domingo, setembro 15, 2019

Ignoto Deo

      “E, enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se comovia em si mesmo, vendo a cidade tão entregue à idolatria. De sorte que disputava na sinagoga com os judeus e religiosos, e todos os dias na praça com os que se apresentavam. E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele; e uns diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros: Parece que é pregador de deuses estranhos; porque lhes anunciava a Jesus e a ressurreição.
      E tomando-o, o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos nós saber que nova doutrina é essa de que falas? Pois coisas estranhas nos trazes aos ouvidos; queremos, pois, saber o que vem a ser isto (Pois todos os atenienses e estrangeiros residentes, de nenhuma outra coisa se ocupavam, senão de dizer e ouvir alguma novidade). E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: 
      Homens atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos; Porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: “Ao Deus desconhecido”. Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio. O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas” 
Atos 17.16-25

      Em meio a tanta idolatria de Atenas, pois os gregos e romanos tinham deuses para tudo, tanto adoravam figuras míticas (deuses puros), como semi-deuses (filhos e filhas de deuses com humanos), como homens, líderes políticos também podiam ter estátuas construídas para serem adorados, em meio a esse panteão Paulo viu um altar erigido a um “deus desconhecido”. No receio de terem se esquecido de oferecer veneração a algum poder, construíram um altar genérico, digamos assim, para que uma deidade possivelmente desconhecida também fosse honrada, para o “incognoscível”.
      Deus desconhecido (“Ignoto Deo” em latim, ou “Agnostos Theos”, do grego Ἄγνωστος Θεός), Paulo em sua inteligência verdadeiramente ungida reconheceu no desconhecido o verdadeiro Deus, o Deus que ele e todos nós podemos conhecer através de Jesus Cristo. Contudo, pergunto, que Deus servimos e adoramos atualmente, será que nós conhecemos de fato o Deus verdadeiro e único? Muitos crentes se levantarão dizendo, “nós não adoramos ídolos, mas o Deus verdadeiro”, muitos arrogando serem melhores que os cristãos católicos, outros também até se achando mais puros que os pentecostais, por serem protestantes racionais e conhecedores da melhor doutrina bíblica.
      Deus existe, é superior a tudo e a todos, é eterno, antes e depois de todas as coisas, mas o homem é limitado, principalmente para conhecer Deus, assim o ser humano se relaciona e adora Deus de acordo com ideias e emoções que ele tem do que seja Deus. Deus é um ancião de barbas e cabelos brancos? Bem, essa era a ideia que muitos faziam de alguém masculino, antigo e sábio em algum momento da história, mas se Deus é eterno ele não envelhece, por outro lado não se prende à sexualidade humana. Uma idealização melhor é a de um ser humano maduro, mas não envelhecido, e ao mesmo tempo nem homem, nem mulher, ainda que tenha a virilidade masculina e a sensibilidade feminina, e isso usando referências ainda estereotipadas e preconceituosas (fora de moda atualmente).
      Por isso Jesus é tão especial, mais que um profeta ou criador de religião, fisicamente Cristo quando no auge de seu ministério messiânico, se pensarmos bem, é o que mais se aproxima de um Deus antropomorfizado, um homem de trinta e poucos anos, física, emocional, intelectual e sexualmente equilibrado, sadio, liberto de qualquer espécie de vícios. Não só se aproxima, Jesus é Deus. Essa visão de Deus é eterna, Deus era assim quando criou a Terra e o homem, quando se relacionou com Abraão, com Moisés ou com Davi, e continuou sendo assim para João o evangelista quando lhe entregou as revelações de Apocalipse, depois de morrer encarnado e ressuscitar. 
      Contudo, encarnados, Abraão, Moisés, Davi ou João, como eu e você, não tiveram acesso total ao mundo espiritual, suas experiências com Deus foram interpretadas por suas mentes e sentimentos humanos. Mesmo tendo ajuda do consolador e professor Espírito Santo, que dá ao homem um acesso exclusivo ao Deus verdadeiro, através da salvação do nome de Jesus, vemos o Deus que conseguimos ver, com as formas e qualidades, mesmo que superiores, humanas. Na verdade, para a grande maioria das pessoas, na prática Deus é só um homem com super poderes, que faz o impossível para os seres humanos. 
      De alguma maneira temos a tendência de criar ídolos, mesmo que com as características do Deus da Bíblia (ainda que só em nossas cabeças sem nunca ser construído em imagens de gesso, madeira ou outro material), e se não tivermos cuidado acharemos que esses ídolos são de fato Deus. Por que isso? Porque é mais fácil, é uma zona de conforto, e isso ocorre sempre que achamos que as coisas estão boas como estão, quando nos acomodamos em cima do muro e nos satisfazemos em sermos mornos, nem quentes, nem frios. Por isso importa muito que cada um de nós tenha experiências pessoais com Deus, não “comprando” simplesmente as ideias sobre Deus que outros compartilham nos púlpitos, temos que provar com o próprio coração o Deus desconhecido, sim, desconhecido. 
      O Deus verdadeiro sempre será desconhecido, ainda que pela sua misericórdia ele deixe-se ser conhecido por nós o suficiente para que sejamos salvos. Isso é ruim? Não, é maravilhoso, somos desafiados pelo divino misterioso, é a natureza humana, e Deus nos conduz numa desafiadora aventura de conhece-lo, mais e mais a cada dia. Mas isso é para aqueles que seguem de fato a Jesus, que ouvem o Espírito Santo, não religiões ou líderes religiosos, num caminho muitas vezes solitário e mal entendido pelos homens. O que dá sentido à vida é justamente isso, já que tudo na vida pode passar ou se findar, as paixões, os prazeres, as alianças humanas, mas conhecer a Deus nunca acaba e sempre enche o nosso coração de esperança e satisfação.

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