sexta-feira, março 06, 2020

Saber começar e saber terminar

      “Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.Eclesiastes 3.1

      Existem vários segredos de felicidade na vida, todos eles, mesmo em áreas diferentes, são eficientes porque conduzem à harmonia. Saber quando começar algo e quando terminar, fazendo cada coisa no momento certo, isso é um dos segredos. Para começar um projeto é preciso ter uma mistura de coisas, competência para se fazer, paixão pelo que vai se fazer, noção da realidade, do onde e de quando fazer. Não basta ter jeito, é preciso sentir prazer em fazer algo, mas não bastam talento e amor, é preciso por os pés no chão e viabilizar o projeto no mundo real, assim atuam juntos coração com racional, prazer com a consciência do trabalho duro. É claro que na maioria das vezes começamos jovens, e jovens não têm certas noções, contudo, com paixão e com trabalho as coisas são realizáveis, ainda que não saibamos bem o que estamos fazendo as coisas acabam se ajeitando e funcionando.
      Saber terminar é saber encerrar um projeto, algo que fez parte do plano maior de Deus para as nossas vidas por anos, mas que mesmo bem sucedido e legitimamente aprovado por Deus, entendemos que tem prazo de validade. Tudo nesta vida tem prazo de validade, compreender isso é alcançar um nível alto de espiritualidade, se isso for aceito com humildade e em paz, não com mágoas ou frustrações. Saber terminar, mais até que saber começar, é compreender a essência de nossa humanidade, de nossa materialidade. Não, encerrar algo não é morrer, o homem nunca morre, mesmo com o desligar do corpo, a vida é eterna, isso se o espírito mantém ao menos uma paixão, não pelas mulheres, pelos homens, pelos filhos, pela arte, pelas viagens, pela comida ou pela bebida, mas a paixão por conhecer a Deus. O que nos faz eternos é mantermos acessa nossa paixão pelo Deus altíssimo.
      Por que é preciso encerrar certas coisas? Porque nosso corpo e nossa alma se cansam, e fracos não retêm mais o melhor da vida, o melhor de Deus. Vejamos os artistas, músicos e escritores, enquanto produzem algo novo encantam as pessoas, carregam uma “unção” que as toca de forma inexplicável, principalmente aqueles da mesma geração que eles. Contudo, ainda que compositores sejam geniais, que criem algo inédito e tocante, num determinado momento de suas carreiras eles começarão a ser repetitivos, assim como as novas gerações poderão não ver neles a magia que as outras gerações viam. Sim, gênios são aqueles que conseguem criar obras eternas, que agradarão a muitos por muito tempo, mas mesmo eles têm fases criativas com início e com fim, isso acontece mesmo com músicos cristãos, cuja arte é ferramenta para palavras eternas, não só para romances humanos.
      Deus não envelhece, nem perde a novidade, mas nós não somos Deus e nem precisamos ser (ao menos não neste mundo). Assim, ninguém se iluda achando que se crer e obedecer a Deus terá para sempre uma unção que tanto faz brilhar nos púlpitos quanto entrega um produto diferenciado nos negócios seculares, não é assim, e não é pelo que depende de Deus, mas pelo que depende de nós, vasos de barro. Unção, que tantos espiritualizam tanto, não é a presença de Deus, mas a maneira como os homens, em seus sentimentos, pensamentos, em seus corpos, nas palavras, gestos e outros sentidos, exteriorizam essa presença, e isso é muito subjetivo. O que fala mais alto e com mais emoção, não é necessariamente o que tem mais unção, mas é o que pode (e eu disse pode) estar manifestando a presença de Deus só à sua maneira, a maneira humana e pessoal, nesse caso, falando mais alto e com mais emoção. 
      Não meçamos unção pela maneira que os homens falam e agem, pelo exterior, muitas vezes uma presença real de Deus é exteriorizada de forma discreta, em voz baixa e mesmo com sentimentos contidos (aparentemente não “pentecostal”). Mas mesmo vivenciando uma comunhão real e profunda com Deus, com o passar dos anos perdemos a vitalidade para expressar isso, assim é preciso sair e dar espaço aos jovens. Isso não se refere só a trabalhos ministeriais do evangelho, mas o filho de Deus acha unção também para levar seu trabalho secular, sua empresa, seus negócios, e muitos já receberam aviso de Deus para fechar as portas e por falta de fé ou por ganância ainda insistem em fazer algo que não está mais funcionando. Os tempos são difíceis, isso é fato, e para todos, mas Deus pode nos sustentar com um projeto novo e que não exija de nós o que podíamos dar quando éramos mais jovens. 
      Saibamos encerrar um projeto, como quem encerra um romance, com um final surpreendente e positivo, que entrega aos leitores uma experiência única e marcante. Outros vão criticar? Vão, mas que eles escrevam suas histórias e que elas sejam úteis nas vidas das pessoas, no final todos os escritores darão satisfação ao maior de todos os escritores, que escreveu nossas vidas no universo, que sempre nos livrou dos dramas intermináveis e que nos surpreendeu com uma virada maravilhosa no trama da existência. Na verdade quem permite que Deus escreva sua vida sabe ler as vidas dos outros com generosidade, esses descobriram a grande lição de nossas histórias, aprenderam com elas e são seres humanos melhores. Esses souberam começar e terminar, não foram indolentes ou covardes, nem irresponsáveis ou insensíveis, mas deixaram no mundo uma história singular e com final feliz. 

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