20/09/19

Buscai-me e vivei

      “Porque assim diz o Senhor à casa de Israel: Buscai-me, e vivei.” Amos 5.4
      “Seca-se a erva, e cai a flor, porém a palavra de nosso Deus subsiste eternamente.” Isaías 40.8

      Busquemos a Deus e vivamos, recebamos dele a palavra, sua palavra é vida e dura para sempre. Sempre que buscamos a Deus com todo o coração e no Espírito Santo, Deus fala conosco, aquele que constrói uma vida de comunhão amiga com o Senhor sabe disso. Por maior que seja a dor, a dificuldade, o erro cometido, e ainda que entre os homens e neste mundo tudo isso tenha consequências duras e difíceis, que teremos que enfrentar de qualquer jeito, ainda assim podemos receber do Senhor uma palavra simples e poderosa. Essa revelação é manifestada em nossa mente, quando oramos, ou mesmo pela boca de outras pessoas, e ela é fantasticamente milagrosa, nos dá paz de imediato, nos dá forças para enfrentar a luta com esperança.
      A palavra do Senhor pode ser achada na Bíblia, e muitas vezes Deus pode usar meios, pessoas, mesmo não dentro de uma igreja ou de um cristão, para nos dar uma palavra que mudará o nosso coração, mas o jeito oficial, digamos assim, do Senhor nos falar é na oração. Não, não precisa ser depois de horas clamando, se tivermos intimidade com Deus e dermos liberdade ao seu Espírito em nossos sentimentos e pensamentos, discerniremos a palavra poderosa de Deus mudando nossa vida. Quando a palavra é de Deus ela é boa e simples, não é algo complicado, e acima de tudo ela se cumpre e permanece para sempre. Creia, seja qual for tua luta, Deus tem uma palavra de vida para te dar que te dará forças para seguir, só busque-o. 

19/09/19

Sejamos nós instrumentos de justiça

      “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartosMateus 5.6

       O universo é justo, a vida é cega, Deus é misericordioso, mas o homem é injusto. Explico: o universo, para todos os homens, cristãos ou não, filhos ou meras criaturas de Deus, de qualquer raça ou classe social, respeita no plano físico, nesta existência material, a lei da causa e efeito, ou em outras palavras, colhe-se o que se planta. Isso, se não a curto prazo, mas no momento certo, se constata, e quem tiver olhos espirituais verá. A vida é cega, não diferencia ninguém, ainda que alguns pareçam ter condições materiais, financeiras, melhores, todos sofrem, todos se sentem insatisfeitos.
      Deus é misericordioso com aqueles que o buscam em Jesus, isso significa que ele nos os trata conforme suas obras, mas pela fé que depositam em Cristo, contudo, essa misericórdia se realiza principalmente (para não ser extremo e dizer somente) nas bênçãos espirituais, na paz pelo perdão, que cura a alma e que dá salvação na eternidade. O homem, todavia, é injusto, todos eles, desde o menor socialmente até o mais poderoso, isso faz com que uma grande maioria sofra faltas, crueldades, desprezo, uma injustiça que protege alguns e que maltrata muitos outros. 
      O versículo inicial, contudo, como toda a parte do sermão das bem-aventuranças da qual ele faz parte, é como óleo na barba do homem de Deus, como água fresca e pura num deserto, como a sombra boa de uma figueira ao meio-dia, consola-nos e cura-nos, nos dá toda a esperança necessária para seguirmos com ânimo. Fome e sede de justiça, termos mais que apropriados, porque é assim mesmo que nos sentimos diante da injustiça, famintos e sedentos de uma ação superior que nos faça justiça. Não é errado ter esse forte desejo, essa necessidade, o que não podemos é querer e fazer justiça com as próprias mãos, isso é vingança e a maior e verdadeira vingança não pertence ao homem, mas sempre a Deus. 
      Todo injustiçado consciente que esperou em Deus, assim como os inconscientes mas inocentes, e existem muitos inocentes no mundo que sofrem sem merecer e sem que ninguém faça nada para ajudá-los (como crianças e seres humanos mal nutridos e flagelados em países em guerra dentre outros), todos esses serão fartos, é promessa de Jesus e eu creio. Assim, quem acha poder fazer e acontecer, onde, quando e o que quer, pensando que nunca será punido, descoberto ou cobrado, a esse o evangelho diz, seu momento vai chegar. Quanto aos injustiçados, esperem em Deus, não percam as esperanças, e nós, que temos alguma potência, sejamos instrumentos de justiça, pois a justiça de Deus neste mundo de homens se faz, em primeiro lugar, com e através de homens senão justos, justificados em Cristo. 

18/09/19

Apesar de nós, Deus nos usa

      “E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.II Coríntios 12.9-10

      Deus não nos usa sem problemas, sem defeitos, sem fraquezas. Sim, Deus só pode nos usar sem pecados, mas ainda assim, é apesar de nossos problemas, apesar de nossos defeitos, apesar de nossas fraquezas, que ele nos usa, mesmo com todos os nossos limites. Isso não é para que assumamos uma posição irresponsável de quem acha que Deus deve nos usar, nos honrar, mesmo que não sejamos perfeitos, e assim nos acomodarmos com o pecado. 
      Isso, contudo, é para termos a humildade de aceitar que só somos alguma coisa, só temos alguma honra, por Deus, por causa de seu amor, de sua misericórdia, e que mesmo depois de provar essa graça temos, ainda mais, a obrigação de continuarmos seguindo lutando com todas as nossas forças em Deus para vermos nossos problemas resolvidos, nossos defeitos superados, nossas fraquezas vencidas e nossos pecados perdoados.
      Quem corre maior risco de se esquecer disso são pregadores e pastores, que Deus usa porque precisa usar, porque são seus canais oficiais, digamos assim, de alimento espiritual para o povo, e que por isso experimentam uma presença mais constante da palavra ungida que abençoa as ovelhas. Esses podem com o tempo ou achar que são especiais, melhores que os outros, ou que nunca perderão o privilégio de receber palavras divinas porque elas precisam ser entregues aos homens. 
      A esses, cuidado, sim, Deus trata de maneira diferenciada aqueles que ele separa e que têm posições mais visíveis, que são aqueles que os homens procuram em primeiro lugar para enxergar um bom testemunho como cristão. Esses pregadores pagam um alto preço para cumprirem suas missões, de resignação e sacrifícios. Contudo, como a bênção é grande também será grande a cobrança, e quando a disciplina vem, se for necessária, grande será a vergonha de quem se esquece que só é alguma coisa por causa de Deus. 

17/09/19

O que é orar?

      “Eu e o Pai somos um.João 10.30

      Falar com Deus?
      Pedir coisas ao Senhor?
      Agradecer ao Pai pelas coisas recebidas?
      Orar é colocar-se em sintonia com o Altíssimo.
      Sintonizados podemos viver sincronizados com Deus.
      O versículo inicial parece pequeno demais e não tão adequado para o tema oração?
      Pois não é, aliás as maiores e mais profundas verdades são declaradas assim, em poucas palavras. 

        Radiotransmissão, pensemos em seu funcionamento, tem-se um emissor que transmite áudio numa frequência de onda e receptores que conseguem sintonizar a frequência específica do emissor e receberem o áudio transmitido. Existem muitos emissores, e se não se fizer a recepção da sintonia desejada se receberá o áudio indevido, quem procura ouvir uma rádio gospel, por exemplo, se sintonizar o rádio de maneira errada, pegará uma rádio funk, ou mesmo a rádio gospel, mas com qualidade ruim, cheia de ruídos. Bem, essa é uma metáfora muito boa para entendermos a oração.
       Estarmos sintonizados com Deus é algo que deveríamos estar o tempo todo, não só nos momentos de oração, mas vamos entender melhor o que é essa sintonia. Para se colocar nessa posição espiritual é preciso santidade, confessar e deixar pecados apropriando-se do perdão exclusivo de Cristo. Sintonizar-se é se colocar verdadeiramente como humilde, deixando em primeiro lugar que Deus e depois os outros apareçam antes que nós, é morrer, é abrir mão, é calar a alma antes que declarar longos discursos. Sintonizar-se com Deus é deixar nosso lado espiritual ter prioridade sobre a carne, sobre nosso ego vaidoso. 
       Mas tanto a santidade quanto a humildade têm que ser verbalizadas com convicção na presença de Deus, assim nos sintonizarmos com Deus é algo ativo, voluntário, sincero e corajoso. Enquanto outras religiões e práticas buscam meditação como algo passivo, se deixando levar por “forças espirituais desconhecidas”, uma comunhão mais íntima com Deus implica numa experiência ativa de trabalho e esforço, querendo, buscando e chegando na presença única do único Deus, e de mais ninguém. É claro que só isso não basta, a nossa vontade, por mais sincera que seja, só bate na porta, é Deus quem vê nossa intenção e abre a porta para que possamos entrar. 
      A sintonia de Deus existe numa frequência espiritual altíssima (e por favor entendam que estou usando esse termo de física acústica como uma simbologia), uma frequência acima de nós mesmos, dos nossos medos e problemas, dos homens, dos demônios, dos diabos, dos anjos, só o convertido tem direito a essa sintonia, somente o Espírito pode nos colocar nessa frequência. Nessa posição todo o nosso ser é libertado, corpo, alma, espírito, tudo em nós é posto numa rocha superior, que nos cura, nos enche de paz e de fé. Nessa posição a fé genuína é efeito, não causa, porque todo o processo é de Deus, não do homem, é importante reconhecer isso com convicção. Isso entroniza Deus em nosso homem interior. 
      A magia, o esoterismo, principalmente as religiões orientais (também a Cabala, a ioga ocidental do judeus) entendem esse princípio que o cristianismo não foca ainda que pratique (se focasse poderia dar mais importância à ferramenta que ao objetivo dela, à oração e não a Deus). Contudo, usando esse princípio sem Jesus, magos e místicos conseguem no máximo comunicação, sincronia, com os seres espirituais do mal. Ioga e outras práticas de meditação, que parecem ser só relaxamento para o corpo e o mente, são iniciadores de sintonia com o mundo espiritual, não nos enganemos com elas, o objetivo delas é o diabo, não Deus.
      Sintonizados com Deus podemos conhecer sua vontade e nos colocarmos em sincronia com ela, estarmos harmonizados com Deus. Sincronização é vibrar na mesma frequência, isso nos permite falar o que Deus quer que falemos, andar onde Deus quer que andemos, pensar e sentir o que Deus quer que pensemos e sentimos. Nessa sincronização os milagres acontecem naturalmente, viver se torna um milagre, nada mais é extraordinário mas ordinário, Jesus encarnado vivia sintonizado em Deus e plenamente sincronizado com a vontade do pai. 
      Sincronizados com Deus sabemos o que pedir porque o Espírito Santo nos mostra o que pedir e pedindo certo nós recebemos, assim orar não é mais só pedir qualquer coisa a Deus para trocar com fé e outros créditos acumulados. Orar é saber de Deus o que ele quer nos dar, e isso não se compra ou se merece, só se recebe e se agradece. Sintonizados com Deus se agradece mais que se pede, o Senhor é glorificado, não nossa fé, numa experiência constante de sincronização espiritual com o Altíssimo, numa perfeita harmonia com o pai. 

      “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai. Eu e o Pai somos um.João 10.27-30

16/09/19

Ao anjo da igreja em Filadélfia

      “Conheço as tuas obras; eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar; tendo pouca força, guardaste a minha palavra, e não negaste o meu nome. Eis que eu farei aos da sinagoga de Satanás, aos que se dizem judeus, e não são, mas mentem: eis que eu farei que venham, e adorem prostrados a teus pés, e saibam que eu te amo. Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra. Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.Apocalipse 3.8-11

      A carta ao anjo da igreja em Filadélfia que está no livro Apocalipse de João o evangelista, é um dos meus textos bíblicos favoritos, parece escrita direta e especificamente para mim. A identidade dessa igreja é bem definida, ela tem pouca força mas é paciente e fiel, isso significa que ela não fez grandes obras em sua existência, não foi famosa entre os homens, mas ainda assim fez tudo o que pôde para obedecer a Deus. Ainda que uma igreja menos famosa, ela foi perseguida, os tais da “sinagoga de Satanás”, e isso identifica homens não “do mundo”, mas religiosos, de igrejas, que arrogam terem alguma autoridade espiritual, mas não têm, esses de alguma forma humilharam a igreja da cidade de Filadélfia.
      Assim, ainda que com pouca força a igreja cumpriu seu propósito e confrontou os maus, foi usada por Deus, pagando o preço do desprezo dos maus, por isso Deus disse que vingaria a causa da igreja, por isso Deus disse que aqueles que desprezaram servos seus obedientes seriam disciplinados por ele. O mais maravilhoso da honra do Senhor é que apesar de acharmos muitas vezes que ela está atrasada, ela vem no tempo certo, quando mais precisamos dela, no caso da igreja de Filadélfia, num momento terrível e derradeiro que afligiria o mundo. 
      O conselho final de Deus é simples, “guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa”, em outras palavras, não façamos mais, nem menos, apenas o que podemos e que Deus nos manda, e às vezes é até necessário parar de fazer e esperar, esse bom senso livra-nos na pior hora. O que é de fato o “anjo”, a “igreja”, “Filadélfia”, os estudiosos levantam varias interpretações. O anjo pode ser um anjo mesmo, pode ser o pastor, o líder da igreja. Já a igreja pode ser uma igreja da cidade de Filadélfia da época em que João escreveu Apocalipse, pode ser uma fase da história da humanidade (interpretando as sete igrejas como sete momentos da humanidade) e pode ser também algo mais subjetivo, pessoas, de todas as épocas, diferentes, com chamadas diferentes de Deus, com maturidades espirituais distintas. 
      Enfim, eu penso que é tudo isso ao mesmo tempo e mais, assim eu posso me ver como sendo a igreja de Filadélfia e tomar as orientações que Deus dá a ela para mim, essa interpretação é uma das bênçãos da Bíblia, tomar um texto bíblico como orientações pessoais, indiferente do contexto histórico ou profético. Lendo a Bíblia com os olhos do Espírito Santo recebemos todo o alimento que precisamos de uma coletânea de livros que ainda que escritos por muitos que só conheciam o tempo em que viviam, que não tinham, em muitos casos, nenhuma pretensão profética (ainda que não seja o caso de Apocalipse, o texto mais profético de todos), podem falar a homens e mulheres de todos os tempos. A Bíblia foi, é e sempre será o livro mais importante de todos.

15/09/19

Ignoto Deo

      “E, enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se comovia em si mesmo, vendo a cidade tão entregue à idolatria. De sorte que disputava na sinagoga com os judeus e religiosos, e todos os dias na praça com os que se apresentavam. E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele; e uns diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros: Parece que é pregador de deuses estranhos; porque lhes anunciava a Jesus e a ressurreição.
      E tomando-o, o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos nós saber que nova doutrina é essa de que falas? Pois coisas estranhas nos trazes aos ouvidos; queremos, pois, saber o que vem a ser isto (Pois todos os atenienses e estrangeiros residentes, de nenhuma outra coisa se ocupavam, senão de dizer e ouvir alguma novidade). E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: 
      Homens atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos; Porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: “Ao Deus desconhecido”. Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio. O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas” 
Atos 17.16-25

      Em meio a tanta idolatria de Atenas, pois os gregos e romanos tinham deuses para tudo, tanto adoravam figuras míticas (deuses puros), como semi-deuses (filhos e filhas de deuses com humanos), como homens, líderes políticos também podiam ter estátuas construídas para serem adorados, em meio a esse panteão Paulo viu um altar erigido a um “deus desconhecido”. No receio de terem se esquecido de oferecer veneração a algum poder, construíram um altar genérico, digamos assim, para que uma deidade possivelmente desconhecida também fosse honrada, para o “incognoscível”.
      Deus desconhecido (“Ignoto Deo” em latim, ou “Agnostos Theos”, do grego Ἄγνωστος Θεός), Paulo em sua inteligência verdadeiramente ungida reconheceu no desconhecido o verdadeiro Deus, o Deus que ele e todos nós podemos conhecer através de Jesus Cristo. Contudo, pergunto, que Deus servimos e adoramos atualmente, será que nós conhecemos de fato o Deus verdadeiro e único? Muitos crentes se levantarão dizendo, “nós não adoramos ídolos, mas o Deus verdadeiro”, muitos arrogando serem melhores que os cristãos católicos, outros também até se achando mais puros que os pentecostais, por serem protestantes racionais e conhecedores da melhor doutrina bíblica.
      Deus existe, é superior a tudo e a todos, é eterno, antes e depois de todas as coisas, mas o homem é limitado, principalmente para conhecer Deus, assim o ser humano se relaciona e adora Deus de acordo com ideias e emoções que ele tem do que seja Deus. Deus é um ancião de barbas e cabelos brancos? Bem, essa era a ideia que muitos faziam de alguém masculino, antigo e sábio em algum momento da história, mas se Deus é eterno ele não envelhece, por outro lado não se prende à sexualidade humana. Uma idealização melhor é a de um ser humano maduro, mas não envelhecido, e ao mesmo tempo nem homem, nem mulher, ainda que tenha a virilidade masculina e a sensibilidade feminina, e isso usando referências ainda estereotipadas e preconceituosas (fora de moda atualmente).
      Por isso Jesus é tão especial, mais que um profeta ou criador de religião, fisicamente Cristo quando no auge de seu ministério messiânico, se pensarmos bem, é o que mais se aproxima de um Deus antropomorfizado, um homem de trinta e poucos anos, física, emocional, intelectual e sexualmente equilibrado, sadio, liberto de qualquer espécie de vícios. Não só se aproxima, Jesus é Deus. Essa visão de Deus é eterna, Deus era assim quando criou a Terra e o homem, quando se relacionou com Abraão, com Moisés ou com Davi, e continuou sendo assim para João o evangelista quando lhe entregou as revelações de Apocalipse, depois de morrer encarnado e ressuscitar. 
      Contudo, encarnados, Abraão, Moisés, Davi ou João, como eu e você, não tiveram acesso total ao mundo espiritual, suas experiências com Deus foram interpretadas por suas mentes e sentimentos humanos. Mesmo tendo ajuda do consolador e professor Espírito Santo, que dá ao homem um acesso exclusivo ao Deus verdadeiro, através da salvação do nome de Jesus, vemos o Deus que conseguimos ver, com as formas e qualidades, mesmo que superiores, humanas. Na verdade, para a grande maioria das pessoas, na prática Deus é só um homem com super poderes, que faz o impossível para os seres humanos. 
      De alguma maneira temos a tendência de criar ídolos, mesmo que com as características do Deus da Bíblia (ainda que só em nossas cabeças sem nunca ser construído em imagens de gesso, madeira ou outro material), e se não tivermos cuidado acharemos que esses ídolos são de fato Deus. Por que isso? Porque é mais fácil, é uma zona de conforto, e isso ocorre sempre que achamos que as coisas estão boas como estão, quando nos acomodamos em cima do muro e nos satisfazemos em sermos mornos, nem quentes, nem frios. Por isso importa muito que cada um de nós tenha experiências pessoais com Deus, não “comprando” simplesmente as ideias sobre Deus que outros compartilham nos púlpitos, temos que provar com o próprio coração o Deus desconhecido, sim, desconhecido. 
      O Deus verdadeiro sempre será desconhecido, ainda que pela sua misericórdia ele deixe-se ser conhecido por nós o suficiente para que sejamos salvos. Isso é ruim? Não, é maravilhoso, somos desafiados pelo divino misterioso, é a natureza humana, e Deus nos conduz numa desafiadora aventura de conhece-lo, mais e mais a cada dia. Mas isso é para aqueles que seguem de fato a Jesus, que ouvem o Espírito Santo, não religiões ou líderes religiosos, num caminho muitas vezes solitário e mal entendido pelos homens. O que dá sentido à vida é justamente isso, já que tudo na vida pode passar ou se findar, as paixões, os prazeres, as alianças humanas, mas conhecer a Deus nunca acaba e sempre enche o nosso coração de esperança e satisfação.

14/09/19

Dogma - discuta o indiscutível

      “O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos. Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer. Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda.” João 15.12-16


dogma [substantivo masculino]

1. Teologia - ponto fundamental de uma doutrina religiosa, apresentado como certo e indiscutível. "d. da santíssima trindade"

2. Por extensão - qualquer doutrina (filosófica, política etc.) de caráter indiscutível.


      Sou uma pessoa por princípio anti-dogma, e isso não tem a ver com religião, com minha religião, com o cristianismo, esses, aliás, grosso modo são bem apegados a dogmas. Por quê? Simples, não creio que nada seja indiscutível, que, principalmente em se tratando do cristianismo, tudo tem que ser aceitado como correto e pronto. Não, eu creio num Deus verdadeiro que revela verdades inexoráveis, contudo, e esse é o motivo porque eu não aceito nada como dogma, o ser humano não entende as coisas assim facilmente. Sim, com o universo espiritual nos relacionamos pela fé, isso é imprescindível, isso é o início, mas o conhecimento continua e é aí que Deus chama amigos para uma conversa mais íntima. Os amigos desejam um aprofundamento no conhecimento do divino e podem, muitas coisas, saberem mais que os que simplesmente aceitam coisas como dogmas. 

      Quando pomos certas coisas como discutíveis não duvidamos de Deus, mas dos homens, e principalmente de nós mesmos, que temos uma tendência preguiçosa ao dogma, a aceitar as coisas sem discutir só porque é mais fácil. Não é a verdade de Deus que é discutível, mas aquilo que o ser humano entende, pelo menos a princípio, como sendo a verdade de Deus. Mas podem argumentar, principalmente no meio católico regido por dogmas, que aquilo que é definido como dogma já foi muito discutido, pensado, refletido, para que se chegasse à conclusão que é um dogma, e isso por gente muita mais entendida de Bíblia, cristianismo e teologia que os leigos. Sim, e por isso mesmo que ainda assim algo não deve ser aceito como dogma e deve ser discutido, não com homens, mas entre nós e o Espírito Santo. 

      Muitos não estão preparados para o assunto levantado nesta reflexão, na verdade poucos, ainda que na prática muitos não sigam radicalmente dogmas. Não seguem mas acham que eles são verdades indiscutíveis e se remoem em remorsos por não poderem praticá-los. Quem estabelece dogmas o faz com intenções ruins, isso é fato, o dogma não é um abrigo, uma proteção, mas uma cela, uma prisão, os carcereiros são os líderes que estabeleceram os dogmas, e deixando bem claro, isso nada tem a ver com a pessoa de Deus. Discutir um dogma, repito, não é discutir com Deus, mas com aquilo que homens disseram sobre religião e Deus, é assumir que nenhum homem, por maior que seja sua posição hierárquica numa igreja ou conhecimento teológico, é dono da verdade, ainda que seja um dogma estabelecido há séculos.

      Se você é novo convertido converse com seu pastor a respeito, peça dele orientação, compartilhe tuas dúvidas e confie em sua liderança. Estou sendo antagônico em relação ao que estou refletindo aqui? Não, mas até que alguém cresça no evangelho a ponto de andar com as próprias pernas e comer carne e não mais só beber leite (espiritual), deve-se confiar no líder. Se o líder estiver conduzindo de alguma maneira o neófilo equivocadamente, a responsabilidade será do líder, não minha ou de qualquer um que ensine, seja em púlpitos físicos ou virtuais, algo que leve alguém a se perder. Longe de mim confundir um dos pequeninos que se aproximam de Jesus buscando vida, perdão e cura. Contudo, se você já tem um tempo de caminhada com o Senhor considere este texto discuntindo-o tanto quanto esse mesmo texto diz que  todos os dogmas devem ser discutidos.


      Não encontro texto mais claro relacionado a esta reflexão, que nos oriente a discutir dogmas com Deus, que o de João 15 (texto inicial), na verdade discutir dogmas era o que Jesus fazia com os apóstolos, os homens mais próximos de Cristo, seus amigos mais íntimos. Se com as multidões e muitos discípulos Jesus encarnado falava através de parábolas, de simbologias (Mateus 13.10-17), com os amigos Cristo falava às claras, decifrava as profecias, e duvidava dos dogmas dos religiosos judeus da época. Duvidava porque muitos princípios ensinados como verdades absolutas eram superficiais ou apenas legalismos externos para manipular os leigos e empoderar líderes. Dogma é coisa de homem, assim nunca terá a eficiência ou profundidade de um genuíno ensinamento de Deus. Seguem alguns exemplos sobre a superficialidade e o legalismo dos dogmas.

      Superficiais: adultério, por exemplo, que para a lei era o ato em si, para o evangelho não era só ter relacionamento sexual com alguém que tivesse aliança de casamento com outra pessoa, ou ter esse relacionamento tendo aliança com outra pessoa, o simples fato de se desejar e consumar o ato no coração, na mente, já é adultério. Eu disse consumar porque muitas vezes não podemos escapar do primeiro pensamento, mas podemos fugir do segundo que na insistência consuma o ato ainda que seja só em pensamentos e sentimentos (Mateus 5.28). Legalismos: a lei dizia que não se devia trabalhar aos sábados, contudo, para o evangelho isso não poderia ser motivo para não se ajudar um necessitado nesse dia. O amor é superior à lei, é o sábado para o homem, não o contrário (Marcos 2.27).

      A mentira, que é o maior argumento de quem cria e mantém dogmas, é dizer que sem dogmas as pessoas podem se perder, se desviar da doutrina. Quem tem o Espírito Santo nunca se perde, se a igreja católica baseou sua religião em dogmas foi ou porque tinham medo, os líderes, que o Espírito Santo mostrasse às pessoas que sua religião, essa sim, tinha se desviado da verdade de Deus, ou porque muitos de seus seguidores, desviados porque na verdade nunca tinham se convertido, precisavam de algo para obedecer que não a verdade única de Deus, verdade que só é revelada aos verdadeiros convertidos que possuem o Espírito Santo. As pessoas não precisam de dogmas, elas precisam do Espírito Santo, Deus é Espírito e onde há o Espírito há liberdade (II Coríntios 3.17), e o Espírito nunca usa a liberdade para a liberalidade na carne, mas para conhecer mais e mais a Deus.

      Mas não se escusem os evangélicos alegando que dogma é exclusividade de católicos, não é mesmo, aliás a tendência natural da heresia é aproximar as religiões protestantes e evangélicas (e muito mais as pentecostais) do catolicismo, criando essas seus dogmas com as mesmas finalidades dos líderes católicos em séculos de existência oficial. Dogma é ferramenta de poder, é arma, repito, para prender, não para libertar. Mas será que a grande maioria das pessoas está preparada para a liberdade, será que ela quer liberdade? A triste verdade é que não, não está preparada, não quer e nem se interessa em saber o que é. A grande maioria quer ser criada em gaiola, ainda que de ouro, onde a liberdade é restrita mas se tem uma ideia consoladora de abrigo e fazer parte de um grupo. A maioria das pessoas nunca conhece liberdade espiritual em vida, passa a existência trocando de gaiola e ainda que se deixe a gaiola com a porta aberta não voará para fora. 


      Sobre os dogmas se constróem superstições, presos não veem a verdade, fantasiam mentiras, superstições são efeitos dos dogmas. Sobre as superstições se constróem os ídolos, ídolos são as sombras das formas, não representam os reais conteúdos, são só farsas, são as causas que se buscam para as mentiras. Sobre os ídolos se constróem novos dogmas, as novas causas têm novos efeitos, que na verdade não têm nada de novo, a cobra engole seu próprio rabo para se mostrar ardilosamente maior do que é, infinita, mas é menor, como toda mentira, tem um fim em si mesma, enganar e manipular. Muitos religiosos, católicos, evangélicos, outros, não fazem ideia do quanto são controlados pela “cobra que engole o próprio rabo”, pelo “diabo”, pelo mal, ainda que digam só desejarem o bem. O mal não é a negação do bem, mas a negação de Deus, mas só entende isso quem busca a Deus, não os homens, não as religiões, não os dogmas. 

      O ser humano é algo especial, na Terra, no universo, em seu corpo físico, em sua alma, em seu espírito, mas só ele tem o poder de libertar a si mesmo, de querer e conhecer Deus, seu único criador que pode também se tornar seu pai, caso ele escolha isso. O mais profundo do homem busca na verdade a Deus, nada mais pode satisfazê-lo, mas para isso o ser humano tem que se desvencilhar das ilusões. Todo prazer passageiro, que precisa ser realiamentado com frequência, é ilusão, seja material, emocional, intelectual ou espiritual. Ilusão é vicio, não é prazer, pois é o exagero que nunca satisfaz, o verdadeiro prazer é único e eficiente, para sempre. Para crescer tem-se que ultrapassar a dor, ser livre não é vivenciar um prazer ilimitado do sim, mas superar a dor do não e poder escolher, antes de ser escolhido, por ninguém a não ser pelo Deus verdadeiro. 

      A dor da solidão é a maior das dores, ninguém está isento dela, por isso o dogma é tão sedutor, dá a sensação de pertencimento, de sermos protegidos por algo maior que outros escolheram por nós, mas isso é só um vício, uma cela. É preciso estar só para se querer, procurar, descobrir e manter-se na presença de Deus, onde não há dogma, ainda que resida a mais alta das santidades, a mais clara das luzes, a mais prazerosa das liberdades, o único lugar onde nos sentimos plenamente e eternamente realizados. Quem está na presença de Deus dá frutos e frutos que permanecem, se dizemos ser religiosos fiéis mas nossa realidade de vida não está funcionando, estamos vivendo uma mentira, nos enganando. Dogmas não libertam, não dão frutos, só matam e escravizam, se alguém lucra com isso são os outros, que nos dogmatizam, não nós. 

      Textos bíblicos interpretados pelo Espírito Santo são perfeitos e o final do texto inicial nos dá o critério para avaliarmos nossas vidas e sabermos se estamos seguindo a Deus ou só tentando, ainda que inutilmente, obedecer dogmas, “não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça”, até vou desconsiderar o final do versículo, “a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda”, não por não ser verdade, de forma alguma, mas por ser usado erroneamente por muitos atualmente que querem obedecer só para receber algo em troca (veja na reflexão da última 5ª feira a respeito). Dogmas não funcionam, só alimentam superstições e ídolos, levarão nossas vidas para uma sala pequena, escura e fechada. Busquemos a Deus e sejamos livres para dizer não ao pecado, aos homens, às religiões e seus dogmas.