28/10/20

28. Humildade: único jeito de crescer

Espiritualidade Cristã (parte 28/64)

      “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céusMateus 5.3

      Sábio é querermos melhorar, não nos acomodarmos, mudarmos por dentro e não confiarmos na aparência, aparência pode ser enganadora. Aproveitemos bem nosso tempo neste plano físico, a vida encarnada é uma existência muito especial, uma oportunidade de mostrarmos nossa melhor essência e de construir a porta para a eternidade. Na verdade quem muda é humilde, não importando em que nível começou, os que tratam os pecadores com arrogância, que não lhes dão a chance de serem melhores, que os julgam pelo passado, além de descrerem do poder do perdão que há em Jesus, nunca experimentaram mudança em suas vidas, ainda que nunca tenham escandalizado ninguém. Esses não provam espiritualidade, mas só a carne, mesmo que ostentem aparências de virtudes. 
      Muitos, talvez, só tivessem que fazer uma escolha em suas vidas e não fizeram, escolherem ser humildes, eles nasceram com melhores possibilidades, com mais atenção, pelo menos mais que outros que tanto mal colheram e plantaram, mas ainda assim continuaram orgulhosos. Por medo de perder o que tinham não investiram em nada, foram tímidos, foram covardes, e timidez é só um outro nome para arrogância, não é virtude. A eternidade, contudo, revelará o nível de espiritualidade real que cada um de nós alcançou, não no início de nossas vidas, muitas vezes nem na maior parte delas, mas no final. Temos até o último instante aqui neste plano para mudarmos, os orgulhosos, contudo, poderão passar seus dias finais em UTIs, só para entenderem isso, só para escolherem ser espirituais. 
      A vida passa muito depressa, não deixemos para depois o que é mais importante. O mais importante para cada um de nós, que é algo pessoal e específico, sempre nos conduz à humildade, pois nos leva a pagar preços, a perder para ganhar, quem de fato foi atrás de sua verdade, de ser feliz teve que mudar, e quem mudou para melhor é humilde. Os que não querem pagar preços, que não querem perder, que são escravos dos outros, que se sentem obrigados a mostrar para os outros coerência e justiça dos outros, nunca serão quebrados para que precisem se reconstruir, assim nunca mudarão e não se sentirão na obrigação de serem humildes. Dentro de um coração arrogante tem um escravo, que por ser escravo agrada a muita gente, pode até ser honrado por muitos, mas é um escravo infeliz. 
      Uma pergunta precisamos fazer a nós mesmos: que tipo de pessoa eu sou? Eu sei, sou do tipo que errou muito, muitos ainda me julgam pelo meu passado. Mas como devo reagir a isso, levantar minha voz e dizer que Jesus me perdoou e ninguém tem o direito de me acusar? Não, devo ser humilde, e isso não é fácil, mas preciso confiar que quem me salvou e me perdoou também pode me defender, ele não precisa de meus argumentos. Esteja certo de uma coisa, causa deixada nas mãos de Deus com fé e em humildade Deus toma, e faz o melhor, ninguém duvide ou zombe disso. Terrível é cair nas mãos do Deus altíssimo, os acusadores dos lavados pelo sangue do cordeiro caem nesse juízo, sejam demônios ou homens.
      O texto inicial diz algo muito importante sobre humildade, os cidadãos do céu, um reino que começa na terra, nos corações dos homens, são humildes. A versão NVI desse texto, contudo, diz “bem-aventurados os pobres em espírito”, assim pode não ser tão fácil entender o que o escritor quis dizer com pobres nesse contexto, mas nesse caso pobre não é ter menos virtude espiritual, mas é ter mais à medida que não se dá importância a valores materiais. Todavia, o fato de termos menos condições econômicas não faz de nós, necessariamente, pessoas humildes, o que faz é nossa atitude de não confiar nessas condições para nos posicionarmos como melhores. O que nos faz melhores são as virtudes espirituais que aperfeiçoam nossa moralidade, quem tem essas virtudes não se coloca como superior aos outros. 
      O pobre de ou em espírito é humilde, abre mão de tudo aquilo que pode lhe dar aprovação humana ou status social através de valores de aparência externa, ele não se importa com essas medidas e pode achar felicidade e paz diretamente em Deus. Esse pobre não precisa provar nada a ninguém, se defender e muito menos acusar, a ele basta saber o que Deus pensa dele, fez e faz por ele. Em Deus ele sabe que não é pobre, que está perdoado, é cidadão do reino dos céus e é riquíssimo, isso é suficiente para que ele caminhe firme e de pé, sem orgulho, mas também sem medo, protegido contra as setas dos acusadores, protegido contra seu próprio passado ruim. Bom é ser humilde, ainda que por obrigação, mas todos os que provam a Deus de verdade se sentem obrigados, não por força, mas pelo Espírito, a serem humildes.

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

27/10/20

27. Humildade: opção ou obrigação?

Espiritualidade Cristã (parte 27/64)

      Humildade talvez seja o efeito mais profundo da verdadeira espiritualidade, já que algumas virtudes podem ser aparentes e sentidas pelas pessoas, como um testemunho de santidade, atitudes e palavras realmente de amor, assim como uma disposição de constante tranquilidade e domínio próprio que transmite uma paz real. Contudo, humildade é algo muito mais sútil, a verdadeira se instala em nosso âmago, só Deus sabe de fato se somos ou não humildes, por outro lado, mesmo a ausência aparente de algumas virtudes, pode não indicar a ausência de um espírito  humilde. Já pensamos sobre humildade neste estudo, mas pela importância do assunto, vamos refletir um pouco mais nessa e nas duas próximas partes. 

       “Ainda que o Senhor é excelso, atenta todavia para o humilde; mas ao soberbo conhece-o de longe.Salmos 138.6

      Humildade, talvez seja a virtude mais difícil de se ter, e a mais delicada, facilmente se perde. Quem a tem? Só Deus conhece de fato os realmente humildes, já que nós, homens, podemos nos enganar sobre ela, a vermos em quem não a tem, muitos são dissimulados profissionais em emular virtudes, e não a enxergarmos em que a tem lá no fundo do coração, mesmo que seja um coração encapado por um jeito grosseiro de ser, no trato e nas palavras. A verdade é que nós, principalmente os cristãos com séculos de tradição católica hipócrita, criamos arquétipos de humildade, e parece que quando alguém foge desse arquétipo achamos que não é humilde. As pessoas, contudo, podem ser humildes por motivos diferentes.
      Alguns são humildes por opção, podem escolher isso. Esses são bons cidadãos, bons profissionais, bons cristãos, conseguem errar menos, fazem as melhores escolhas antes, têm bons empregos, bons casamentos, bons amigos e são considerados como membros fiéis em suas igrejas. “Mas como, esses parecem tão corretos e ainda assim podem escolher não serem humildes?” Exato, e justamente por serem tudo o que foi descrito, eles, lá em seus íntimos, em seus corações, de um jeito que só Deus sabe, podem não ser de fato humildes. Muitos pensam assim: “sempre fiz tudo certo, sou honrado por isso diante de meus semelhantes, não preciso me rebaixar para certas coisas, para certas pessoas, tenho direito ao meu orgulho”.
      Ouros, contudo, têm a obrigação de serem humildes, eles não têm outra saída para seguirem vivos. Esses fizeram tudo errado, pelo mal que lhes fizeram e pelo mal que eles quiseram fazer a si mesmos, fizeram alianças equivocadas e foram infiéis com elas, traíram e como efeito foram traídos. Dessa forma, para poderem ter ainda nesta vida um pouco de paz, uma segunda chance, ainda que tardia, alguma liberdade, ainda que na solidão, precisam tratar muitos com humildade, sem exigências, sem cobrar que ninguém os perdoe, mas firmados apenas no perdão de Deus e de si próprios. Esses entenderam que não podem confiar em si mesmos, e muito menos naqueles que sempre os verão como eram, não como são agora. 
      Existe um terceiro e um quarto tipo de pessoa. Um deles é aquele que mesmo tendo sido melhor e há mais tempo, é humilde, esse é o tipo mais raro de ser humano, o que sempre teve, mas ainda assim vive como se nunca tivesse tido, o que abre mão de valores pessoais, de aprovações humanas, para confiar em Deus e tratar com misericórdia a todos os homens, mesmos os mais pecadores, ainda que não precise de ninguém. O quarto tipo é o tipo mais triste, ainda que tenha errado, não aprendeu com os erros, e segue, errando mais e arrogante. Contudo, uma pergunta cabe aqui, sobre os dois primeiros tipos: quem é mais feliz? O que pouco errou, mas envelheceu arrogante, ou o que muito errou e aproximou-se da morte humilde?
      Para responder essa pergunta é preciso responder outra: para que serve essa vida, para que estamos neste mundo? Para sermos importantes materialmente, diante dos homens, ou para adquirirmos espiritualidade que agrade a Deus? Se for para nascer de um jeito, passar por juventude e maturidade e continuar igual, talvez nem importe se fomos sempre ruins ou bons aos olhos dos homens. É preciso evoluir, mudar, e todos, todos nós temos o que mudar, ninguém nasce pronto, ainda que num nível “espiritual” (moral) mais alto que outros. No que mudar, onde e quando mudar, cada um de nós sabe, ainda que mostremos para os outros uma aparência de integridade e excelência. Uma coisa é certa, para o que muito errou é muito mais difícil mudar, deixar o mal e fazer o bem, largar a infidelidade e ser fiel. 
      Os que erraram muito não têm escolha, se quiserem uma vida diferente terão que ser humildes, Deus, contudo, cuida de um jeito especial dos humildes, dos que não confiam em si mesmos, isso por não terem justiça própria para confiar, e confiarem em Cristo, que justificou os pecadores. Entretanto, cuidado, não acuse os que se refugiaram no perdão de Jesus, quem faz essa acusação não acusa o pecador, mas quem o perdoou. Infelizmente, muitos religiosos que conhecem o evangelho de trás para frente podem ainda nem terem se convertido, se acham cristãos por acharem que merecem ser. Quem acha que merece nunca foi de fato cristão, o fundamento do novo nascimento em Cristo está na assunção de que nada se merece, mas tudo se recebe pela graça de Deus, a humildade verdadeira começa aí, e daí ilumina-se para a espiritualidade.
      O texto inicial fala de uma dimensão interessante para discernir o humilde do soberbo, a distância. Enquanto o humilde se conhece quando se olha de perto, no coração, já que a humildade verdadeira pode ser simulada com aparência de falsa humildade, o soberbo se vê de longe, por quê? Porque ele gosta de ostentar, de se exibir, e muitas vezes mesmo virtudes falsificadas, que ele sabe que são importantes, mas não paga o preço para tê-las de fato. Deus conhece o soberbo de longe, ele é facilmente identificável porque quer aparecer, já o humilde é discreto, sábio, aprendeu a se recolher em si, ele sabe que muitas qualidades, ainda que genuínas, não podem ser valorizadas por todos, assim ele as guarda como seu tesouro mais valioso. O humilde, não se posta diante de homens porque confia em Deus, isso é espiritualidade cristã. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

26/10/20

26. Espiritualidade exercida com sabedoria

Espiritualidade Cristã (parte 26/64)

      “Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem.Mateus 7.6 

      A espiritualidade nos dá acesso a conhecimentos divinos que salvam, curam e transformam o ser humano, mas será que basta saber, mesmo saber com um coração cheio de amor, para compartilhar esses conhecimentos? Para entender isso precisamos entender corretamente a metáfora “pérolas aos porcos”, o que ela significa? Significa coisas preciosas demais para quem não dá a essas coisas o devido valor, valor de coisas preciosas. Porcos podem comer quase que qualquer coisa, e quando são mal criados, no meio de sujeira e lixo, podem até comer pérolas, mas não saberão o valor delas, nem que elas não são para comer. 
      Podemos observar dois tipos de reações indevidas de quem não sabe o valor do que lhe é apresentado: rejeição e aceitação estúpida. A aceitação estúpida aparentemente não rejeita, mas também não recebe do jeito adequado. O texto acima fala da atitude de rejeição, de quem não reconhece o valor do que lhe está sendo ofertado e simplesmente pisa e destrói o presente, e mais, se volta contra os que lhe deram a oferta. Esse não entende nem o valor do que recebe nem a virtude de quem lhe dá, e pode reagir com violência.
      Contudo, atualmente existem muitos estúpidos que recebem o evangelho como recebem qualquer coisa, sem discernimento, eles até o “ingerem”, mas não usufruem de suas bênçãos mais profundas e facilmente se “livram“ dele para seguirem se alimentando de qualquer coisa, sejam bolotas ou pérolas. Mas por que alguns podem, além de despedaçarem o que recebem, voltarem-se contra os que deram? Entendamos pérolas nesta reflexão como simbologia para o conhecimento de Deus, e não existe nada mais precioso que a palavra do Senhor, que conduz à salvação, ao perdão, à cura e à paz eterna. 
      A culpa no coração orgulhoso cria mecanismos para desmerecer quem vive e ensina a simplicidade do evangelho, porque o orgulhoso quer álibis para permanecer como é, com as suas soluções, negando de qualquer maneira que suas soluções não resolvem, não lhe trazem paz. Dessa forma, quando compartilhamos a solução de Deus com o orgulhoso, ele não vê como solução de Deus, mas como a nossa, o orgulhoso não enxerga Deus, o mundo espiritual, mas homens e o plano físico, e para tirar a legitimidade de algo divino diz que é só mais um ponto de vista humano.
      Por ser orgulhoso, não quer admitir que outros têm uma solução melhor que a sua, ainda que com isso continue se sentindo culpado, e entenda como outros principalmente aqueles que causam a ele alguma insegurança, já que ele até pode aceitar soluções, mas de quem não ameace de alguma maneira a posição superior que ele quer mostrar que tem em seu grupo social. (Quer um exemplo disso? Não existe gente mais difícil de ser evangelizada que parentes, eles ouvirão estranhos na rua, mas não alguém com laços de sangue em comum). 
      A culpa no coração orgulhoso leva muitos a comprarem os produtos mais insanos possíveis para que o coração continue com culpa, na verdade o orgulhoso busca outros nomes para sua culpa, que não jogue sobre ele mesmo a responsabilidade por ela, mas nos outros. A preciosidade da pérola do evangelho está em mostrar a responsabilidade pessoal de cada um por seus erros e a objetividade com que se pode receber paz pelo perdão que existe no nome de Jesus. Dessa pérola todas as outras advém, salvo e sem culpa o homem pode então aprender mais pelo Santo Espírito.
      Todavia, com os porcos que comem de tudo, talvez seja com quem tenhamos que ter mais cuidado, “pérola” comida rapidamente é “descartada”, pois “pérola” não é para ser comida, mas para ser usada como joia preciosa, principalmente em momentos especiais, mantida segura para sempre. Por “comerem” e não guardarem do jeito certo é que tantos enchem igrejas atualmente, e ainda assim nunca conhecem profundamente a palavra do Deus Altíssimo, nunca crescem, e sempre são manipulados por homens. O evangelho atualmente, em muitos lugares, não é apresentado como “pérola”, mas como bolotas de porcos, essa é a terrível verdade. 
      Se você achou uma pérola do evangelho guarde-a para si, como seu bem mais precioso, você achou espiritualidade, se outros tiverem que vê-la que vejam a beleza que ela apresenta em sua vida, que vejam o efeito dela. Não tente dar uma pérola a qualquer um, de qualquer jeito, dê a tua pérola o devido respeito, seja espiritual, tenha-a como pérola divina, não como arma humana para dar a última palavra numa discussão. Caso contrário o estúpido poderá se voltar contra você e ainda desmerecer o evangelho, você só estará jogando fora, por ter feito algo no tempo errado, a oportunidade de alguém ser abençoado, e estará lançando aos porcos a espiritualidade de Deus. 

“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

25/10/20

25. Espiritualidade exercida com amor

Espiritualidade Cristã (parte 25/64)

      “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um.” Colossenses 4.6
 
      A verdadeira espiritualidade deve ser guardada como o bem mais precioso, assim não deve ser compartilhada de qualquer jeito, com qualquer um, em qualquer momento, principalmente quando é explicada de maneira mais profunda. Vivida, sim, precisamos vivê-la sempre e da melhor maneira possível, ainda que com cuidado, mas para falar sobre ela é preciso amor e sabedoria, isso porque não é todo mundo que está preparado para ela, e pior que isso, alguns podem usar um conhecimento nosso, adquirido a duras penas, para se promover, ou então, para odiar mais ainda o cristianismo à medida que entendem mal o que não estão preparados para saber. Algumas coisas é melhor que fiquem “ocultas”. 
      Ser espiritual é saber de certas coisas, sim, isso está correto, mas não basta saber. Em Deus as coisas funcionam de maneira diferente, não basta saber sobre ele ou poder dizer algo sobre sua palavra, é preciso ter ordem dele para manifestar isso aos outros. Quando ele manda ele nos prepara, senão será palavra de homem, não de Deus, e pior, palavra de homem dita em nome de Deus, o que agrava mais ainda o pecado. Para coisas de homens, basta saber que se tem direito de dizer, mas mesmo nisso se coisas certas forem ditas em tempo errado, no lugar errado ou para pessoas erradas, poderão funcionar mal, ainda que nesse caso, quem fala, fala por si, e assume responsabilidade pessoal por isso, nada tendo a ver com Deus. 
      A verdade é que o bem só é bem quando usado com bem, senão pode se tornar mal. Os tolos acham que basta saber, os estúpidos defendem legitimidade para o que têm a dizer na coragem que têm para dizer isso, mas coragem em si não confere legitimidade, pode ser apenas irresponsabilidade, falta de noção de quem fala o que pensa de forma errada. Qual é a forma certa de falar coisas certas? Em amor, o amor é o tempero adequado que dá equilíbrio à sabedoria, que torna mesmo a exortação mais insípida, salgada. O amor não humilha o exortado, nem exalta o exortador, mas glorifica o Deus de todas as virtudes buscando restaurar o exortado para Deus, não vencê-lo numa guerra pessoal e humana.
      Só sob ordem de Deus temos o amor certo para revelar a palavra dele, assim, se você entender que tem algo a dizer a alguém, se sentir que deseja ajudar alguém com uma orientação de sabedoria para uma área da vida, não necessariamente área espiritual, mas se perceber que não sentiu ainda amor suficiente para fazer isso de forma elegante, educada, espiritual, não faça, não ainda. Ore mais a Deus e espere que Deus propicie o momento certo, no tempo de Deus temos não só o que dizer, mas o modo certo de dizer, em amor ganhamos amigos consolados mesmo na exortação, e não fazemos inimigos humilhados com uma verdade dita de maneira insensível e egoísta para a qual eles não estavam preparados. 
      “Não toque em ferida que não possa curar”, orientação que um dia recebi e nunca mais me esqueci, e como nós evangélicos nos achamos tantas vezes donos da verdade e com capacidade diferenciada para resolver problemas alheios. Por outro lado, quem está sempre achando que pode resolver os problemas dos outros, grande parte das vezes não quer resolver os próprios problemas, já quem se conhece e se resolve em Deus age com paciência, com amor, com humildade, pois dá para os outros o que recebeu, e cada um só dá o que recebe, eis uma “economia” básica no universo. Quem recebe exortação dura e violenta dará isso aos outros, e nem se sentirá mal por agir assim, mas quem recebe amor dá amor e ganha mais amor.
      Quem não ama pode ser impelido a agir por inveja, e não se pode confiar em quem quer expressar espiritualidade, seja ensinando mistérios ou praticando caridade, com um coração invejoso. Inveja revela que alguém não se conhece, não se ama e deseja ser ou ter o que o outro é ou tem, assim a inveja até consegue bens e conhecimentos, mas falsos, porque o invejoso não busca para si, mas para o outro. O invejoso não vive para si, mas para impressionar o outro, assim nunca estará satisfeito, terá tudo mas não usufruirá de nada, por isso tudo o que acumula é falso. O coração do invejoso é o de um ladrão, que ainda que não manifeste isso roubando algo material, tem um desejo profundo de adquirir algo que não é dele. 
      Existem duas coisas difíceis de serem detectadas no coração humano, uma é boa, a humildade, sobre a qual refletiremos adiante, a outra é ruim, a inveja. É difícil de ser detectada porque o homem pode ser motivado a fazer coisas esplêndidas por ela, assim suas ações não refletem suas intenções. Como ser liberto dela? Pelo amor, o diabo invejou a Deus, por isso perdeu direitos, o que o fez ferramenta para testar no homem justamente a inveja, Adão e Eva provaram do fruto proibido porque queriam ter o mesmo conhecimento de Deus, invejaram a Deus ao invés de amá-lo. Quem vence inveja com amor entende um dos mistérios da espiritualidade mais elevada, e será servo. O servo, contudo, sempre é servido por Deus.  

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

24/10/20

24. Espiritualidade gera santidade, humildade e amor

Espiritualidade Cristã (parte 24/64)

      Uma experiência marcante com o Espírito Santo sempre gera em nós três coisas: santidade, humildade e amor. Se uma dessas coisas faltar, não é o Espírito de Deus quem agiu, não em sua plenitude. Essas virtudes abrangem todas as nossas relações, a santidade nos permite agradar a Deus, a humildade nos permite aceitar a nós mesmos e o amor nos permite respeitar os outros. Só o Espírito Santo de Deus habitando o espírito dos salvos através do perdão exclusivo e completo de Cristo, pode colocar o homem no mais alto nível espiritual, limpando sua alma e curando seu corpo. Precisamos entender isso e não aceitar falsificações de experiências espirituais, feitas por muitos que podem estar provando outras coisas, mas não de fato a unção do Espírito Santo de Deus. 
      Santidade é a primeira coisa que nossa alma sente como prioridade quando temos de fato um encontro com Deus, uma passagem bíblica que bem exemplifica isso é a do profeta Isaías, “No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o seu séquito enchia o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam. E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. E os umbrais das portas se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos.” (Isaías 6.1-5). 
      “Então disse eu, aí de mim”, essa é a reação de quem de fato se aproxima de Deus, esse sente medo, não por por recear algo mal, moralmente reprovável ou violento, mas por sentir-se indigno, como se fosse colocado diante de alguém famoso, rico, poderoso, mas com vestes inapropriadas, sem banho, com cabelos desarrumados, com a barba por fazer, ou se for mulher, sem maquiagem ou unhas feitas. Deus é muito mais nobre, poderoso e limpo que qualquer homem ou ser espiritual, assim o sentimento honesto de quem se aproxima dele é temor por se achar indigno, despreparado, em pecado. Hoje temos o sangue de Cristo que nos purifica de todo pecado, mas ainda assim muitos não se apossam disso e ousam tentar entrar na presença do Senhor de qualquer jeito, e muitas vezes só para impressionar os outros, para dizerem que entraram mesmo não sendo verdade.
      Humildade é o segundo efeito de quem encontra Deus, porque quando olhamos para Deus nos vemos e quando nos vemos de verdade, sem máscaras ou filtros, entendemos o quanto somos fracos, imperfeitos, dependentes da misericórdia do Senhor, necessitados de mudanças, de melhoras. Quando nos vemos como somos olhamos os outros diferentemente, não exigimos desses o que nem nós somos. A humildade nos leva a agir de uma outra forma com as pessoas, mas antes disso, ela nos dá paz, pois com ela podemos nos aceitar, sem exigir de nós o que não somos ou podemos, e amando nossas verdades pessoais sem vaidades. Só o humilde se aceita, se gosta, tem paz e pode então se relacionar melhor com os outros, essa é a verdadeira humildade que nasce só de um real encontro com Deus, onde nos humilhamos e clamamos por misericórdia e perdão.
      “O Senhor eleva os humildes, e abate os ímpios até à terra“ (Salmos 147.6), humildade é um dos grandes mistérios espirituais, pois algo que a princípio pode parece que nos diminui no final acaba nos engrandecendo, isso porque abrimos mãos da referência errada e confiamos na referência certa. A errada é a do homem, nós mesmos ou os outros, o humilde abre mão de ser honrado pelo outros sendo aquilo que ele acha que vai agradar os outros ou a si mesmo. A referência certa é a referência de Deus, quando paramos de nos importar com o que os homens acham que é importante Deus nos revela o que é importante para ele, e nessa experiência nos sentimos muito bem, satisfeitos, úteis, completos, em paz, num orgulho pessoal que não sente necessidade de mostrar aos outros, mas que se sente feliz só por saber que Deus sabe e se importa. 
      A terceira experiência que temos quando vivenciamos um real encontro com Deus é o amor. Se pela santidade nos equalizamos com Deus e com a humildade nos aprumamos com nós mesmos, podemos, então, ver os outros como são e tratá-los como Deus quer os tratemos. Amor é dar ao outro o mesmo direito que queremos para nós, mas não de um jeito frio, como se fosse só obedecendo cegamente uma lei. O verdadeiro amor compungi-nos, move nossas estranhas, toca profundamente nossos sentimentos, nos faz querer abraçar alguém, física e emocionalmente, e assim, enternecidos, queremos que a pessoa seja honrada, ainda que isso signifique que nós não seremos. O amor não espera recompensa, se sacrifica em silêncio e entrega nas mãos de Deus, esperando dele e somente dele qualquer espécie de retorno, só após um encontro profundo com o Espírito Santo conseguimos amar. 
      “Então foram Elifaz, o temanita, e Bildade, o suíta, e Zofar, o naamatita, e fizeram como o Senhor lhes dissera; e o Senhor aceitou a face de JóE o Senhor virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos; e o Senhor acrescentou, em dobro, a tudo quanto Jó antes possuía“ (Jó 42.9-10), essa passagem de Jó é um dos registros mais reveladores sobre o amor na Bíblia, mostra o amor na prática, demonstrado por quem não podia fazer outra coisa a não ser amar, e que precisava receber nada melhor que amor sincero. Os “amigos” de Jó foram punidos por Deus por terem falado a Jó sobre Deus com uma falsa sabedoria, aquela que até usa Deus e sua palavra como argumentos, mas que por não ser em amor julga e condena. Contudo, ainda assim, aquele que vivia uma provação enorme de Deus, que tinha sofrido muito e perdido tudo, se deu ao trabalho de orar por falsos amigos. 
       Quem se lembra de amigos falsos quando está lá no fundo do poço? E muitas vezes depois que saímos do fundo ainda tentamos nos vingar dos que foram cruéis conosco, ainda que seja só com um desprezo discreto. Mas Jó orou, pois bem, Deus não só ouviu a oração como “mudou a sorte de Jó”, e não só o levantou, mas com honra dobrada em relação a tudo que ele tinha perdido. Contudo, tem algo que passa quase que desapercebido no último capítulo do livro de Jó, no final do versículo 9, “fizeram como o Senhor lhes dissera e o Senhor aceitou a face de Jó”, não podemos dizer com certeza se uma coisa tem relação direta com a outra. Contudo, será que podemos interpretar que o Senhor aceitou a face de Jó só depois que seus amigos ofereceram a Deus sacrifícios por seus pecados? Em seguida, aceito por Deus, Jó ora pelos amigos e o Senhor concretiza a bênção. 
      Se interpretarmos dessa maneira, parece-nos que a bênção de um vem pelo esclarecimento dos outros, e vice-versa, Jó é abençoado quando seus amigos se arrependem e seus amigos são abençoados quando Jó ora por eles. Somos muito materialistas, gostamos de interpretar a bênção maior que Jó teve com a provação que passou, como a multiplicação de seus bens, nos esquecemos da bênção maior, a “iluminação” que tanto ele como seus amigos tiveram com a experiência Essa “iluminação” proporcionou-lhes uma visão mais clara do porquê estarmos neste mundo, uma experiência que os tornou mais preparados, e mais que para viver no plano físico, para habitar a eternidade espiritual com Deus. Jó não só ficou mais rico, mas com certeza mais santo, mais humilde e mais amoroso, assim como seus amigos, esse é o propósito maior de Deus em todas as provações que permite que passemos. 
      Quando temos de fato um encontro com Deus essas três experiências transbordam de nossos corações, desejo de ser santo, humildade não fingida e amor sem concessões, quem não demonstrar isso depois de ter alguma experiência espiritual precisa rever suas referências de experiência espiritual, seu entendimento sobre dons do Espírito. Uma experiência profunda com e no Espírito Santo mexe com nossas emoções, mas é muito mais que isso, mexe com nosso espírito, e isso nos coloca num nível espiritual diferenciado, nos dá uma convicção mental, um esclarecimento intelectual que transcende o emocional. Uma experiência com o Santo Espírito não deixa nossos corpos “sem controle”, como acontece em experiências com espíritos ”estranhos”, somos curados psicológica e fisicamente quando temos uma experiência verdadeira, ela nos coloca de fato mais perto de Deus e de sua espiritualidade mais elevada. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
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para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

23/10/20

23. O que Deus tem e o que não tem para nós

Espiritualidade Cristã (parte 23/64)

      “Pois tu és a minha esperança, Senhor Deus; tu és a minha confiança desde a minha mocidade. Por ti tenho sido sustentado desde o ventre; tu és aquele que me tiraste das entranhas de minha mãe; o meu louvor será para ti constantemente. Sou como um prodígio para muitos, mas tu és o meu refúgio forte. Encha-se a minha boca do teu louvor e da tua glória todo o dia. Não me rejeites no tempo da velhice; não me desampares, quando se for acabando a minha força.” Salmos 71.5-9

      Ser espiritual é aceitar a espiritualidade de Deus, onde ela começa e onde ela termina para cada um de nós, assim, temos que aprender a ser felizes com o que o Senhor tem para nós e estarmos em paz com o que o Senhor não tem para nós. Eis o segredo de uma alma tranquila e de um corpo curado, satisfeitos em viver o plano de Deus. Para isso é preciso buscar a Deus com todo o coração para saber qual de fato é a sua vontade para as nossas vidas, seja na área afetiva, isso é na família, na área profissional, em nossa formação acadêmica e em orientação de emprego secular, ou na área ministerial, em nossas atividades dentro de igrejas. Somos corpo, alma e espírito, Deus nos fez assim e quer nos usar nessas três áreas no plano físico.
      É importante que se entenda que sob a ótica de Deus nenhuma dessas áreas tem prioridade sobre as outras, nossa missão maior neste mundo compreende as três áreas, ainda que a quantia de tempo que se possa usar para cada área possa variar de pessoa para pessoa, conforme o plano de Deus. Como já tantas vezes tenho dito aqui, o que trabalha mais em serviços ligados a uma igreja local não é mais espiritual que o que trabalha no mundo, o que leciona na E.B.D. não é mais espiritual que o que leciona numa escola pública ou particular, nem o que toca um instrumento em cultos não é mais espiritual que o que toca em festas e cerimônias, desde que faça debaixo do temor de Deus e para a glória dele.
      Depois que descobrimos o que Deus quer de nós, de verdade, sem ilusões ou medos, sejamos feliz nisso, não invejando o que Deus tem para os outros nem sendo relapsos com nossas responsabilidades, é claro, com equilíbrio, não idolatrando nada ainda que seja algo separado por Deus para nós. Quem idolatra, até coisas legítimas que são permitidas por Deus, amará mais as coisas e a si, e menos as pessoas e a Deus, nada deve ser idolatrado, nem serviços puramente espirituais. Muitos não são felizes com o que fazem para Deus porque não se descobriram em Deus, assim não têm uma visão correta do que são e do que podem fazer, ou acham que fazem demais, ou acham que fazem menos que deveriam.
      Se olhar por inteiro e se aceitar só é possível quando nos olhamos em Deus, Deus é o espelho, que nos revela à medida que andamos com ele, falamos com ele em oração, observamos a vida e verificamos os frutos, medindo até onde podemos ir sem pecar, ou o que precisamos fazer para não pecar. Se conhecer, contudo, não é uma tarefa rápida, levamos a vida inteira para isso, só o tempo para nos mostrar quem de fato somos, e se conhecer e se aceitar está diretamente ligado a ser feliz. Só achamos felicidade quando entendemos com humildade qual é nossa missão nessa vida, infelizmente podemos descobrir isso só na velhice, é mais que entender, é aceitar e aceitar do jeito certo. 
      Muitos acham que estão se esforçando em Deus para fazer mais e serem melhores, mas na verdade só estão lutando contra a vontade de Deus, e quando isso acontece nos violentamos e levamos infelicidade principalmente para aqueles próximos a nós. Muitos não entendem que menos pode ser mais quando é tudo no Senhor, aquele que faz a ferramenta é o que sabe a maneira mais eficiente de usá-la e Deus nos constrói por toda uma existência. É realmente feliz o que faz o que Deus quer ele faça, mas são necessários limites para saber e ter paz naquilo que não devemos fazer. Você sabe exatamente aquilo que Deus não quer que você faça? Sim, tem esse outro lado, saber o sim e aceitar o não.

      “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade. Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelha-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha.” Mateus 7.21-25

      Não entendamos aquilo que Deus não quer que façamos como coisas erradas, mas como coisas que mesmo que a princípio sejam certas, podem ser tornar más, por não serem a vontade de Deus para nós, e por fazermos na desobediência. Não basta ao cristão ter fé e força de vontade, é preciso comando de Deus, e muitos hoje em dia fazem um monte de coisas por fé e com força de vontade, contudo, sem comando de Deus. Isso inicialmente pode até funcionar, pode colaborar para que o evangelho seja pregado, e creia, mesmo esses equívocos Deus usa, principalmente quando não tem outro jeito. Mas em algum momento pode escandalizar o evangelho e prejudicar muito a obra de Deus. 
      Mesmo o bem, sem ordem de Deus, é mal. Por quê? Porque o que prega, mesmo uma visão da palavra do Senhor, mas sem ordem dele para isso, não conseguirá viver o que prega, não da maneira certa, a maneira de Deus. Assim esse tropeçará nas palavras e poderá escandalizar aqueles que creram em sua pregação. Preciso repetir Mateus 7, ele é citado com frequência no “Como o ar que respiro”, mas é porque ele é muito relevante para entendermos o falso evangelho que se prega atualmente. Dessa vez quero chamar a atenção para a segunda parte do texto, a que diz, “o que escuta estas minhas palavras e as pratica”. Por que ela segue na passagem a exortação sobre os falsos cristãos? 
      Porque os falsos até falam a verdade, mas não conseguem praticá-la, isso acontece porque não aceitam o não de Deus, não são humildes o suficiente para terem paz naquilo que não é para eles, e que eles desejam fazer, não para obedecer e louvar a Deus, mas por vaidade e ganância. Não, meus queridos, o verdadeiro evangelho é simples, mas “não” é fácil, justamente porque é simples, e muitos não aceitando essa simplicidade complicam as coisas para as próprias perdições. É simples porque não exige de nós mais do que somos de verdade, mas não é fácil porque precisamos entender e aceitar o que somos de verdade, somos porque Deus nos fez assim e nos fez assim para cumprirmos uma missão.
      Feliz com o que devemos fazer e em paz com o que não temos que fazer, simples assim, isso é ser prudente, é construir casa sobre rocha. Ah, meus queridos, muitos caem e são humilhados porque não acatam a vontade de Deus, querem ser o que não são e terem o que não estão preparados para ter, e ainda que trabalhem muito e sejam bons cidadãos, não têm humildade espiritual para acatar a orientação do pai que nos conhece e sabe o que é melhor para nós. Deus só quer que sejamos felizes e tenhamos paz, assim ouçamos sua voz mansa de pai, obedeçamos sua vontade. A tempestade se levanta contra todos, já está ocorrendo uma e bem forte, só sobre a rocha nos manteremos de pé até o fim. 
      Esta reflexão nos leva muito mais adiante, a entender o que é espiritualidade, o que é ser espiritual, como e quando devemos ser. Muitos ainda aliam espiritualidade as quatro paredes de templos religiosos, tanto para serem espirituais só dentro dos templos, quanto para levarem ao mundo certos conhecimentos que deveriam ser restritos as quatro paredes. “Então temos que ser diferentes, de um jeito dentro da igreja, e fora de outro?“ Não, não é isso. Primeiro ponto: Deus quer que sejamos o nosso melhor sempre e em todos os lugares. Segundo ponto: o efeito disso diante de todos são obras de justiça feitas em amor, não só palavras. Ponto três: falar disso com mais profundidade, contudo, só para quem Deus orienta.
      O equilíbrio que nos traz a felicidade do que Deus tem para nós e a paz com o que ele não tem, nos permite ser espirituais o tempo todo, não atores em púlpitos que tentam ser os que não são, ou frustrados em bares que não aceitam o que são. Esse equilíbrio também nos leva a respeitar limites, falar o que devemos no lugar melhor, e finalmente nos livra da hipocrisia, de pregar algo que não vivemos. Enfim, só entendendo nossa chamada podemos ser espirituais, para Deus, para nós mesmos, e para as pessoas que realmente interessam e o Senhor quer abençoar através de nossas vidas. Eu estou feliz e tenho paz? Pois se não sou feliz e não tenho paz ainda não entendi o que é ser cristão e muito menos sou espiritual.

      “Tenho-vos dito isto, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo.” João 15.11

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

22/10/20

22. Espiritualidade é obedecer a vocação maior

Espiritualidade Cristã (parte 22/64)

      “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.II Pedro 1.10-11

      A palavra vocação significa qualquer aptidão, gosto natural, disposição, talentos, chamamento de alguém para exercer certa função obrigatória ou para a posse de um direito. Como seres humanos temos aptidões naturais, que nos ajudam no exercício de uma profissão mais eficiente, como cristãos podemos receber dons espirituais, que nos ajudam a ter uma vida pessoal vitoriosa e a exercer um ministério mais profícuo, contudo, o sentido que Pedro deu no texto inicial à palavra pode ser algo que vá além disso. Qual a nossa principal vocação como seres eternos no universo? É voltarmos ao Altíssimo, contudo, neste mundo somos identidades diferentes e como tais cada um de nós chega a Deus e o agrada de uma maneira específica.
      Se você não consegue mostrar seu melhor falando, fique quieto, nem todos são chamados para falar, e não existe nenhum desmérito nisso. Como é difícil para muitos com essa vocação entenderem isso, e quando dizemos que alguns devem se calar nem é porque não falam bem ou não tenham coisas legítimas para dizer. Nesse caso, contudo, não nos referimos ao conteúdo, mas à forma, e para fazermos algo bem devemos saber o que fazer e como fazer, se soubermos o que dizer mas não dissermos do jeito certo, é melhor não falarmos. O jeito certo de fazer, para desempenhar qualquer função ou missão, é com amor. O amor tem paciência com os que sabem menos e humildade com os que sabem mais, no amor todos somos alunos. 
      Se você recebeu uma ordem da vida, cumpra-a, não alegue limitações, mas trabalhe nos aperfeiçoamentos, somos seres em constantes construções. Ninguém nasce pronto e também não estará pronto no final, assim quem espera melhorar para fazer algo, nunca fará, isso não é fazer de qualquer jeito nem ser irresponsável, mas ser diligente e simples. Aliás, as pessoas que mais mudam o mundo de forma positiva acham satisfação na simplicidade, ainda que sejam inteligentes e competentes acima da média, são simples para começar e terminar algo, sem melindres ou vaidades. Quem tem medo de errar nunca acertará, e podem ser necessários muitos erros, até que se descubra porque se veio ao mundo para então se fazer algo original.
      Por outro lado é preciso avaliar investimentos e lucros, e muitas vezes, sim, é preciso parar o que se está fazendo, às vezes por anos a fio, e fazer outra coisa. Eis uma virtude nobre, mudar de ideia, eis uma coragem ímpar, admitir mudança de ideia diante dos outros, eis algo que alegra a Deus, se colocar debaixo de sua luz. Muitos seguem errando e não acham forças para mudarem de rumo porque estão em trevas, intelectuais, emocionais, espirituais, assim não se conhecem, não se assumem, vivem de aparências, não são felizes e nunca experimentam de fato suas verdadeiras vocações. É triste ver gente assim, nos aperta o coração, queremos ajudar mas elas nos impedem, se forem tocadas, gritam e esperneiam, como crianças mimadas.
      Não ligue para esta terra, eis parte de um entendimento fundamental para conhecermos nossa vocação, que não é só para esse mundo, mas para o outro também. Não é para aqui, mas começa aqui, e viver aqui não é qualquer coisa, é experiência de suma importância que define radicalmente nossa existência eterna. Os que se acham ateus dão importância demais para este plano, os que se dizem cristãos dão importância de menos, a verdade está no equilíbrio, e eis um mistério espiritual, vislumbrar o Espírito com os pés bem firmes na terra. Alcançar a espiritualidade não é alienar-se do mundo, mas vencer nele e ainda assim não deixar que isso importe mais que os valores que levaremos para o outro mundo, só quem tem pode abrir mão. 
      A outra parte do entendimento fundamental é: não ligue para o tempo. Quando começamos a de fato a exercer nossa vocação? Não importa, quando nascemos de novo em Cristo e recebemos iluminação do Espírito Santo, Deus não vê as coisas assim e as coisas espirituais não funcionam assim. Por isso não devemos nos comparar com os outros, nos acharmos melhores porque acertamos a mais tempo, ou nós considerarmos inferiores porque erramos por mais tempo. Para muitos de nós dez anos de obediência às nossas vocações valerão mais que cinquenta anos de outros que pareciam desempenhar suas vocações e não o faziam. Últimos serão primeiros e primeiros serão últimos, mil anos como um dia e um dia como mil anos. 

      Pedro nos ensina coisas importantes em seu texto, “procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição, porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis, porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno”. Três palavras chamam a atenção: firme, tropeço e reino, as três têm implicações diretas com vocação. Firme, isso nos lembra que a vida é uma luta persistente, não alcançamos e descansamos, e muito menos nos esforçamos e depois desistimos, na evolução espiritual, enquanto neste plano físico, não há parada, descanso ilimitado só na eternidade. Deus pode nos permitir períodos para que nos recuperemos, mas a luta não para, e fica na verdade cada vez mais sútil, à medida que o caminho se estreita. 
      Tropeço, quem estaciona tropeça e cai, ninguém consegue, no crescimento espiritual, ficar de pé e parado, só estamos de pé à medida que caminhamos. Muitos, pensando que já alcançaram tudo, podem cair em terríveis armadilhas do mal, porque se acharam no direito de parar e usufruir, não viemos ao mundo a passeio. Mas mais que isso, Pedro nos revela algo que muito evangélico, em sua “fé na fé”, não entende bem: “assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno“. Desempenharmos nossa vocação de forma adequada nos dará direito à melhor eternidade com Deus, isso pode ir contra o pensamento que muitos têm de que lhes basta crer e ter uma vida moral civilizada. Não basta fazer, tem que fazer o mais certo. 
      Não basta pregar, tem que pregar no Espírito Santo, não basta trabalhar, tem que trabalhar naquilo que Deus mandou, não basta aparecer no mundo, tem que pagar o preço que Jesus pagou, não basta ser cristão, tem que ser espiritual, só somos quando conhecemos e exercemos nossa maior vocação como seres eternos, voltarmos ao criador. Quando morremos as vendas de nossos olhos espirituais caem para vermos o mundo espiritual como é, seremos atraídos por aquilo que levarmos conosco, se levarmos trevas, seremos infernizados pelos espíritos rebeldes das trevas, se levarmos luz, seremos abraçados pelo Esprito de luz do Altíssimo. Só em Jesus existe a luz que podemos levar conosco e que nos ligará eternamente ao Pai de toda luz.
      Meu querido e minha querida, não perca tempo tentando agradar os outros, tentando ganhar discussões, tentando prevalecer sobre quem não tem nada realmente de bom pra você, já que quem de fato pode te abençoar não exige nada de você, só sinceridade do bem. Temos algo maior para alcançar e levar desta vida, isso importa mais que viver para fazer dívidas e pagar dívidas. Se for preciso, pare tudo e reavalie tua história, tudo o que fez e conquistou até agora. Sim, pode ter sido muita coisa e a troco de trabalho honesto, não estou negando isso, mas será que valeu a pena? Você realmente sente que desempenhou tua vocação maior? Se morrer agora, deixará para quem ama o que mais importa e levará consigo de fato espiritualidade? 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.