30/10/20

30. Espiritualidade para os olhos de Deus

Espiritualidade Cristã (parte 30/64)

      “Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.I Samuel 16.7

      Somos seres que querem ser vistos, e se já era assim antes, muito mais agora que podemos compartilhar fotos e vídeos no Instagram, Whatsapp e outros espaços da internet, todos querem ser famosos, celebridades, ao menos nas fotos carregadas de filtros. Chegamos ao ridículo de que registrar uma festa é mais importante que a própria festa, assim quando vamos a uma ao invés de vermos gente usufruindo do momento estão todos tirando selfies e acompanhando as vidas alheias nas redes. Nunca parecer foi tão mais importante que ser, nunca aparência externa valeu mais que as virtudes interiores do coração, o diabo está conquistando o mundo, mas não matando cristãos e bem antes de mandar não cristãos para o inferno. O mal tem encarcerando todos numa vida artificial, a vida falsa da internet, isso pode ser o engodo mais eficiente do diabo para desviar o ser humano da espiritualidade. 
      Quando Deus mandou o profeta Samuel escolher um rei para Israel ele foi até Jesse que lhe apresentou sete filhos, ele deve ter feito isso de acordo com um critério dele de qual seria o filho melhor, assim começou por Eliabe. Foi para esse que Deus deu a Samuel a resposta do versículo inicial, mas ela servia para todos os sete filhos que Jesse apresentou, quando achou que esses eram seus melhores filhos. Davi nem estava nessa lista inicial, para Jesse talvez não fosse grande coisa, mas ele também estava ocupado, enquanto que ao que parece os outros sete irmãos não estavam. Mas ainda que seu pai não lhe desse valor, ainda que ele não estivesse no lugar certo fazendo a coisa certa (e com coisa errada me refiro a estar indisponível para a escolha, não por estar fazendo algo errado), ainda que não tivesse as características que podiam elenca-lo como um rei, ele foi escolhido. 
      Por quê? Porque “o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração”. Quando Deus tem algo pra nós, o homem pode gritar, fazer-se prevalecer, estar presente no lugar certo e melhor apresentado para algo, pode mesmo nos criticar, diminuir-nos, dizendo mentiras sobre nós, mas também revelando a muitos nossos erros, nosso passado, tentando roubar de nós nossa honra. Mas tudo isso não importa, Deus olha o coração, conhece o sincero do bem, o que não busca honra própria mas a dele, o que de fato está pronto para obedecer, seja qual for a dificuldade, o que já abriu mão de tudo pela verdade. Não tema o homem, os belos e poderosos Sauls, Deus usa os Davis, que podem ter muitos defeitos e limites, mas possuem um coração que agrada a Deus, e se os homens  não veem isso, Deus vê, confie em Deus. 
      Toda a lição da escolha de Davi que está em I Samuel 16 sem resume numa coisa, confiarmos no que Deus sabe sobre nós, não no que os homens sabem e veem. Isso é algo que exige de nós intimidade com Deus e fé, caso contrário desenvolveremos mágoas achando que Deus não liga para nós, não vê nosso esforço e nossa intenção, e que o homem, por sua vez, aparece mais que a gente, é mais visto. Pensamos assim quando damos valor a coisas que podem ser só aparências, e aparências que outros homens valorizam, assim a mágoa nasce quando damos valor para os olhos físicos dos homens, e não para os espirituais de Deus. Deus vê tudo, e mais, vê o que de fato interessa, ele não se deixa enganar com os teatros, com as exibições pirotécnicas, que nos dias atuais podem ser mostrados para todos os olhos e em tempo real nas redes sociais, vivemos um momento em que é fácil ser visto.
      “E todos os que a ouviram se maravilharam do que os pastores lhes diziam, mas Maria guardava todas estas coisas, conferindo-as em seu coração“ (Lucas 2.18-19), Maria era discreta porque sabia que a vida de seu filho deveria ser discreta, o mais importante ele faria em sua morte, e isso era algo que teria um preço alto. Quem confia nos olhos do Senhor sabe que a vida não é fácil e deve ser levada com sabedoria, nunca confiando nos homens. O próprio Jesus pediu mais de uma vez a seus discípulos discrição sobre seu ministério, para que as coisas não acontecessem antes do tempo certo, e no seu caso, sua morte, “e, descendo eles do monte, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que tinham visto, até que o Filho do homem ressuscitasse dentre os mortos“ (Marcos 9.9), Jesus não confiava nos olhos humanos, “mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia“ (João 2.24).
      Quem nós queremos que veja nossa vida, nosso trabalho, nosso melhor, nossas virtudes? Os homens ou Deus? Queremos plateia, aplausos, holofotes, fama, tudo para aplacar alguma carência não resolvida? Ou queremos fazer a vontade de Deus? Só quem faz a vontade de Deus é feliz e abençoa os outros, quem quer os olhos dos homens sobre si poderá até fazer boas obras, ajudar os outros, escrever livros de auto ajuda, até ser famoso, mas só beneficiará a si mesmo, não os outros. Benefícios egoístas são sacos sem fundo, por mais que sejam cheios nunca será o suficiente, parecerão sempre vazios, confiemos nos olhos de Deus, que registra tudo que fazemos, para ele nada fica perdido ou esquecido, e no tempo certo nos recompensa. Para quem confia nos olhos de Deus fazer o bem é um fim em si mesmo, se é feliz pelo simples fato de se fazer, indiferente de reconhecimento ou fama. 
      Interessante que o mesmo homem que confiava nos olhos de Deus acabou cometendo seu pior pecado quando usou mal os próprios olhos (II Samuel 11). A história de Davi também nos ensina que onde se encontra nossa maior força está também nossa maior fraqueza, a ferramenta é uma só e é eficiente tanto para construir quanto para destruir. Sensibilidade espiritual natural pode ser um talento que alguns nascem com ela, se tiverem temor a Deus serão cristãos ungidos e cheios de dons espirituais, mas se não tiverem poderão procurar em outras religiões respostas para seus questionamentos espirituais, se tornando médiuns ou magos. Espiritualidade é algo sério, uma grande benção, mas também algo perigoso, produz um desejo profundo de seu ter comunhão com o mundo espiritual, mas nele não existem só Deus e anjos, seres espirituais rebeldes estão por lá, atentos aos curiosos descuidados. 
      Quem estuda o mal é estudado pelo mal, mas quem olha para Deus é protegido pelos olhos do altíssimo, seja como for não se sai ileso de uma experiência profundamente espiritual, conhecemos e somos conhecidos, e se for na luz do Senhor, crescemos e recebemos a verdadeira iluminação. “Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido“ (I Coríntios 13.9-12), Paulo, sempre Paulo, nos fala por mistérios em muitos de seus textos, que tem olhos espirituais pode entender verdades profundas neles.
      Solidão, algo intrínseco em todo ser humano, por isso ele quer ser visto, isso lhe dá atenção, a sensação que está acompanhado, mas só uma vida realmente espiritual pode satisfazer essa solidão, porque a principal solidão que temos não é a que precisa da companhia de uma companheira, de um companheiro, de um amigo, de um pai, de um irmão, mas de Deus, é uma solidão espiritual, não só emocional ou social, necessidades espirituais se resolvem com soluções espirituais e com nada mais. Os olhos de Deus fazem de todos nós reis, como Davi? Mais que isso, como Jesus, um rei que veio para servir e não ser servido, e aí está o mistério, quem a todos serve acaba sendo servido pelo maior de todos, o próprio Deus. Assim, liberte-se dos outros homens, e também de todos os outros seres espirituais, olhe diretamente para o Deus Altíssimo e confie nele, ele nos basta e nunca nos desaponta. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

29/10/20

29. Humildade: condição para libertação

Espiritualidade Cristã (parte 29/64)

      “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.Filipenses 2.5-11

      Humildade, realmente espiritual, não outra, que não pode ser substituída por nenhuma virtude, eis a chave para que tenhamos de fato libertação e paz, reflitamos nessa afirmação de seu fim para seu início. Libertação, todos nós precisamos de libertação de algum tipo de prisão, que nos tortura e não faz buscar algum tipo de vício para amenizar nossa dor. O que nos aprisiona? O mal que fizemos e que nos traz culpa, o mal que nos fizeram e que nos traz mágoa, o mal que imaginamos que poderá nos afligir e que nos traz ansiedade, o mal que pensamos que poderão nos fazer e que nos traz medo. Culpa, mágoa, ansiedade e medo, tudo isso nos deixa inseguros, inseguros ficamos fracos e somos aprisionados, aprisionados perdemos a liberdade de seguir em frente, construir, crescer e ter paz, à medida que buscamos prazeres falsos que nos satisfaçam, e que acabam se tornando vícios. 
      Nos transformamos em medos ambulantes, quem tem medo não ama e vê inimigos em todos, para anular isso até podemos tentar ser melhores pois nos sentimos mal, em dívida, assim procuramos largar os vícios da carne, sermos bons cidadãos, ajudar aqueles que estão em situação pior que a nossa. Podemos nos tornar caridosos assíduos em serviços sociais e religiosos, religiosos assíduos em cultos e trabalhos, crentes assíduos em jejuns e consagrações, mas ainda assim podemos não achar libertação e nem paz. Por quê? Porque podemos estar só tentando fugir do principal, substituir humildade espiritual por outras virtudes, e não é qualquer humildade, já que diante de homens podemos até parecer humildes, mas se somos ou não espiritualmente humildes só Deus sabe. Deus só nos liberta quando de fato somos humildes, e humildes não só na aparência, mas espiritualmente. 
      O que é humildade espiritual? É dobrar os joelhos para o nome de Jesus, como diz o texto inicial, e o mais maravilhoso é que aquele para o qual todos devem se dobrar ganhou essa posição porque deu o exemplo e se humilhou, assim recebe honra quem honra dá, recebe respeito, quem respeito dá. Quem tenta substituir humildade por outras virtudes o faz por vaidade, porque na verdade o que quer é receber aprovação de homens, e até de Deus ainda que do jeito errado, tentar receber algo que não se deu é impossível. Contudo, quem se humilha diante de Deus será honrado simplesmente porque não tem mais necessidade de honra, dessa forma mesmo na solidão e na clandestinidade se sentirá honrado e satisfeito. Para saciar a alma não basta tentar achar um alimento adequado, isso é impossível, primeiro porque a fome principal é espiritual, a solução é anular a fome.
      Só Jesus pode curar nossa necessidade de justiça própria que ainda que nos leve a ser bons religiosos nunca nos fará provar a verdadeira espiritualidade, só em Cristo somos humildes porque aceitá-lo como salvador implica em nos assumirmos como pecadores, sem direitos, que aceitam segui-lo sem exigências. O espiritualmente humilde em Cristo não se importa em ganhar porque já ganhou tudo, nem em perder porque sabe que nada tem valor, a não ser comunhão com o Altíssimo através de Jesus e pelo Espírito Santo. Essa é a cura para a fome principal de nossos seres. Somente humildes somos de fato espirituais em Deus, de outra forma poderemos até ter experiências espiritualistas e bem profundas, mas não com Deus e nem para a glória dele. Sigamos o exemplo de Cristo que se humilhou e recebeu de Deus a única honra que importa, que levaremos à eternidade e que nos fará de fato espirituais. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

28/10/20

28. Humildade: único jeito de crescer

Espiritualidade Cristã (parte 28/64)

      “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céusMateus 5.3

      Sábio é querermos melhorar, não nos acomodarmos, mudarmos por dentro e não confiarmos na aparência, aparência pode ser enganadora. Aproveitemos bem nosso tempo neste plano físico, a vida encarnada é uma existência muito especial, uma oportunidade de mostrarmos nossa melhor essência e de construir a porta para a eternidade. Na verdade quem muda é humilde, não importando em que nível começou, os que tratam os pecadores com arrogância, que não lhes dão a chance de serem melhores, que os julgam pelo passado, além de descrerem do poder do perdão que há em Jesus, nunca experimentaram mudança em suas vidas, ainda que nunca tenham escandalizado ninguém. Esses não provam espiritualidade, mas só a carne, mesmo que ostentem aparências de virtudes. 
      Muitos, talvez, só tivessem que fazer uma escolha em suas vidas e não fizeram, escolherem ser humildes, eles nasceram com melhores possibilidades, com mais atenção, pelo menos mais que outros que tanto mal colheram e plantaram, mas ainda assim continuaram orgulhosos. Por medo de perder o que tinham não investiram em nada, foram tímidos, foram covardes, e timidez é só um outro nome para arrogância, não é virtude. A eternidade, contudo, revelará o nível de espiritualidade real que cada um de nós alcançou, não no início de nossas vidas, muitas vezes nem na maior parte delas, mas no final. Temos até o último instante aqui neste plano para mudarmos, os orgulhosos, contudo, poderão passar seus dias finais em UTIs, só para entenderem isso, só para escolherem ser espirituais. 
      A vida passa muito depressa, não deixemos para depois o que é mais importante. O mais importante para cada um de nós, que é algo pessoal e específico, sempre nos conduz à humildade, pois nos leva a pagar preços, a perder para ganhar, quem de fato foi atrás de sua verdade, de ser feliz teve que mudar, e quem mudou para melhor é humilde. Os que não querem pagar preços, que não querem perder, que são escravos dos outros, que se sentem obrigados a mostrar para os outros coerência e justiça dos outros, nunca serão quebrados para que precisem se reconstruir, assim nunca mudarão e não se sentirão na obrigação de serem humildes. Dentro de um coração arrogante tem um escravo, que por ser escravo agrada a muita gente, pode até ser honrado por muitos, mas é um escravo infeliz. 
      Uma pergunta precisamos fazer a nós mesmos: que tipo de pessoa eu sou? Eu sei, sou do tipo que errou muito, muitos ainda me julgam pelo meu passado. Mas como devo reagir a isso, levantar minha voz e dizer que Jesus me perdoou e ninguém tem o direito de me acusar? Não, devo ser humilde, e isso não é fácil, mas preciso confiar que quem me salvou e me perdoou também pode me defender, ele não precisa de meus argumentos. Esteja certo de uma coisa, causa deixada nas mãos de Deus com fé e em humildade Deus toma, e faz o melhor, ninguém duvide ou zombe disso. Terrível é cair nas mãos do Deus altíssimo, os acusadores dos lavados pelo sangue do cordeiro caem nesse juízo, sejam demônios ou homens.
      O texto inicial diz algo muito importante sobre humildade, os cidadãos do céu, um reino que começa na terra, nos corações dos homens, são humildes. A versão NVI desse texto, contudo, diz “bem-aventurados os pobres em espírito”, assim pode não ser tão fácil entender o que o escritor quis dizer com pobres nesse contexto, mas nesse caso pobre não é ter menos virtude espiritual, mas é ter mais à medida que não se dá importância a valores materiais. Todavia, o fato de termos menos condições econômicas não faz de nós, necessariamente, pessoas humildes, o que faz é nossa atitude de não confiar nessas condições para nos posicionarmos como melhores. O que nos faz melhores são as virtudes espirituais que aperfeiçoam nossa moralidade, quem tem essas virtudes não se coloca como superior aos outros. 
      O pobre de ou em espírito é humilde, abre mão de tudo aquilo que pode lhe dar aprovação humana ou status social através de valores de aparência externa, ele não se importa com essas medidas e pode achar felicidade e paz diretamente em Deus. Esse pobre não precisa provar nada a ninguém, se defender e muito menos acusar, a ele basta saber o que Deus pensa dele, fez e faz por ele. Em Deus ele sabe que não é pobre, que está perdoado, é cidadão do reino dos céus e é riquíssimo, isso é suficiente para que ele caminhe firme e de pé, sem orgulho, mas também sem medo, protegido contra as setas dos acusadores, protegido contra seu próprio passado ruim. Bom é ser humilde, ainda que por obrigação, mas todos os que provam a Deus de verdade se sentem obrigados, não por força, mas pelo Espírito, a serem humildes.

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

27/10/20

27. Humildade: opção ou obrigação?

Espiritualidade Cristã (parte 27/64)

      Humildade talvez seja o efeito mais profundo da verdadeira espiritualidade, já que algumas virtudes podem ser aparentes e sentidas pelas pessoas, como um testemunho de santidade, atitudes e palavras realmente de amor, assim como uma disposição de constante tranquilidade e domínio próprio que transmite uma paz real. Contudo, humildade é algo muito mais sútil, a verdadeira se instala em nosso âmago, só Deus sabe de fato se somos ou não humildes, por outro lado, mesmo a ausência aparente de algumas virtudes, pode não indicar a ausência de um espírito  humilde. Já pensamos sobre humildade neste estudo, mas pela importância do assunto, vamos refletir um pouco mais nessa e nas duas próximas partes. 

       “Ainda que o Senhor é excelso, atenta todavia para o humilde; mas ao soberbo conhece-o de longe.Salmos 138.6

      Humildade, talvez seja a virtude mais difícil de se ter, e a mais delicada, facilmente se perde. Quem a tem? Só Deus conhece de fato os realmente humildes, já que nós, homens, podemos nos enganar sobre ela, a vermos em quem não a tem, muitos são dissimulados profissionais em emular virtudes, e não a enxergarmos em que a tem lá no fundo do coração, mesmo que seja um coração encapado por um jeito grosseiro de ser, no trato e nas palavras. A verdade é que nós, principalmente os cristãos com séculos de tradição católica hipócrita, criamos arquétipos de humildade, e parece que quando alguém foge desse arquétipo achamos que não é humilde. As pessoas, contudo, podem ser humildes por motivos diferentes.
      Alguns são humildes por opção, podem escolher isso. Esses são bons cidadãos, bons profissionais, bons cristãos, conseguem errar menos, fazem as melhores escolhas antes, têm bons empregos, bons casamentos, bons amigos e são considerados como membros fiéis em suas igrejas. “Mas como, esses parecem tão corretos e ainda assim podem escolher não serem humildes?” Exato, e justamente por serem tudo o que foi descrito, eles, lá em seus íntimos, em seus corações, de um jeito que só Deus sabe, podem não ser de fato humildes. Muitos pensam assim: “sempre fiz tudo certo, sou honrado por isso diante de meus semelhantes, não preciso me rebaixar para certas coisas, para certas pessoas, tenho direito ao meu orgulho”.
      Ouros, contudo, têm a obrigação de serem humildes, eles não têm outra saída para seguirem vivos. Esses fizeram tudo errado, pelo mal que lhes fizeram e pelo mal que eles quiseram fazer a si mesmos, fizeram alianças equivocadas e foram infiéis com elas, traíram e como efeito foram traídos. Dessa forma, para poderem ter ainda nesta vida um pouco de paz, uma segunda chance, ainda que tardia, alguma liberdade, ainda que na solidão, precisam tratar muitos com humildade, sem exigências, sem cobrar que ninguém os perdoe, mas firmados apenas no perdão de Deus e de si próprios. Esses entenderam que não podem confiar em si mesmos, e muito menos naqueles que sempre os verão como eram, não como são agora. 
      Existe um terceiro e um quarto tipo de pessoa. Um deles é aquele que mesmo tendo sido melhor e há mais tempo, é humilde, esse é o tipo mais raro de ser humano, o que sempre teve, mas ainda assim vive como se nunca tivesse tido, o que abre mão de valores pessoais, de aprovações humanas, para confiar em Deus e tratar com misericórdia a todos os homens, mesmos os mais pecadores, ainda que não precise de ninguém. O quarto tipo é o tipo mais triste, ainda que tenha errado, não aprendeu com os erros, e segue, errando mais e arrogante. Contudo, uma pergunta cabe aqui, sobre os dois primeiros tipos: quem é mais feliz? O que pouco errou, mas envelheceu arrogante, ou o que muito errou e aproximou-se da morte humilde?
      Para responder essa pergunta é preciso responder outra: para que serve essa vida, para que estamos neste mundo? Para sermos importantes materialmente, diante dos homens, ou para adquirirmos espiritualidade que agrade a Deus? Se for para nascer de um jeito, passar por juventude e maturidade e continuar igual, talvez nem importe se fomos sempre ruins ou bons aos olhos dos homens. É preciso evoluir, mudar, e todos, todos nós temos o que mudar, ninguém nasce pronto, ainda que num nível “espiritual” (moral) mais alto que outros. No que mudar, onde e quando mudar, cada um de nós sabe, ainda que mostremos para os outros uma aparência de integridade e excelência. Uma coisa é certa, para o que muito errou é muito mais difícil mudar, deixar o mal e fazer o bem, largar a infidelidade e ser fiel. 
      Os que erraram muito não têm escolha, se quiserem uma vida diferente terão que ser humildes, Deus, contudo, cuida de um jeito especial dos humildes, dos que não confiam em si mesmos, isso por não terem justiça própria para confiar, e confiarem em Cristo, que justificou os pecadores. Entretanto, cuidado, não acuse os que se refugiaram no perdão de Jesus, quem faz essa acusação não acusa o pecador, mas quem o perdoou. Infelizmente, muitos religiosos que conhecem o evangelho de trás para frente podem ainda nem terem se convertido, se acham cristãos por acharem que merecem ser. Quem acha que merece nunca foi de fato cristão, o fundamento do novo nascimento em Cristo está na assunção de que nada se merece, mas tudo se recebe pela graça de Deus, a humildade verdadeira começa aí, e daí ilumina-se para a espiritualidade.
      O texto inicial fala de uma dimensão interessante para discernir o humilde do soberbo, a distância. Enquanto o humilde se conhece quando se olha de perto, no coração, já que a humildade verdadeira pode ser simulada com aparência de falsa humildade, o soberbo se vê de longe, por quê? Porque ele gosta de ostentar, de se exibir, e muitas vezes mesmo virtudes falsificadas, que ele sabe que são importantes, mas não paga o preço para tê-las de fato. Deus conhece o soberbo de longe, ele é facilmente identificável porque quer aparecer, já o humilde é discreto, sábio, aprendeu a se recolher em si, ele sabe que muitas qualidades, ainda que genuínas, não podem ser valorizadas por todos, assim ele as guarda como seu tesouro mais valioso. O humilde, não se posta diante de homens porque confia em Deus, isso é espiritualidade cristã. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

26/10/20

26. Espiritualidade exercida com sabedoria

Espiritualidade Cristã (parte 26/64)

      “Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem.Mateus 7.6 

      A espiritualidade nos dá acesso a conhecimentos divinos que salvam, curam e transformam o ser humano, mas será que basta saber, mesmo saber com um coração cheio de amor, para compartilhar esses conhecimentos? Para entender isso precisamos entender corretamente a metáfora “pérolas aos porcos”, o que ela significa? Significa coisas preciosas demais para quem não dá a essas coisas o devido valor, valor de coisas preciosas. Porcos podem comer quase que qualquer coisa, e quando são mal criados, no meio de sujeira e lixo, podem até comer pérolas, mas não saberão o valor delas, nem que elas não são para comer. 
      Podemos observar dois tipos de reações indevidas de quem não sabe o valor do que lhe é apresentado: rejeição e aceitação estúpida. A aceitação estúpida aparentemente não rejeita, mas também não recebe do jeito adequado. O texto acima fala da atitude de rejeição, de quem não reconhece o valor do que lhe está sendo ofertado e simplesmente pisa e destrói o presente, e mais, se volta contra os que lhe deram a oferta. Esse não entende nem o valor do que recebe nem a virtude de quem lhe dá, e pode reagir com violência.
      Contudo, atualmente existem muitos estúpidos que recebem o evangelho como recebem qualquer coisa, sem discernimento, eles até o “ingerem”, mas não usufruem de suas bênçãos mais profundas e facilmente se “livram“ dele para seguirem se alimentando de qualquer coisa, sejam bolotas ou pérolas. Mas por que alguns podem, além de despedaçarem o que recebem, voltarem-se contra os que deram? Entendamos pérolas nesta reflexão como simbologia para o conhecimento de Deus, e não existe nada mais precioso que a palavra do Senhor, que conduz à salvação, ao perdão, à cura e à paz eterna. 
      A culpa no coração orgulhoso cria mecanismos para desmerecer quem vive e ensina a simplicidade do evangelho, porque o orgulhoso quer álibis para permanecer como é, com as suas soluções, negando de qualquer maneira que suas soluções não resolvem, não lhe trazem paz. Dessa forma, quando compartilhamos a solução de Deus com o orgulhoso, ele não vê como solução de Deus, mas como a nossa, o orgulhoso não enxerga Deus, o mundo espiritual, mas homens e o plano físico, e para tirar a legitimidade de algo divino diz que é só mais um ponto de vista humano.
      Por ser orgulhoso, não quer admitir que outros têm uma solução melhor que a sua, ainda que com isso continue se sentindo culpado, e entenda como outros principalmente aqueles que causam a ele alguma insegurança, já que ele até pode aceitar soluções, mas de quem não ameace de alguma maneira a posição superior que ele quer mostrar que tem em seu grupo social. (Quer um exemplo disso? Não existe gente mais difícil de ser evangelizada que parentes, eles ouvirão estranhos na rua, mas não alguém com laços de sangue em comum). 
      A culpa no coração orgulhoso leva muitos a comprarem os produtos mais insanos possíveis para que o coração continue com culpa, na verdade o orgulhoso busca outros nomes para sua culpa, que não jogue sobre ele mesmo a responsabilidade por ela, mas nos outros. A preciosidade da pérola do evangelho está em mostrar a responsabilidade pessoal de cada um por seus erros e a objetividade com que se pode receber paz pelo perdão que existe no nome de Jesus. Dessa pérola todas as outras advém, salvo e sem culpa o homem pode então aprender mais pelo Santo Espírito.
      Todavia, com os porcos que comem de tudo, talvez seja com quem tenhamos que ter mais cuidado, “pérola” comida rapidamente é “descartada”, pois “pérola” não é para ser comida, mas para ser usada como joia preciosa, principalmente em momentos especiais, mantida segura para sempre. Por “comerem” e não guardarem do jeito certo é que tantos enchem igrejas atualmente, e ainda assim nunca conhecem profundamente a palavra do Deus Altíssimo, nunca crescem, e sempre são manipulados por homens. O evangelho atualmente, em muitos lugares, não é apresentado como “pérola”, mas como bolotas de porcos, essa é a terrível verdade. 
      Se você achou uma pérola do evangelho guarde-a para si, como seu bem mais precioso, você achou espiritualidade, se outros tiverem que vê-la que vejam a beleza que ela apresenta em sua vida, que vejam o efeito dela. Não tente dar uma pérola a qualquer um, de qualquer jeito, dê a tua pérola o devido respeito, seja espiritual, tenha-a como pérola divina, não como arma humana para dar a última palavra numa discussão. Caso contrário o estúpido poderá se voltar contra você e ainda desmerecer o evangelho, você só estará jogando fora, por ter feito algo no tempo errado, a oportunidade de alguém ser abençoado, e estará lançando aos porcos a espiritualidade de Deus. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

25/10/20

25. Espiritualidade exercida com amor

Espiritualidade Cristã (parte 25/64)

      “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um.” Colossenses 4.6
 
      A verdadeira espiritualidade deve ser guardada como o bem mais precioso, assim não deve ser compartilhada de qualquer jeito, com qualquer um, em qualquer momento, principalmente quando é explicada de maneira mais profunda. Vivida, sim, precisamos vivê-la sempre e da melhor maneira possível, ainda que com cuidado, mas para falar sobre ela é preciso amor e sabedoria, isso porque não é todo mundo que está preparado para ela, e pior que isso, alguns podem usar um conhecimento nosso, adquirido a duras penas, para se promover, ou então, para odiar mais ainda o cristianismo à medida que entendem mal o que não estão preparados para saber. Algumas coisas é melhor que fiquem “ocultas”. 
      Ser espiritual é saber de certas coisas, sim, isso está correto, mas não basta saber. Em Deus as coisas funcionam de maneira diferente, não basta saber sobre ele ou poder dizer algo sobre sua palavra, é preciso ter ordem dele para manifestar isso aos outros. Quando ele manda ele nos prepara, senão será palavra de homem, não de Deus, e pior, palavra de homem dita em nome de Deus, o que agrava mais ainda o pecado. Para coisas de homens, basta saber que se tem direito de dizer, mas mesmo nisso se coisas certas forem ditas em tempo errado, no lugar errado ou para pessoas erradas, poderão funcionar mal, ainda que nesse caso, quem fala, fala por si, e assume responsabilidade pessoal por isso, nada tendo a ver com Deus. 
      A verdade é que o bem só é bem quando usado com bem, senão pode se tornar mal. Os tolos acham que basta saber, os estúpidos defendem legitimidade para o que têm a dizer na coragem que têm para dizer isso, mas coragem em si não confere legitimidade, pode ser apenas irresponsabilidade, falta de noção de quem fala o que pensa de forma errada. Qual é a forma certa de falar coisas certas? Em amor, o amor é o tempero adequado que dá equilíbrio à sabedoria, que torna mesmo a exortação mais insípida, salgada. O amor não humilha o exortado, nem exalta o exortador, mas glorifica o Deus de todas as virtudes buscando restaurar o exortado para Deus, não vencê-lo numa guerra pessoal e humana.
      Só sob ordem de Deus temos o amor certo para revelar a palavra dele, assim, se você entender que tem algo a dizer a alguém, se sentir que deseja ajudar alguém com uma orientação de sabedoria para uma área da vida, não necessariamente área espiritual, mas se perceber que não sentiu ainda amor suficiente para fazer isso de forma elegante, educada, espiritual, não faça, não ainda. Ore mais a Deus e espere que Deus propicie o momento certo, no tempo de Deus temos não só o que dizer, mas o modo certo de dizer, em amor ganhamos amigos consolados mesmo na exortação, e não fazemos inimigos humilhados com uma verdade dita de maneira insensível e egoísta para a qual eles não estavam preparados. 
      “Não toque em ferida que não possa curar”, orientação que um dia recebi e nunca mais me esqueci, e como nós evangélicos nos achamos tantas vezes donos da verdade e com capacidade diferenciada para resolver problemas alheios. Por outro lado, quem está sempre achando que pode resolver os problemas dos outros, grande parte das vezes não quer resolver os próprios problemas, já quem se conhece e se resolve em Deus age com paciência, com amor, com humildade, pois dá para os outros o que recebeu, e cada um só dá o que recebe, eis uma “economia” básica no universo. Quem recebe exortação dura e violenta dará isso aos outros, e nem se sentirá mal por agir assim, mas quem recebe amor dá amor e ganha mais amor.
      Quem não ama pode ser impelido a agir por inveja, e não se pode confiar em quem quer expressar espiritualidade, seja ensinando mistérios ou praticando caridade, com um coração invejoso. Inveja revela que alguém não se conhece, não se ama e deseja ser ou ter o que o outro é ou tem, assim a inveja até consegue bens e conhecimentos, mas falsos, porque o invejoso não busca para si, mas para o outro. O invejoso não vive para si, mas para impressionar o outro, assim nunca estará satisfeito, terá tudo mas não usufruirá de nada, por isso tudo o que acumula é falso. O coração do invejoso é o de um ladrão, que ainda que não manifeste isso roubando algo material, tem um desejo profundo de adquirir algo que não é dele. 
      Existem duas coisas difíceis de serem detectadas no coração humano, uma é boa, a humildade, sobre a qual refletiremos adiante, a outra é ruim, a inveja. É difícil de ser detectada porque o homem pode ser motivado a fazer coisas esplêndidas por ela, assim suas ações não refletem suas intenções. Como ser liberto dela? Pelo amor, o diabo invejou a Deus, por isso perdeu direitos, o que o fez ferramenta para testar no homem justamente a inveja, Adão e Eva provaram do fruto proibido porque queriam ter o mesmo conhecimento de Deus, invejaram a Deus ao invés de amá-lo. Quem vence inveja com amor entende um dos mistérios da espiritualidade mais elevada, e será servo. O servo, contudo, sempre é servido por Deus.  

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

24/10/20

24. Espiritualidade gera santidade, humildade e amor

Espiritualidade Cristã (parte 24/64)

      Uma experiência marcante com o Espírito Santo sempre gera em nós três coisas: santidade, humildade e amor. Se uma dessas coisas faltar, não é o Espírito de Deus quem agiu, não em sua plenitude. Essas virtudes abrangem todas as nossas relações, a santidade nos permite agradar a Deus, a humildade nos permite aceitar a nós mesmos e o amor nos permite respeitar os outros. Só o Espírito Santo de Deus habitando o espírito dos salvos através do perdão exclusivo e completo de Cristo, pode colocar o homem no mais alto nível espiritual, limpando sua alma e curando seu corpo. Precisamos entender isso e não aceitar falsificações de experiências espirituais, feitas por muitos que podem estar provando outras coisas, mas não de fato a unção do Espírito Santo de Deus. 
      Santidade é a primeira coisa que nossa alma sente como prioridade quando temos de fato um encontro com Deus, uma passagem bíblica que bem exemplifica isso é a do profeta Isaías, “No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o seu séquito enchia o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam. E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. E os umbrais das portas se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos.” (Isaías 6.1-5). 
      “Então disse eu, aí de mim”, essa é a reação de quem de fato se aproxima de Deus, esse sente medo, não por por recear algo mal, moralmente reprovável ou violento, mas por sentir-se indigno, como se fosse colocado diante de alguém famoso, rico, poderoso, mas com vestes inapropriadas, sem banho, com cabelos desarrumados, com a barba por fazer, ou se for mulher, sem maquiagem ou unhas feitas. Deus é muito mais nobre, poderoso e limpo que qualquer homem ou ser espiritual, assim o sentimento honesto de quem se aproxima dele é temor por se achar indigno, despreparado, em pecado. Hoje temos o sangue de Cristo que nos purifica de todo pecado, mas ainda assim muitos não se apossam disso e ousam tentar entrar na presença do Senhor de qualquer jeito, e muitas vezes só para impressionar os outros, para dizerem que entraram mesmo não sendo verdade.
      Humildade é o segundo efeito de quem encontra Deus, porque quando olhamos para Deus nos vemos e quando nos vemos de verdade, sem máscaras ou filtros, entendemos o quanto somos fracos, imperfeitos, dependentes da misericórdia do Senhor, necessitados de mudanças, de melhoras. Quando nos vemos como somos olhamos os outros diferentemente, não exigimos desses o que nem nós somos. A humildade nos leva a agir de uma outra forma com as pessoas, mas antes disso, ela nos dá paz, pois com ela podemos nos aceitar, sem exigir de nós o que não somos ou podemos, e amando nossas verdades pessoais sem vaidades. Só o humilde se aceita, se gosta, tem paz e pode então se relacionar melhor com os outros, essa é a verdadeira humildade que nasce só de um real encontro com Deus, onde nos humilhamos e clamamos por misericórdia e perdão.
      “O Senhor eleva os humildes, e abate os ímpios até à terra“ (Salmos 147.6), humildade é um dos grandes mistérios espirituais, pois algo que a princípio pode parece que nos diminui no final acaba nos engrandecendo, isso porque abrimos mãos da referência errada e confiamos na referência certa. A errada é a do homem, nós mesmos ou os outros, o humilde abre mão de ser honrado pelo outros sendo aquilo que ele acha que vai agradar os outros ou a si mesmo. A referência certa é a referência de Deus, quando paramos de nos importar com o que os homens acham que é importante Deus nos revela o que é importante para ele, e nessa experiência nos sentimos muito bem, satisfeitos, úteis, completos, em paz, num orgulho pessoal que não sente necessidade de mostrar aos outros, mas que se sente feliz só por saber que Deus sabe e se importa. 
      A terceira experiência que temos quando vivenciamos um real encontro com Deus é o amor. Se pela santidade nos equalizamos com Deus e com a humildade nos aprumamos com nós mesmos, podemos, então, ver os outros como são e tratá-los como Deus quer os tratemos. Amor é dar ao outro o mesmo direito que queremos para nós, mas não de um jeito frio, como se fosse só obedecendo cegamente uma lei. O verdadeiro amor compungi-nos, move nossas estranhas, toca profundamente nossos sentimentos, nos faz querer abraçar alguém, física e emocionalmente, e assim, enternecidos, queremos que a pessoa seja honrada, ainda que isso signifique que nós não seremos. O amor não espera recompensa, se sacrifica em silêncio e entrega nas mãos de Deus, esperando dele e somente dele qualquer espécie de retorno, só após um encontro profundo com o Espírito Santo conseguimos amar. 
      “Então foram Elifaz, o temanita, e Bildade, o suíta, e Zofar, o naamatita, e fizeram como o Senhor lhes dissera; e o Senhor aceitou a face de JóE o Senhor virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos; e o Senhor acrescentou, em dobro, a tudo quanto Jó antes possuía“ (Jó 42.9-10), essa passagem de Jó é um dos registros mais reveladores sobre o amor na Bíblia, mostra o amor na prática, demonstrado por quem não podia fazer outra coisa a não ser amar, e que precisava receber nada melhor que amor sincero. Os “amigos” de Jó foram punidos por Deus por terem falado a Jó sobre Deus com uma falsa sabedoria, aquela que até usa Deus e sua palavra como argumentos, mas que por não ser em amor julga e condena. Contudo, ainda assim, aquele que vivia uma provação enorme de Deus, que tinha sofrido muito e perdido tudo, se deu ao trabalho de orar por falsos amigos. 
       Quem se lembra de amigos falsos quando está lá no fundo do poço? E muitas vezes depois que saímos do fundo ainda tentamos nos vingar dos que foram cruéis conosco, ainda que seja só com um desprezo discreto. Mas Jó orou, pois bem, Deus não só ouviu a oração como “mudou a sorte de Jó”, e não só o levantou, mas com honra dobrada em relação a tudo que ele tinha perdido. Contudo, tem algo que passa quase que desapercebido no último capítulo do livro de Jó, no final do versículo 9, “fizeram como o Senhor lhes dissera e o Senhor aceitou a face de Jó”, não podemos dizer com certeza se uma coisa tem relação direta com a outra. Contudo, será que podemos interpretar que o Senhor aceitou a face de Jó só depois que seus amigos ofereceram a Deus sacrifícios por seus pecados? Em seguida, aceito por Deus, Jó ora pelos amigos e o Senhor concretiza a bênção. 
      Se interpretarmos dessa maneira, parece-nos que a bênção de um vem pelo esclarecimento dos outros, e vice-versa, Jó é abençoado quando seus amigos se arrependem e seus amigos são abençoados quando Jó ora por eles. Somos muito materialistas, gostamos de interpretar a bênção maior que Jó teve com a provação que passou, como a multiplicação de seus bens, nos esquecemos da bênção maior, a “iluminação” que tanto ele como seus amigos tiveram com a experiência Essa “iluminação” proporcionou-lhes uma visão mais clara do porquê estarmos neste mundo, uma experiência que os tornou mais preparados, e mais que para viver no plano físico, para habitar a eternidade espiritual com Deus. Jó não só ficou mais rico, mas com certeza mais santo, mais humilde e mais amoroso, assim como seus amigos, esse é o propósito maior de Deus em todas as provações que permite que passemos. 
      Quando temos de fato um encontro com Deus essas três experiências transbordam de nossos corações, desejo de ser santo, humildade não fingida e amor sem concessões, quem não demonstrar isso depois de ter alguma experiência espiritual precisa rever suas referências de experiência espiritual, seu entendimento sobre dons do Espírito. Uma experiência profunda com e no Espírito Santo mexe com nossas emoções, mas é muito mais que isso, mexe com nosso espírito, e isso nos coloca num nível espiritual diferenciado, nos dá uma convicção mental, um esclarecimento intelectual que transcende o emocional. Uma experiência com o Santo Espírito não deixa nossos corpos “sem controle”, como acontece em experiências com espíritos ”estranhos”, somos curados psicológica e fisicamente quando temos uma experiência verdadeira, ela nos coloca de fato mais perto de Deus e de sua espiritualidade mais elevada. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.