sexta-feira, fevereiro 26, 2021

Raiz, tronco ou galhos? (7/9)

      “E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos; e, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:
      Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;
      Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;
      Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;
      Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
      Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
      Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;
      Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;
      Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.” 
Mateus 5.1-12

      Nesta reflexão dividida em nove partes, criticamos o tronco e os galhos do cristianismo, mas e quanto à raiz, o que seria ela? Ela é o mais puro e genuíno ensino de Jesus e nenhum texto nos mostra com mais clareza esse ensino que o sermão da montanha (Mateus 5-7). Esse texto começa com as bem-aventuranças, que se os homens vivessem, a despeito de outros ensinos, bastariam para que recebessem de Deus sua raiz. 
      Cristão “raiz” não é saber Bíblia e teologia de trás pra frente, não é experimentar dons espirituais, não é adorar a Deus com liberdade, não é ser assíduo numa igreja “pop” com os melhores ministros e pregadores, não meus queridos, tudo isso não representa necessariamente o cristianismo “raiz”, o cristianismo “raiz” é sempre menos, não mais, pelo menos aos olhos dos homens, por isso muitos não o buscam. 
      O Cristo “raiz” não é um reino no mundo, mas no céu, não é aprovação de homens, mas de Deus, não é o abrigo físico de instituições religiosas, mas a iluminação espiritual do Altíssimo que conduz à vida eterna, essa raiz tem preços, a morte do ego, a busca de virtudes interiores e não de aparência, o sofrer sem merecer e ainda assim não reclamar nem se fazer de vítima, mas se achar bem-aventurado do Senhor. 
      “E Jesus, vendo a multidão subiu a um monte, e assentando-se aproximaram-se dele os seus discípulos, e abrindo a sua boca, os ensinava“, tente imaginar essa cena, Jesus sentado num lugar alto, com aqueles que amavam seu ensino sentados ao redor, enquanto as palavras mais espirituais de todas as que foram pronunciadas neste mundo eram ditas, no plano espiritual nossa existência será assim. 
      Pobres de espírito são os humildes, que vivem sem qualquer intenção de se exibirem aos homens para imporem vaidades, que não fazem questão de serem tidos como menores e desimportantes, que permanecem em paz por confiarem, que o Deus que lhes perdoou, sabe que eles estão seguindo esforçando-se para serem melhores, ainda que ninguém acredite nisso e os julgue pelo que foram, não pelo que são.  
      Os humildes são felizes mesmo com os corações partidos, mesmo chorando por dentro, porque suas lágrimas não são de perdedores, mas de vitoriosos, não são invejosos e recalcados, mas quebrantados que acharam sob as asas do Altíssimo o consolo que é escudo contra todo egoísmo e injustiça, seus prantos sobem como incenso perfumado para Deus que se agrada deles e para eles sorri. 
      Esse consolo deixa no coração serenidade que produz a mansidão verdadeira, fruto não de uma falsa espiritualidade, forçada e que não é mais que cela para ódios e mágoas, mas efeito de um andar constante com Deus, de muita oração, de muito arrependimento, que anula as dívidas e ganha créditos do Senhor e criador do universo, que dá para eles sua aprovação como herança maior neste e no outro mundo. 
      Mas enganam-se os que acham que os mansos são indiferentes e reprimidos, em seus corações há uma averiguação constante da realidade, clamam por justiça, mas não qualquer justiça, não pelas suas justiças, mas pela justiça de Deus, e por isso, por confiarem mais em Deus que em suas próprias causas, não andam com fome e sede de honra e atenção, mas estão satisfeitos com a vontade maior de Deus.
      Contudo, o cristianismo “raiz” não faz justiça a um sendo implacável com o outro, a justiça de Deus tem o contrapeso de sua misericórdia, se uma leva todos a colherem os frutos de suas colheitas, a outra reconsidera a lei do “olho por olho, dente por dente” com um efeito mais brando, onde se tem forças para tentar de novo e acertar no amor de um Deus que não quer que nenhum se perca, mas que todos se salvem. 
      Mais que só provar um privilégio, os que provam a misericórdia de Deus são misericordiosos com os outros e por isso alcançam corações limpos e mentes leves, que representam a mais filtrada santidade, e nisso, em tratar o outro com o mesmo amor que recebeu, existe a chave para “ver” a Deus, para conhecer e viver os mistérios espirituais, fechados aos que cobram de homens e não confiam no Senhor. 
      Jesus só ensina sobre os pacificadores no final das bem-aventuranças, porque sem humildade, quebrantamento, mansidão, misericórdia e santidade não se pode lutar pela paz, qualquer carência dessas virtudes nos colocará em conflito com nós mesmos que projetamos em conflitos com os outros, mas filho de Deus não é o que toma espada e luta contra o mundo por sua fé, mas o que pacifica a si próprio.
      O pacificador sofrerá perseguição, não será entendido, mas não por qualquer egoísmo, ainda que dissimulado de interesse divino, mas porque de fato luta contra si mesmo para ser luzeiro de Deus nos mundos, no físico e no espiritual, ah, meus queridos, quantos de nós de fato temos o privilégio de sofrer pelos interesses de Deus e não pelos nossos? quem experimenta isso entendeu o que é o Cristo “raiz”. 

Parte 7 de uma reflexão
dividida em 9 partes
José Osório de Souza, 25/02/21

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