sábado, fevereiro 27, 2021

Raiz, tronco ou galhos? (8/9)

      “O ímpio deseja a rede dos maus, mas a raiz dos justos produz o seu fruto.” Provérbios 12.12

      Se perguntarmos a um crente, devidamente doutrinado no “evangeliques”, por que ele vai à igreja, ele responderá, “por causa de Deus, não por causa dos homens”, e ele chamará de imaturos os que saem de igrejas por se desentenderem com homens. Contudo, vou dizer algo que vai além desse entendimento, apesar de não parecer, não devemos estar em igrejas tendo como primeiro motivo conhecermos a Deus. Para conhecermos Deus não precisamos de igrejas, o raciocínio é o contrário, e os que buscam igrejas, querendo achar nelas a verdade absoluta sobre Deus, são justamente os que se desentendem com homens e saem de igrejas tristes com Deus, frustrados com religião, porque buscaram nela algo que ela não pode entregar. Tronco e galhos não libertam e submetem homens ao homem, só a raiz liberta e conduz a Deus. 
     Por quem então estarmos em igrejas? Pelos homens, pela vida social que temos nelas com semelhantes, e nós, homens, precisamos de amizades, de troca de experiências com pares. Crescemos em Deus com isso? Sim, pois pomos em prática o que cremos, e aprendemos sobre Deus também com as experiências de outros homens, mas se já amadurecemos um pouco entendemos que Deus independe de igrejas. Podemos perceber que as pessoas que conseguem ficar por mais tempo em uma determinada igreja são justamente as que têm laços sociais mais fortes nelas, e que não sofrem muito com incoerências morais. Com o tempo o homem sempre se revela, a paixão inicial, que mesmo na vida espiritual e em religiões limitadas pode cooperar para que haja mudanças morais nas pessoas, com o tempo perde a força e a realidade se impõe.
      Quando finda a paixão, o homem precisa achar um meio termo para poder conviver com sua realidade e com os ideais morais da igreja em que congrega. Os sinceros percebem que o que é ensinado não lhes permite realizar o que é cobrado, assim passam por um processo onde podem até tentar mudar a igreja, mas não conseguindo, ninguém muda tronco e galhos, saem dela. Se ainda estiverem iludidos com religião continuarão buscando em outras igrejas o ideal que não acharam, até que cheguem a uma conclusão, que fará que se afastem de vez de igrejas ou que busquem a Deus sem os véus. Se buscarem a Deus acharão coerência entre teoria e prática, encontrarão forças em Deus para viverem a vida que Deus quer eles vivam, não os homens, poderão retornar a conviver com igrejas, mas sem ilusões, para cultivarem vida social. 
      Quem se acomoda com religião dizendo a si mesmo que no mundo as coisas são assim mesmo, que nada é perfeito, que devemos louvar a Deus nas igrejas apesar disso, sem nos incomodarmos com homens? Aquele que, como diz o versículo inicial, “deseja a rede dos maus”, esse nem verá uma rede que prende, mas uma zona de conforto que abriga, no final o ser humano sempre se alia a semelhantes, “frequências iguais” se misturam e se confundem, não existe mais individualidade, só rebanho. “Mas a raiz dos justos produz o seu fruto”, esse texto não diz que o justo é um bom religioso, que é honrado por pares em igrejas, não diz que ele conhece as doutrinas de sua religião, mas diz que sua raiz, sua essência, dá frutos. Que adianta aparência de religiosidade se sabemos que em nossas vidas na prática não há virtudes morais? 
      No céu seremos avaliados pelos frutos, não por termos sido membros fiéis por anos dessa ou daquela igreja, e o cristianismo “raiz” permite isso, dar frutos, contudo, entendamos certo. Necessitamos de igrejas, sim, principalmente no início de nossas jornadas, para estabelecermos referências cristãs e conhecermos as humanidades que existem nas tradições, que não funcionam pois são coisas de homens, não de Deus. Depois disso devemos aprender a andar sozinhos e fazer nossas escolhas, infelizmente, é justamente nesse ponto, quando se está preparados para fazer escolhas, que muitos se tornam só prosélitos de religiões. Muitos, com medo da vida espiritual adulta, querem ser crianças espirituais para sempre, por isso o cristianismo “raiz” é preterido em nome de dogmas, sacramentos e liturgias de tronco e galhos. 

Parte 8 de uma reflexão
dividida em 9 partes
José Osório de Souza, 26/02/21

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