quarta-feira, agosto 11, 2021

Você sabe a paz que tem?

      “Por que estás abatida, ó minha alma? E por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, o qual é a salvação da minha face e Deus meu.Salmos 43.5

      Quer vencer a ansiedade e ser paciente? Aprenda a vivenciar a paz em todo o tempo, a guardá-la dentro de si como seu bem mais precioso. Impossível ser paciente, ter controle sobre culpas e medos que insistem em retornar às nossas almas, mesmo depois de racionalizações e de perdões serem provados, sem termos paz, a paz que é a virtude efeito de todas as outras virtudes. Vivermos na luz de Deus e sermos atraídos e envolvido pelo amor de Deus, nosso objetivo maior como seres espirituais eternos, para quê? Para estarmos em paz com Deus, experiência que tem como efeito estarmos em paz com nós mesmos, com os outros, assim como conseguirmos praticar a santidade moral que agrada ao Senhor e que nos aproxima dele. 
      Em muitos momentos de nossas vidas a paciência parece não ser relevante, estamos tão excitados com relações e profissões, mesmo servindo à religião (serviço que Deus em sua misericórdia pode até usar), que achamos que não precisamos ser pacientes. Contudo, com o tempo e esse tempo chega para todos, impaciência começa a doer, e pode mesmo instalar doenças físicas e emocionais, mas é só na velhice que a falta de paciência pode nos prejudicar mais. No fim de nossas vidas não fazemos mais tantas coisas, pelos próprios limites físicos que temos, e podemos até estar usufruindo alguma prosperidade, contudo, se não estivermos em paz não teremos paciência e sem ela não seremos felizes nem conseguiremos amar. 
      Só entende a importância da paciência quem desvincula paz de poder, e isso é difícil para cristãos que consideram prosperidade no mundo seu objetivo principal de vida, achando que têm acesso pela fê ao poder de Deus para conseguirem isso. O que rouba a paz são expectativas de poder, quaisquer que sejam elas. Esperança não é ansiedade, quem espera do jeito certo não adianta o tempo em sua alma, não quer poder, e todo poder é vaidade, mesmo o espiritual. A esperança descansa no tempo de Deus, prova o benefício do que espera antes de acontecer no plano fisico. Isso é viver a vida sob o ponto de vista espiritual, não material, de Deus, não do homem, é construir o céu dentro de si hoje para que se manifeste depois.
      Entregamos algo nas mãos de Deus? Cremos que ele pode fazer? Não importa se fará hoje ou amanhã, tenhamos paz. A paz autorizada por Deus se tem direito acertando vida moral, pedindo perdão, perdoando e praticando boas obras, contudo, para que esse direito legal se realize em nossas mentes e em nossos corações pode ser necessário algum trabalho espiritual. Nosso corpo, pensamentos e sentimentos, precisam aprender a reter a paz, o que nos ajuda nisso é vida de oração e adoração a Deus, é prática de dons espirituais. Qualquer espécie de prática emocional de relaxamento só administra efeitos, não anula causas, a causa é moral na essência espiritual do homem, assim a paz começa e termina espiritualmente em Deus. 
      Conseguimos reter a paz quando descansamos em Deus, mas repito, isso não é feito só com força de vontade e boa intenção, é feito sintonizando-se o Espírito Santo e se colocando nele. Já tentei outras vezes descrever esse processo aqui no “Como o ar que respiro”, mas sempre encontro dificuldades para achar as palavras, mistério não se explica, não se cria uma fórmula para experimentá-lo, pode-se até compartilhar o efeito dele, a paz singular que ele deixa, mas achá-lo é busca pessoal. Só posso dizer que paz e entender mistérios espirituais são possíveis, ao que busca do jeito certo, para os fins certos a partir de uma chamada genuína de Deus para isso. Quem quiser e estiver preparado entenderá os mistérios e achará a paz. 
      Tem gente que prova uma certa “paz”, depois que desabafa, depois que diz tudo o que pensa e sente das pessoas e para as pessoas, por incrível que pareça tem gente assim que dorme bem à noite, segura por se achar certa, bem, isso pelo menos é o que certas pessoas demonstram na maior parte do tempo aos outros. Mas será que essa gente tem a paz que resisti à morte e que conduz à melhor eternidade com Deus? Temo que muitas pessoas que se consideram cem por cento corretas e que dormem bem à noite enfrentarão um inferno, que já existe dentro delas, mas que elas escondem bem. Não existe paz sem paciência e paciência só se prova com amor, que não retém o mal nem o lança sobre o outro, mas que o anula na paz de Deus. 

terça-feira, agosto 10, 2021

Sem cobranças

      “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia.Mateus 5.6-7

      Algo que tenho procurado levar muito a sério nestes últimos anos de minha vida, é conviver com as pessoas sem cobrá-las. Confesso que durante muito tempo eu cobrei muita gente, principalmente parentes próximos, cobrei atenção, reconhecimento, justiça, afeto. Talvez tenha cobrado tanto do homem porque ainda não estava satisfeito em Deus, o certo é que à medida que minha paz em Deus aumentou, a importância das pessoas diminuiu. Se o que estava errado deixou de ter lugar em minha alma, o que sempre será certo pôde ocupar seu espaço de relevância, minha comunhão com Deus e minha aliança de amor com pessoas que realmente importam para mim e das quais nada preciso cobrar. 
      A cobrança é algo ruim, para quem é cobrado e para quem cobra, cria uma relação baseada em qualquer coisa, mas que nada tem a ver com amor. Amor não cobra, oferece, não exige, dá, não manda ou submete, mas serve e é humilde. Quem cobra o faz com uma desculpa muito forte, se acha no direito de cobrar, cobra porque acha que pode, e pode porque é superior de alguma maneira, ainda que por se achar mais vítima, mais explorado, mais injustiçado. Mas a verdade é que o que cobra se coloca no papel de vítima, de juiz e de polícia, ao mesmo tempo, assim, apesar de dizer que cobra porque foi lesado, porque está no direito de vítima, se coloca como deus, que pode julgar e fazer justiça com as próprias mãos. 
      Alguns acham identidade como vítimas, isso não é bom, é mais passivo mas acaba prejudicando só a própria pessoa, contudo, os que se postam como juízes prejudicam os outros, fazem de vidas alheias verdadeiros infernos. Se eles se acham lesados de alguma forma, acham na cobrança a vingança, para não deixarem que os outros sejam felizes, ainda que os outros nada ou pouco tenham a ver com seus problemas. Vemos “cobradores” desempenhando funções importantes na sociedade, a cobrança que se iniciou sobre pai, mãe, irmãos, cônjuges, se transfere para patrões, pastores e mesmo para líderes políticos. Enfim, a posição equivocada de “cobrador de justiça” cresce enquanto não é bem resolvida.
      Os carentes de justiça serão saciados, não precisam se pôr na posição equivocada de “cobradores”, mas mais que isso, os que confiam na justiça de Deus não são justiceiros, mas misericordiosos, e os que exercem misericórdia, misericórdia acham. Eis a chave da questão, quem é humilde sabe que necessita de misericórdia tanto quanto os outros, sabe o quanto dói ser cobrado, por isso não cobra. Não cobre os outros, nem que eles não te cobrem, esteja em paz com Deus e confie no tempo, toda voz altiva, que se levanta contra pecadores arrependidos que se esconderam atrás da cruz de Cristo, será silenciada. Nesse momento os humildes estarão lá, ainda humildes, e cheios de amor para acolher os “cobradores”.   

segunda-feira, agosto 09, 2021

Livre para ser escravo?

      “E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim.João 17.20-23

      Liberdade é algo essencial no ser humano, e nas últimas gerações as pessoas têm conseguido entender isso, assumir isso, lutar por isso, em muitas instâncias. Ter comunhão com Deus, apesar de ser uma necessidade que também faz parte da essência espiritual dos homens, está debaixo do livre arbítrio humano, assim creem, conhecem e obedecem a Deus os que querem. As pessoas não querem a Deus por motivos diferentes, mas o principal motivo que as leva a isso é julgarem algo sem conhecê-lo de fato, e muitas julgam baseadas em mentiras que as próprias religiões, que se dizem embaixadoras de Deus, propagam. Como na maior parte das vezes, as religiões buscam controle pela ignorância e não liberdade pelo conhecimento. O homem, não se dando ao trabalho de buscar Deus com liberdade, simplesmente assumindo que Deus é aquilo que as religiões dizem que é, ou seja, controle humano pela ignorância, não quer esse Deus. Quem quer algo que o escraviza? Só alienados. 
      Sem Deus as pessoas até desejarão ser livres, e até conseguirão libertarem-se com as próprias forças de muitas coisas, mas acabarão no caos e consequentemente escravas dele. Caos é trevas e trevas é inferno, nele há liberdade, mas não há o melhor de Deus, os que querem liberdade sem Deus acabam no vazio sem ordem. Só com Deus e em Deus as pessoas podem realmente ser livres, e serão livres para quê? Para fazerem a melhor das escolhas, aquela para as quais seus seres eternos foram originalmente criados: estarem em comunhão com Deus, o que o cristianismo tradicional chama de “servir” a Deus. Mas isso não é bem verdade, Deus não procura servos, escravos, nem soldados ou empregados, mas amigos, sócios, colaboradores, que ainda que reconheçam e respeitem a grandiosidade dele e queiram obedecê-lo e agradá-lo, serão parte dele, não pedaços menores submetidos. Foi isso que Jesus quis dizer no texto bíblico inicial com como eu e o pai somos um todos devem ser um em mim.  
      No mundo material temos dificuldade para entender essa interação espiritual dos seres com Deus, é mais fácil entendermos os conceitos “patrão e empregados”, “dono e escravos”, “general e soldados”, mesmo o bíblico “pastor e ovelhas” A Bíblia foi registrada sob esses conceitos e Deus usou esses conceitos para revelar ao homem sua vontade, Deus sempre usa o que os homens disponibilizam para ele, ele pinta o quadro com pincéis, tintas e tela que o ser humano fornece. De outra forma seu amor não teria como iluminar seres ainda em trevas espirituais, em ignorância intelectual, com limitações morais. Mas mesmo essas limitações não impediram Deus, o pai, de revelar aos seres humanos a Jesus, o filho, o mais poderoso mistério divino para religar o homem a seu criador. Em comunhão com Deus por Jesus, ainda que a maioria de nós não entenda bem quem é Deus e o que ele quer de nós, podemos ser parte do céu, o melhor do Altíssimo, o objetivo maior que todas as criaturas devem atingir.

domingo, agosto 08, 2021

Muitas mortes, uma vida (2/2)

      “E Jesus lhes respondeu, dizendo: E chegada a hora em que o Filho do homem há de ser glorificado. Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto. Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida, guarda-la-á para a vida eterna.João 12.23-25

      A existência no plano físico tende à morte o tempo todo, morremos e ressuscitamos constantemente, o final será só uma morte sem ressurreição, pelo menos no corpo material. Podemos aprender sobre a vida eterna morrendo e morte nunca é gostosa, sem dor, morte é perda de referências e para se viver novamente outras referências terão que ser estabelecidas. Mas só morre quem conclui que a existência que tinha até então não era a melhor, assim só se renasce com novas e melhores referências quem antes morreu, quem não morre não renasce e não melhora, continua com referências antigas e menores de vida. Que mortes experimentamos numa encarnação no mundo físico, sem que precisemos reencarnar, como creem muitos?
      Primeiro tem que morrer nossa dependência de pais, e entenda bem, não são os pais ou nosso respeito e afeto por eles, mas eles como nossos mantenedores físicos e até certo ponto afetivos. Só se torna homem quem deixa de ser filho, para então poder ser esposo e pai, é a ordem das coisas neste mundo. Essa morte é fácil? Não, difícil e dolorida, mas necessária, como se diz, cortar de vez o cordão umbilical, que muitos, mesmo com quarenta anos de idade, ainda mantêm presos às suas mães. A dependência no tempo errado deixa o ser humano covarde, limitado, assim ele não conseguirá se relacionar do jeito certo com outras pessoas, tentará ver nelas pais e mães, e não professores, chefes, pastores, irmãos ou cônjuges. 
      Mesmo a relação com Deus será limitada para quem ainda não morreu para uma dependência paterna e materna, não se pode servir a dois senhores, e quem insiste em idolatrar pais, não amará e obedecerá a Deus. Vemos isso em pessoas que teimam pertencerem às religiões cristãs de seus pais, ainda que não se sintam felizes nem resolvidas nelas, gente que teme o próprio inferno caso “desobedeça” às tradições religiosas paternas. Entenda o que vou dizer com sabedoria, mas na verdade, em algumas situações, a melhor maneira de honrarmos nossos pais é desobedecermos seus estilos de vida, nesse caso estaremos honrando não quem eles são, mas quem eles podem ser, caso façam melhores escolhas morais e espirituais.
      A morte do orgulho próprio é uma das mais difíceis que temos que enfrentar, orgulho que faz com que só nos sintamos valorizados sendo honrados e aprovados pelos outros, ainda que sejamos infelizes sendo o que os outros querem que sejamos. O segredo é conhecermos o que Deus quer que sejamos, nisso temos forças para encerrarmos, sepultarmos e esquecermos a identidade que os outros querem nos dar. Isso dói e muito, nos isola, pode nos levar a exílios, e no exílio somos forçados a começar tudo de novo, mas se isso for plano de Deus o novo será melhor que o antigo, e o que ganharmos compensará todas as perdas. Nada põe mais à prova nosso amor a Deus que abrirmos mão do falso amor que muitos têm por nós.
      Alguns, entretanto, “morrem” poucas vezes em vida, às vezes nenhuma vez, isso pode acontecer por dois motivos, ou porque não abrem mão de zonas de conforto que eles mesmos construíram e mantiveram, ou porque não estão preparados para “morrerem” muitas vezes. Deus os respeita e os ama, esses devem ter, contudo, humildade, para se conhecerem e se amarem, assim como para respeitarem outros que são diferentes deles, e que precisaram “morrer” muitas vezes para amadurecer. Não julgue ninguém a si mesmo como melhor que os outros por não ter “morrido” tantas vezes, e nem como pior, somos seres únicos, diferentes e todos igualmente especiais, independente de nossas jornadas de crescimento.
      O texto bíblico inicial, sobre a “morte do grão de trigo”, é a metáfora evangélica mais clássica sobre a necessidade de morrer para se reviver melhor, e ela também fala sobre o momento final da jornada do Cristo encarnado. A vida mais importante que este mundo teve alcançou a vitória mais importante da humanidade morrendo, e não vivendo, e uma morte não desejada e nem merecida, que diferença de nós. Nós desejamos a morte muitas vezes, mas só merece morrer o que expirou todas as oportunidades que podia ter para evoluir e conquistar a vida eterna, aproveitando bem essas oportunidades ou não. Sejamos úteis a Deus, usemos bem nosso tempo aqui, para que morramos só uma vez e no corpo, não no espírito. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão.

sábado, agosto 07, 2021

Dor antes da alegria (1/2)

      “A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo. Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará.” João 16.21-22

      Muitas coisas, em nossas existências, funcionam semelhantemente ao processo de concepção de um novo ser humano físico no mundo, há uma fecundação, uma gestação e finalmente um nascimento. Pode até começar de forma agradável, mas precisará de um tempo para crescer o suficiente para, então, nascer e resistir à realidade do mundo exterior. É assim com nossas relações afetivas, o casamento, ou seja lá o nome que se dê a isso, é assim com nossas vidas profissionais, é assim com nossos ministérios em igrejas e com nossa evolução espiritual. Mas por que algo que começou de forma prazeirosa, que passou algum tempo protegido evoluindo, nos enchendo de esperanças, precisa acabar num momento dolorido? 
      Somos seres tão infantis, tão equivocados, que o universo precisa, sob autorização de Deus, muitas vezes usar de iscas para nos atrair. O início prazeroso de um relacionamento entre dois seres humanos, por exemplo, com paixão, é uma isca, de outra forma, se soubéssemos em tudo o que vai dar essa relação, nas provas, nas escolhas, nas responsabilidades, no abrir mão de si para amar o outro, nem começaríamos a relação. Mas ela começa, então, entramos na fase dois, a gestação, que apesar de ser uma situação diferente, não nos enfraquece, mas nos fortalece, a mãe deve estar saudável para oferecer ao feto as melhores condições para seu desenvolvimento. A gravidez, contudo, ainda é uma ilusão, não é a realidade. 
      Trinta e oito semanas (mais ou menos nove meses), em média, se passam, e o corpo da mãe naturalmente “expulsa” aquilo que criou e aperfeiçoou durante esse tempo, nascer é o destino de todo feto, tudo que acontecer externamente antes do parto, que interfira no nascimento e cesse a existência do feto é assassinato! Contudo, ainda que seja natural o nascimento, o corpo da mãe se livrar do bebê, o organismo materno sofre e uma agonia bem grande. Por quê? Muitos podem dizer simplesmente que foi o castigo que Deus impôs à mulher por ter pecado originalmente (Gênesis 3.16), mas duas razões importantes contribuem para um parto doído, adquiridas pelas fêmeas humanas em milhares de anos de evolução da espécie.
      A primeira razão é dificultar que o feto seja retirado antes do tempo adequado e venha ao mundo exterior despreparado para iniciar sua maturação rumo à sua independência como indivíduo. A segunda é conferir responsabilidade à mãe, que fica ligada afetivamente o suficiente ao filho para criá-lo adequadamente durante o tempo necessário. Contudo, usando esse processo como metáfora para muitas coisas em nossas existências, a lição principal que devemos aprender é que por mais gostoso que seja o início, por mais esperançoso que seja o meio, o final sempre será dolorido, mesmo traumático. Precisamos entender isso, aceitar e nos prepararmos para os partos que temos que experimentar rumo à maturidade. 
      Os discípulos passaram mais ou menos três anos com o Cristo encarnado, aprenderam palavras que nunca tinham ouvido, simples mas profundas, viram extraordinárias maravilhas físicas, presenciaram momentos de amor e luz que suas religiões não podiam lhes dar. Contudo, na passagem bíblica inicial se aproximava o último momento, e ele não seria agradável, o líder dos discípulos sofreria cruel e desumanamente, eles teriam medo e fugiriam, a identidade que tinham construído até então, que tinha lhes dado uma razão para viver, lhes pareceria pulverizada. Mas aquele momento era necessário, era o parto, final da mais importante concepção divina, antes do nascimento do Jesus redentor eterno da humanidade.  
      Não estranhe, se depois de um tempo bom, onde você se apaixonou, trabalhou e sonhou, quando esperava um térmico maravilhoso, as dores te pegarem de surpresa, elas são necessárias antes do nascimento. O universo é craque em nos pegar de surpresa, em nos infringir dor, mas os que foram inseminados pelo Espírito Santo, que geraram por Jesus, ainda que doa, darão à luz a vida eterna com Deus. Confie, se o Senhor esteve contigo em todo o processo, também estará no encerramento dele, e esse não é para a morte, mas para uma nova vida. Todo o trabalho, que você fazia e estava escondido dentro de você, virá à luz depois da dor, e todos se alegrarão com a “criança” linda que o Senhor gerou em você. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão.

sexta-feira, agosto 06, 2021

No “espírito de Elias” (2/2)

      “E, naqueles dias, apareceu João o Batista pregando no deserto da Judéia, E dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus. Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que disse: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, Endireitai as suas veredas. E este João tinha as suas vestes de pelos de camelo, e um cinto de couro em torno de seus lombos; e alimentava-se de gafanhotos e de mel silvestre.” Mateus 3.1-4

      “E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto.” Lucas 1.17

      Continuando o estudo começado ontem sobre Isaías 40.1-5, entendamos que o texto não é de maldição, mas de bênção, tanto que inicia-se dizendo “consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus, falai benignamente a Jerusalém”, bom é o Senhor para aqueles que passam pela disciplina com temor e paciência, serão provados e aprovados. Mas ele segue, “voz do que clama no deserto, preparai o caminho do Senhor, endireitai no ermo vereda a nosso Deus”, há algo a ser feito quando a disciplina acaba, preparar o caminho. O que o texto ensina a nós hoje com uma exortação feita no “espírito de Elias”? 
      A Bíblia Nova Versão Internacional traduz assim o versículo três de Isaías 40, “uma voz clama: "No deserto preparem o caminho para o Senhor; façam no deserto um caminho reto para o nosso Deus””. Depois de passarmos pela disciplina podemos voltar à glória de Deus, Isaías 40.5 diz que o objetivo do caminho ser preparado é para que a glória de Deus seja manifestada, mas antes disso um preparo deve ser feito no deserto. Sempre há um deserto entre a escravidão e a liberdade, entre o Egito e Canaã, entre o “inferno” e o “céu”, entre a expiação inicial e a aprovação final existe a missão.
      O que representa o deserto para nós? Um deserto nos lembra um lugar de privação e solidão, como era a vida de João Batista, sem vaidades, com certa dureza com relação a luxos e melindres humanos, mesmo ser visto como diferente e estranho pelos homens, pelo que vestia e comia, dizendo o que devia ser dito, sem temer ninguém, e com o risco de perder a própria cabeça, como de fato aconteceu com ele no final. Estamos preparados para esse deserto? Um ex-escravo não chega ao trono de Deus sem pagar o preço de João, sem vivenciar em toda a profundidade o “espírito de Elias”. 
      Qual o objetivo do deserto? A resposta está em Isaías 40.4, “todo o vale será exaltado, e todo o monte e todo o outeiro será abatido, e o que é torcido se endireitará, e o que é áspero se aplainará”. No deserto, onde os elementos imperam de forma extrema, onde não há para onde fugir, onde tudo parece igual e o diferente está distante, somos provados também ao extremo. Mas entendamos bem os tempos de nossas vidas, deserto não é escravidão, não é lugar para se pagar pecados. Um fraco, sentindo-se culpado e vítima dos homens, não teria forças para passar pelo deserto no “espírito de Elias”. 
      O deserto é a última prova do homem antes de ter direito aos novos céus e à nova Terra. Os que conseguem passar por ele veem enfim a justiça de Deus feita, veem os arrogantes sendo humilhados e os abatidos sendo exaltados, veem o confuso se endireitar e o complicado tornar-se simples. No deserto o caminho reto que conduz ao Altíssimo é apresentado e aqueles que de fato amam a Deus, mais que ao mundo e a si mesmos, seguirão nesse caminho, com alegria. Esse caminho é Jesus, é ele quem nos conduz à Canaã espiritual e eterna, é dele quem o “espírito de Elias” em João profetiza.
      Só quem experimentou o “espírito de Elias” como João terá direito ao Espírito Santo enviado por Jesus. “Pois a boca do Senhor o disse” (Isaías 40.5), que certeza teve Isaías para escrever, que convicção teve João Batista para cumprir sua missão. Não soframos desnecessariamente com este mundo, ele não precisa ser só lugar de disciplina, mas de missão, nosso deserto e a última fase antes da eternidade em Cristo. João cumpriu sua missão pois Deus o capacitou, e fez isso com alegria e fé, não como vencido ou coitado, mas como vencedor e honrado, por isso o próprio Cristo o exaltou (Lucas 7.27-28).

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão.

quinta-feira, agosto 05, 2021

Preparem o caminho do Senhor (1/2)

      “Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus. Falai benignamente a Jerusalém, e bradai-lhe que já a sua milícia é acabada, que a sua iniquidade está expiada e que já recebeu em dobro da mão do Senhor, por todos os seus pecados. Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; endireitai no ermo vereda a nosso Deus. Todo o vale será exaltado, e todo o monte e todo o outeiro será abatido; e o que é torcido se endireitará, e o que é áspero se aplainará. E a glória do Senhor se manifestará, e toda a carne juntamente a verá, pois a boca do Senhor o disse.Isaías 40.1-5

      O texto inicial são palavras proféticas de Isaías sobre Jesus e João Batista (Mateus 3.3-4), muito tempo antes que esses vivessem no mundo, mas também são ensinos a todos nós, sobre nossas jornadas com Deus. Se existe um tempo de disciplina de Deus em nossas vidas, e todos os que forem honestos e humildes admitirão que esse tempo existe e é necessário para que haja crescimento, visto que todos somos pecadores aprendendo o melhor caminho para atingir o Altíssimo, também existe um tempo de consolo e honra. É importante sabermos diferenciar os tempos de nossas vidas. 
      O texto cita três coisas que findam com a disciplina, a primeira está em “sua milícia é acabada”. A versão Nova Almeida Atualizada traduz o versículo dois assim: “falem ao coração de Jerusalém e anunciem que o tempo da sua escravidão já acabou, que a sua iniquidade está perdoada e que ela já recebeu em dobro das mãos do Senhor por todos os seus pecados”. Com “fim da milícia” entendemos por essa versão “fim da escravidão”, ser escravo é ter liberdade limitada e ser obrigado a trabalhar para que outros lucrem com o seu esforço, sem que o retorno justo disso volte para si. 
      Quem já não se sentiu ou se sente assim, um escravo trabalhando para os outros, obrigado a agradar os outros e nunca tendo tempo ou o mais necessário para agradar a si mesmo? Sim, nossa vocação maior como cristãos é servir os outros em amor, mas uma coisa é fazer por escolha, de forma espiritual, e tendo o suficiente materialmente para ter uma vida digna no mundo, outra coisa é ser humilhado e injustiçado, como escravo de homem, não como servo de Deus. É sobre essa última escravidão que o texto se refere, ela pode ser disciplina de Deus, mas se for isso terá um fim. 
      Para que Deus nos liberta dos homens? Para servirmos a ele, e como consequência disso podemos ser úteis em amor também às vidas dos homens, iluminado-os de forma que conheçam a Jesus e seu caminho de vida eterna. Mas o texto inicial cita outra coisa que termina com a disciplina em “sua iniquidade está expiada”, a expiação pelo pecado. Alguém pode perguntar, “mas em Cristo nossos pecados não são perdoados, ele não pagou o preço por eles na cruz?” Sim, diante de Deus temos perdão e paz, mas mudar nossa natureza pecaminosa requer ser provado no tempo e com trabalho.
      Aquele que se humilha diante de Deus terá dele a misericórdia para passar pela disciplina em paz, sempre protegido para que não receba nem mais que possa suportar, nem menos que não mude seu caráter de forma efetiva. Ser perdoado não é ser poupado de disciplina, entendamos isso, e expiação  individual é um conceito que muitos cristãos do século XXI não entendem. Muitos acham que só por serem cristãos dizimistas e assíduos nos templos tudo está certo com Deus, e se existem lutas e injustiças e por causa da maldade dos outros, não por causa de seus pecados. 
      “Já recebeu em dobro da mão do Senhor por todos os seus pecados”, a terceira coisa que finda com a disciplina é mais que castigo pelo erro, mas a consequência do erro no universo, a colheita daquilo que se é plantado, o efeito da causa. Deus não pune diretamente as pessoas, ele não precisa fazer isso, no início dos tempos, quando tudo criou, já estabeleceu um lei eterna que diz que tudo que o homem plantar ele colherá, portanto, ainda que o pecado esteja perdoado e a iniquidade espiada, resta ainda o justo efeito da causa-pecado, esse efeito temos que colhê-lo até sua última porção.

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão.

quarta-feira, agosto 04, 2021

Na velocidade certa

      “Porém, muitos primeiros serão os derradeiros, e muitos derradeiros serão os primeiros.Mateus 19.30

      A vida é uma corrida com um carro defeituoso. Podemos até consertá-lo e continuar correndo, mas tornará a quebrar, o que nos forçará a uma nova parada para conserto. Enquanto corremos podemos ultrapassar alguém com um carro em piores condições que o nosso, as pessoas recebem carros diferentes com defeitos diferentes, mas isso não significa que estamos ganhando. O objetivo não é chegar antes, estar na frente dos outros, mas é nos mantermos em movimento, cada um no seu carro e em posições distintas. 
      A corrida da vida não é uma prova de velocidade, mas de resistência, e para resistirmos muitas vezes é melhor irmos mais devagar, à medida que conhecemos o carro que temos. Esse carro não pode ser trocado, invejarmos o carro dos outros não melhora o nosso, só o nosso trabalho pode melhorá-lo. Vence o que ficou menos tempo parado, ainda que em relação aos outros corredores esteja em último lugar, assim nossos oponentes não são os outros, mas nós mesmos, e nossa ferramenta é o nosso auto-conhecimento.
      A prova não é aprender a correr mais rápido, mas a consertar o carro diversas vezes e mantê-lo sempre funcionando, de um jeito ou de outro todos chegarão ao final da corrida, ainda que em tempos diferentes. O carro é o nosso espírito, sempre necessitando de ajustes, de evolução, de melhoras. Não aprendemos a consertá-lo olhando os outros a consertarem seus carros, os carros são diferentes, o aprendizado é pessoal, ainda que observando os outros possamos ser incentivados a não desistir, se houver em nós olhos certos.
      A plateia que realmente importa é Deus, um pai de amor que torce por todos os seus filhos igualmente, sem preferidos, isso ainda que muitos nos assistam e possam até desejar nosso sucesso ou nosso fracasso. O pódio é a presença mais alta de Deus, que não desiste de nenhum dos corredores, Deus está o tempo todos atraindo-os e incentivando-os com amor. Algo, contudo, pode ocorrer, muitos com carros mais rápidos chegarem por último, e alguns, com carros menos eficientes, chegarem nas primeiras posições. 
      A Bíblia insiste em “aquele que perseverar até ao fim será salvo” (Mateus 24.13), o motivo é que lutar com os mesmos problemas pode desanimar e nos fazer desistir de nós. Não me refiro a tentações da carne que diariamente todos experimentamos, também não me refiro a vícios maiores que Deus pode nos libertar, esses não são peças defeituosas nos carros. As peças são os espinhos na carne (II Coríntios 12.7), limitações que Deus permite para sermos humildes, essas temos que persistir administrando até o fim. 

terça-feira, agosto 03, 2021

No tempo certo

      “Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará.Salmos 1.1-3

      Queremos as coisas do nosso jeito e no nosso tempo, agindo assim nos colocamos como deuses que podem tudo, que sabem tudo e que conseguem exercer tudo isso no momento que desejam. Bem, esse é um motivo para andarmos tão aflitos, a razão de termos tanta dificuldade para segurar a paz, quem acha que pode controlar tudo não consegue reter o mais importante, paz de espírito. É certo que muitas coisas temos que fazer, mesmo sem pensar muito, principalmente aquelas que se referem à nossa sobrevivência no mundo material, nosso trabalho, nosso estudo, nossa relação com família.
      Isso não significa que essas coisas devam ser feitas sem temor a Deus, ao contrário, são nossas prioridades de oração, constituem nossa dignidade no mundo. Contudo, outras coisas, podemos fazer por escolha, podemos até deixar de fazer, essas são as que devem ser feitas ainda mais na comunhão com o Espírito Santo, não devem ser feitas simplesmente porque queremos e podemos fazer. Ansiedade é uma mal que domina muitos, alguns com menos intensidade, mas outros com muita força, tornando os homens obsessivos, fazendo com que eles queiram muito o tempo todo sem controle sobre isso. 
      Vencer a ansiedade é se deixar ser sincronizado com o tempo de Deus, saber quando fazer, quando não fazer, e principalmente, saber esperar para fazer melhor depois, sem a obsessão de querer tudo aqui, agora e sempre. Quem descansa no tempo de Deus acha paz, se der para fazer algo hoje, tudo bem, fará, senão, esperará, certo que quando der para fazer fará melhor, com as melhores condições e em melhores oportunidades. Vencer a ansiedade é importante principalmente em nossos relacionamentos com as outras pessoas, porque não sabemos o tempo delas, se estão ou não preparadas para nós.
      Deus sabe o melhor momento de todos, assim, se vencermos a ansiedade e acharmos paz no tempo de Deus seremos bênçãos nas vidas das pessoas, pois faremos e falaremos as coisas não só no nosso melhor tempo, mas no melhor momento delas também, tudo na harmonia maravilhosa da vontade de Deus. Como perdemos tempo angustiados porque não descansamos no tempo de Deus, que sempre nos leva tranquilamente para o melhor lugar e o melhor momento, num barco seguro, ainda que o mar esteja revolto e o mundo em trevas. Há paz no tempo de Deus, entendamos isso e sejamos felizes. 

segunda-feira, agosto 02, 2021

Olhe certo

      “Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro. Por mim mesmo tenho jurado, já saiu da minha boca a palavra de justiça, e não tornará atrás; que diante de mim se dobrará todo o joelho, e por mim jurará toda a língua.Isaías 45.22-23

      Quando começamos a enxergar em injustiças, afrontas, agressões, desprezos, não somente maldade, egoísmo e inveja de homens, mas provas morais autorizadas por Deus, nossa perspectiva da vida muda. Não queremos mais nos justificar, fazer justiça com as próprias mãos, nos vingar de alguma maneira, mas começamos a entender o caminho da humildade, experimentando virtudes mais altas, mudando nosso homem interior. Isso constrói o céu em nós, agrada Deus nosso pai, nos ilumina para a mais alta espiritualidade, tira nossos olhos dos homens e do mundo e os coloca no Altíssimo. 
      Olhar certo nos faz entender o principal motivo de vivermos neste mundo, sermos provados para sermos aprovados e então evoluirmos. Quem se protege demais, não aceita injustiças, teima em dar a última palavra e em ter razão, principalmente quando de fato tem razão, pode até ser famoso e vencedor no mundo diante de outros homens, mas se distanciará de Deus e de seu propósito melhor para sua vida. A coisa mais importante que Jesus fez foi nos ensinar o caminho superior de morrer para viver, de dar a outra face, de calar em paz e deixar que Deus faça justiça por nós no seu tempo. 
      Provar essa mudança de perspectiva não é algo que fazemos sozinhos, mesmo com a melhor intenção, só acontece quando conhecemos e aceitamos a vontade de Deus para nossas vidas, e Deus tem coisas diferentes para pessoas diferentes, consequentemente provas diferenciadas. Quando nos apossamos da vontade de Deus temos forças, e se ela for calar diante da injustiça faremos isso em paz, e ainda assim não nos faltará o necessário para termos vidas dignas no mundo. Para olharmos certo os homens, antes temos que olhar certo para Deus, que depois nos permite olharmos certo para nós mesmos. 

domingo, agosto 01, 2021

Ouça certo

      “Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.Marcos 13.31

      Para quantas palavras damos ouvidos, às que ouvimos nos programas da TV, no Youtube, às que lemos nos grupos de Whatsapp, no Facebook, no Twitter, e em tantos outros espaços virtuais desse mundo moderno. Mas também quantas palavras nos vêm à mente, lembranças, culpas, acusações, setas lançadas por outras pessoas, por espíritos maus, o que não faltam são palavras negativas neste mundo. Interessante que certos transtornos mentais levam as pessoas a ouvirem vozes, mas essas vozes nunca dizem coisas boas, sempre coisas ruins, ou no máximo ilusórias, isso nos faz pensar se essas são de fato palavras que ecoam de mentes doentes e que voltam para elas, ou se são outra coisa. Enfim, temos muita facilidade para captar e guardar o que não presta, já para discernir a voz mansa de Deus precisamos nos esforçar tanto, até calarmos todas as outras vezes, Deus é educado, não fala enquanto outros estão falando. 
      Todas as vozes passarão, ecoarão até sumirem, críticas, mentiras, mesmo as aparentemente positivas, mas falsas, que não soam promessas verdadeiramente de Deus, nasceram da morte e morrerão um dia, ninguém se fie nelas. A palavra de Deus, essa nunca passa, é eterna, confiável, sempre positiva, mesmo que seja de aniquilação, Deus desconstrói para depois construir melhor. A palavra de Deus não é só semântica, som, impressão superficial ou mesmo comentário jocoso, a palavra de Deus é sempre séria, ainda que cheia de graça, é criação, age para cumprir um propósito específico e faz isso no instante que é proferida. Tenhamos ouvidos espirituais limpos e tranquilos para ouvirmos essa palavra e descansarmos nela, Deus tem sempre uma palavra de vida para nos dar, vinte e quatro horas por dia, basta que nos acalmemos e creiamos. Todo o universo passará, de um jeito ou de outro, mas a palavra de Deus, não.

sábado, julho 31, 2021

Princípios

      “E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.” João 8.10-11

      Algo que me marcou quando vim para o cristianismo protestante, foi a seriedade como ele trata o pecado e a reputação. Antes mesmo do batismo, éramos orientados a acertarmos nossas vidas, deixarmos vícios básicos, como tabaco e álcool, colocarmos vida matrimonial em ordem, pedirmos perdão para pessoas, caso tivéssemos coisas não resolvidas como discórdias ou males cometidos que de alguma forma tivessem ofendido ou machucado alguém. Da mesma maneira era a disciplina, caso alguém, que já fosse membro oficial do hall, “pisasse feio na bola”, seria deletado da igreja. 
      Contudo, acho que algumas coisas que funcionavam com convertidos de trinta, quarenta anos atrás, não funcionam mais com convertidos de alguns anos para cá, não que o pecado esteja menos relevante, mas com certeza as pessoas ficaram, digamos assim, bem mais complicadas, principalmente na área de sexualidade e matrimônio. Por outro lado, falando honestamente, na minha época - me converti em 1976 numa Igreja Batista tradicional - havia muita hipocrisia e superficialidade, coisas sérias e profundas não eram tratadas, só jogadas para longe, o “culpado” ficava sozinho.
      Eu mesmo tive que ser tratado sozinho por Deus em várias áreas, sem ajuda de minha igreja de origem. Infelizmente, principalmente em algumas igrejas protestantes tradicionais, com membros mais de classe média, ainda hoje existe um forte falso moralismo, que julga as pessoas por obras, não têm um trabalho eficiente de gabinete pastoral, de “cura interior”, de aconselhamento em amor, que de fato permita às pessoas serem tratadas. Algumas coisas ainda são simplesmente julgadas como pecados imperdoáveis, submetendo os que os praticam à sucinta exclusão do hall de membros.
      Por outro lado, e isso mais no meio mais pentecostal, com membros de classes mais baixas, os erros parecem ser mais tolerados, e se forem da liderança, talvez por motivos políticos ou financeiros, quando alguém “cai em pecado” não é disciplinado com tanta dureza, por favor, não estou generalizando nada, apenas constatando fatos. Mas de maneira geral dificuldades no casamento ainda são vistas de forma equivocada, e esse é um assunto bem complexo, que não pode ser resolvido passando a mão na cabeça ou excluindo, existem muitos tons de cinza entre o branco e o preto. 
      Não vou fazer aqui mais um estudo minucioso sobre a passagem da mulher adúltera, citei o texto inicial só para compartilhar o principal, a palavra de Jesus “nem eu também te condeno, vai-te e não peques mais”. Cristo não menosprezava o pecado, mas também não o espetacularizava, como já vi ser feito em sessões de exclusão de igreja, Jesus era objetivo visando a recuperação, não a condenação. A solução do evangelho para o pecado é uma, amor a Deus e aos homens, quem ama a Deus deseja santidade e quem ama os homens age com misericórdia, não com preconceitos ou displicência.
      Vou compartilhar um sonho que tenho para as igrejas cristãs não católicas, ainda que diferenças sejam úteis, que visões distintas de costumes, mesmo interpretações variadas de doutrinas devam existir, ainda que deva ser assim para que cada ser humano em sua idiossincrasia ache o cristianismo mais confortável, desde que não se mude o principal, meu sonho é: bom seria haver uma união das denominações. Para quê? Para zelar pela qualidade do cristianismo, para disciplinar quem precisa, ajudar quem quer ajuda. Isso testemunharia um evangelho mais próximo do original num mundo descrente.
      Quando vejo a mídia veiculando com prazer sórdido um escândalo do meio cristão não católico, generalizando nas entrelinhas de maneira injusta o povo crente, como se todos fossem iguais e de baixa qualidade, como seria bom se um grupo que representasse os evangélicos e protestantes se levantasse e se posicionasse. Que fosse então disciplinado quem escandalizou e deixado claro para a mídia e para o mundo que isso é uma exceção, não uma regra, enfatizando que existe crente que não vive só para trocar dízimos e fé por bens materiais, mas para praticar o evangelho verdadeiro de Cristo. 

sexta-feira, julho 30, 2021

Pão espiritual da boca de Deus

      “Todos os mandamentos que hoje vos ordeno guardareis para os cumprir; para que vivais, e vos multipliqueis, e entreis, e possuais a terra que o Senhor jurou a vossos pais. E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o Senhor teu Deus te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os seus mandamentos, ou não. E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do Senhor viverá o homem.Deuteronômio 8.1-3

      “Se eu não comer, não beber, não dormir, eu não vivo”, todos nós pensamos assim. Mas quem permite que estudemos e trabalhemos para ganharmos dinheiro para comprarmos comida, bebida, roupas e poder ter um lugar protegido para dormir? É a palavra de Deus, e com palavra de Deus não nos referimos só aos registros de homens com experiências com Deus feitos no cânone bíblico. A palavra de Deus é o imperativo espiritual que mantém os planos físico e espiritual existindo, todo o universo visível e invisível, incluindo a natureza, as existências humanas, nós, eu e você. 
      Se uma permissão divina for dada um raio pode cair na minha cabeça, ainda que eu esteja protegido em minha casa, mas um carro também pode perder o controle e me atropelar, ainda que eu esteja tranquilo indo à igreja. Entretanto isso pode ser ainda mais sério, se o imperativo de Deus autorizar, um meteoro pode bater no planeta Terra e causar a morte de muita gente, nos acostumamos tanto com a vida que não paramos para pensar o quanto somos frágeis, o quanto a vida é muito mais que pagar o pão de cada dia. A palavra de Deus, esse é o verdadeiro pão que nos sustenta. 
      Jesus usou parte do texto bíblico inicial para repreender Satanás em sua tentação no deserto, “está escrito que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus” (Lucas 4.4b), isso parece simples de praticar? Mas não é, quantas vezes damos mais importância para encher o estômago que para encher o coração? E me refiro a nós que temos condição de ter a geladeira cheia de mantimentos, como é difícil para gente ansiosa, que sente fome o tempo todo, fazer um sacrifício agradável a Deus de um jejum por uma causa realmente importante, espiritual, não material. 
      Jejum não é cambiar abstinência física por algum favor material, não é isso, isso é trocar seis por meia dúzia, ficar uns dias comendo menos para ter um aumento de salário para poder comer rodízio com mais frequência. Muito crente sincero e que quer se consagrar não entende que o poder do jejum não é convencer o Senhor que temos fé e somos devotados a ele, para que ele nos dê algo, mas é acalmar nossas almas e permitir que nossos ouvidos espirituais se abram para ouvirmos mais a Deus. Deus não precisa do nosso jejum, somos nós que precisamos, para sermos transformados. 
      Precisamos de uma palavra de Deus todos os dias, não deveríamos ir para a cama sem descansarmos nossas almas e acharmos paz no silêncio, e não tentando saciar ansiedades entupindo-nos de comida. Isso nos permitiria ouvir a voz do Senhor e alimentarmos, não nossos corpos, mas nossos espíritos, o Espírito Santo tem algo para nos dizer todos os dias, ainda que seja só “descansa e fique em paz”. O alimento não está em sabermos algo racionalmente, isso podemos saber e continuarmos agoniados, somos alimentados quando recebemos a palavra que sai diretamente da boca de Deus. 
      Isso é vivermos o cristianismo pelo Cristo, no Espírito Santo, e não pela razão, só por nossas capacidades mentais e emocionais, nessas capacidades só achamos a morte, ainda que seja celebrando a vida. A vida está no Espírito Santo, ele dizer-nos “acalme-se” vale mais que um textão construído com os melhores argumentos teológicos, a palavra do Deus vivo é fogo que não consome e que nos aviva espiritualmente. Esse é o único alimento que pode vivificar nossos espíritos e se os espíritos estiverem vivos, corpo, mente e coração serão renovados, em paz e fortes para seguirem. 

quinta-feira, julho 29, 2021

Imaginar o mal não faz bem

      “Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor.I Coríntios 4.5

      Imaginar o mal não faz bem, olhar uma situação, analizar uma pessoa de longe, observar uma conversa à distância, e nessas situações sempre achar que algo ruim está sendo dito ou feito, nenhum bem nos traz. Você já percebeu que quando olhamos algumas coisas de longe nunca imaginamos algo bom? Quando vemos pessoas falando e rindo a nossa tendência é sempre achar que estão criticando alguém, e não raras vezes a nós? Isso não é paranoia de alguns, é fraqueza de muitos, mesmo que não assumam, que não verbalizem. Em raras situações isso não ocorre, poucas pessoas não nos levam a fazer juízo maldoso, mas com que facilidade nossa cabeça se torna rádio sintonizado em estação ruim.
      Nem precisa ser algo doentio que depois gruda em nós e nos atormenta por algum tempo, basta que seja um pensamento passageiro, se paramos por um momento para fazer o que não temos que fazer, que é cuidar da vida alheia, podemos tecer julgamento errado, e mais que isso, destrutivo. Dificilmente julgamos bem, ainda que sem conhecimento da verdade, ainda que só como imaginação, por que isso? Porque isso é uma tendência humana, mas também oportunidade aproveitada por seres espirituais do mal, que percebem uma fraqueza nossa e lançam sobre nossas mentes raciocínios tóxicos, invenções mentirosas, julgamentos injustos, para tirar nossa paz e nos jogar contra os outros. 
      A existência é basicamente mental, pensamos mais que falamos e fazemos, e o pensamento dispara a emoção que nos faz criar e sentir toda uma história, com enredo e personagens. É por essa razão que a Bíblia nos exorta tanto a vigiar na mente, por isso Jesus ensinou que o primeiro e mais importante pecado ocorre em nossas cabeças e em nossos corações, mesmo que nem se manifeste em ações. A mente é o maior campo de batalhas que existe, a vitória dos demônios sobre os homens começa nela. Se eles nos vencem em nossas mentes experimentaremos o pecado em nosso corpo mesmo que seja só nos sentimentos, e isso já torna o pecado real para nós, praticá-lo só envolverá outras pessoas. 
      Existem pessoas que têm mais facilidade para se isolar, não são tão imaginativas, mas isso pode ser mais deficiência que potência, pode ser insensibilidade, muitas vezes construída como mecanismo de defesa por causa do muito que se foi machucado. Mas quem tem coração, sente, quem tem cabeça, pensa, a questão é administrar isso bem, ocupá-los com coisas boas, altas, espirituais, e não com julgamentos maléficos. Precisamos entender que nosso mundo interior é a ferramenta que Deus nos dá para termos comunhão com ele e adquirirmos conhecimento do mundo espiritual, usemos essa ferramenta para a finalidade mais nobre assim nossas capacidades serão bençãos, não maldições.