quinta-feira, outubro 22, 2020

22. Espiritualidade é obedecer a vocação maior

Espiritualidade Cristã (parte 22/64)

      “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.II Pedro 1.10-11

      A palavra vocação significa qualquer aptidão, gosto natural, disposição, talentos, chamamento de alguém para exercer certa função obrigatória ou para a posse de um direito. Como seres humanos temos aptidões naturais, que nos ajudam no exercício de uma profissão mais eficiente, como cristãos podemos receber dons espirituais, que nos ajudam a ter uma vida pessoal vitoriosa e a exercer um ministério mais profícuo, contudo, o sentido que Pedro deu no texto inicial à palavra pode ser algo que vá além disso. Qual a nossa principal vocação como seres eternos no universo? É voltarmos ao Altíssimo, contudo, neste mundo somos identidades diferentes e como tais cada um de nós chega a Deus e o agrada de uma maneira específica.
      Se você não consegue mostrar seu melhor falando, fique quieto, nem todos são chamados para falar, e não existe nenhum desmérito nisso. Como é difícil para muitos com essa vocação entenderem isso, e quando dizemos que alguns devem se calar nem é porque não falam bem ou não tenham coisas legítimas para dizer. Nesse caso, contudo, não nos referimos ao conteúdo, mas à forma, e para fazermos algo bem devemos saber o que fazer e como fazer, se soubermos o que dizer mas não dissermos do jeito certo, é melhor não falarmos. O jeito certo de fazer, para desempenhar qualquer função ou missão, é com amor. O amor tem paciência com os que sabem menos e humildade com os que sabem mais, no amor todos somos alunos. 
      Se você recebeu uma ordem da vida, cumpra-a, não alegue limitações, mas trabalhe nos aperfeiçoamentos, somos seres em constantes construções. Ninguém nasce pronto e também não estará pronto no final, assim quem espera melhorar para fazer algo, nunca fará, isso não é fazer de qualquer jeito nem ser irresponsável, mas ser diligente e simples. Aliás, as pessoas que mais mudam o mundo de forma positiva acham satisfação na simplicidade, ainda que sejam inteligentes e competentes acima da média, são simples para começar e terminar algo, sem melindres ou vaidades. Quem tem medo de errar nunca acertará, e podem ser necessários muitos erros, até que se descubra porque se veio ao mundo para então se fazer algo original.
      Por outro lado é preciso avaliar investimentos e lucros, e muitas vezes, sim, é preciso parar o que se está fazendo, às vezes por anos a fio, e fazer outra coisa. Eis uma virtude nobre, mudar de ideia, eis uma coragem ímpar, admitir mudança de ideia diante dos outros, eis algo que alegra a Deus, se colocar debaixo de sua luz. Muitos seguem errando e não acham forças para mudarem de rumo porque estão em trevas, intelectuais, emocionais, espirituais, assim não se conhecem, não se assumem, vivem de aparências, não são felizes e nunca experimentam de fato suas verdadeiras vocações. É triste ver gente assim, nos aperta o coração, queremos ajudar mas elas nos impedem, se forem tocadas, gritam e esperneiam, como crianças mimadas.
      Não ligue para esta terra, eis parte de um entendimento fundamental para conhecermos nossa vocação, que não é só para esse mundo, mas para o outro também. Não é para aqui, mas começa aqui, e viver aqui não é qualquer coisa, é experiência de suma importância que define radicalmente nossa existência eterna. Os que se acham ateus dão importância demais para este plano, os que se dizem cristãos dão importância de menos, a verdade está no equilíbrio, e eis um mistério espiritual, vislumbrar o Espírito com os pés bem firmes na terra. Alcançar a espiritualidade não é alienar-se do mundo, mas vencer nele e ainda assim não deixar que isso importe mais que os valores que levaremos para o outro mundo, só quem tem pode abrir mão. 
      A outra parte do entendimento fundamental é: não ligue para o tempo. Quando começamos a de fato a exercer nossa vocação? Não importa, quando nascemos de novo em Cristo e recebemos iluminação do Espírito Santo, Deus não vê as coisas assim e as coisas espirituais não funcionam assim. Por isso não devemos nos comparar com os outros, nos acharmos melhores porque acertamos a mais tempo, ou nós considerarmos inferiores porque erramos por mais tempo. Para muitos de nós dez anos de obediência às nossas vocações valerão mais que cinquenta anos de outros que pareciam desempenhar suas vocações e não o faziam. Últimos serão primeiros e primeiros serão últimos, mil anos como um dia e um dia como mil anos. 

      Pedro nos ensina coisas importantes em seu texto, “procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição, porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis, porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno”. Três palavras chamam a atenção: firme, tropeço e reino, as três têm implicações diretas com vocação. Firme, isso nos lembra que a vida é uma luta persistente, não alcançamos e descansamos, e muito menos nos esforçamos e depois desistimos, na evolução espiritual, enquanto neste plano físico, não há parada, descanso ilimitado só na eternidade. Deus pode nos permitir períodos para que nos recuperemos, mas a luta não para, e fica na verdade cada vez mais sútil, à medida que o caminho se estreita. 
      Tropeço, quem estaciona tropeça e cai, ninguém consegue, no crescimento espiritual, ficar de pé e parado, só estamos de pé à medida que caminhamos. Muitos, pensando que já alcançaram tudo, podem cair em terríveis armadilhas do mal, porque se acharam no direito de parar e usufruir, não viemos ao mundo a passeio. Mas mais que isso, Pedro nos revela algo que muito evangélico, em sua “fé na fé”, não entende bem: “assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno“. Desempenharmos nossa vocação de forma adequada nos dará direito à melhor eternidade com Deus, isso pode ir contra o pensamento que muitos têm de que lhes basta crer e ter uma vida moral civilizada. Não basta fazer, tem que fazer o mais certo. 
      Não basta pregar, tem que pregar no Espírito Santo, não basta trabalhar, tem que trabalhar naquilo que Deus mandou, não basta aparecer no mundo, tem que pagar o preço que Jesus pagou, não basta ser cristão, tem que ser espiritual, só somos quando conhecemos e exercemos nossa maior vocação como seres eternos, voltarmos ao criador. Quando morremos as vendas de nossos olhos espirituais caem para vermos o mundo espiritual como é, seremos atraídos por aquilo que levarmos conosco, se levarmos trevas, seremos infernizados pelos espíritos rebeldes das trevas, se levarmos luz, seremos abraçados pelo Esprito de luz do Altíssimo. Só em Jesus existe a luz que podemos levar conosco e que nos ligará eternamente ao Pai de toda luz.
      Meu querido e minha querida, não perca tempo tentando agradar os outros, tentando ganhar discussões, tentando prevalecer sobre quem não tem nada realmente de bom pra você, já que quem de fato pode te abençoar não exige nada de você, só sinceridade do bem. Temos algo maior para alcançar e levar desta vida, isso importa mais que viver para fazer dívidas e pagar dívidas. Se for preciso, pare tudo e reavalie tua história, tudo o que fez e conquistou até agora. Sim, pode ter sido muita coisa e a troco de trabalho honesto, não estou negando isso, mas será que valeu a pena? Você realmente sente que desempenhou tua vocação maior? Se morrer agora, deixará para quem ama o que mais importa e levará consigo de fato espiritualidade? 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

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