09/03/20

Estar, não o ter ou o ser

      “Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito.” João 15.7

      Não entendemos este versículo corretamente, achamos que o direito máximo de quem obedece a Deus é ter crédito para poder pedir tudo a ele e receber. Isso é uma interpretação materialista e imatura, razão pela qual muitos depois de passarem anos tentando seguir sua religião ao verem que ainda assim não têm certas situações resolvidas em suas vidas, acabarem desistindo, ainda que secretamente, do evangelho. O Deus verdadeiro não dá orientações erradas, quem dá são os homens, ainda que ilegitimamente, em seu nome, assim, se nossa vida cristã não funciona é porque estamos seguindo a homens, não a Deus. O que Jesus quer nos ensinar com o texto é simples, quem está em Deus e tem as palavras de Deus nele não precisa de mais nada, na verdade nem pede, pois já recebeu tudo, antes só agradece em plena serenidade. Quem já tem tudo não precisa pedir nada, assim liberta-se da aflição de se ver em falta, da expectativa de esperar para receber, e mais, da curta alegria de se sentir satisfeito, tudo isso só faz sofrer. 

      Ser forte, ser santo, ser sábio, enfim ter frutos de um andar com Deus e de exercer uma grande fé, não é não ter problemas ou inimigos, mas é ter através de Deus o conhecimento dos problemas e dos inimigos a tempo de resolvê-los e vencê-los da maneira correta. Aprendemos que o fruto do que anda com Deus não é não ter problemas ou inimigos, mas é poder adorar a Deus por receber dele a solução e a vitória.
       Mas eis um entendimento superior, o melhor de andar com Deus é estar em Deus, com ele não importa ter ou não ter, problemas ou inimigos, e na verdade nem importa ter ou não ter soluções e vitórias. Quem anda com Deus não se encanta com vitória nem se frustra com derrota, antes sabe que tudo isso é ilusão, ele só tem paz e satisfação na realidade única que é Deus. A maior fé não é ser ou ter, mas estar em Deus.
      Se até agora você aprendeu que precisava andar com Deus para ter isso ou ser aquilo, entenda que em Deus já temos e somos tudo o que precisamos. Se até agora buscou a Deus para ter solução e vitória, aprenda que em Deus ter solução e vitória ou não ter tanto faz, todas as nossas soluções e vitórias existem no simples fato de andarmos com Deus e adora-lo como tal, isso é fazer a vontade do pai e exercer fé.
      Jesus sabia desde o início de sua caminhada como homem, que não teria de Deus solução de seu maior e pior problema, que o pai não lhe daria vitória sobre seus inimigos derradeiros, ainda assim pregou livramento pela fé num Deus que tudo faz pelos que ama. Jesus encarnado vivia em plena tranquilidade pois sabia que sua paz era fazer a vontade de Deus, independente de ter ou não problemas e inimigos.
      Deus não é algo que devemos conquistar ou um lugar em que devemos chegar, é um estado em que estamos, independente do que temos ou somos. Deus não está num passado melhor, num futuro sonhado, por um bem que tínhamos ou por uma riqueza que teremos, Deus é, eterno presente, sem tempo e sem espaço. Andar com Deus não é resultado de trabalho de anos, mas de uma escolha inabalável aqui e agora.
      Desprender-se de vaidades e desapegar-se de bens, libertando-se do “eu era, eu sou, eu serei” e do “eu tinha, eu tenho, eu terei”, é entender o Deus “Eu Sou” e “Eu tenho tudo sempre” que nada é sendo tudo e tudo tem tendo nada, o incognoscível aos nossos sentidos físicos, a realidade espiritual para nossas ilusões materiais. Deus nada é pois é inefável por nossas referências, e nada tem porque nada precisa para ser.

07/03/20

Vida, movimento, extremos, equilíbrio

      “Não digo isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade.Filipenses 4.11-12

      Morrer em nome de “Deus” é tão equivocado quanto matar em nome do “diabo”, ou o inverso, o mal está nos extremos. Achar que vai perder alguma proteção, algum direito, se faltar a um culto, a uma missa, é tão vício como não conseguir ter satisfação se não encher a cara de cachaça ou o nariz de cocaína. Somos servos de quem dependemos. Ser ateu ou materialista é tão insensato quanto achar que pela fé tudo é possível, seja onde for que coloquemos a fé. Estou falando aqui de extremos, Deus e os “diabos”, contudo, não precisam de harmonia, são o que são e convivem em equilíbrio, quem precisa de harmonia somos nós.
      A harmonia existe no equilíbrio entre extremos, é no balançar do pêndulo uniformemente de um lado para o outro, sem parar, que se acha, em algum momento, o ponto do meio, se o pêndulo parasse num lado não haveria harmonia, assim é preciso que haja movimento para um e outro extremo, para que exista, em algum momento, um equilíbrio. Harmonia é eterna, é lei universal, assim não demonizemos os extremos nem divinizemos o meio, fazem parte dela que existe por si só e é perfeita. Quem precisa aprender a administra-la somos nós, seres humanos, em nossos corpos, em nossas almas, em nossos espíritos.
      Equilíbrio estagnado (morto), eternamente, é impossível, se há vida, há movimento, se há movimento há extremos, e se há extremos num determinado momento se chega a um ponto de equilíbrio. Para existir harmonia é preciso que haja tudo isso. Se todo o universo funciona assim, por que achamos que nós devemos ser diferentes? Se movimento e extremos são sem início, sem fim e inalteráveis, como achar harmonia dentro de nós mesmos em momentos quando não existe equilíbrio? Em Deus, simples assim, o ponto não é como achar harmonia, mas como se achar em Deus.
      O movimento universal interrompe-se quando pousamos nossos seres em Deus? Não, mas nós achamos serenidade ainda assim, independente dos extremos e mesmo do equilíbrio. Estou filosofando demais, cristão, você não está entendendo o que é esse movimento universal? Vou explicar. Quando você se empolga com algo bom, ou quando se deprime com algo ruim, isso é o movimento, quando seu país está numa boa fase econômica ou quando está numa ruim, com gente perdendo empregos e poder aquisitivo, isso é o movimento, em seu psicológico e no mundo material ele impera.
      Contudo, quando você experimenta a presença poderosa o Espírito Santo te dando um consolo e um livramento e quando se sente oprimido por potestades demoníacas, isso também é o movimento universal. Ele ocorre em todos os planos, físico, emocional e espiritual, afeta a tudo e a todos. Em todos os homens, em todas as nações, na história da humanidade, assim como no mundo espiritual de anjos, arcanjos, potestades e príncipes diabólicos, esse movimento acontece, por isso apoiar-se em qualquer um deles é buscar o sofrimento, eles variam conforme o movimento, o constituem, Deus não.
      Como viver em Deus? É simples mas não é fácil, pelo fato de nos deixarmos iludir facilmente pela posições do pêndulo, algumas vezes achamos prazer na extrema direita, outras vezes na extrema esquerda e outras vezes no centro (e eu não estou falando necessariamente de ideologias políticas). Mas tudo isso é ilusão, mesmo o êxtase que sentimos quando participamos de um culto que achamos abençoado, é, e é ilusão porque passa, Deus não passa, ele é eterno. Viver em Deus é não se distrair com nada, nem com o ruim, nem com o bom, nem com o dia, nem com a noite, nem com o ter, nem com o não ter.

06/03/20

Saber começar e saber terminar

      “Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.Eclesiastes 3.1

      Existem vários segredos de felicidade na vida, todos eles, mesmo em áreas diferentes, são eficientes porque conduzem à harmonia. Saber quando começar algo e quando terminar, fazendo cada coisa no momento certo, isso é um dos segredos. Para começar um projeto é preciso ter uma mistura de coisas, competência para se fazer, paixão pelo que vai se fazer, noção da realidade, do onde e de quando fazer. Não basta ter jeito, é preciso sentir prazer em fazer algo, mas não bastam talento e amor, é preciso por os pés no chão e viabilizar o projeto no mundo real, assim atuam juntos coração com racional, prazer com a consciência do trabalho duro. É claro que na maioria das vezes começamos jovens, e jovens não têm certas noções, contudo, com paixão e com trabalho as coisas são realizáveis, ainda que não saibamos bem o que estamos fazendo as coisas acabam se ajeitando e funcionando.
      Saber terminar é saber encerrar um projeto, algo que fez parte do plano maior de Deus para as nossas vidas por anos, mas que mesmo bem sucedido e legitimamente aprovado por Deus, entendemos que tem prazo de validade. Tudo nesta vida tem prazo de validade, compreender isso é alcançar um nível alto de espiritualidade, se isso for aceito com humildade e em paz, não com mágoas ou frustrações. Saber terminar, mais até que saber começar, é compreender a essência de nossa humanidade, de nossa materialidade. Não, encerrar algo não é morrer, o homem nunca morre, mesmo com o desligar do corpo, a vida é eterna, isso se o espírito mantém ao menos uma paixão, não pelas mulheres, pelos homens, pelos filhos, pela arte, pelas viagens, pela comida ou pela bebida, mas a paixão por conhecer a Deus. O que nos faz eternos é mantermos acessa nossa paixão pelo Deus altíssimo.
      Por que é preciso encerrar certas coisas? Porque nosso corpo e nossa alma se cansam, e fracos não retêm mais o melhor da vida, o melhor de Deus. Vejamos os artistas, músicos e escritores, enquanto produzem algo novo encantam as pessoas, carregam uma “unção” que as toca de forma inexplicável, principalmente aqueles da mesma geração que eles. Contudo, ainda que compositores sejam geniais, que criem algo inédito e tocante, num determinado momento de suas carreiras eles começarão a ser repetitivos, assim como as novas gerações poderão não ver neles a magia que as outras gerações viam. Sim, gênios são aqueles que conseguem criar obras eternas, que agradarão a muitos por muito tempo, mas mesmo eles têm fases criativas com início e com fim, isso acontece mesmo com músicos cristãos, cuja arte é ferramenta para palavras eternas, não só para romances humanos.
      Deus não envelhece, nem perde a novidade, mas nós não somos Deus e nem precisamos ser (ao menos não neste mundo). Assim, ninguém se iluda achando que se crer e obedecer a Deus terá para sempre uma unção que tanto faz brilhar nos púlpitos quanto entrega um produto diferenciado nos negócios seculares, não é assim, e não é pelo que depende de Deus, mas pelo que depende de nós, vasos de barro. Unção, que tantos espiritualizam tanto, não é a presença de Deus, mas a maneira como os homens, em seus sentimentos, pensamentos, em seus corpos, nas palavras, gestos e outros sentidos, exteriorizam essa presença, e isso é muito subjetivo. O que fala mais alto e com mais emoção, não é necessariamente o que tem mais unção, mas é o que pode (e eu disse pode) estar manifestando a presença de Deus só à sua maneira, a maneira humana e pessoal, nesse caso, falando mais alto e com mais emoção. 
      Não meçamos unção pela maneira que os homens falam e agem, pelo exterior, muitas vezes uma presença real de Deus é exteriorizada de forma discreta, em voz baixa e mesmo com sentimentos contidos (aparentemente não “pentecostal”). Mas mesmo vivenciando uma comunhão real e profunda com Deus, com o passar dos anos perdemos a vitalidade para expressar isso, assim é preciso sair e dar espaço aos jovens. Isso não se refere só a trabalhos ministeriais do evangelho, mas o filho de Deus acha unção também para levar seu trabalho secular, sua empresa, seus negócios, e muitos já receberam aviso de Deus para fechar as portas e por falta de fé ou por ganância ainda insistem em fazer algo que não está mais funcionando. Os tempos são difíceis, isso é fato, e para todos, mas Deus pode nos sustentar com um projeto novo e que não exija de nós o que podíamos dar quando éramos mais jovens. 
      Saibamos encerrar um projeto, como quem encerra um romance, com um final surpreendente e positivo, que entrega aos leitores uma experiência única e marcante. Outros vão criticar? Vão, mas que eles escrevam suas histórias e que elas sejam úteis nas vidas das pessoas, no final todos os escritores darão satisfação ao maior de todos os escritores, que escreveu nossas vidas no universo, que sempre nos livrou dos dramas intermináveis e que nos surpreendeu com uma virada maravilhosa no trama da existência. Na verdade quem permite que Deus escreva sua vida sabe ler as vidas dos outros com generosidade, esses descobriram a grande lição de nossas histórias, aprenderam com elas e são seres humanos melhores. Esses souberam começar e terminar, não foram indolentes ou covardes, nem irresponsáveis ou insensíveis, mas deixaram no mundo uma história singular e com final feliz. 

04/03/20

Gotas

      “Goteje a minha doutrina como a chuva, destile a minha palavra como o orvalho, como chuvisco sobre a erva e como gotas de água sobre a relva.Deuteronômio 32.2

      Pior que ser destruído por um inimigo é ser ajudado por um desafeto; se tiver oportunidade, não enfatize os defeitos de quem não te gosta, mas separe suas qualidades e exalte-as. 
      Quem muito se explica, nada diz, nem todas as palavras do mundo bastam para aliar sabedoria ao tolo; o sábio fala a verdade com poucas palavras, mesmo o silêncio pode lhe bastar.
      A casa do que teme a Deus é guardada pela paz, as trevas não amedrontam o que tem luz dentro de si; o tolo, ainda que sob muitos holofotes, teme não receber aplausos suficientes.
      Na solidão o sábio acha a verdade, já o tolo, sozinho só encontra tristeza; na multidão o sábio se cala, ouve e espera, o tolo tenta se sobressair com gritos e não ouve nem a si mesmo. 
      Todo dinheiro do mundo não basta para quem tem coração vazio, todo vazio dos mundos não é suficiente para derrotar o justo, a espada do Espírito arma-o para vencer legiões.
      Não há espaço vazio no universo, o que tem olhos espirituais vê tudo e transpassa espíritos corajosamente; os cegos, porém, ficam paralisados de medo ainda que não vejam nada.
      Os que querem a verdade, a encontram, acordam e descobrem que são só alunos iniciados; os que se acham mestres dormem na mentira e sonham que sabem toda a verdade.
      Feliz o que coloca seus pés na rocha que é Jesus, esse não temerá as mentiras, não fugirá da verdade, e ainda que caminhe solitário terá a amizade do pai das luzes, o Deus altíssimo.
      Após a morte há poucas e maravilhosas surpresas para o que busca a luz alta de Deus, mas há muitas e terríveis surpresas para o que se acomodou com as luzes artificiais de homens.
      “Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai, quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” (Mateus 13.43), quanto aos ímpios terão o inferno que trouxeram consigo.

02/03/20

Viver é melhor que falar

      “Na multidão de palavras não falta pecado, mas o que modera os seus lábios é sábio.” Provérbios 10.19

      Um dia eu vi que mostrar o erro é menos importante que fazer o certo, que praticar é melhor que falar, que a ação privada é mais alta que a crítica prolixa. Um dia eu escolhi viver e parar de comparar, percebi que era melhor fazer a minha parte que exigir que os outros fizessem a deles, entendi que na exigência jogo a responsabilidade para os outros e perco tempo, ao invés de tomá-la para mim e usar melhor o tempo. 
      Não, caminhar assim não é fácil, mas é o melhor, a opção que se apresentou naturalmente para mim nesse momento de minha caminhada, momento para o qual o Espírito Santo me atraiu. Mas eu não tive outra escolha, caso contrário minha vida se tornaria repetitiva e na repetição, mesmo de coisas que um dia nos deram prazer e pelas quais fomos apaixonados, existe tédio e no final sempre um novo sofrimento.
      Contudo, não fiz essa escolha para achar algo novo para me apaixonar, me dar prazer e me livrar de sofrimento, foi justamente para me libertar das paixões e da paz aliada à existência de prazer, seja ele qual for. Não nego com isso meu caminho anterior, assumo cada palavra dele, ele só construiu a escada que me levou a esse degrau superior, degrau que eu não alcançaria sem ter sido e tido tudo o que fui e tive. 
      A mim agora cabe vigilância, mente concentrada que acha iluminação espiritual no Espírito Santo de Deus através de Jesus, nisso conhecerei de fato o que Cristo mostrou quando viveu como homem encarnado. Jesus não só executou a redenção, mas também mostrou como viver como redimido, não pela velha aliança nem pelo que muitos, mesmo na nova aliança, entenderam como é viver como redimido. 
      Se eu quero entender toda a vontade de Deus para minha vida cabe-me estudar a vida de Jesus, suas palavras diretas, suas ações e suas reações, seu dia a dia, suas relações com amigos, com inimigos, com família e com Deus. Em Jesus está tudo o que preciso saber sobre tudo, ele é o verbo de Deus, está desde o início da criação com o pai, e até o fim com o universo, com a humanidade, com os seres espirituais.
      Falar demais é ser eco de ouvir demais, ouvimos várias vozes, a maioria é egoísta, quer liberdade para falar aos outros, assim nos tornamos escravos de vozes do mal, que ainda que disfarçadas de sabedoria, não são de Deus. Quando nos concentramos para ouvir só a voz de Deus vivemos mais eficientemente, essa voz não escraviza, mas liberta, não necessita convencer os outros, mas gera em nós paz silenciosa e eterna.

29/02/20

Fé e frutos

      “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento, e não comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai; porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus suscitar filhos a Abraão.” Lucas 3.8

      Nossas crenças religiosas deveriam ser fundamentadas em dois únicos princípios: fé e frutos. Se esses dois princípios fossem experimentados em verdade de forma honesta, poderíamos chegar ao melhor e mais profundo conhecimento de Deus, do mundo espiritual e do espírito humano, assim como, como “bônus track”, adquirirmos uma vida harmoniosa e equilibrada com o mundo, com a natureza, com a sociedade, com nossos corpos e almas, enfim, com o plano físico em geral. Contudo, muitos focam demasiadamente no primeiro princípio, esquecendo-se de averiguar o segundo, ou cobram friamente o segundo princípio, sem dar ao primeiro a importância devida.
      Fé, porque ainda não se pode acreditar por se conhecer cientificamente em Deus (e talvez a humanidade nunca chegue a esse ponto), assim é preciso uma fé, a princípio, cega, e eu disse a princípio. Penso que o primeiro passo em relação a Deus é feito com uma fé fisicamente cega, que não vê mas também não sente e nem entende intelectualmente. Através de fé pode-se crer em qualquer coisa, pessoa, morta ou viva, ou entidade espiritual, isso é acima de tudo um direito de todo ser humano que ninguém deve proibir nem desrespeitar. Mas o segundo princípio é frutos, assim a fé ainda que inicialmente cega, deve ser aferida para sabermos onde ela nos levou, se dá frutos, e se são, ou deveriam ser, bons frutos. 
      Só os primeiros passos de uma experiência religiosa são por fé “cega”, porque a partir desses se frutos não forem constatados há de se fazer uma correção na fé, em quem ou no que se acredita ou em como se está crendo, o problema pode estar tanto no objeto da fé quanto no crente. Não coloque a culpa no Deus verdadeiro quando você pediu algo errado ou do jeito errado, também não se considere menos bom por estar, ainda assim, crendo numa mentira. Por outro lado não basta fé sincera e forte no Deus verdadeiro, se o que se espera com essa experiência é algo ilegítimo diante de Deus. Enfim, fé e frutos, um princípio medindo o outro, se tivermos essa honestidade acharemos o melhor no Deus verdadeiro.
      Infelizmente muitos não fazem as medidas desses princípios, o ser humano sempre acha mais confortável acomodar-se numa posição. Em termos de fé, se ela é uma tradição familiar, muitos preferem não desagradar pais, assim insistem em continuar crendo em algo que não os está levando a nada. Essa situação pode ser uma armadilha terrível do mal, pois as pessoas acreditam que ir contra o que os pais acreditam é desobedecer o “deus” de seus pais, assim preferem a hipocrisia e a incoerência que assumirem uma fé diferente daquela da tradição paterna. Mas o que muitos na verdade não entendem é que fé que leva a Deus não é simples convicção mental e emocional, não é força humana.
      A fé que conduz a Deus é graça divina, que deve ser pedida a Deus, e que só depois de recebida pode de fato nos colocar em comunhão, não com tradição religiosa, mas com o Deus verdadeiro. Essa fé dará frutos bons e que permanecem, diferentes de qualquer espécie de fruto que se provou usando energia humana para se acreditar em qualquer outro deus, entidade, homem, coisa ou seja lá o que for. Contudo, esse processo de fé e frutos não para na conversão e nas primeiras coisas que se recebe de Deus. O cristão deve continuar medindo fé e frutos, para prosseguir em sua caminhada, senão a qualquer momento pode ser presa de uma heresia que o congelará num degrau impedindo-o de continuar subindo.
      O texto inicial, dito por João Batista, deixa bem claro que tradição não salva, não basta dizermos que temos esse ou aquele direito porque somos filhos de Abraão, como diziam os judeus, ou porque somos protestantes ou católicos, ou filhos de protestantes ou de católicos, a fé deve ser aprovada por frutos. Ninguém tem posição especial diante de Deus simplesmente por manter uma tradição, é preciso ter uma experiência pessoal com Deus e essa experiência qualquer um pode ter. Essa experiência nos faz provar a verdadeira fé, aquela que é dom de Deus como ensina Paulo (Efésios 2.8), essa nos liga a Deus através de Jesus e permite que produzamos frutos de arrependimento.

28/02/20

Deus ou placebo? A natureza responde

      “Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.” Mateus 7.20-21

      Religião, é Deus ou é placebo? Será que isso importa? Mas aí teríamos que admitir que os fins justificam os meios, talvez o que o homem necessite seja só um lugar para colocar sua fé. Você, cristão protestante ou evangélico, se acha melhor? Acha que diferentemente de católicos e outros religiosos você coloca tua fé em algo superior, na verdade, em Deus? Pois nem é preciso um microscópio para aferir tuas crenças, a olho nu podemos verificar que muitos protestantes e evangélicos só seguem seitas, e não o autêntico evangelho de Jesus. Você discorda? Muitos creem porque não conhecem, não conhecem porque não gostam, não gostam porque não conhecem, e não conhecem porque acham que basta crer (não fui redundante, algumas pessoas é que são).
      Não confundamos as coisas, quem é incognoscível é Deus, não as religiões e seus líderes, quem se torna cada vez maior e mais profundo é Deus, não os homens, assim alegar que é preciso crer nas tradições, nas doutrinas, nos pastores e padres, sem fazer crítica, é um grande equívoco. Contudo, à medida que evoluímos no conhecimento de Deus, tudo o mais se torna menor, e aí, sim, podemos até fazer parte de religiões, de denominações e de igrejas, mas para abençoar as pessoas, não esperando que tudo isso tenha algo de fato excelente para nos guiar. Quem vive e adquire humildade compara teoria com prática e não se afasta de Deus, mas passa a não dar tanta importância a homens, aprende a diferenciar placebo psicológico de Deus, enquanto se fortalece ainda mais no altíssimo e se maravilha com sua verdade. Após essa palavra introdutória, vamos agora à reflexão.

      “Ouvi a palavra do Senhor, vós filhos de Israel, porque o Senhor tem uma contenda com os habitantes da terra; porque na terra não há verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus. Só permanecem o perjurar, o mentir, o matar, o furtar e o adulterar; fazem violência, um ato sanguinário segue imediatamente a outro. Por isso a terra se lamentará, e qualquer que morar nela desfalecerá, com os animais do campo e com as aves do céu; e até os peixes do mar serão tirados.” “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos.” Oseias 4.1-3,6

      A um país como o Brasil, onde existe uma quantia enorme de religiosos protestantes e evangélicos (se não for a maioria, ainda que a mídia e pesquisas oficiais digam que não), cristãos que acham que elegeram (enfim) um presidente que lhes é “simpático”, onde templos se enchem com música, onde ser crente virou moda e ninguém mais tem vergonha de se admitir como tal, a esse país fazemos uma pergunta: de fato temos na prática vidas de reais filhos de Deus? (E digo filhos no sentido doutrinário protestante-evangélico, onde se torna filho só o realmente convertido a Cristo). 
      A violência e a criminalidade aumentam dia a dia, os sistemas públicos de saúde, ensino, segurança e infra-estrutura básica de água, esgoto e energia, estão em estado lastimável. Zilhões de reais foram e são roubados sendo que poucos respondem judicialmente por isso, e em todas as esferas, não só na federal, mas nas estaduais e principalmente nas municipais. Não, a realidade do Brasil não mostra um país de maioria cristã (e é maior se juntarmos aos protestantes-evangélicos os católicos), mas revela um povo que está sofrendo o pesar da mão de Deu, pesar que se evidencia na natureza.
      Não, Deus não vai descer do céu e mostrar sua vontade (não ao menos por enquanto?), mas as chuvas fortes corroem as encostas montanhosos, destroem encanamentos e invadem as cidades, as matas são queimadas, o ar é poluído, e o homem, que por egoísmo e ganância usou suas riquezas para prazer e ostentação pessoal, colhe a “vingança” das forças naturais da Terra que nunca esquece o mal que lhe é feito. Se o apocalipse ocorrerá será por meio da natureza, ela sim pode fazer desse mundo um inferno, até que depois de milhares de anos se recupere e faça de novo da Terra um paraíso.
      O que as pessoas querem, Deus ou só um placebo no qual elas creem e acham satisfação? Bem, placebos podem até consolar a alma, e até curar o corpo, pois colocam em ação leis universais e poderosas, mas eles não são o Pai dos Espíritos. Como tais, não oferecem o que só Jesus dá, um contato direto com o Deus santíssimo e altíssimo que permite conhecimento e experiência diferenciados, superiores, que de fato conduzem o ser humano não só a uma vida satisfatória no plano físico, em harmonia com a natureza e com a sociedade, mas a uma eternidade em paz com o melhor de Deus.