quarta-feira, fevereiro 24, 2021

Raiz, tronco ou galhos? (5/9)

      “Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará. E repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o espírito de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do Senhor.Isaías 11.1-2

     Nesta reflexão, que compara o cristianismo a uma árvore, uma pergunta se levanta: se tronco e galhos são tradições humanas, então, pelo ideal de Deus, o cristianismo deveria ser uma planta diferente? Uma planta só com raiz, folhas, flores e frutos? Mas que tipo de planta seria esse? O cristianismo que Cristo viveu como homem era só raiz e fruto, como uma aboboreira, e eis uma nova metáfora. É importante dizer que nenhuma metáfora é perfeita, pode ser didática e nos ajudar a entender as coisas, mas só até certo ponto, ela sempre se mostrará limitada. Árvores podem ser altas, fazerem sombra que protege do Sol, e como ser clorofilado não se alimenta só pela raiz, suas folhas recebem a luz fazendo fotossíntese
      Mas o uso da árvore como metáfora da evolução histórica do cristianismo foi feito olhando a estrutura da planta, para tecer a crítica que o cristianismo não deveria se manter no tempo neste mundo como um organismo de partes distintas, raiz, tronco e galhos, mas como algo mais homogêneo, assim podemos concluir que uma planta rasteira e mais simples, como uma aboboreira, talvez seja uma metáfora mais adequada. Lição de biologia à parte, a religião, por trabalhar com valores espirituais, deveria ser algo desprendido de valores materiais, não deveria aparecer no mundo como uma rica instituição, como uma enorme e centenária árvore, mas como um organismo discreto, como foi a vida do Cristo homem. 
      A crítica aqui não é à árvore, mas às instituições cristãs, quanto antagonismo existe justamente na religião que se diz entregadora do único salvador de Deus para a humanidade, que é representado mais fortemente e por mais tempo no planeta justamente pela instituição mais poderosa de todas, a Igreja Católica, com catedrais, mosteiros, conventos, escolas, em todo o mundo, sediada numa cidade-estado, o Vaticano, e dona até de um banco. Não, meus queridos, o cristianismo deveria se parecer mais com uma aboboreira, raiz rente à terra que se aprofunda com discrição para se alimentar, numa intimidade com Deus sem vaidades, que ninguém precisa ver, mas com frutos grandes e que servem a todos generosamente. 
      Quem passa por um terreno onde uma aboboreira está plantada, se a planta não estiver com fruto, quase não a percebe, diferente de muitas árvores, que ainda que sem frutos, ou que deem frutos amargos ou mesmo venenosos, são vistas e admiradas. A aboboreira, contudo, tem o tempo certo para dar seu fruto, se parece sumida é porque está trabalhando. Assim, faço outra pergunta: que planta eu sou, ou, que planta quero ser? Uma grande árvore, que ainda que seja vistosa dá frutos venenosos ou nem os dá? Ou uma aboboreira, menor, escondida, mas que produz grandes frutos? O certo é que muitos usam tradições religiosas do mesmo jeito que usam bens materiais, para exaltar o homem diante de homens, não a Deus.
      As raízes mais fortes e profundas crescem dentro de nós, permitem que nossos espíritos se conectem com o Santo Espírito, isso não é uma ligação para homens verem. Quem olhava para o Cristo encarnado não via uma árvore vistosa, mas seus frutos, efeitos de uma comunhão interior plena com o pai, todos os seres humanos podem colher, frutos de amor e de vida eterna. Os líderes religiosos judeus do primeiro século, esses sim, se postavam como grandes árvores querendo tocar o céu, como a torre de Babel. Na verdade Babel nunca deixou de existir, quando uma é derrubada, outra é levantada em seu lugar, atualmente existe uma no Vaticano, um tronco enorme e seco, desligado da raiz, tentando dominar o mundo. 
      Contudo, não duvide, existem muitos homens espirituais “raiz” atualmente, quem eles são muitos só saberão na eternidade, suas vidas são as verdadeiras luzes que iluminam o mundo, eles, cada um à sua maneira, com o seu dom, ligados a igrejas ou sozinhos, discretos na clandestinidade, ajudam o próximo. Muitos cristãos, reconhecidos socialmente como bons religiosos, se surpreenderiam ao saber que alguém que conhecem e para o qual não dão muito valor, é uma luz espiritual forte que Deus usa para impedir que as trevas dominem os homens. Esses luzeiros não se preocupam com quantidade, mas com qualidade, fazem trabalho de formiguinha, dia a dia, obedecendo a Deus e esperando só dele aprovação. 

Parte 5 de uma reflexão
dividida em 9 partes
José Osório de Souza, 30/10/20

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