sábado, fevereiro 29, 2020

Fé e frutos

      “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento, e não comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai; porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus suscitar filhos a Abraão.” Lucas 3.8

      Nossas crenças religiosas deveriam ser fundamentadas em dois únicos princípios: fé e frutos. Se esses dois princípios fossem experimentados em verdade de forma honesta, poderíamos chegar ao melhor e mais profundo conhecimento de Deus, do mundo espiritual e do espírito humano, assim como, como “bônus track”, adquirirmos uma vida harmoniosa e equilibrada com o mundo, com a natureza, com a sociedade, com nossos corpos e almas, enfim, com o plano físico em geral. Contudo, muitos focam demasiadamente no primeiro princípio, esquecendo-se de averiguar o segundo, ou cobram friamente o segundo princípio, sem dar ao primeiro a importância devida.
      Fé, porque ainda não se pode acreditar por se conhecer cientificamente em Deus (e talvez a humanidade nunca chegue a esse ponto), assim é preciso uma fé, a princípio, cega, e eu disse a princípio. Penso que o primeiro passo em relação a Deus é feito com uma fé fisicamente cega, que não vê mas também não sente e nem entende intelectualmente. Através de fé pode-se crer em qualquer coisa, pessoa, morta ou viva, ou entidade espiritual, isso é acima de tudo um direito de todo ser humano que ninguém deve proibir nem desrespeitar. Mas o segundo princípio é frutos, assim a fé ainda que inicialmente cega, deve ser aferida para sabermos onde ela nos levou, se dá frutos, e se são, ou deveriam ser, bons frutos. 
      Só os primeiros passos de uma experiência religiosa são por fé “cega”, porque a partir desses se frutos não forem constatados há de se fazer uma correção na fé, em quem ou no que se acredita ou em como se está crendo, o problema pode estar tanto no objeto da fé quanto no crente. Não coloque a culpa no Deus verdadeiro quando você pediu algo errado ou do jeito errado, também não se considere menos bom por estar, ainda assim, crendo numa mentira. Por outro lado não basta fé sincera e forte no Deus verdadeiro, se o que se espera com essa experiência é algo ilegítimo diante de Deus. Enfim, fé e frutos, um princípio medindo o outro, se tivermos essa honestidade acharemos o melhor no Deus verdadeiro.
      Infelizmente muitos não fazem as medidas desses princípios, o ser humano sempre acha mais confortável acomodar-se numa posição. Em termos de fé, se ela é uma tradição familiar, muitos preferem não desagradar pais, assim insistem em continuar crendo em algo que não os está levando a nada. Essa situação pode ser uma armadilha terrível do mal, pois as pessoas acreditam que ir contra o que os pais acreditam é desobedecer o “deus” de seus pais, assim preferem a hipocrisia e a incoerência que assumirem uma fé diferente daquela da tradição paterna. Mas o que muitos na verdade não entendem é que fé que leva a Deus não é simples convicção mental e emocional, não é força humana.
      A fé que conduz a Deus é graça divina, que deve ser pedida a Deus, e que só depois de recebida pode de fato nos colocar em comunhão, não com tradição religiosa, mas com o Deus verdadeiro. Essa fé dará frutos bons e que permanecem, diferentes de qualquer espécie de fruto que se provou usando energia humana para se acreditar em qualquer outro deus, entidade, homem, coisa ou seja lá o que for. Contudo, esse processo de fé e frutos não para na conversão e nas primeiras coisas que se recebe de Deus. O cristão deve continuar medindo fé e frutos, para prosseguir em sua caminhada, senão a qualquer momento pode ser presa de uma heresia que o congelará num degrau impedindo-o de continuar subindo.
      O texto inicial, dito por João Batista, deixa bem claro que tradição não salva, não basta dizermos que temos esse ou aquele direito porque somos filhos de Abraão, como diziam os judeus, ou porque somos protestantes ou católicos, ou filhos de protestantes ou de católicos, a fé deve ser aprovada por frutos. Ninguém tem posição especial diante de Deus simplesmente por manter uma tradição, é preciso ter uma experiência pessoal com Deus e essa experiência qualquer um pode ter. Essa experiência nos faz provar a verdadeira fé, aquela que é dom de Deus como ensina Paulo (Efésios 2.8), essa nos liga a Deus através de Jesus e permite que produzamos frutos de arrependimento.

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