sexta-feira, agosto 12, 2022

Vaidade, pecado maior (12/92)

      “Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade.Eclesiastes 1.2

      Para ver a Deus é preciso viver paradoxos: desejar sem querer, ser sem mostrar, crer sem expectativas, se esforçar sem sofrer, saber sem falar, estar vazio e cheio. São esses paradoxos que nos purificam da vaidade, que nos ensinam a ter paciência, que nos preparam para receber algo muito precioso. Desejar sem querer é ter o desejo profundo de experimentar algo, mas sem obsessão que leve a fazer sacrifícios por si e não ser misericordioso com os outros. Ser sem se mostrar é ser para Deus, como louvor a ele, não para se exibir aos homens ou como louvor a si mesmo. Crer sem expectativas é não ser obcecado nem por coisas espirituais, nada justifica ansiedade e falta de paz.
      Se esforçar sem sofrer é dar o máximo de si, mas não para obter créditos que dão direito de se receber algo de Deus, é ver no trabalho um bem em si mesmo, não para acumular privilégios para se fazer exigências. Saber sem falar é vencer a necessidade de se justificar ou de convencer os homens que sabemos ou somos. Finalmente, estar vazio e cheio é estarmos vazios sem nos sentirmos em falta, mas satisfeitos com aquilo que Deus nos dá agora, ainda que crendo que pode nos dar mais depois, sem a acomodação da satisfação e sem a ansiedade da insatisfação. Viver sem vaidades é ter os pés na Terra e o coração no céu, feliz por viver e mais feliz por saber para onde vai no além.
      Abrir mão de vaidades é trabalho constante, ainda que tenhamos aberto mão de valores materiais para alcançar um nível espiritual, logo após termos alcançado seremos novamente tentados pela vaidade. Agora não será mais para ter riquezas ou posições, mas para sermos mais espirituais, e nesse momento mesmo espiritualidade se torna vaidade. Por isso é importante vivermos os paradoxos compartilhados acima, e são paradoxos porque nos levam sempre a desafiar o óbvio, a viver espiritualidade na matéria, algo impossível mas que devemos almejar até nossos últimos instantes neste mundo. Ser e não ser, para que Deus seja, perder para ganhar e ganhar para perder. 
      À medida que nossa espiritualidade evolui, nossa vaidade também fica mais sofisticada, por isso grandes líderes religiosos, pregadores e pastores reconhecidos e que fundaram poderosos ministérios se corrompem. O personagem bíblico Lúcifer é arquétipo disso, um ser que era grandioso no reino espiritual não se contentou com isso, quis mais, o lugar do próprio Deus e caiu de sua elevada posição. Eis a vaidade corrompendo mesmo os grandes, como diz John Milton, personagem de Al Pacino no filme “Advogado do diabo”, “a vaidade é, definitivamente, meu pecado favorito”. Muitos vencem muitas tentações, mas caem na vaidade, e a pior das vaidades é a espiritual. 
      Mas quem vê a Deus ainda neste plano, depois de pagar todos os preços e se preparar pacientemente em santidade e humildade, é corrompido pela vaidade? Esse deseja se exibir como mais espiritual para os outros? Não, ao contrário, se torna ainda mais humilde. Ocorre que o caminho para isso é longo, e se desviar-se no meio dele poderá ver outros seres ou poderes espirituais, que oferecem opções mais fáceis. A experiência “desviada” também exige uma busca persistente, não é para qualquer um, mas ela conduz à vaidade mais perigosa. É isso que muitos, que a princípio podiam até estar buscando a Deus, provam em espiritualidades como do ocultismo, da magia, do esoterismo etc. 
      Muitos que começam querendo ver Deus acabam vendo o “diabo”, porque não persistem nos valores morais mais altos e são presas da vaidade. O que significa ver a Deus? Significa ter experiências mais profundas com ele neste mundo, mas significa principalmente ter a melhor eternidade de Deus no outro mundo. A intenção de Deus está em nos aperfeiçoar durante o processo, sendo assim seu objetivo pode não ser constante, mas variável de acordo com o que nos tornamos no processo. Dessa forma, não seria nosso céu definido pelo nosso caminhar no mundo? Ou será que é lugar igual para todos? Mas será que todos estão preparados para ver Deus na mesma proximidade?
      “Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente. Este receberá a bênção do Senhor e a justiça do Deus da sua salvação.” (Salmos 24.3-5). Esses versículos podem conter mais que orientação para se ter direito moral de se estar num templo religioso físico, podem mostrar o caminho para o céu mais elevado na eternidade. O direito não é ganho só pela fé, mas por prática de santidade genuína, sem vaidades, assim pode não ser absoluto e pode dar acesso a posições espirituais que variam conforme a pureza do coração, meditemos seriamente nisso. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

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