sábado, agosto 07, 2021

Dor antes da alegria (1/2)

      “A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo. Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará.” João 16.21-22

      Muitas coisas, em nossas existências, funcionam semelhantemente ao processo de concepção de um novo ser humano físico no mundo, há uma fecundação, uma gestação e finalmente um nascimento. Pode até começar de forma agradável, mas precisará de um tempo para crescer o suficiente para, então, nascer e resistir à realidade do mundo exterior. É assim com nossas relações afetivas, o casamento, ou seja lá o nome que se dê a isso, é assim com nossas vidas profissionais, é assim com nossos ministérios em igrejas e com nossa evolução espiritual. Mas por que algo que começou de forma prazeirosa, que passou algum tempo protegido evoluindo, nos enchendo de esperanças, precisa acabar num momento dolorido? 
      Somos seres tão infantis, tão equivocados, que o universo precisa, sob autorização de Deus, muitas vezes usar de iscas para nos atrair. O início prazeroso de um relacionamento entre dois seres humanos, por exemplo, com paixão, é uma isca, de outra forma, se soubéssemos em tudo o que vai dar essa relação, nas provas, nas escolhas, nas responsabilidades, no abrir mão de si para amar o outro, nem começaríamos a relação. Mas ela começa, então, entramos na fase dois, a gestação, que apesar de ser uma situação diferente, não nos enfraquece, mas nos fortalece, a mãe deve estar saudável para oferecer ao feto as melhores condições para seu desenvolvimento. A gravidez, contudo, ainda é uma ilusão, não é a realidade. 
      Trinta e oito semanas (mais ou menos nove meses), em média, se passam, e o corpo da mãe naturalmente “expulsa” aquilo que criou e aperfeiçoou durante esse tempo, nascer é o destino de todo feto, tudo que acontecer externamente antes do parto, que interfira no nascimento e cesse a existência do feto é assassinato! Contudo, ainda que seja natural o nascimento, o corpo da mãe se livrar do bebê, o organismo materno sofre e uma agonia bem grande. Por quê? Muitos podem dizer simplesmente que foi o castigo que Deus impôs à mulher por ter pecado originalmente (Gênesis 3.16), mas duas razões importantes contribuem para um parto doído, adquiridas pelas fêmeas humanas em milhares de anos de evolução da espécie.
      A primeira razão é dificultar que o feto seja retirado antes do tempo adequado e venha ao mundo exterior despreparado para iniciar sua maturação rumo à sua independência como indivíduo. A segunda é conferir responsabilidade à mãe, que fica ligada afetivamente o suficiente ao filho para criá-lo adequadamente durante o tempo necessário. Contudo, usando esse processo como metáfora para muitas coisas em nossas existências, a lição principal que devemos aprender é que por mais gostoso que seja o início, por mais esperançoso que seja o meio, o final sempre será dolorido, mesmo traumático. Precisamos entender isso, aceitar e nos prepararmos para os partos que temos que experimentar rumo à maturidade. 
      Os discípulos passaram mais ou menos três anos com o Cristo encarnado, aprenderam palavras que nunca tinham ouvido, simples mas profundas, viram extraordinárias maravilhas físicas, presenciaram momentos de amor e luz que suas religiões não podiam lhes dar. Contudo, na passagem bíblica inicial se aproximava o último momento, e ele não seria agradável, o líder dos discípulos sofreria cruel e desumanamente, eles teriam medo e fugiriam, a identidade que tinham construído até então, que tinha lhes dado uma razão para viver, lhes pareceria pulverizada. Mas aquele momento era necessário, era o parto, final da mais importante concepção divina, antes do nascimento do Jesus redentor eterno da humanidade.  
      Não estranhe, se depois de um tempo bom, onde você se apaixonou, trabalhou e sonhou, quando esperava um térmico maravilhoso, as dores te pegarem de surpresa, elas são necessárias antes do nascimento. O universo é craque em nos pegar de surpresa, em nos infringir dor, mas os que foram inseminados pelo Espírito Santo, que geraram por Jesus, ainda que doa, darão à luz a vida eterna com Deus. Confie, se o Senhor esteve contigo em todo o processo, também estará no encerramento dele, e esse não é para a morte, mas para uma nova vida. Todo o trabalho, que você fazia e estava escondido dentro de você, virá à luz depois da dor, e todos se alegrarão com a “criança” linda que o Senhor gerou em você. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão.

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