27/02/21

Raiz, tronco ou galhos? (8/9)

      “O ímpio deseja a rede dos maus, mas a raiz dos justos produz o seu fruto.” Provérbios 12.12

      Se perguntarmos a um crente, devidamente doutrinado no “evangeliques”, por que ele vai à igreja, ele responderá, “por causa de Deus, não por causa dos homens”, e ele chamará de imaturos os que saem de igrejas por se desentenderem com homens. Contudo, vou dizer algo que vai além desse entendimento, apesar de não parecer, não devemos estar em igrejas tendo como primeiro motivo conhecermos a Deus. Para conhecermos Deus não precisamos de igrejas, o raciocínio é o contrário, e os que buscam igrejas, querendo achar nelas a verdade absoluta sobre Deus, são justamente os que se desentendem com homens e saem de igrejas tristes com Deus, frustrados com religião, porque buscaram nela algo que ela não pode entregar. Tronco e galhos não libertam e submetem homens ao homem, só a raiz liberta e conduz a Deus. 
     Por quem então estarmos em igrejas? Pelos homens, pela vida social que temos nelas com semelhantes, e nós, homens, precisamos de amizades, de troca de experiências com pares. Crescemos em Deus com isso? Sim, pois pomos em prática o que cremos, e aprendemos sobre Deus também com as experiências de outros homens, mas se já amadurecemos um pouco entendemos que Deus independe de igrejas. Podemos perceber que as pessoas que conseguem ficar por mais tempo em uma determinada igreja são justamente as que têm laços sociais mais fortes nelas, e que não sofrem muito com incoerências morais. Com o tempo o homem sempre se revela, a paixão inicial, que mesmo na vida espiritual e em religiões limitadas pode cooperar para que haja mudanças morais nas pessoas, com o tempo perde a força e a realidade se impõe.
      Quando finda a paixão, o homem precisa achar um meio termo para poder conviver com sua realidade e com os ideais morais da igreja em que congrega. Os sinceros percebem que o que é ensinado não lhes permite realizar o que é cobrado, assim passam por um processo onde podem até tentar mudar a igreja, mas não conseguindo, ninguém muda tronco e galhos, saem dela. Se ainda estiverem iludidos com religião continuarão buscando em outras igrejas o ideal que não acharam, até que cheguem a uma conclusão, que fará que se afastem de vez de igrejas ou que busquem a Deus sem os véus. Se buscarem a Deus acharão coerência entre teoria e prática, encontrarão forças em Deus para viverem a vida que Deus quer eles vivam, não os homens, poderão retornar a conviver com igrejas, mas sem ilusões, para cultivarem vida social. 
      Quem se acomoda com religião dizendo a si mesmo que no mundo as coisas são assim mesmo, que nada é perfeito, que devemos louvar a Deus nas igrejas apesar disso, sem nos incomodarmos com homens? Aquele que, como diz o versículo inicial, “deseja a rede dos maus”, esse nem verá uma rede que prende, mas uma zona de conforto que abriga, no final o ser humano sempre se alia a semelhantes, “frequências iguais” se misturam e se confundem, não existe mais individualidade, só rebanho. “Mas a raiz dos justos produz o seu fruto”, esse texto não diz que o justo é um bom religioso, que é honrado por pares em igrejas, não diz que ele conhece as doutrinas de sua religião, mas diz que sua raiz, sua essência, dá frutos. Que adianta aparência de religiosidade se sabemos que em nossas vidas na prática não há virtudes morais? 
      No céu seremos avaliados pelos frutos, não por termos sido membros fiéis por anos dessa ou daquela igreja, e o cristianismo “raiz” permite isso, dar frutos, contudo, entendamos certo. Necessitamos de igrejas, sim, principalmente no início de nossas jornadas, para estabelecermos referências cristãs e conhecermos as humanidades que existem nas tradições, que não funcionam pois são coisas de homens, não de Deus. Depois disso devemos aprender a andar sozinhos e fazer nossas escolhas, infelizmente, é justamente nesse ponto, quando se está preparados para fazer escolhas, que muitos se tornam só prosélitos de religiões. Muitos, com medo da vida espiritual adulta, querem ser crianças espirituais para sempre, por isso o cristianismo “raiz” é preterido em nome de dogmas, sacramentos e liturgias de tronco e galhos. 

Parte 8 de uma reflexão
dividida em 9 partes
José Osório de Souza, 26/02/21

26/02/21

Raiz, tronco ou galhos? (7/9)

      “E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos; e, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:
      Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;
      Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;
      Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;
      Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
      Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
      Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;
      Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;
      Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.” 
Mateus 5.1-12

      Nesta reflexão dividida em nove partes, criticamos o tronco e os galhos do cristianismo, mas e quanto à raiz, o que seria ela? Ela é o mais puro e genuíno ensino de Jesus e nenhum texto nos mostra com mais clareza esse ensino que o sermão da montanha (Mateus 5-7). Esse texto começa com as bem-aventuranças, que se os homens vivessem, a despeito de outros ensinos, bastariam para que recebessem de Deus sua raiz. 
      Cristão “raiz” não é saber Bíblia e teologia de trás pra frente, não é experimentar dons espirituais, não é adorar a Deus com liberdade, não é ser assíduo numa igreja “pop” com os melhores ministros e pregadores, não meus queridos, tudo isso não representa necessariamente o cristianismo “raiz”, o cristianismo “raiz” é sempre menos, não mais, pelo menos aos olhos dos homens, por isso muitos não o buscam. 
      O Cristo “raiz” não é um reino no mundo, mas no céu, não é aprovação de homens, mas de Deus, não é o abrigo físico de instituições religiosas, mas a iluminação espiritual do Altíssimo que conduz à vida eterna, essa raiz tem preços, a morte do ego, a busca de virtudes interiores e não de aparência, o sofrer sem merecer e ainda assim não reclamar nem se fazer de vítima, mas se achar bem-aventurado do Senhor. 
      “E Jesus, vendo a multidão subiu a um monte, e assentando-se aproximaram-se dele os seus discípulos, e abrindo a sua boca, os ensinava“, tente imaginar essa cena, Jesus sentado num lugar alto, com aqueles que amavam seu ensino sentados ao redor, enquanto as palavras mais espirituais de todas as que foram pronunciadas neste mundo eram ditas, no plano espiritual nossa existência será assim. 
      Pobres de espírito são os humildes, que vivem sem qualquer intenção de se exibirem aos homens para imporem vaidades, que não fazem questão de serem tidos como menores e desimportantes, que permanecem em paz por confiarem, que o Deus que lhes perdoou, sabe que eles estão seguindo esforçando-se para serem melhores, ainda que ninguém acredite nisso e os julgue pelo que foram, não pelo que são.  
      Os humildes são felizes mesmo com os corações partidos, mesmo chorando por dentro, porque suas lágrimas não são de perdedores, mas de vitoriosos, não são invejosos e recalcados, mas quebrantados que acharam sob as asas do Altíssimo o consolo que é escudo contra todo egoísmo e injustiça, seus prantos sobem como incenso perfumado para Deus que se agrada deles e para eles sorri. 
      Esse consolo deixa no coração serenidade que produz a mansidão verdadeira, fruto não de uma falsa espiritualidade, forçada e que não é mais que cela para ódios e mágoas, mas efeito de um andar constante com Deus, de muita oração, de muito arrependimento, que anula as dívidas e ganha créditos do Senhor e criador do universo, que dá para eles sua aprovação como herança maior neste e no outro mundo. 
      Mas enganam-se os que acham que os mansos são indiferentes e reprimidos, em seus corações há uma averiguação constante da realidade, clamam por justiça, mas não qualquer justiça, não pelas suas justiças, mas pela justiça de Deus, e por isso, por confiarem mais em Deus que em suas próprias causas, não andam com fome e sede de honra e atenção, mas estão satisfeitos com a vontade maior de Deus.
      Contudo, o cristianismo “raiz” não faz justiça a um sendo implacável com o outro, a justiça de Deus tem o contrapeso de sua misericórdia, se uma leva todos a colherem os frutos de suas colheitas, a outra reconsidera a lei do “olho por olho, dente por dente” com um efeito mais brando, onde se tem forças para tentar de novo e acertar no amor de um Deus que não quer que nenhum se perca, mas que todos se salvem. 
      Mais que só provar um privilégio, os que provam a misericórdia de Deus são misericordiosos com os outros e por isso alcançam corações limpos e mentes leves, que representam a mais filtrada santidade, e nisso, em tratar o outro com o mesmo amor que recebeu, existe a chave para “ver” a Deus, para conhecer e viver os mistérios espirituais, fechados aos que cobram de homens e não confiam no Senhor. 
      Jesus só ensina sobre os pacificadores no final das bem-aventuranças, porque sem humildade, quebrantamento, mansidão, misericórdia e santidade não se pode lutar pela paz, qualquer carência dessas virtudes nos colocará em conflito com nós mesmos que projetamos em conflitos com os outros, mas filho de Deus não é o que toma espada e luta contra o mundo por sua fé, mas o que pacifica a si próprio.
      O pacificador sofrerá perseguição, não será entendido, mas não por qualquer egoísmo, ainda que dissimulado de interesse divino, mas porque de fato luta contra si mesmo para ser luzeiro de Deus nos mundos, no físico e no espiritual, ah, meus queridos, quantos de nós de fato temos o privilégio de sofrer pelos interesses de Deus e não pelos nossos? quem experimenta isso entendeu o que é o Cristo “raiz”. 

Parte 7 de uma reflexão
dividida em 9 partes
José Osório de Souza, 25/02/21

25/02/21

Raiz, tronco ou galhos? (6/9)

      “Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós” I Pedro 1.18-20

      Alguém pode dizer, “o que ocorreu com o cristianismo foi uma progresso natural, com o tempo as coisas mudam, nada fica igual para sempre, o homem muda, a religião muda”, bem, essa é uma argumentação sensata e poderia ser válida para o cristianismo se ele fosse coisa deste mundo. A arte muda, a cultura, a sociedade, a moralidade, a família, a sexualidade muda, mas uma verdade espiritual como a de Jesus, que salva o homem de maneira exclusiva e plena, que entrega promessas eternas, para o outro plano, eu, pelo menos, creio que não deve mudar. A obra redentora de Cristo não é coisa deste mundo, é algo que veio do mais profundo amor de Deus pelo ser humano, planejado desde o início dos tempos.  
      Contudo, em algum momento entre os séculos I e IV, entre a subida de Cristo ao céu e a promulgação do Édito de Milão, que transcreveu o acordo entre os imperadores cessando a perseguição aos cristãos, o cristianismo mudou. Quando a igreja católica nasceu não existia mais um cristianismo raiz, ela já nasceu desviada, seita baseada em tradições, ainda que poderosa, seita, em relação ao cristianismo original. Nessa declaração fica claro que a igreja católica não foi fundada por Cristo, ou por Pedro, mas por desviados do cristianismo primitivo, e nessa declaração também não desmereço católicos, não desacredito de suas sinceridades ou da qualidade de suas vidas morais e religiosas, mas constato um fato, aceitem isso ou não. 
      Homens maus têm o objetivo de controlar outros homens para obterem lucros, contudo, é impossível controlar todos o tempo todo, mesmo com opressão militar. A Igreja Católica, herdeira de um Império Romano decaído, achou um jeito de controlar os homens pela religião, por isso, desde o início, construiu um Cristo de acordo com seus interesses. Controlando esse falso Cristo ela poderia controlar os que nele cressem, já que o Jesus verdadeiro não pode ser controlado por ninguém. O falso Cristo foi montado com os dogmas, que incutiram nas mentes dos homens falsas doutrinas divinas, cuja desobediência repercutiria em duras penas, assim o catolicismo domina pelo medo, principalmente do diabo e do inferno. 
      Não estou negando o diabo e o inferno, em alguma instância esses existem sob muitas óticas religiosas, o engano, contudo, há em fortalecer Deus e legitimar o céu só pelo fortalecimento do diabo e do inferno. O erro está em atrair pessoas a Deus e ao céu, não pelo amor que o Altíssimo tem por todos os seres humanos e pelo direito ao céu que têm os que fazem escolhas morais corretas, mas potencializando o medo do diabo no mundo e das terríveis chamas do inferno na eternidade. Esse falso cristianismo cria e mantém crianças, dependes, medrosas e vazias, desejosas só de um poder que as proteja das trevas dentro das instituições, e não permite o amadurecimento de homens livres atraídos à luz mais alta pelo vivo e livre Espírito Santo. 
      Já refletimos muito sobre o desvio católico aqui, e já chegamos à conclusão que isso não interfere no plano de Deus de usar encarnação, morte e ressurreição de seu filho Jesus como único salvador para a humanidade. Deus nunca teve interesse em manter uma instituição religiosa como sua representante oficial no planeta Terra, se tivesse, a mais pura raiz do cristianismo teria se mantido assim por séculos. Se fosse isso o catolicismo idólatra não precisaria de uma reforma protestante para voltar ao evangelho original, ou o protestantismo intelectual de movimentos pentecostais para renovar uma tradição fria, ou de outra revolução, que ainda não ocorreu (no momento atual), para recuperar hereges na teologia da prosperidade.
      Deus só precisa de Jesus e do Espírito Santo, aquele que clamar a ele em nome de Cristo, com humildade, buscando perdão, e permitir ser ensinado pelo Espírito Santo, achará paz e luz, salvação eterna e vitória neste mundo, amor para vencer mágoas e injustiças, libertação de vícios e doenças emocionais, e paz para ser curado no corpo, e o que melhor cura nosso corpo é uma alma e um espírito em paz, sem culpas e rancores. Queridos católicos, evangélicos e protestantes, essa não é uma crítica destrutiva, mas reconstrutiva, não precisam deixar suas religiões, tradições nos fazem bem, nelas achamos semelhantes, mas entendamos que Deus é mais e tem muito mais para nós que as tradições do tronco e dos galhos têm. 

Parte 6 de uma reflexão
dividida em 9 partes
José Osório de Souza, 30/10/20

24/02/21

Raiz, tronco ou galhos? (5/9)

      “Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará. E repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o espírito de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do Senhor.Isaías 11.1-2

     Nesta reflexão, que compara o cristianismo a uma árvore, uma pergunta se levanta: se tronco e galhos são tradições humanas, então, pelo ideal de Deus, o cristianismo deveria ser uma planta diferente? Uma planta só com raiz, folhas, flores e frutos? Mas que tipo de planta seria esse? O cristianismo que Cristo viveu como homem era só raiz e fruto, como uma aboboreira, e eis uma nova metáfora. É importante dizer que nenhuma metáfora é perfeita, pode ser didática e nos ajudar a entender as coisas, mas só até certo ponto, ela sempre se mostrará limitada. Árvores podem ser altas, fazerem sombra que protege do Sol, e como ser clorofilado não se alimenta só pela raiz, suas folhas recebem a luz fazendo fotossíntese
      Mas o uso da árvore como metáfora da evolução histórica do cristianismo foi feito olhando a estrutura da planta, para tecer a crítica que o cristianismo não deveria se manter no tempo neste mundo como um organismo de partes distintas, raiz, tronco e galhos, mas como algo mais homogêneo, assim podemos concluir que uma planta rasteira e mais simples, como uma aboboreira, talvez seja uma metáfora mais adequada. Lição de biologia à parte, a religião, por trabalhar com valores espirituais, deveria ser algo desprendido de valores materiais, não deveria aparecer no mundo como uma rica instituição, como uma enorme e centenária árvore, mas como um organismo discreto, como foi a vida do Cristo homem. 
      A crítica aqui não é à árvore, mas às instituições cristãs, quanto antagonismo existe justamente na religião que se diz entregadora do único salvador de Deus para a humanidade, que é representado mais fortemente e por mais tempo no planeta justamente pela instituição mais poderosa de todas, a Igreja Católica, com catedrais, mosteiros, conventos, escolas, em todo o mundo, sediada numa cidade-estado, o Vaticano, e dona até de um banco. Não, meus queridos, o cristianismo deveria se parecer mais com uma aboboreira, raiz rente à terra que se aprofunda com discrição para se alimentar, numa intimidade com Deus sem vaidades, que ninguém precisa ver, mas com frutos grandes e que servem a todos generosamente. 
      Quem passa por um terreno onde uma aboboreira está plantada, se a planta não estiver com fruto, quase não a percebe, diferente de muitas árvores, que ainda que sem frutos, ou que deem frutos amargos ou mesmo venenosos, são vistas e admiradas. A aboboreira, contudo, tem o tempo certo para dar seu fruto, se parece sumida é porque está trabalhando. Assim, faço outra pergunta: que planta eu sou, ou, que planta quero ser? Uma grande árvore, que ainda que seja vistosa dá frutos venenosos ou nem os dá? Ou uma aboboreira, menor, escondida, mas que produz grandes frutos? O certo é que muitos usam tradições religiosas do mesmo jeito que usam bens materiais, para exaltar o homem diante de homens, não a Deus.
      As raízes mais fortes e profundas crescem dentro de nós, permitem que nossos espíritos se conectem com o Santo Espírito, isso não é uma ligação para homens verem. Quem olhava para o Cristo encarnado não via uma árvore vistosa, mas seus frutos, efeitos de uma comunhão interior plena com o pai, todos os seres humanos podem colher, frutos de amor e de vida eterna. Os líderes religiosos judeus do primeiro século, esses sim, se postavam como grandes árvores querendo tocar o céu, como a torre de Babel. Na verdade Babel nunca deixou de existir, quando uma é derrubada, outra é levantada em seu lugar, atualmente existe uma no Vaticano, um tronco enorme e seco, desligado da raiz, tentando dominar o mundo. 
      Contudo, não duvide, existem muitos homens espirituais “raiz” atualmente, quem eles são muitos só saberão na eternidade, suas vidas são as verdadeiras luzes que iluminam o mundo, eles, cada um à sua maneira, com o seu dom, ligados a igrejas ou sozinhos, discretos na clandestinidade, ajudam o próximo. Muitos cristãos, reconhecidos socialmente como bons religiosos, se surpreenderiam ao saber que alguém que conhecem e para o qual não dão muito valor, é uma luz espiritual forte que Deus usa para impedir que as trevas dominem os homens. Esses luzeiros não se preocupam com quantidade, mas com qualidade, fazem trabalho de formiguinha, dia a dia, obedecendo a Deus e esperando só dele aprovação. 

Parte 5 de uma reflexão
dividida em 9 partes
José Osório de Souza, 30/10/20

23/02/21

Raiz, tronco ou galhos? (4/9)

      Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade, porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem, o qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo.” I Timóteo 2.3-6

      Penso que no momento atual da história da humanidade, a prioridade de Deus seja a salvação do maior número possível de pessoas, não importando muito o nível de conhecimento espiritual que elas tenham, assim basta às religiões cristãs darem o curso básico, que é o que Paulo descreveu no texto inicial. Muitos podem responder a essa afirmação com uma pergunta: mas esse não é o único interesse de Deus sempre, salvar as pessoas, isso não basta? A resposta vai depender da tua fé, e novamente digo aqui, não ande conforme a fé dos outros, muito menos de acordo com a fé desse que vos escreve, mas conforme a tua fé, seremos cobrados pelo que cremos e praticamos, não pelo que os outros creem e praticam. 
      Também preciso deixar claro que com nível mais alto de conhecimento espiritual não quero dizer que os cristãos atuais sejam carnais, não é isso, existem virtudes, transformação de vida, mas ainda que muitos não aceitem, é um evangelho que prepara as pessoas muitos mais para uma vida neste mundo, no plano material, que para a eternidade. Mesmo a visão que muitos cristãos têm da eternidade é rasa, bem aquém da verdade mais alta, a maioria não está preparada para revelações mais profundas, a maioria prefere tronco e galhos à raiz. Contudo, as tradições têm um papel importante na religiosidade, um lado positivo, elas protegem os tolos de si mesmos, entregam uma zona de conforto para os de pouca fé. 
      Com pouca fé não me refiro à fé que não crê que Deus cura enfermidades ou “mova montanhas”, mesmo esse nível de fé pregado por tantos pastores atuais e que tantos crentes acham ser o nível mais alto de espiritualidade é, novamente dizendo, só para ter uma vida próspera neste mundo. Mesmo essa tal grande fé, comparada a que se pode ter para se ter um conhecimento espiritual mais profundo e que prepara o homem para o plano espiritual muito mais que para o fisico, é menor. Mas lembre-se, fé, ainda que exija potências humanas, imaginação mental e convicção emocional de algo que ainda não existe, não é força, é descanso, que permite que o espírito humano se mova no Espírito de Deus.
      Na árvore na qual o cristianismo se transformou, as tradições do tronco e dos galhos protegem os de pouca fé, mas também protegem a verdade mais profunda de cair em mãos despreparadas, ainda que seja inventando histórias como as que contamos para crianças para que elas não saiam debaixo das proteções dos adultos. Crianças não estão preparadas para fazer escolhas, para serem independentes, dessa forma os adultos têm que escolher por elas para que elas vivam na dependência deles, do mesmo jeito as tradições procedem. Mas se o lado bom das tradições é cuidar de cristãos infantis, protegendo-os, proibindo certas coisas e dando outras gratuitamente, o lado negativo é que impedem “crianças” de crescer. 
      Tradições não querem que as pessoas amadureçam, já entenderam há muito que quando isso ocorre as pessoas ficam independentes, assim deixam de alimentar as religiões com bens materiais e veneração. Foi justamente por entenderem isso que homens desviados do cristianismo raiz, criaram as tradições e fortaleceram tronco e galhos. Tradições são acúmulos de velhos conhecimentos humanos, interpretações da verdade, não a verdade pura, por isso são mortas. A Igreja Católica construiu sua tradição em concílios e encíclicas, e dando às palavras de papas o mesmo (ou maior) valor que tem a Bíblia, e mais, adicionando à Bíblia livros que não estão presentes na chamada bíblia hebraica atual (ver item “Composições”). 
      O verdadeiro conhecimento de Deus não precisa ser “tradicionalizado” para adquirir legitimidade, não a legitimidade realmente divina, não precisa de um formato que impressione os homens, de pompa, de liturgia. O Espírito Santo é puro conteúdo que deve ser guardado no espírito do homem, não nas instituições, quem dá forma a Deus neste mundo são os indivíduos, não as igrejas, o homem é o templo do Espírito Santo, não catedrais e outras construções físicas. A palavra do Espírito Santo é viva, e ainda que fique antiga nos registros bíblicos feitos por homens ungidos nele, não envelhece e se renova diretamente por sua atuação, a terceira pessoa da trindade nos corações dos novos nascidos em Cristo. 
      Já as tradições levam as pessoas a serem dependentes delas, não de Deus, elas prendem, não libertam, elas crescem na proporção que Deus diminui, se fecham e mais tradições criam. Não se iludam protestantes e evangélicos, liderando suas instituições também existiram e existem homens que criaram e criam tradições para manterem seus poderes e controlarem os homens, sempre foi assim e sempre será, ainda que Deus se mostre nas tradições pela grande misericórdia que tem por todos os seres humanos. Deus não escraviza ninguém, mas quer que todos sejam livres, só Deus pode nos libertar, dos pecados do corpo, da alma e do espírito, essa libertação está no nome de Jesus e na presença do Espírito Santo. 

Parte 4 de uma reflexão
dividida em 9 partes
José Osório de Souza, 30/10/20

22/02/21

Raiz, tronco ou galhos? (3/9)

      “Eu, Jesus, enviei o meu anjo, para vos testificar estas coisas nas igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da manhã. Apocalipse 22.16

      Em minha caminhada com Deus, confesso que já tive posicionamentos diferentes com relação à raiz, tronco e galhos, mudei de opinião mais de uma vez sobre a relevância das religiões em relação àquilo que experimentam os homens de Deus, sobre a importância que Deus dá às religiões e principalmente às religiões cristãs protestantes e evangélicas. Num primeiro momento acreditava que a denominação da qual eu fazia parte era a raiz e todas as outras, católica, protestantes e evangélicas, não eram nem tronco, nem galhos, mas outras e estranhas árvores, totalmente fora da verdade mais pura. Muitos hoje pensam assim, creem que suas religiões cristãs são as corretas, as oficiais, e as outras são erradas, seitas heréticas. 
      Num segundo momento eu consegui enxergar a árvore, mas dando relevância à raiz e pensando que todas as religiões deveriam deixar de serem tronco e galhos e voltarem à raiz. Esse posicionamento pode parecer o ideal, o melhor, mas ele desconsidera a misericórdia de Deus e a própria história do cristianismo na Terra, esse momento experimentei até há pouco tempo, e ainda que não represente melhor a realidade é um ideal sempre válido de ser pensado. Vivo um terceiro momento, e nesse as religiões deixaram de ter o lugar número dois na espiritualidade e passaram a ter o lugar número três, em primeiro lugar está Deus, em segundo lugar estão os homens, e em terceiro lugar estão as religiões, a hierarquia mudou para mim. 
      Os homens são os meios entre Deus e as religiões e não as religiões, os meios entre Deus e os homens, sendo assim, Jesus é o meio direto entre o homem e Deus, e o homem depois cria as religiões conforme sua subjetividade. Se colocamos a religião no segundo lugar entregamos a ela o direito de ter comunhão com Deus através de Cristo e nos obrigamos a aceitar a subjetividade das religiões sobre o que é Deus. Qual a diferença? A diferença está no indivíduo, não nas instituições ou num grupo de indivíduos que criam e mantêm a tradição. Não seremos confrontados pela luz do Altíssimo na eternidade sendo questionados sobre qual foi nossa religião, sobre o que ela cria ou fazia, mas sobre quem nos tornamos nelas. 
      Sim, as tradições cristãs têm seus objetivos, ao meu ver podem funcionar como cursos primários cristãos, mas não devemos delegar a elas direitos exclusivos para nos entregarem o curso cristão avançado, e não pense que fazer uma faculdade teológica nos dá o crédito de avançado, isso só nos faz mais conhecedores das tradições, dos galhos e do tronco, não da raiz. As religiões são ferramentas, não fins em si mesmas, e muitos poderão se tornar seres humanos espiritualmente melhores mesmo em tradições que muitos de nós consideram religiões limitadas e mesmo erráticas. Às vezes pode ser melhor nos comprometermos menos com teoria e praticar mais que sabermos mais e não vivermos o suficiente disso. 
      Trajetória espiritual é algo individual, somos nós e Deus, paremos de uma vez por todas de colocar religião entre nós e Deus, paremos de “religare”, religião, todas elas, é coisa de homem, é tradição construída por seleção conveniente a homens que desejavam e desejam manter poder sobre homens. O Espírito Santo foi e é esquecido nas escolhas que criam as tradições, e no melhor das circunstâncias, ainda que ouvido, interpretado conforme a subjetividade humana, limitada ao tempo e espaço do plano físico. Contudo, se você quiser, de verdade, conhecer mais a Deus, saber sobre o mundo espiritual, entender de fato porque existimos, de onde viemos e para onde vamos, você conseguirá, focando-se na raiz.
      A busca espiritual não sobe como uma árvore para ser vista e festejada pelos homens, não está no tronco e nos galhos, esses acabam nas folhas, flores e frutos que são os homens. A busca desce, para a raiz, que ainda que pareça sumir diante dos homens, do mundo material, aprofunda-se pelo espírito humano no Espírito de Deus. Os que acham a Deus e sua mais profunda espiritualidade não expõem isso para qualquer um e de qualquer jeito, sim, eles vivem de maneira diferenciada a paz e a luz, mas o conhecimento eles guardam em seus corações como algo muito precioso. A raiz não fica exposta, mas escondida, para ser preservada, e eis aqui a última metáfora espiritual desta reflexão, para os que têm olhos para ver. 

Parte 3 de uma reflexão
dividida em 9 partes
José Osório de Souza, 30/10/20

21/02/21

Raiz, tronco ou galhos? (2/9)

      “Não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti.Romanos 11.18

      Neste texto sigo tentando novamente desconstruir dogmas e preconceitos, desprender mentes de religiões de homens para captarem o que importa e não darem tanta importância ao resto. Jesus, único e suficiente salvador, que dá acesso ao verdadeiro Deus através da plena comunhão do Santo Espírito, que sela os salvos e os ensina sobre o mundo espiritual e sobre a razão da existência humana à medida que os conduz vitoriosos e em paz para que cultivem aquilo que importa, virtudes espirituais eternas da luz, essa é a raiz! O resto, bem, tome muito cuidado com o resto, tem muito de homem nas tradições, coisas que devemos respeitar, mas também saber quando desconsiderar. 
      A vaidade é um dos pecados favoritos do diabo, ele tenta todos com ela e em todas as áreas, física, emocional e espiritual. O tronco é a parte mais visível da árvore, pelo menos em tamanho, é forte, vigoroso, sustenta os galhos sobre ele, mas os galhos também são importantes, apesar de dependentes do tronco, eles produzem as folhas, flores e frutos, menores em tamanho, mas o objetivo final da árvore. Quanto à raiz, ela não é vista, fica submersa na terra, pelo menos sua parte mais profunda, aquela que retira da terra e da água o alimento que mantém toda a árvore viva. Para o vaidoso é melhor ser raiz, tronco ou galhos? Ser raiz está em terceiro lugar nesse ranking, isso é certo, o vaidoso quer aparecer, não ficar anônimo. 
      Me permitam refletir mais um pouco nessa metáfora, que vê o cristianismo no mundo como uma árvore, a mais frondosa entre as religiões, em cuja sombra o ocidente evoluiu, se enriqueceu e dominou o resto do planeta. A tradição cristã mais estruturada dos homens levantou uma árvore imponente, mesmo quando os galhos secaram e as folhas, flores e frutos não cresceram, o tronco se manteve, robusto, dominador, severo, resistindo a guerras, ascensão e queda de impérios. O tronco é o catolicismo, a maneira que o império romano achou para continuar existindo no mundo, os papas são os novos imperadores, que não conquistam com batalhas, mas com o marketing de serem os predecessores legítimos de Pedro.
      Atualmente os galhos se multiplicaram e de tal maneira que se tornaram pesados, encobrindo o tronco, mas ainda assim estão ligados ao tronco, mesmo que protestantes e evangélicos não admitam isso, que se considerem independentes e até melhores que os católicos. Mas pode um galho se desligar do tronco sem morrer? Não, assim ainda que neguem, o sonho dos galhos é ser como o tronco, por isso crescem tanto as denominações chamadas neo-pentecostais, como a I.U.R.D., que têm o desejo íntimo de serem novas igrejas católicas, para dominarem, enriquecerem e permanecerem como fez o catolicismo. Mas não é só nesse aspecto que os galhos estão presos ao tronco, é também no aspecto doutrinário. 
      Poderia se argumentar, “mas e as teses de Martinho Lutero, a proposta de volta a um cristianismo mais simples fundamentado na fé e não em obras e indulgências, onde haveria menos diferença entre leigos e sacerdotes, tirando o poder de liturgias, rituais e sacramentos, separando igreja de estado e colocando a Bíblia acima da infalibilidade papal”? Digamos que o protestantismo tirou a cobertura do bolo, mas manteve a massa, um bolo agora mais seco e esteticamente menos burocrático, sem a pompa das hierarquias, dos títulos, das catedrais, sem o Vaticano, mas no fundo com os mesmos ingredientes básicos, enfim, não se voltou à raiz, e na verdade nem se queria, por isso se chamou reforma, não revolução. 
      Quer conhecer mais sobre Martinho Lutero, leia textos protestantes e católicos, nos dois achará exageros, uns romantizando-o e outros demonizando-o, em ambos existem informações não verídicas e verídicas. Qual é a verdade? Decida você, mas cuidado crentes, não se iludam com uma tradição que ensina Lutero como quase um personagem bíblico. Lutero nem pretendia sair do catolicismo, só queria reformá-lo, mas foi expulso e fundou uma religião, que deu oportunidade para poderosos da Alemanha se apossarem de bens que eram da igreja católica em seu país. Eis um objetivo materialista e nada espiritual na reforma protestante, sem mencionar a morte de Lutero, que pode não ter sido a morte de um cristão exemplar.  
      O reinício protestante não manteve no mundo um cristianismo raiz, hoje evangélicos são basicamente católicos sem idolatria, mas na prática não vivem um cristianismo que faz diferença na sociedade, os galhos continuaram intrinsecamente ligados ao tronco e com muita vontade de serem novos troncos, iguais ao primeiro. A vaidade que corrompeu o tronco, corrompe também os galhos, enquanto a raiz é esquecida. Ah, católicos e evangélicos, todos igualmente vaidosos, achando-se uns melhores que os outros, uns com mais legitimidade para dominarem sobre os outros, nem precisam sair de onde estão, mudarem fisicamente de igreja, é o coração que precisa mudar, espiritualmente, da religião para Deus. 

Parte 2 de uma reflexão
dividida em 9 partes
José Osório de Souza, 30/10/20