sábado, julho 31, 2021

Princípios

      “E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.” João 8.10-11

      Algo que me marcou quando vim para o cristianismo protestante, foi a seriedade como ele trata o pecado e a reputação. Antes mesmo do batismo, éramos orientados a acertarmos nossas vidas, deixarmos vícios básicos, como tabaco e álcool, colocarmos vida matrimonial em ordem, pedirmos perdão para pessoas, caso tivéssemos coisas não resolvidas como discórdias ou males cometidos que de alguma forma tivessem ofendido ou machucado alguém. Da mesma maneira era a disciplina, caso alguém, que já fosse membro oficial do hall, “pisasse feio na bola”, seria deletado da igreja. 
      Contudo, acho que algumas coisas que funcionavam com convertidos de trinta, quarenta anos atrás, não funcionam mais com convertidos de alguns anos para cá, não que o pecado esteja menos relevante, mas com certeza as pessoas ficaram, digamos assim, bem mais complicadas, principalmente na área de sexualidade e matrimônio. Por outro lado, falando honestamente, na minha época - me converti em 1976 numa Igreja Batista tradicional - havia muita hipocrisia e superficialidade, coisas sérias e profundas não eram tratadas, só jogadas para longe, o “culpado” ficava sozinho.
      Eu mesmo tive que ser tratado sozinho por Deus em várias áreas, sem ajuda de minha igreja de origem. Infelizmente, principalmente em algumas igrejas protestantes tradicionais, com membros mais de classe média, ainda hoje existe um forte falso moralismo, que julga as pessoas por obras, não têm um trabalho eficiente de gabinete pastoral, de “cura interior”, de aconselhamento em amor, que de fato permita às pessoas serem tratadas. Algumas coisas ainda são simplesmente julgadas como pecados imperdoáveis, submetendo os que os praticam à sucinta exclusão do hall de membros.
      Por outro lado, e isso mais no meio mais pentecostal, com membros de classes mais baixas, os erros parecem ser mais tolerados, e se forem da liderança, talvez por motivos políticos ou financeiros, quando alguém “cai em pecado” não é disciplinado com tanta dureza, por favor, não estou generalizando nada, apenas constatando fatos. Mas de maneira geral dificuldades no casamento ainda são vistas de forma equivocada, e esse é um assunto bem complexo, que não pode ser resolvido passando a mão na cabeça ou excluindo, existem muitos tons de cinza entre o branco e o preto. 
      Não vou fazer aqui mais um estudo minucioso sobre a passagem da mulher adúltera, citei o texto inicial só para compartilhar o principal, a palavra de Jesus “nem eu também te condeno, vai-te e não peques mais”. Cristo não menosprezava o pecado, mas também não o espetacularizava, como já vi ser feito em sessões de exclusão de igreja, Jesus era objetivo visando a recuperação, não a condenação. A solução do evangelho para o pecado é uma, amor a Deus e aos homens, quem ama a Deus deseja santidade e quem ama os homens age com misericórdia, não com preconceitos ou displicência.
      Vou compartilhar um sonho que tenho para as igrejas cristãs não católicas, ainda que diferenças sejam úteis, que visões distintas de costumes, mesmo interpretações variadas de doutrinas devam existir, ainda que deva ser assim para que cada ser humano em sua idiossincrasia ache o cristianismo mais confortável, desde que não se mude o principal, meu sonho é: bom seria haver uma união das denominações. Para quê? Para zelar pela qualidade do cristianismo, para disciplinar quem precisa, ajudar quem quer ajuda. Isso testemunharia um evangelho mais próximo do original num mundo descrente.
      Quando vejo a mídia veiculando com prazer sórdido um escândalo do meio cristão não católico, generalizando nas entrelinhas de maneira injusta o povo crente, como se todos fossem iguais e de baixa qualidade, como seria bom se um grupo que representasse os evangélicos e protestantes se levantasse e se posicionasse. Que fosse então disciplinado quem escandalizou e deixado claro para a mídia e para o mundo que isso é uma exceção, não uma regra, enfatizando que existe crente que não vive só para trocar dízimos e fé por bens materiais, mas para praticar o evangelho verdadeiro de Cristo. 

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