectualmente com uma relação lúcida com estudos e área profissional, e praticamos uma comunhão espiritual crescente com Deus. 
      Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne, até que ponto entendemos isso? Novamente dizemos, vida espiritual começa na mente, se muitos cristãos soubessem disso entenderiam porque religiosos orientais dão importância à meditação e restrições alimentares, ainda que muitos desses não tenham experiência direta com Jesus espiritual, aprenderam que espiritualidade começa no controle da mente. Cristãos ocidentalizados dão mais relevância a ações e palavras que a pensamentos e sentimentos.
      Contudo, auto-controle só é plenamente possível no Espírito Santo, não basta nos esvaziarmos do mal e nos esforçarmos para permanecermos limpos, é preciso deixar Deus nos encher. Assim repito outra ênfase do “Como o ar que respiro”, temos que ter uma experiência espiritual com um Deus espiritual através de dons espirituais, não somente entendendo intelectualmente textos bíblicos ou procurando interpretações mais atuais para eles. Como têm aparecido estudiosos bíblicos falando coisa velha com aparência nova. 
      “Mas agora temos sido libertados da lei, tendo morrido para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra.” (Romanos 7.6), a única novidade que nos revigora, nos alimenta, nos satisfaz e nos livra de toda espécie de vício é o Espírito Santo de Deus. Meus queridos e minhas queridas que me leem, busquemos essa intimidade de Deus, peçamos os dons espirituais, nos libertemos das vãs religiões de homens, tenhamos experiências em primeira mão com o nosso Deus. 

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amanhã as outras partes desta reflexão
José Osório de Souza, 12/10/2021

13/08/22

Vício ou restrição? (13/92)

      “E, se a tua mão te escandalizar, corta-a; melhor é para ti entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga” “E, se o teu pé te escandalizar, corta-o; melhor é para ti entrares coxo na vida do que, tendo dois pés, seres lançado no inferno, no fogo que nunca se apaga” “E, se o teu olho te escandalizar, lança-o fora; melhor é para ti entrares no reino de Deus com um só olho do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do infernoMarcos 9.43,45,47

      Nesta e nas duas próximas postagens refletiremos sobre vícios, causas e efeitos, falaremos como testemunhas, não como profissionais. Se você tiver ou conhecer alguém que tenha problemas sérios com vícios, com drogas ilícitas, bebidas alcoólicas, mesmo com sexo e gula, procure alguém da área médica e instituições especializadas na questão. Se possível abra-se com sua família, com amigos de confiança, não viciados, com seu líder religioso, mas leve a sério o problema e creia, há cura para o humilde.

      Vício é perder o controle, é ser controlado por algo e não controlar algo. Isso leva à segunda definição de vício: fazer algo exageradamente. Assim, mesmo algo que não faz mal quando feito com equilíbrio, pode fazer mal se for vício, se for feito descontroladamente. O que mais vicia são coisas, que pelo menos a princípio, dão prazer, assim repetimos para ter mais prazer. Ocorre que quando repetimos algo sem controle não fazemos mais por prazer, mas para saciar a falta do prazer, abstinência se torna uma nova dor. 
      O viciado não usa o que o viciou para dar a ele satisfação, mas para não ficar mais insatisfeito, já que a dor inicial que o levou a se viciar continua, só que adicionada agora a uma segunda dor, a da falta daquilo em que ele se viciou. Nas primeiras vezes o que vicia até consegue anular a dor inicial e dar prazer, mas depois não, assim o viciado não resolve um problema, cria um novo. A solução seria ele ter resolvido o problema inicial, não buscar anular esse problema com algo que depois se torna um problema ainda maior. 
      Para não nos tornarmos viciados precisamos impedir que permaneçam em nós questões não resolvidas, que podemos manter tentando até nos convencer que não são problemas e que não existem. Contudo, ainda que nossa consciência seja enganada, nosso corpo e nossa alma não são, assim esses buscarão paliativos. Nossos instintos sempre tentam fugir da dor e achar prazer, ainda que sejam prazeres caros para nossos corpos e nossas mentes. Quando a dor não resolvida se instala é que estamos mais frágeis a vícios. 
      Jovens se viciam em coisas piores mais facilmente, como drogas ilícitas, porque além de passarem por um período de descobertas, de dúvidas, de encantamentos, de ausência de referências em primeira mão, também podem trazer sérios problemas não resolvidos, principalmente de famílias desestruturadas. Pode haver mais dor que ele consiga administrar, assim é construído ambiente propício para instalação de vícios. Infelizmente a sociedade, principalmente a brasileira, oferece facilidades para aquisição de vícios. 
      Há vícios que usamos para anular dores, mas alguns vícios adquirimos só por nos darem prazer, mesmo que não precisemos deles. Creio que almas satisfeitas não se viciam, mas há coisas que são boas, aprovadas pelo meio social em que vivemos, e até incentivadas por esse meio, que podem depois tornarem-se vícios e, consequentemente, algo que nos controla e que nos faz mal em algum momento. Por mais contrassenso que pareça, coisas que podemos usar a princípio para nos livrar de vícios podem ser tornar vícios. 
      Você, cristão, seja evangélico ou católico, já fez o “teste do Fantástico”? Vou explicar o que é esse teste. Tente passar um domingo à noite em casa sem ir à igreja, assistindo TV, e nem precisa ser assistindo o “Fantástico”. Você verá que só pensar nessa possibilidade pode deixar muitos cristãos deprimidos, muitos acharão que o arrebatamento vai acontecer naquela noite e eles não serão arrebatados, só porque não foram à igreja. Pois é, quem se sente assim pode não ser um cristão dedicado, mas só um viciado religioso. 
      A realidade é que alguns se viciam de maneira muito grave, assim trocar um vício terrível por outro mais leve, pode ser solução, não problema. Muitos de nós fazem isso, trocam um vício por outro, um vício que levaria à morte, por outro que só limita um pouco a liberdade de agir e de pensar, trocam presídios por prisões domiciliares e depois por tornozeleiras eletrônicas. Nem todos conseguem ser plenamente livres, assim para terem vidas com alguma qualidade precisam de restrições, senão morrem. 
      O texto bíblico inicial fala sobre usar uma mão, não duas, andar com um pé, não com dois, enxergar com um olho, não com dois, isso é viver com restrições. Por não querer isso é que muitos fazem, andam e veem o que não precisariam, assim sofrem e depois se viciam. Aceitar as próprias restrições é viver com humildade, Deus permite limites para que ainda que o corpo padeça, o espírito cresça. À eternidade não irão corpos mutilados, mas espíritos aperfeiçoados, dessa forma devemos dar prioridade a eles. 

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as outras partes desta reflexão
José Osório de Souza, 12/10/2021

12/08/22

Vaidade, pecado maior (12/92)

      “Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade.Eclesiastes 1.2

      Para ver a Deus é preciso viver paradoxos: desejar sem querer, ser sem mostrar, crer sem expectativas, se esforçar sem sofrer, saber sem falar, estar vazio e cheio. São esses paradoxos que nos purificam da vaidade, que nos ensinam a ter paciência, que nos preparam para receber algo muito precioso. Desejar sem querer é ter o desejo profundo de experimentar algo, mas sem obsessão que leve a fazer sacrifícios por si e não ser misericordioso com os outros. Ser sem se mostrar é ser para Deus, como louvor a ele, não para se exibir aos homens ou como louvor a si mesmo. Crer sem expectativas é não ser obcecado nem por coisas espirituais, nada justifica ansiedade e falta de paz.
      Se esforçar sem sofrer é dar o máximo de si, mas não para obter créditos que dão direito de se receber algo de Deus, é ver no trabalho um bem em si mesmo, não para acumular privilégios para se fazer exigências. Saber sem falar é vencer a necessidade de se justificar ou de convencer os homens que sabemos ou somos. Finalmente, estar vazio e cheio é estarmos vazios sem nos sentirmos em falta, mas satisfeitos com aquilo que Deus nos dá agora, ainda que crendo que pode nos dar mais depois, sem a acomodação da satisfação e sem a ansiedade da insatisfação. Viver sem vaidades é ter os pés na Terra e o coração no céu, feliz por viver e mais feliz por saber para onde vai no além.
      Abrir mão de vaidades é trabalho constante, ainda que tenhamos aberto mão de valores materiais para alcançar um nível espiritual, logo após termos alcançado seremos novamente tentados pela vaidade. Agora não será mais para ter riquezas ou posições, mas para sermos mais espirituais, e nesse momento mesmo espiritualidade se torna vaidade. Por isso é importante vivermos os paradoxos compartilhados acima, e são paradoxos porque nos levam sempre a desafiar o óbvio, a viver espiritualidade na matéria, algo impossível mas que devemos almejar até nossos últimos instantes neste mundo. Ser e não ser, para que Deus seja, perder para ganhar e ganhar para perder. 
      À medida que nossa espiritualidade evolui, nossa vaidade também fica mais sofisticada, por isso grandes líderes religiosos, pregadores e pastores reconhecidos e que fundaram poderosos ministérios se corrompem. O personagem bíblico Lúcifer é arquétipo disso, um ser que era grandioso no reino espiritual não se contentou com isso, quis mais, o lugar do próprio Deus e caiu de sua elevada posição. Eis a vaidade corrompendo mesmo os grandes, como diz John Milton, personagem de Al Pacino no filme “Advogado do diabo”, “a vaidade é, definitivamente, meu pecado favorito”. Muitos vencem muitas tentações, mas caem na vaidade, e a pior das vaidades é a espiritual. 
      Mas quem vê a Deus ainda neste plano, depois de pagar todos os preços e se preparar pacientemente em santidade e humildade, é corrompido pela vaidade? Esse deseja se exibir como mais espiritual para os outros? Não, ao contrário, se torna ainda mais humilde. Ocorre que o caminho para isso é longo, e se desviar-se no meio dele poderá ver outros seres ou poderes espirituais, que oferecem opções mais fáceis. A experiência “desviada” também exige uma busca persistente, não é para qualquer um, mas ela conduz à vaidade mais perigosa. É isso que muitos, que a princípio podiam até estar buscando a Deus, provam em espiritualidades como do ocultismo, da magia, do esoterismo etc. 
      Muitos que começam querendo ver Deus acabam vendo o “diabo”, porque não persistem nos valores morais mais altos e são presas da vaidade. O que significa ver a Deus? Significa ter experiências mais profundas com ele neste mundo, mas significa principalmente ter a melhor eternidade de Deus no outro mundo. A intenção de Deus está em nos aperfeiçoar durante o processo, sendo assim seu objetivo pode não ser constante, mas variável de acordo com o que nos tornamos no processo. Dessa forma, não seria nosso céu definido pelo nosso caminhar no mundo? Ou será que é lugar igual para todos? Mas será que todos estão preparados para ver Deus na mesma proximidade?
      “Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente. Este receberá a bênção do Senhor e a justiça do Deus da sua salvação.” (Salmos 24.3-5). Esses versículos podem conter mais que orientação para se ter direito moral de se estar num templo religioso físico, podem mostrar o caminho para o céu mais elevado na eternidade. O direito não é ganho só pela fé, mas por prática de santidade genuína, sem vaidades, assim pode não ser absoluto e pode dar acesso a posições espirituais que variam conforme a pureza do coração, meditemos seriamente nisso. 

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a 1ª parte desta reflexão

11/08/22

Limpos de coração (11/92)

      “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a DeusMateus 5.8

      A primeira coisa que nos vem à mente quando lemos o termo limpo de coração é alguém que não está em “pecado”. As primeiras ideias que fazemos de “pecado” é a satisfação de desejos do corpo físico e de forma descontrolada, assim quando pensamos num limpo de coração pensamos em alguém que não adultera, que não fuma, que não ingere bebidas alcoólicas (pelo menos não excessivamente), que come com equilíbrio, enfim, que não tem vícios. A conclusão sobre o versículo inicial, então nos parece fácil: vê a Deus quem não adultera, que não fuma, que não bebe ou come sem limites, enfim, que tem controle sobre coisas materiais que entram em seu corpo físico. 
      Podemos entender “pecado” em duas camadas, e em ambas como ações, pensamentos, sentimentos e palavras que nos separam de Deus de alguma forma. Algo que precisamos dizer antes de tudo, é que o que separa uma pessoa de Deus pode não ser o que separa outra pessoa de Deus, o que alguém considera “pecado” pode não ser considerado “pecado” por outra pessoa, ainda que de maneira geral “pecado” seja “pecado” para todos, existem nuanças. A primeira camada do “pecado”, e que não pode ser relevada, refere-se às “tentações” do dia a dia, ou menos mais pontuais, mas que dizem respeito ao que dissemos acima, satisfação fácil de prazeres do corpo físico. 
      Precisamos ter limpeza não só moral, mas também física no que se refere à primeira camada, contudo, precisamos entender, e é por não entender isso que muitos cometeram e cometem sérios erros sobre o que é “santidade”, que só essa primeira condição não basta. Nos acharmos “santos”, limpos de coração, só porque não nos corrompemos com sexo errado, ou não tentamos nos satisfazer com prazeres do corpo além das necessidades básicas, ou não temos vícios com drogas ou outros elementos que alterem nossa consciência, não basta. Podemos estar limpos assim e não sermos limpos de coração, podemos parecer não pecar e sermos pecadores dentro de nós. 
      Os “pecados” da primeira camada podem ser limpos mais rapidamente e com oração sincera, ainda que libertação plena de vícios exija mais tempo. São os “pecados” da segunda camada que de fato sujam nosso coração e nos impedem de ver Deus. Desses não nos livramos facilmente, podem ser necessários anos para entendermos e sermos limpos desses. Entendamos “coração” como o centro racional e emocional de nossos seres, nossa mente, percepções sensoriais interiores, e mais, nosso espírito. Assim, o “pecado” que nos impede de ver a Deus suja, não nosso corpo ou nossos sentimentos e pensamentos e só por algum tempo, mas nossos espíritos e de forma mais duradoura. 
      No meio pentecostal, onde é mais provável que as pessoas busquem dons espirituais, já ouvi gente dizendo, “faço tudo certo, jejuo, me consagro, não peco, mas não recebo dons espirituais”, esses talvez se limpem na primeira camada, mas não se purificam na segunda, o coração. Não estou dizendo que quem recebe dons espirituais está totalmente limpo de coração, não existem fórmulas para experiência espirituais, só Deus sabe quem merece, está preparado e recebe sua intimidade, não nos cabe julgar. A humanidade ocidental passou séculos, na maior parte, aquela doutrinada pelo catolicismo, sendo ensinada a se limpar só na primeira camada, e assim vendo religião, não Deus. 
      Podemos reinterpretar o versículo inicial dessa maneira: muito felizes os limpos de espírito, porque terão experiências profundas com Deus. Mas o que seriam esses “pecados” da segunda camada? São muitos, mas podem se resumir a um: a vaidade. Parece estranho vaidade estar aliada a busca espiritual? Mas acredite, muitos buscam experiências espirituais por vaidade, justamente porque sabem da relevância de espiritualidade, como superior a bens materiais, posições sociais ou a belezas e prazeres do corpo. Contudo, pensam, “se não posso ser rico e bonito ou se já sou isso e ainda não estou satisfeito, quero ter experiências espirituais, talvez assim serei feliz”.
      “E ele disse-lhes: Assim também vós estais sem entendimento? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não entra no seu coração, mas no ventre, e é lançado fora, ficando puras todas as comidas? E dizia: O que sai do homem isso contamina o homem. Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, Os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem.” (Marcos 7.18-23). Não são os males que entram no corpo os piores, mas os que saem do coração.

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a 2ª parte desta reflexão

10/08/22

Vemos o que queremos ver (10/92)

     “Porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate abrir-se-lhe-á.” “Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” Lucas 11.10, 13

      As pessoas veem o que querem ver, quem procura significado em algo, acha. Podemos entender várias coisas nessas afirmações, que revelam muito sobre a dupla identidade humana, material e espiritual. Quem procura acha, e se não acha de verdade pode inventar que achou, nenhum de nós, de alguma maneira, escapa disso. O que mais você quer ver? O que mais você procura? O que você tem necessidade mais forte e mais profunda de ver e provar, ainda que não admita a ninguém? 
      Ninguém está isento disso, nenhuma pessoa consegue passar por este mundo sem ter uma dúvida principal, ainda que tente negar a si mesmo, buscando responder tal questão com coisas inadequadas, coisas que talvez agradem aos outros, mas não a ela mesma. Mas mesmo assim, ainda que fuja de si mesmo e consiga fazer isso com muita eficiência, um dia, a verdade virá à tona e aquilo que a pessoa de fato sempre quis ver ela verá, achando nisso o significado maior para sua vida. 
      Já ouvi gente dizer, “vivi uma vida para os outros, passei os anos servindo às necessidades alheias, nunca vivi para mim”. A primeira coisa a dizer dessas pessoas é que se de fato viveram para servir os outros e fizeram isso em amor e de forma espiritual, parabéns a elas, cumpriram o objetivo maior de todo o ser humano neste mundo. Se fizeram isso do jeito certo devem ser felizes, não infelizes, colherão na eternidade os frutos gloriosos de uma existência material mais excelente. 
      Esse tipo de afirmação é mais comum em pessoas de gerações passadas, já que de algumas gerações para cá poucos pagam o preço para servirem os outros, todos querem servir a si mesmos, usufruírem prazer e depressa. Não importa se um filho foi feito, um casal não permanece junto, porque na verdade nunca foi um casal, só dois seres egoístas buscando prazer rápido, assim o pai ou a mãe fica sozinho com o filho, o que na maior parte das vezes significa que avós criarão a criança. 
      Mas para aqueles que dizem que viveram para os outros e não fizeram isso do jeito certo, na verdade eles fizeram exatamente o que queriam, mostrar para os outros que podiam ajudá-los. Esses não acharam outra maneira de sentirem-se úteis, se tivessem tido coragem teriam achado um jeito para se conhecerem e serem de fato felizes. Às vezes é preciso desapontar algumas pessoas para não nos desapontarmos, e isso não significa ser egoísta e irresponsável, só independente e maduro. 
      Muitos pagam o preço e acham aquilo que procuram, de um jeito ou de outro. Mas esses não devem reclamar no final, se aquilo que quiseram ver não lhes for suficiente para lhes trazer felicidade. Os que querem se ver no topo profissional, nos níveis sociais e financeiros mais altos, para serem aclamados como prósperos e vitoriosos, verão esse sonho realizado. Mas que companhia isso lhes dará no final, de gente que lhes ama ou só de pessoas materialistas que só valorizam dinheiro? 
      Se você quer grana, tudo bem, é escolha tua, você terá essa grana, mas lembre-se que grana não compra amor e respeito. Riquezas só recebem honra de quem tem riqueza e valoriza a riqueza dos outros, não é a pessoa e suas virtudes morais que são valorizadas. O ser humano, contudo, é especialista na hipocrisia e em jogar a culpa de seus erros nos outros, passa a vida buscando coisas erradas e no final ainda se faz de vítima, quando na verdade ele só recebeu o que sempre quis ter. 
      Sempre há tempo para mudar, se for teu caso, ache tempo e dê o melhor que precisa receber, construa relações baseadas em respeito desinteressado. Festas de finais de ano são bons critérios para sabermos no que temos investido nossas vidas, e muitos, após um ano fazendo e acontecendo, para terem aparências, passam esses momentos sozinhos. Natal numa família humilde, com comida e bebida simples, mas onde há amizade e alegria sincera, é melhor que festas luxuosas mas frias. 

      Vemos o que queremos ver, isso nos diz muito não só sobre coisas naturais, mas também sobre as espirituais ou sobrenaturais. Quem quer ver um o.v.n.i. um dia verá, quem quer ver fantasmas, um dia verá, quem busca milagre, um dia receberá, quem procura significado em teorias de conspiração um dia achará uma que dará sentido à sua vida. O ser humano tem aptidões que desconhece, como aquilo que elas podem lhe dar, imaginação é aptidão poderosa, principalmente para coisas espirituais.
      As coisas mais malucas podem fazer sentido para quem procura nelas significado, isso não significa que façam sentido para outras pessoas, assim como não significa que por causa disso não sejam legítimas e úteis de alguma forma para uma pessoa. Já foi dito que deveria haver tantas religiões quanto são os habitantes do planeta, uma para cada um, mas na verdade é assim mesmo que funciona, ainda que centenas de pessoas estejam em um templo participando do mesmo culto. 
      Se soubéssemos o que se passa na cabeça de cada pessoa sentada no banco de uma igreja enquanto um culto é realizado, cantos até orações podem ser semelhantes, mas não as intenções. Quantas descrenças e quantas crenças distintas, só Deus para contemplar a todos, amar a todos, respeitar a todos e responder a todos, de acordo com cada idiossincrasia. Ainda que imaginemos coisas diferentes, a verdade espiritual é só uma, adaptando-se humildemente ao entendimento de cada ser. 
      O espírito não pode ser visto pelo homem encarnado, e hoje entendemos que sua aparência mais pura é luz, ou uma energia, mas Deus, em sua misericórdia nos permite ver formas mais humanas. Assim vemos varões de vestidos brancos e asas ou entidades escuras e encolhidas, outros veem seres mais antropomórficos, o que é de fato verdade? A verdade é que Deus revela o mundo espiritual aos que buscam com sinceridade e estão preparados para ele, seja da maneira que for. 
      O que é imaginação e o que é verdade? O que é verdade usa a imaginação, entendamos isso, aquilo que nossa mente vê são ferramentas para que o mundo espiritual se comunique conosco nesse mundo. Quando é imaginação são apenas memórias, mas quando é o espiritual usando nossas mentes outros sentidos são impressionados além da visão e da audição. Sentimos um êxtase sem igual quando permitimos que o Espírito Santo manifeste seus dons através de nós, um prazer inefável.
      Mas não menospreze arrepios e medos, podem não ser frio, reação a filme de terror ou outra coisa, se estamos no Espírito essas percepções podem ser indicadores de proximidade de seres espirituais. Deus é espírito mas se comunica com seres físicos através de sentidos físicos. Experiência espiritual é algo que se aperfeiçoa com o tempo, com o uso dos dons, com intimidade com Deus, com  consagração e oração, ela é real, poderosa e útil, muitos perdem batalhas porque desprezam a arma. 
      Uma boa orientação é saber discernir o conteúdo da forma, a verdade da maneira como a pessoa interpreta a verdade. Deus fala com pessoas diferentes por jeitos diferentes, dependendo de seus preparos e de suas experiências. Assim, sejamos sábios e não liguemos a qualquer imaginação humana, mas não desprezemos o fato que muitas pessoas têm experiências espirituais, Deus as avisa, consola e ensina, ainda que de maneiras diversas, usando as ferramentas mentais de cada pessoa. 
      Vê o mundo espiritual quem olha para ele, quem não olha não o vê, ainda que ele esteja gritando à sua volta. Contudo, não é porque alguém está olhando que vê, imaginação prega peças no incrédulo e no crédulo, e até mais no crédulo, já que esse quer ver. Quem quer ver vê, mas precisa provar se o que está vendo é verdadeiro, experiência espiritual não é uma coisa só, mas conjunto de coisas, e em se tratando de Deus, de bons frutos objetivos que permanecem após a experiência subjetiva. 

09/08/22

Experiência individual (9/92)

      “Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Ajuntai os vossos holocaustos aos vossos sacrifícios, e comei carne. Porque nunca falei a vossos pais, no dia em que os tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios. Mas isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo; e andai em todo o caminho que eu vos mandar, para que vos vá bem. Mas não ouviram, nem inclinaram os seus ouvidos, mas andaram nos seus próprios conselhos, no propósito do seu coração malvado; e andaram para trás, e não para diante.
Jeremias 7.21-24 

      Ao conhecimento espiritual mais profundo temos acesso sem encantamentos ou êxtases, com muita santidade e serenidade, com tempo e trabalho mental que abre mão de preconceitos e imaginações para ouvir a voz de Deus pela fé e sem apoio de religiões. Sei que tanto as igrejas evangélicas como a católica, mesmo com todos os seus defeitos, têm desempenhado uma missão de auxílio aos homens, viciados em drogas, pobres e tantos carentes de paz e esperança acham nas catedrais e templos conforto e libertação. Creio que a maior parte da humanidade ainda necessita do trabalho dessas igrejas e denominações, e para a grande maioria é suficiente o que essas são, para que o amor de Deus aja a favor dos seres humanos. 
      A intenção deste espaço, entretanto, e ir além, se alguém quer uma palavra em consonância com as doutrinas tradicionais cristãs, aqui não é o lugar, nem perca tempo aqui se for esse seu interesse, não será bênção para você tentar entender muito do que aqui se compartilha. Não tenho interesse de escandalizar ninguém, só de falar a quem quer ouvir. O ir além que me refiro é simples, nele não há mistério ou novidade: ore mais! Fale mais com Deus, mas principalmente peça a Deus que você possa discernir sua voz. Depois você poderá saber de coisas que até agora não soube porque não buscou resposta em quem tem as verdadeiras respostas, o Espírito Santo, e isso não é só ter curiosidade saciada, mas receber vida eterna. 
      Muito significativo o texto bíblico acima, veja que o profeta diz de forma clara que o objetivo inicial de Deus para a nação de Israel não era que ela tivesse uma religião baseada em holocaustos e sacrifícios. Isso pode mudar a opinião que muitos cristãos e leitores habituais da Bíblia têm sobre a velha aliança de Israel, e mesmo sobre o papel da nova aliança de só substituir sacrifícios repetitivos e imperfeitos de animais pelo sacrifico único e perfeito de Jesus. A vontade principal de Deus, que pode “salvar” o homem, é que esse ouça sua voz e obedeça-a. Me atrevo a fazer uma suposição, será que Deus não permitiu o sistema de sacrifícios pelo mesmo motivo que permitiu um rei, porque Israel queria ser como as outras nações?
      Se for isso, é só Deus, mais uma vez agindo como um pai que cede à teimosia de filhos imaturos que invejam povos que não temem o Deus verdadeiro, que desejam ser o que não precisam ser. A palavra profética chega a ser dura, mesmo irônica, “ajuntai os vossos holocaustos aos vossos sacrifícios e comei carne”, em outras palavras, “façam um churrasco com vossa religiosidade, isso é mais proveitoso para vocês, para mim nenhuma serventia tem”. Quando vamos entender que muitas coisas são só símbolos? Símbolos são necessários para os que não estão preparadas para a verdade, mas só para interpretações facilitadas dela. O homem tem dificuldade para entender que no mundo o plano espiritual se prova pela fé.
      Ainda assim muitos precisam de esculturas e imagens, assim como de rituais e dos chamados “atos proféticos” (encenações de eventos bíblicos) para crerem, hoje, no século XXI, quase dois mil anos depois que o Espírito Santo foi dado à humanidade. Queridos católicos, Deus aceita vossos símbolos porque ele ama vocês, e evangélicos, não confundam de maneira maldosa os ídolos construídos sobre imaginações de espíritos malignos do antigo testamento com os “santos” católicos, não são a mesma coisa. Contudo, quando todos nós vamos crescer? Deixarmos as interpretações facilitadas, os reforços físicos para fé, que é o que são esculturas e imagens católicas, e termos uma comunhão espiritual direta e pura com Deus? 
      É fácil nos sentarmos em bancos e cadeiras, em catedrais e templos, e “assistirmos” uma missa ou um culto, como quem assiste um filme, mas ainda que haja sinceridade e boa intenção para saber a vontade de Deus, é pouco, comparado com o que Deus tem para nós. Pode-se dizer, “tenho uma vida vitoriosa e em paz sendo religioso”, eu acredito nisso, mas e o resto, o mundo, o Brasil? Se essa religiosidade, que aceita calada o que de fato a Igreja Católica e tantas igrejas evangélicas fazem, ou pior, que não fazem, resolvesse, não estaríamos vivendo o momento que vivemos. Ninguém se iluda, as coisas vão melhorar, são tempos finais de uma era e decisivos para a humanidade, e mudará à medida que ouvirmos a genuína voz de Deus.

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

08/08/22

A voz do Senhor (8/92)

      “Dai ao Senhor, ó filhos dos poderosos, dai ao Senhor glória e força. Dai ao Senhor a glória devida ao seu nome, adorai o Senhor na beleza da santidade. 
      A voz do Senhor ouve-se sobre as suas águas; o Deus da glória troveja; o Senhor está sobre as muitas águas. A voz do Senhor é poderosa; a voz do Senhor é cheia de majestade. 
      A voz do Senhor quebra os cedros; sim, o Senhor quebra os cedros do Líbano. Ele os faz saltar como um bezerro; ao Líbano e Siriom, como filhotes de bois selvagens. 
      A voz do Senhor separa as labaredas do fogo. A voz do Senhor faz tremer o deserto; o Senhor faz tremer o deserto de Cades. A voz do Senhor faz parir as cervas, e descobre as brenhas; e no seu templo cada um fala da sua glória. 
      O Senhor se assentou sobre o dilúvio; o Senhor se assenta como Rei, perpetuamente. O Senhor dará força ao seu povo; o Senhor abençoará o seu povo com paz.
Salmos 29
 
     Tenho falado bastante aqui sobre ter uma experiência espiritual mais profunda com Deus, mas até que ponto muitos cristãos entendem o que é uma experiência espiritual mais profunda? Se fizermos pesquisa numa versão bíblica em computador ou celular, para identificarmos os termos “voz do Senhor” ou “falou o Senhor”, acharemos dezenas de citações, isso significa que profetas e outros homens e mulheres, que andaram com Deus principalmente nos tempos do antigo testamento, ouviam a voz de Deus. E quanto a nós hoje, ouvimos essa voz? Se personagens bíblicos tinham essa experiência então ela não era efeito de algum transtorno mental de ouvir “vozes”, era um diálogo direto com o Altíssimo, onde se fala e se ouve. 
      Não estou dizendo que não existam doenças psiquiátricas que levam as pessoas a ouvir vozes, que apesar de muitos acharem que são de outros seres (humanos ou espíritos), são só ecos de suas próprias mentes, essa experiência é danosa, maléfica, pode e deve ser tratada com orientação profissional médica e remédios. Contudo, num tempo em que a bênção da ciência beneficia a humanidade com tantos cuidados, muitos cristãos usam referências científicas, apesar de por formas antagônicas, de maneira equivocada. Alguns negam a ciência e impedem que ela seja ferramenta da providência para cura e educação, e outros a usam como desculpa para não provarem experiências profundas com o Santo Espírito.
      A fé não sabe tudo, muito menos a ciência sabe, no equilíbrio os simples acham sabedoria. No início desta reflexão separei o Salmo 29 porque ele cita sete vezes “voz do Senhor”. Esse texto, contudo, reconhece a voz de Deus em eventos materiais e grandiosos, percepção típica do homem que andava com Deus no tempo do antigo testamento, na natureza, nas águas, no fogo, no deserto, nos animais, enfim, nas manifestações de vida e clima do planeta Terra. Mas em outras muitas passagens a voz do Senhor é ouvida orientando as nações, abençoando e disciplinando, concedendo vitória e decretando derrota, novamente a visão beligerante do homem antigo testifica sobre as ações de Deus que são relevantes a suas vivências. 
      Houve mudanças no novo testamento em relação ao antigo, da nova aliança em relação à velha, da Lei para o evangelho, de Moisés para Cristo. Mas entre essas duas visões de relacionamentos com Deus, houve a passagem da bênção coletiva para a pessoal, de uma nação para o indivíduo, indiferente da nação que o indivíduo faça parte. Assim, a voz de Deus também passou a ser mais específica, principalmente porque agora não é mais a tribo física dos levitas a responsável pela religiosidade, mas o Espírito Santo enviado por Jesus habitando nos homens. Não que Deus não falasse a indivíduos sobre assuntos pessoais, mas o foco era vitória de Israel sobre outras nações, e o indivíduo era especial por ser fisicamente circuncidado.
      Sim, Deus sempre olhou a intenção do coração, isso é claro nos textos de Davi e em muitas exortações dos profetas, mas o Altíssimo não podia falar a meninos sobre coisas de adultos, esses não poderiam entender. Contudo, a igreja católica e mesmo muitas evangélicas, seguem querendo repetir um modelo de relacionamento que Deus já deixou para trás, insistem em estabelecer no mundo um cristianismo nos moldes da nação física de Israel dos tempos do antigo testamento. Obviamente que numa visão herege assim, o Espírito Santo deve ser calado, e isso foi a primeira coisa que uma igreja, recém saída da igreja primitiva dos apóstolos originais e dos primeiros discípulos, fez para criar o politeísmo católico dos santos. 
      A reforma protestante não deu voz livre ao Espírito Santo, só simplificou as vozes dos homens, e mesmo o pentecostalismo, de muitas das chamadas igrejas evangélicas atuais, tem no melhor das circunstâncias uma experiência infantil e primária com a voz de Deus pelo Espírito Santo, deseja o êxtase emocional inicial da experiência e não o conhecimento espiritual mais profundo que ela permite. Muitas “manifestações” são só clichês de palavras proféticas veo-testamentárias, eis novamente homens limitando a palavra individual para que seja coletiva e mais facilmente manipulada a favor de seus interesses materialistas de poder no mundo. É preciso coragem para seguir e ouvir a voz de Deus, missão solitária. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão