sábado, agosto 13, 2022

Vício ou restrição? (13/92)

      “E, se a tua mão te escandalizar, corta-a; melhor é para ti entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga” “E, se o teu pé te escandalizar, corta-o; melhor é para ti entrares coxo na vida do que, tendo dois pés, seres lançado no inferno, no fogo que nunca se apaga” “E, se o teu olho te escandalizar, lança-o fora; melhor é para ti entrares no reino de Deus com um só olho do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do infernoMarcos 9.43,45,47

      Nesta e nas duas próximas postagens refletiremos sobre vícios, causas e efeitos, falaremos como testemunhas, não como profissionais. Se você tiver ou conhecer alguém que tenha problemas sérios com vícios, com drogas ilícitas, bebidas alcoólicas, mesmo com sexo e gula, procure alguém da área médica e instituições especializadas na questão. Se possível abra-se com sua família, com amigos de confiança, não viciados, com seu líder religioso, mas leve a sério o problema e creia, há cura para o humilde.

      Vício é perder o controle, é ser controlado por algo e não controlar algo. Isso leva à segunda definição de vício: fazer algo exageradamente. Assim, mesmo algo que não faz mal quando feito com equilíbrio, pode fazer mal se for vício, se for feito descontroladamente. O que mais vicia são coisas, que pelo menos a princípio, dão prazer, assim repetimos para ter mais prazer. Ocorre que quando repetimos algo sem controle não fazemos mais por prazer, mas para saciar a falta do prazer, abstinência se torna uma nova dor. 
      O viciado não usa o que o viciou para dar a ele satisfação, mas para não ficar mais insatisfeito, já que a dor inicial que o levou a se viciar continua, só que adicionada agora a uma segunda dor, a da falta daquilo em que ele se viciou. Nas primeiras vezes o que vicia até consegue anular a dor inicial e dar prazer, mas depois não, assim o viciado não resolve um problema, cria um novo. A solução seria ele ter resolvido o problema inicial, não buscar anular esse problema com algo que depois se torna um problema ainda maior. 
      Para não nos tornarmos viciados precisamos impedir que permaneçam em nós questões não resolvidas, que podemos manter tentando até nos convencer que não são problemas e que não existem. Contudo, ainda que nossa consciência seja enganada, nosso corpo e nossa alma não são, assim esses buscarão paliativos. Nossos instintos sempre tentam fugir da dor e achar prazer, ainda que sejam prazeres caros para nossos corpos e nossas mentes. Quando a dor não resolvida se instala é que estamos mais frágeis a vícios. 
      Jovens se viciam em coisas piores mais facilmente, como drogas ilícitas, porque além de passarem por um período de descobertas, de dúvidas, de encantamentos, de ausência de referências em primeira mão, também podem trazer sérios problemas não resolvidos, principalmente de famílias desestruturadas. Pode haver mais dor que ele consiga administrar, assim é construído ambiente propício para instalação de vícios. Infelizmente a sociedade, principalmente a brasileira, oferece facilidades para aquisição de vícios. 
      Há vícios que usamos para anular dores, mas alguns vícios adquirimos só por nos darem prazer, mesmo que não precisemos deles. Creio que almas satisfeitas não se viciam, mas há coisas que são boas, aprovadas pelo meio social em que vivemos, e até incentivadas por esse meio, que podem depois tornarem-se vícios e, consequentemente, algo que nos controla e que nos faz mal em algum momento. Por mais contrassenso que pareça, coisas que podemos usar a princípio para nos livrar de vícios podem ser tornar vícios. 
      Você, cristão, seja evangélico ou católico, já fez o “teste do Fantástico”? Vou explicar o que é esse teste. Tente passar um domingo à noite em casa sem ir à igreja, assistindo TV, e nem precisa ser assistindo o “Fantástico”. Você verá que só pensar nessa possibilidade pode deixar muitos cristãos deprimidos, muitos acharão que o arrebatamento vai acontecer naquela noite e eles não serão arrebatados, só porque não foram à igreja. Pois é, quem se sente assim pode não ser um cristão dedicado, mas só um viciado religioso. 
      A realidade é que alguns se viciam de maneira muito grave, assim trocar um vício terrível por outro mais leve, pode ser solução, não problema. Muitos de nós fazem isso, trocam um vício por outro, um vício que levaria à morte, por outro que só limita um pouco a liberdade de agir e de pensar, trocam presídios por prisões domiciliares e depois por tornozeleiras eletrônicas. Nem todos conseguem ser plenamente livres, assim para terem vidas com alguma qualidade precisam de restrições, senão morrem. 
      O texto bíblico inicial fala sobre usar uma mão, não duas, andar com um pé, não com dois, enxergar com um olho, não com dois, isso é viver com restrições. Por não querer isso é que muitos fazem, andam e veem o que não precisariam, assim sofrem e depois se viciam. Aceitar as próprias restrições é viver com humildade, Deus permite limites para que ainda que o corpo padeça, o espírito cresça. À eternidade não irão corpos mutilados, mas espíritos aperfeiçoados, dessa forma devemos dar prioridade a eles. 

Leia nas próximas postagens
as outras partes desta reflexão
José Osório de Souza, 12/10/2021

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