01/11/19

Deus é grande

      “Levantarei os meus olhos para os montes, de onde vem o meu socorro. O meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra. Não deixará vacilar o teu pé; aquele que te guarda não tosquenejará. Eis que não tosquenejará nem dormirá o guarda de Israel. O Senhor é quem te guarda; o Senhor é a tua sombra à tua direita. O sol não te molestará de dia nem a lua de noite. O Senhor te guardará de todo o mal; guardará a tua alma. O Senhor guardará a tua entrada e a tua saída, desde agora e para sempre.” Salmos 121 

      Deus é grande, maior que tudo, então olhe para ele, para mais nada, e siga sem medo. Lembre-se disso não para pedir por milagres materiais, pelo menos não só para isso, mas lembre-se disso para se sentir em paz, estabilizado, diante da injustiça humana, diante dos julgamentos ruins que outros fazem de nós, diante da calúnia e da inveja que tantos sentem ainda que não admitam e ainda chamem a nós de arrogantes e falsos. Olhe para o Senhor, que te amou, que te salvou, que tem guardado tua vida e a de teus queridos próximos, pelos quais você ora solicitando proteção divina, olhe para esse Deus e entenderá que tudo o mais é infinitamente menor. 
      Quando entrar num ambiente e sentir-se acuado, oprimido, olhe para Deus, adore-o e fique em paz, quanto ver que algumas portas não abrem simplesmente porque as pessoas não querem dar a você a chance de você mostrar o teu melhor, olhe para Deus, respire fundo, com a alma e o espírito, mais que com o corpo, e fique tranquilo. Se você já clamou a Deus, já levou a ele tua causa, já abriu o coração com sinceridade e humildade, confie no Deus que criou e que sustenta o universo, ele é muito maior que os homens, sejam eles quais forem e onde estiverem. Não se vingue, não se defenda, não ataque, mas permita que Deus te defenda. 
      Deus não tem que ser maior para as pessoas, nem precisa manifestar fisicamente seu poder para ser grande, basta que ele seja grandioso em nossos corações, que pela fé permitamos que ele cresça dentro de nós. Se isso ocorre, o resto, todo o resto, fica inexpressivo. O que só prova um Deus grande quando esse se revela no mundo, na verdade não quer uma experiência pessoal com Deus, mas quer convencer os outros que o Deus maior está do seu lado, isso é vaidade, pura imaturidade. O que crê, todavia, antes mesmo que haja manifestação física, já teve o melhor da comunhão com o Senhor, permitiu que Deus fosse reconhecido num coração humano, independente do que os outros achem.

31/10/19

A vida é curta

     “O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós.Eclesiastes 1.9-10

      Nos tempos atuais o produto mais difícil de se achar é a originalidade, tudo de alguma forma já foi feito em algum lugar e por alguém. Interessante que o sábio Salomão já fazia essa constatação há milênios atrás, e nisso há uma originalidade, uma sabedoria que só o Espírito Santo pode dar. Assim, ainda que viver se torne um tédio, o Espírito Santo pode nos renovar fazendo com que a vida tenha graça e uma razão. A vida é uma chatice quando é sem Deus, e Deus só se prova através de Jesus que nos dá do seu Santo Espírito. Sem Jesus a vida nunca será o bastante, e mesmo que reencarnação fosse plano de Deus para nos evoluir, não seria suficiente, seria o inferno, um retorno constante ao mesmo mundo, num invólucro frágil e inviável para reter a graça do criador. Se o inferno é um sofrimento eterno, viver no mundo eternamente sem Deus é um inferno quase semelhante. 
      Contudo, a vida é curta, principalmente para quem a vive de verdade e não tem medo de se aventurar. Assim dias se tornam meses, meses em anos, anos em décadas, quando vemos temos filhos que estão sonhando os nossos velhos sonhos, de serem famílias e terem filhos. Quando vemos a música que amamos se torna antiga, flashback, ultrapassada para alguns e clássica para muitos. Quando vemos ter cinquenta não é mais ser velho, mas é um jovem que fomos há dez anos atrás, setenta, sim, parecem velhice, mas isso também vai mudar. Quando nos damos por conta os cabelos embranqueceram, nervos e ossos doem, e muitos problemas que antes vinham e iam, agora vêm e ficam. A vida passa depressa e então percebemos que muitos sonhos nunca se tornarão realidade porque eram meras ilusões, que muitos erros não poderão ser corrigidos, que com muitos problemas teremos que conviver aceitando que não têm solução. 
       Curta é a vida, principalmente em nosso corpo material, mas ainda que sejamos confrontados com muitas realidades quando a vida se aproxima do fim vemos que em muitos aspectos continuamos os mesmos, ainda que o corpo esteja cansado a alma ainda é criança. Mesmo que não possamos realizar mais e que saibamos disso claramente, ainda assim temos esperanças, com o passar dos anos não temos mais ilusões, mas ainda temos esperança. Ainda bem, esperança é o que nos mantêm vivos, jovens por dentro, e com o tempo, ainda que saibamos que muitas coisas são impossíveis, ainda assim nos apaixonamos, ainda assim continuamos sonhando. O grande desafio da velhice é desligar o corpo da alma, e isso só pode ser feito quando o espírito é livre, bem, liberdade espiritual só é possível através de Jesus, de mais nada ou ninguém. 
      A vida é curta, mas só percebemos isso de fato quanto nos distanciamos da eternidade e a distância só é maior na velhice, na infância estamos próximos da eternidade, porque estamos mais perto do nosso nascimento, nascer é passar do estado espiritual eterno para o estado físico. Assim, à medida que vivemos nos afastamos da eternidade, ainda que nos aproximemos da morte. A aproximação da morte só nos distancia do espírito e nos prende à matéria, por isso é preciso fé, acreditar sem saber, sem ver, sem sentir, que a morte é a passagem para algo não estranho, mas conhecido, para o estado que tínhamos antes de encarnarmos. Os que conseguem fazer a segunda passagem desprendidos da matéria, ainda que tenham passado muito tempo conscientes nela, os que conseguem ter fé numa existência puramente espiritual e melhor, ainda que impregnados de matéria, esses não serão pegos de surpresa pelo final da vida.
      Mas a vida é curta, cabe-nos vivê-la bem, mas sem idolatrá-la, usufruirmos dela, mas sem nos viciarmos nela, sermos satisfeitos com ela, mas sem acharmos que ela é um fim em si mesma, lutarmos nela e por ela, mas abrirmos mão dela principalmente à medida que ela se acaba. A vida é só um teste, um pequeno teste com uma única pergunta, uma pergunta que nos é feita de tempos em tempos, qual é essa pergunta? Ela não é a mesma para todos, mas seu objetivo é o mesmo, nos questionar até que ponto estamos preparados para morrer, não para viver. Morre-se abrindo mão de direitos, de egoísmos, de honra pessoal, de atenção demasiada, de posição, de status, de holofotes, morre-se diminuindo e deixando que o outro aumente, sumindo e permitindo que o outro apareça. 
      Morre-se servindo e abrindo mão de ser servido. Como servimos? Dando aquilo que temos de melhor sem fazer exigências, só para que o outro seja beneficiado. Servimos sendo em primeiro lugar servos de Deus, não de causas sociais, de ideologias humanas, de justiças e ciências, nem de religiões e espiritualidades, mas do Altíssimo. Servir a Deus é o jeito mais eficiente e justo de servir o próximo, quando fazemos isso mesmo a vida curta ganha sentido, tem razão de ser, nos dá as virtudes que seguirão conosco após a morte. Que pergunta tem sido feita a você dia após dia? Você entendeu qual é o seu objetivo? Não se prenda a essa vida, ainda que seja responsável com ela e com todas as alianças que você faz nela, cônjuge, filhos, amigos, mas abra mão dela, sirva a Deus e através dele sirva ao próximo, quem faz isso vive eternamente.

30/10/19

Dor insolúvel de viver

      “Senhor, não me repreendas na tua ira, nem me castigues no teu furor. Tem misericórdia de mim, Senhor, porque sou fraco; sara-me, Senhor, porque os meus ossos estão perturbados. Até a minha alma está perturbada; mas tu, Senhor, até quando? Volta-te, Senhor, livra a minha alma; salva-me por tua benignidade. Porque na morte não há lembrança de ti; no sepulcro quem te louvará? Já estou cansado do meu gemido, toda a noite faço nadar a minha cama; molho o meu leito com as minhas lágrimas, já os meus olhos estão consumidos pela mágoa, e têm-se envelhecido por causa de todos os meus inimigos. Apartai-vos de mim todos os que praticais a iniqüidade; porque o Senhor já ouviu a voz do meu pranto. O Senhor já ouviu a minha súplica; o Senhor aceitará a minha oração. Envergonhem-se e perturbem-se todos os meus inimigos; tornem atrás e envergonhem-se num momento.
Salmos 6

      Por favor, se possível leia esta reflexão até o fim, penso que assim poderá entendê-la melhor. 

      Não culpo os homens, não mais, nunca culpei Deus, nunca, uma das poucas virtudes que tenho, também não me culpo, sei que assim como eu tenho motivos para sofrer outros tiveram motivos para me fazer sofrer, e vice-e-vesa, eu entendi que ninguém tem culpa do que ocorre de ruim neste mundo, a coisa simplesmente é assim e pronto. Contudo, sinto dor, a dor insolúvel de viver, a dor infinita, minha dor, meu direito pessoal e intransferível. Depois que o nosso pecado é confessado e o perdão é assumido, depois que os homens são perdoados e entendidos, depois que Deus é buscado e se aceita o que ele pode e não pode fazer, e não pode não por limitação de poder, mas por coerência cósmica, depois de tudo isso, a dor ainda resta, pequena, profunda, mas incisiva, brilhante como a ponta de uma faca de prata virgem, como um segredo íntimo. 
      Desse jeito devemos continuar com a dor, guardando-a como um segredo, ninguém tem culpa dela existir, ninguém também precisa ser importunado com ela, que ela permanece assim, encravada em nossa carne, isso, todavia, não é fácil. Quando ela fala alto nós cobramos atenção de alguém, a tristeza sempre quer companhia, contudo, todos estão ocupados com suas próprias dores, não querem dividir os corações com dores alheias, dessa forma, ainda, que manifestemos um grito sufocado para chamar a atenção, logo nos calamos, engolimos o choro e nos retiramos com nossos dores, envergonhados, humilhados, e de nenhuma forma compreendidos por alguém.
      Muitos, todavia, conseguem se convencer que a dor tem cura, assim buscam a religião, eu disse a religião, não Deus, ainda que pensem estarem buscando Deus, e mesmo que sejam ouvidos por um Deus cheio de amor. Deus é só misericórdia, ainda que as pessoas não o conheçam, ainda que digam dele coisas que ele não é, ainda que peçam a ele coisas que ele não pode dar, ainda que o importunem anos a fio com assuntos menores, baixos, inúteis, ainda assim ele pacientemente ouve e dá algumas coisas, as necessárias para que as pessoas não desfaleçam de vez. As pessoas não entendem que recebem porque insistem demais, e que pai nega algo a filhos insistentes, ainda que ele saiba que são coisas que não resolverão de fato o problema? 
      Por isso Deus levanta pregadores nos púlpitos, que digam às pessoas não o que elas precisam ouvir, mas o que elas querem ouvir, por isso Deus dá doces e guloseimas ainda que estraguem os dentes, por isso Deus trata como crianças a velhos que já têm idade suficiente para viverem como adultos. Ah se não fosse assim, há se Deus nos tratasse como nos precisamos, ou pior, como nos merecemos, ah se Deus pai nos tratasse como nos tratam alguns pais, não com mimos, mas com a realidade nua e crua. Por isso Deus é incognoscível, ainda que tantos jurem que o conheçam bem, que o provam bastante, a maioria prova da misericórdia, não da real essência divina, mas o que importa para nós, seres humanos? A misericórdia de Deus nos basta para nos manter vivos neste mundo à medida que empurramos para lá e para cá nossas dores. 

      As pessoas buscam nos púlpitos palavras de incentivo, de superação, de vitória, aquelas que elas estão acostumadas a ler nos Salmos, mas elas não entendem que para Davi ter concluído um salmo com uma palavra assim muita dor ele teve que sentir, muita solidão, muita injustiça, existiram muitos assuntos sem solução com os quais ele simplesmente teve que aprender a conviver. A mesma coisa com os profetas, é bom ler que Elias foi vitorioso sobre os profetas de Baal, mas e todos os anos que ele passou como marginal, fugindo, dependente de uma viúva e de um corvo? A mesma coisa com Paulo e seu espinho na carne. O início dessa reflexão foi o relato de um processo que muitos passam, mas que pouco hoje em dia admitem, já querem ir diretamente para o final feliz da história, sem compartilhar toda a dor que existiu durante todos os outros capítulos. 
      Mas será que alguma história tem final feliz de fato? Eu concluí que não, e quem pensa diferentemente acha que a vida é filme, romance, não a verdade, nem os personagens bíblicos tiveram finais felizes, muitos leem e leem a Bíblia e não percebem isso, buscam nos textos sagrados o que eles nunca disseram. O único final feliz está no perdão espiritual que Jesus nos dá, e isso foi conquistado com o pior dos finais de história de todos os tempos, a tortura e a morte de cruz do homem mais justo de todos, o desprezo da humanidade, principalmente de um povo que tanto deve a Deus, a começar por simplesmente ser um povo, o povo judeu, ao filho desse Deus, que só fez o que fez para salvar esse povo. 
      Existir neste mundo é carregar um fardo que é só a dor insolúvel de viver, enquanto isso nos apaixonamos, pela garota, pelo garoto, pela música, por uma profissão, pelos filhos, pela igreja, por nós mesmos, por um cachorro, por uma taça de bebida, por um prato de comida, por um carro, pela Bíblia, pela religião, pela literatura, por um autor, por um compositor, por um ator, por um diretor, por um amigo, pela natureza, pelas manhãs, pelos entardeceres, pelas noites, pelo sol, pela lua, pelas estrelas, pela morte, por Deus. Eu cheguei ao nível final do jogo da vida, sou apaixonado por Deus, e isso é maior que tudo, é melhor que tudo, a dor ainda existe, e sempre existirá. 
      Contudo, olhar para o Deus verdadeiro, sem os filtros da religião, do cristianismo, dos loucos que buscam a Deus mas de fato não o querem, querem aquilo que querem que Deus seja, assim querem ídolos, não Deus, olhar para a luz pura e altíssima do Senhor me dá forças. Não são forças para fazer milagres, para mover uma montanha daqui para lá, para ressuscitar mortos, mas forças para acordar de manhã, respirar fundo e não me entregar às trevas, o que são as trevas? Trevas é a loucura, os extremos, os dois extremos, tanto dos que odeiam Deus quanto dos que o idolatram. Deus não quer se idolatrado, ele não precisa disso, idolatrar Deus é prendê-lo numa estátua, seja de gesso ou de ideologias, Deus é livre e quer nos fazer livres, ser livre é seguir com o fardo da dor, sem negar o fardo, sem buscar um remédio impossível para ele, mas continuar caminhando com ele, rumo a Deus. 

José Osório de Souza, outubro de 2019

29/10/19

Aos sessenta anos: perguntas que faço

      Hoje, 29 de outubro de 2019, completo sessenta anos de vida, com essa idade ainda não achei respostas para muitos questionamentos da vida, contudo, penso que tenho aprendido a fazer as melhores perguntas, aquelas que de fato podem me levar a um entendimento do porquê da existência.

- Qual o verdadeiro motivo de eu estar aqui neste mundo, para que nasci? A conclusão que cheguei é que estou aqui para ser grato, para adorar a Deus por tudo que sou e tenho, tudo foi motivo para eu ver a luz de Deus mesmo em meio a tanta treva, para provar seu amor, apesar de mim, apesar de tudo. 

- Por que Deus me ama tanto? Tanta coisa aconteceu, eu errei tanto, sofri e fiz sofrer, tantas expectativas nunca foram realizadas, tantas portas que nunca se abriram, mas ainda assim Deus cuidou de mim e de meus próximos, dando sempre mais que eu merecia, ter consciência disso pode ser a maior bênção da vida. Mas porque de fato Deus me ama, nunca saberei. 

- Como Deus demonstra esse amor? Não é da maneira como muitos acham, e se equivocando muitos acabam caindo em duas armadilhas principais, ou se tornam presas de heresias, ou se tornam cativos do ódio contra o Deus do cristianismo, as duas coisas são mentiras, a verdade é que Deus mostra seu amor aos simples, aos esforçados, aos equilibrados, aos que se perdoam e aos outros perdoam, aos que não esperam de si e dos outros mais do que podem esperar, quem vê o natural como extraordinário verá sempre o amor de Deus e a ele será grato, que vê o amor de Deus conhece a Jesus. 

- O que há de tão especial em Jesus? Não é o que ele disse, por mais profunda e verdadeira que tenha sido a sabedoria que ensinou, não é a espiritualidade superior que ele revelou em sua vida, mas é para que ele morreu e como ressuscitou, isso faz dele o salvador único. Quem entende Jesus como o Cristo entende que é pecador e que precisa de salvação, que busca a verdadeira salvação conhece a Jesus. 

- E as outras religiões, não são verdadeiras também? Podem até ser, mas em parte, não no todo, não no centro, pois mostram frações que explicam a razão da existência humana e do mundo espiritual, só pedaços. A verdade que mais importa, que de fato nos conduz diretamente a Deus só existe em Cristo, a verdadeira religião é Jesus, morto e ressuscitado, para salvar aqueles que o aceitam como único salvador. 

- Mas se o cristianismo é tão especial por que as igrejas cristãs e os cristãos erram tanto e em nome de “Deus”? Porque Deus não deixou um representante oficial seu na Terra, a não ser o Espírito Santo e esse não é propriedade exclusiva de ninguém, ainda que muitos provem dele. Deus usa o cristianismo, usa as igrejas, mas esses não podem usar a Deus, assim nós devemos buscar a Deus em primeiro lugar, não as igrejas ou as religiões. 

- Então não devemos frequentar igrejas? Devemos sim, para abençoar e ser abençoado por pessoas, já que Deus se revela para nós e também para muitas outras pessoas, o tanto quanto isso é humanamente possível, num convívio humilde aprendemos principalmente a amar e só amamos convivendo, não nos isolando. Todavia, nossa melhor comunhão com Deus deve ser a privada, aquela no escuro de nosso quarto, é dessa relação que devemos depender, lançando toda ansiedade aos pés do Senhor, provando tudo no Espírito Santo, clamando pela palavra final que vem de Deus, não de homens. 

      Conclusão: tudo começa, se processa e se encerra no amor de Deus, numa iniciativa divina de salvar o homem, ainda que muitas coisas Deus não mude e pelas quais permita que passemos, Deus cuida dos que respondem sim ao seu chamado de amor em Jesus e seguem fieis, aconteça o que acontecer. 

28/10/19

Seja luz

      “Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.Mateus 5.14-16

      Seja luz, sem medo e com elegância, mas isso nem precisa ser dito, quando é luz de verdade é sempre corajosa e elegante. Luz é tudo o que permite que a realidade seja vista, ouvida, sentida, tocada, que mostra mais que as obras, mas os frutos delas, de forma que conseguimos discernir o bem e o mal. Todavia, precisamos entender que nem sempre o que lança luz é entendido, apreciado, honrado, ainda que seja corajoso e elegante. Nem todos gostam de ser revelados, assim muitos fogem da luz, ainda que se vistam de religiosidade, por isso os fariseus odiaram tanto a Jesus, por isso João Batista perdeu a cabeça, os hipócritas não gostam de quem lança luz em suas obras, eles preferem permanecer escondidos na mentira. 
      Pessoas do mundo não gostam da luz espiritual? Viciados e cruéis fogem da luz moral? Sim, mas esses são habitantes assumidos das trevas, contudo, outros vivem no meio do caminho, na cor cinza que mostra em parte e esconde em parte, esses são os piores inimigos da luz. Não foram as trevas que entregaram Jesus à morte, mas foram os da luminosidade cinza, os do meio, que se diziam religiosos e tementes a Deus, foram os judeus que escolheram Barrabás. Mas se você ama de fato a Deus, seja luz, e ser luz não é só ministrar louvor na igreja, pregar e ter cargos em ministérios, o ser humano pode mostrar a luz divina em muitas outras áreas. 
      Quando você desempenha o seu talento, um talento verdadeiro e não falsificado, mostrando seu melhor do melhor no melhor, isso é, esforçando-se para fazer o melhor na melhor hora e lugar, mesmo na arte ou na ciência, você está sendo luz. Um bom profissional é sempre luz, um bom professor, é uma das luzes mais fortes, um bom pai, uma boa mãe são luzes que têm prioridade diante de Deus. Contudo, o lugar mais difícil de se ser luz é no meio familiar, entre irmãos, cunhados, primos, tios, esses acham que nos conhecem intimamente e sempre desconfiarão de nós, duvidarão de nossas intenções, desacreditarão de nossa luz. Nem Jesus foi honrado em sua terra natal. 
      A luz mais poderosa, todavia, é natural, acende com simplicidade e é constante, essa luminosidade não pode ser falsificada, manipulada, ela não é forçada, ela é simplesmente consequência de uma vida diária, comum em todos os lugares e com todas as pessoas. Atores “espirituais” não têm essa luz, e como existem atores nas igrejas, principalmente nos ministérios de música, e depois no da palavra, gente que interpreta personagens, personagens que são cópias do que as pessoas queriam ser, ou do que elas acham que outros querem que elas sejam. A “luz azul (neon)” é fogo estranho no altar, que glorifica homem e diabo, não a Deus, tenhamos muito cuidado com ela. 
      Essas falsas luzes, azuis brilhantes, belas se vistas sem cuidado, são sedutoras, dramáticas, podem levar muitos às lagrimas, contudo, são invenções da psiquê humana, ainda que também possam ser profundamente influenciadas pelas trevas mais densas. Lúcifer, quando aparece de anjo de luz, tem uma luminosidade assim, fantástica, que pode enganar mesmo a escolhidos que não estiverem vigiando no Espírito Santo. Assim, cautela e atenção, nem tudo que reluz é ouro, como se diz, nem toda luz com alguma beleza é de Deus, nem todo que se diz ungido, o é no Senhor. Busquemos a luz verdadeira de Deus, com todo o nosso coração, guardemo-la e a mostremos sem receio. 

27/10/19

Isaías 55

      Os treze versículos do capítulo 55 do livro do profeta Isaías é um texto rico que nos ensina várias lições:

      “O vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a gordura. Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as firmes beneficências de Davi.

      O que realmente alimenta nossa alma? Feliz o que satisfaz-se com o alimento de fato espiritual, esse alimento Deus dá de graça. Contudo, muitos perdem a vida, tempo e energia, ganhando dinheiro para comprar o que menos pode alimentar o melhor de nós, nosso espírito, que viverá eternamente com Deus. O texto acima nos faz um alerta, “comei o que é bom, ouvi e vossa alma viverá”, paremos então de encher nossos estômagos de porcarias e alimentemo-nos com a presença do Senhor, paremos de ouvir também tanta bobagem e ouçamos a voz de Deus. Se temos direito a uma aliança divina, porque temos que nos gastar com alianças que a nada levam? Alianças com o mundo, com o homem, mesmo com a religião? 

      “Eis que eu o dei por testemunha aos povos, como líder e governador dos povos. Eis que chamarás a uma nação que não conheces, e uma nação que nunca te conheceu correrá para ti, por amor do Senhor teu Deus, e do Santo de Israel; porque ele te glorificou.

      Deus honrou a Jesus, ele chama a todos à salvação e todos se quebrarão diante dele, mas Deus também nos chama à honra, não necessariamente como achamos ou como os homens acham que seja honra, mas de uma coisa precisamos ter certeza, Deus quer que todos os seus filhos sejam humildes, mas não os quer em posição de humilhados, Deus tem a porção certa, no lugar e no tempo certo, de honra para todos nós. 

      “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar.

      Outra chamada de atenção o texto acima nos faz, e uma muito séria, “busquemos a Deus enquanto ele pode ser achado”, mas neste muito, em algum momento Deus nos priva de atenção e salvação? Não, enquanto há vida, há esperança, contudo, nossas almas, podem errar tanto, sofrerem tanto, que acabam consumidas por rancores e remorsos, isso pode-nos levar à cegueira e à surdez espiritual, assim, mesmo que Deus apareça e nos chame, nós não vemos e nem ouvimos, essa é a situação de sentir que Deus não se pode mais achar e está muito distante. A verdade, contudo, é uma, neste mundo os que buscam e creem recebem cura e consolo do Senhor. 

      “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos.

      Se nossa fé é colocada só em nós mesmos, nos fazemos nossos deuses, como tais terão os limites que nós temos, muitos acham que buscam e creem em Deus mas creem no ser humano, neles mesmos e nos outros homens, assim esperam menos, creem menos, amam menos, simplesmente porque têm referências erradas. Só o Espírito Santo para nos fazer entender, sentir, crer e experimentar as referências de Deus, e elas são infinitamente maiores, abundantemente melhores, maravilhosamente mais altas, todas, em todos os sentidos e em todas as áreas, mas repito, ainda que não sejam as medidas de Deus como muitos pensam que são. 

      “Porque, assim como desce a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir, e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que come, assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei.

      A palavra tem poder, Jesus é o verbo de Deus, assim ele é a palavra de Deus, Jesus estava presente na criação e está na atuação do Espírito Santo em nossas vidas hoje. Deus nunca joga palavra fora, a palavra de Deus nunca é vazia, ao contrário de nós que falamos e falamos e não cumprimos o que falamos, se o Deus verdadeiro falou, a palavra se cumprirá, em algum momento, em algum local. A nós cabe caminhar com simplicidade e sincronicidade com o Espírito Santo para que experimentemos aquilo que muitos chamam de milagre de Deus no tempo e no lugar certo. Contudo, muitos esperam uma palavra que nunca se cumprirá, porque a despeito do que pensam e do que outros dizem, esperam numa palavra que Deus nunca disse. Pobres os que fizerem promessas aos homens no nome de Deus quando Deus não mandou que fizessem, esses terão maior juízo que os promíscuos e imorais, porque não pecaram só contra a carne, seus corpos, mas contra o Espírito de Deus. 

      “Porque com alegria saireis, e em paz sereis guiados; os montes e os outeiros romperão em cântico diante de vós, e todas as árvores do campo baterão palmas. Em lugar do espinheiro crescerá a faia, e em lugar da sarça crescerá a murta; o que será para o Senhor por nome, e por sinal eterno, que nunca se apagará.

      Esse maravilhoso texto de Isaías encerra-se com lindas e poéticas promessas, ainda que reais, sairemos e caminharemos em paz, não por discórdia ou humilhados, mas na luz, seguindo o Deus de paz que transforma espinheiro em faia, sarça em murta. O que teme a Deus de verdade prova o melhor deste mundo e do próximo, porque vê e sente diferente, vê com os olhos do Espírito Santo e sente com o novo homem que é construído nele a partir de Jesus. O que anda com o Senhor glorifica a Deus e cumpre o plano cósmico vencedor, que o conduzirá a uma paz eterna. 

26/10/19

Vítimas?

      De todos os tipos de teimosos, que insistem em não querer mudar de vida, em resolver de fato seus problemas, os que se fazem de vítimas são os piores. É gente tão complicada que muitas vezes é melhor nem se aproximar, se de fato não tivermos orientação de Deus para isso, podemos acabar sendo tratados como agressores, e não como amigos. Os que se fazem de vítimas têm a habilidade de inverter a situação, interpretam as coisas ao contrário da verdade, sempre se tornam vítimas, e os outros, agressores, eu sei disso, joguei esse jogo desleal por muito tempo em minha vida. Joguei porque tinha motivos, não justificações, mas explicações, já que de fato fui vítima de agressor por muito tempo, e também é assim com muitos que se fazem de vítimas, eles de fato foram vítima em algum momento. 
      Essa realidade é a que dá aos auto-vitimizados legitimidade para continuarem se colocando como injustiçados, como perseguidos, como pobres vítimas, contudo, diante de Deus, isso não basta pra que ninguém tenha justificativas para se colocarem o tempo todo como coitados, para não assumirem seus erros, e principalmente, não é motivo para tratar os outros injustamente. Por os maiores agressores foram as maiores vítimas, mas vítimas que não se resolveram em Deus, infelizmente, o meio das igrejas cristãs está repleto de gente que achou na vitimização uma cama, se deitou nela e nunca mais se levantou. Não temos culpa de alguém dizer que não servimos pra nada, mas somos culpados por passar toda uma vida acreditando nessa mentira.
      Deus não quer isso pra ninguém e a todos dá condições de virar o jogo e vencer a violência que sofreram e lhes impôs uma condição inicial de vítimas, basta que queiram e creiam. Contudo, uma condição instalada por muito tempo, mesmo que ruim, pode se constituir em identidade, forte, que define a pessoa, que lhe dá motivos, ainda, que mórbidos, para viver. A grande vantagem desse estilo doentio de vida é que compensa os próprios erros, nada que se faça é pior que o que a eles foi feito, assim tem-se desculpa para errar, e quando alguém é magoado diz-se a si mesmo, “me magoaram muito mais que isso, é frescura”. Os insensíveis são justamente as grandes vítimas, sofreram tanto que não acham mais legitimidade no sofrimento alheio.
      Contudo, se é preciso humildade para se assumir que se agrediu alguém, e então buscar, receber e se apossar de perdão, é preciso muito mais humildade para deixar de se por como vítima, isso porque a vítima já se considera humilde o suficiente. O começo do processo de cura é perdoar o agressor original, isso não significa ter de conviver de perto com ele, aliás muitas vezes é preciso se afastar e muito. Mas mais que distância física, é preciso distância emocional, tirar de vez o agressor do coração, perdoá-lo, deixá-lo ir, para sempre. Quando isso é feito, o mal é anulado na raiz e o sentimento de vitimização começa a perder o sentido, torna-se menor, desnecessário.
      Depois é preciso construir em si mesmo uma identidade sadia, suficiente, forte, não precisa ser alguém obsessivamente grande, mas equilibrado, o suficiente para produzir uma vida independente, responsável, liberto do passado e sem necessidade de prender outras pessoas em cárceres como novos agressores. É preciso se libertar do vício da auto-vitimização que a partir do primeiro agressor sempre tinha a necessidade de criar novos. Para muitos o agressor é algo muito grande, maior até que Deus, mas esse agressor só pode ser destronado com perdão, não com violência. Muitos passam a vida assim, colecionado agressores, substituem pai ou mãe por marido ou esposa, marido ou esposa por outros maridos ou esposas, por chefes, por pastores e assim vai.
      Nessa libertação a pessoa aprende a tomar iniciativas de fato positivas, pois o que se faz de vitima sempre exige que os outros façam por ele, que os outros o beneficiem de algum maneira, achando-se no direito de podem permanecer passivos só “curtindo” a dor a auto-comiseração. Por último devemos admitir que como outros nos agridem, nós também agredimos a outros, e muitas vezes de maneira absolutamente injusta, cega, só por mera vingança. Aliás, no coração do auto-vitimizado nasce todo tipo de mal, vingança, inveja, ódio, mentira, que ele não chama de agressões, mas de dores com bons motivos para existirem. Um dos principais males de se auto-vitimizar, todavia, é não conseguir entender e experimentar a salvação de Jesus, só Jesus foi vítima de verdade até o fim, e o foi para nos salvar. 
      Na verdade o que se auto-vitimiza não sente de fato a necessidade de redenção, ainda que ame frequentar cultos e missas, que seja um religioso devotado, que tenha empatia com o cristianismo, principalmente com aquele que celebra o Cristo homem sofredor na cruz, mais que o Cristo Deus ressuscitado e salvador. Sim, as duas coisas são facetas do verdadeiro evangelho, mas o que se arrepende e se vê como pecador vivencia e celebra o Cristo Deus Salvador eterno, pois sabe que sem ele não tem cura, não tem perdão, não tem paz. Não posso encerrar esta reflexão sem compartilhar o texto de Isaías 53, onde o profeta prediz em detalhes o sofrimento da obra messiânica de Cristo e nos fala sobre toda a dor de uma verdadeira vítima. 

      “Porque foi subindo como renovo perante ele, e como raiz de uma terra seca; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos. Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. 
      Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos. Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca.” 
Isaías 53.2-7