26/09/21

Deus do improvável (2/2)

      “O Senhor olha desde os céus e está vendo a todos os filhos dos homens.” Salmos 33.13

      Na postagem anterior, na primeira parte da reflexão “Deus não faz o impossível, só o improvável”, entendemos que Deus não faz coisas extraordinárias porque não precisa fazer, todavia ele usa forças naturais, sejam físicas ou espirituais, ainda que sejam coisas que desconhecemos e por isso chamamos de milagres impossíveis. Contudo, saber que Deus age assim, de um jeito ou de outro, para todos os seres humanos, sejam cristãos ou não, não deve ser motivo para que não oremos. Por que devemos orar? Segue a segunda parte da reflexão. 

      Devemos orar cada vez mais! Mas será que entendemos qual é o benefício espiritual maior da oração? Muitos usufruem há séculos desse benefício e não sabem, não sabem porque não precisam saber, pelo menos não precisavam até há algum tempo atrás, mas hoje os que querem já podem ter esse entendimento. Deus olha a intenção no coração, não o entendimento intelectual ou o conhecimento espiritual, Deus ama a criança, tanto quanto ao jovem ou ao idoso, e me refiro a idades morais, não físicas. O que as pessoas falam em suas preces é menos importante que o amor a Deus que elas têm. 
      O maior benefício do louvor que cantamos ao Senhor, dos pedidos que fazemos em oração, do perdão que rogamos por Cristo, é sermos colocados espiritualmente nas regiões espirituais mais elevadas. Nisso há paz porque nos posicionamos no Altíssimo, e nessa paz entramos em sincronia com o universo criado por Deus. Uma planta, plantada na terra e recebendo raios solares e água da chuva de forma equilibrada, crescerá, dará flores e até frutos, se essa for sua vocação, e isso naturalmente. Assim somos nós seres humanos, em Deus crescemos, somos o nosso melhor, cumprimos nossa vocação. 
      Se um dia não chover, o homem usando sua inteligência poderá regar uma planta com água necessária para sua sobrevivência, se a planta tivesse alguma inteligência poderia achar isso um milagre, já que até então poderia só ter sido suprida pelas forças da natureza. Mas o homem faz parte do mesmo universo que a planta, assim, nas providências divinas, ele foi usado para dar o suprimento que a chuva não forneceu. Nós seres humanos muitas vezes agimos como “plantas inteligentes”, se falta o que chamamos de normal e Deus usa outra coisa para nos suprir, achamos que o impossível foi feito. 
      O certo é andarmos o tempo todo em comunhão com Deus, nessa interação as coisas certas acontecem sempre, e eu disse certas, que necessariamente podem não ser as boas a curto prazo. Às vezes algo ruim, difícil, mesmo que nos faça sofrer um pouco, em médio e longo prazo mostrará ser algo bom, que de alguma forma nos fará pessoas melhores. Quando andamos em comunhão com Deus estamos em sincronia com todo o universo, com coisas que não sabemos e nem podemos prever que acontecem, mas que ocorrem para nós se estivermos andando certo. Vou dar um exemplo simples.
      Uma pessoa sente vontade de aproveitar um tempo livre e ir fazer um passeio num shopping center, contudo, antes de ir ela fala com Deus e sente que não deve ir. Mesmo assim ela vai, ela raciocina diante do peso que sente no coração, “que mal tem ir ao shopping? estou com tempo livre, não vou fazer nada de errado?”. Mais tarde, no caminho de volta do shopping para casa, um carro passa o sinal vermelho e bate em seu carro. A pessoa não sabia que isso ia ocorrer, e talvez se não tivesse ido e soubesse que tinha havido um acidente poderia dizer que tinha experimentado um milagre. 
      Se tivesse sido livrada por ter obedecido a Deus, algo impossível teria sido realizado? Não para Deus, o Senhor do universo sabe de tudo e de todos, Deus sabia que naquela hora um motorista, usando indevidamente um celular, não veria o sinal fechar e passaria no vermelho. Esse motorista poderia estar com um problema com alguém que ligou para ele naquele momento e ele teve que atender, mesmo dirigindo no trânsito. Parece impossível porque não é do nosso conhecimento, mas só é improvável. Pode acontecer e Deus sabe se vai acontecer e como isso pode nos beneficiar ou não. 
      A verdade é que nós não temos ideia de quantos livramentos Deus já nos deu, dá e dará, e por incrível que possa ser para muitos, os que mais provam “milagres” são os que menos pedem por milagres, e que por isso têm menos consciência que eles ocorrem, porque milagres ocorreram e eles nem souberam. Não sabem, mas por temerem a Deus e andarem sempre em comunhão com ele, têm entendimento de que só existe paz na obediência, por isso são gratos não só pelo que veem, mas também pelos mistérios invisíveis. Não peçamos por milagres para nós, sejamos milagres para os outros. 
      Quem pede demais por milagre pode ser justamente quem mais anda errado, quem anda certo não precisa do impossível, basta-lhe o provável melhor constante de Deus. Chegará o momento no planeta Terra onde uma grande maioria de seres humanos, e não só uma minoria, provará a iluminação do Espírito Santo, então, os véus das religiões serão retirados e Jesus será entendido, não só como fundador de uma religião retrógrada e manipulada, mas como a porta mais elevada para o Altíssimo, para o qual nada é impossível. Mas não se assustem, antes do nascimento do novo há a morte do velho. 

Leia na postagem anterior
a 1ª parte desta reflexão.

25/09/21

Deus do improvável (1/2)

      “Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste; que é o homem mortal para que te lembres dele? e o filho do homem, para que o visites? Pois pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste. Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés: todas as ovelhas e bois, assim como os animais do campo, as aves dos céus, e os peixes do mar, e tudo o que passa pelas veredas dos mares. O Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome sobre toda a terra!Salmos 8.3-9

      “Creio no milagre de Deus como sendo a realização de algo improvável (para mim), não de algo impossível (para Deus)”, essa frase não é minha, ouvi recentemente de um filósofo (um dos três que estão populares hoje na TV e na internet). Ela me representa, segue uma reflexão sobre esse tema dividida em duas partes. 

      Deus não faz o impossível, nada é impossível para ele, mas ele faz o improvável para nós, é esse improvável para nós que nós seres humanos chamamos de milagre. Deus estabeleceu as leis físicas e espirituais do universo no início de tudo, a essas leis nem ele desobedece. Os crentes mais espirituais e consagrados (e entenda como crente aquele que pela fé estabelece contato com o plano espiritual, não o que é membro de alguma religião evangélica específica) conhecem parte das leis espirituais, assim como os cientistas mais sérios e dedicados conhecem parte das leis físicas. 
      No mundo atual ninguém conhece tudo, e isso em si não é problema, mas por causa do orgulho tanto crentes quanto cientistas não admitem que não sabem e ainda querem estabelecer perímetros com o conhecimento limitado que possuem. É por causa disso que as leis cósmicas não são respeitadas, e que boa parte dos crentes e grande parte dos cientistas se antagonizam, ignorando que ambos são lados opostos da mesma moeda, a existência criada por Deus. Bastaria humildade de ambos, ainda que sem conhecimento, para que seguissem juntos apoiando-se em novas descobertas. 
      Deus não faz o impossível porque não é preciso fazer, se fosse ele seria imperfeito, já que teria que corrigir algo que fez anteriormente e não foi suficiente para beneficiar suas criaturas. Mas sob os nossos olhos, limitados, que veem só o que nos convêm e que está à nossa frente, parece ser o impossível, entretanto é só algo que não achávamos provável ocorrer, ainda que sempre tenha sido possível, não para nós mas para Deus. Como Deus faz as coisas? Deus faz todas as coisas através das forças “naturais” do universo que ele mesmo criou, sejam forças físicas, sejam forças espirituais.
      Deus age através dessas forças, ainda que muitas delas sejam desconhecidas para nós hoje, como a eletricidade era desconhecia até poucos séculos, e como virtudes interiores não eram relevantes para uma religião farisaica mais interessada em aparência externa no século I. Deus não age de forma extraordinária manipulando forças invisíveis para que sejamos abençoados ou disciplinados, Deus não faz magia, aliás, magia não existe, nem poder da mente sobre matéria. A existência é muito mais simples que muitos acham que é, bem mais razoável e menos supersticiosa, os humildes sabem disso. 
      Grande parte dessas forças Deus criou e depois deu ao homem autorização para que as administrasse. Os antigos rezavam e ofereciam sacrifícios aos seus deuses para que chovesse e a agricultura e a pecuária prosperassem, hoje sabemos que toda a natureza, florestas e rios, precisam estar bem cuidadas para que o clima funcione adequadamente, para que chova na estação certa. Deus deixou de existir porque a ciência obteve esse conhecimento? Não, o que deixaram de existir foram os falsos deuses, e se ainda assim os homens creem que preces e sacrifícios interferem na natureza Deus respeita isso. 
      A ciência não “matou” o Deus verdadeiro, mas autorizada pelo próprio Deus, que quer que o homem evolua intelectualmente tanto quanto moralmente, jogou água fria na cara dos crentes equivocados para que esses acordassem de seus místicos devaneios. Deus faz chover, e faz isso desde antes que civilizações dominassem o globo terrestre, mas não como pensavam os “crentes” pagãos ou mesmo como criam os católicos, a ponto de perseguirem e matarem os pioneiros da ciência. O criador do universo usa o universo, em comunhão com Deus estamos também de bem com o universo.
      Tendo a fazer abordagens “técnicas” sobre espiritualidade, temo que isso às vezes soe duro demais, sinto de Deus que apesar de ter que ser severo principalmente com líderes cristãos mal intencionados, não posso de maneira alguma escandalizar os pequeninos, que precisam de Deus e confiam nele ainda que com um entendimento intelectual mais restrito. Assim, que fique claro, podemos, sim, orar a Deus pedindo por milagres impossíveis, eu faço isso, muitas vezes em nossas vidas a dor é grande, não temos tempo para “tecnicidades”, só para clamarmos por uma ação poderosa e rápida do Senhor. 
      Entretanto, o objetivo do “Como o ar que respiro” é trazer clareza sobre o cristianismo e a interação humana com o mundo espiritual, conduzir a um desvencilhar de superstições e tradições para alcançar um equilíbrio que não nega a ciência, mas busca santidade e caridade, provando qualidade moral, mas entendendo aquilo que Jesus entregou e que tanto o catolicismo quanto o protestantismo esconderam por séculos. De tudo que é dito aqui, o principal é: confie num Deus de amor sem fim, que tem muito mais para você que as religiões, e aceite a vida encarnada de Jesus como modelo único. 

Leia na próxima postagem
a 2ª parte desta reflexão.

24/09/21

Sozinho o ser sofre (2/2)

      “Aprendei a fazer bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas. Vinde então, e argui-me, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã. Se quiserdes, e obedecerdes, comereis o bem desta terra.Isaías 1.17-19

     No mundo, a luz mais alta refletida no espírito humano, e Deus atrai a todos sempre com sua luz, fará com que o ser queira interagir com Deus, mas nosso livre arbítrio, ainda sendo moldado, poderá querer os prazeres, consolos e referências mais “fáceis” do corpo físico. O bem e o mal estão em conflito em nós, tentando curar a solidão de maneiras distintas. “Porque a carne cobiça contra o Espírito e o Espírito contra a carne, e estes opõem-se um ao outro para que não façais o que quereis” (Gálatas 5.17), nunca entenda a “carne” citada na Bíblia como a matéria do corpo físico, como sempre dizemos aqui, mas como escolha de não se mover em direção a Deus. Parados podemos até buscar equilíbrio moral e religião, mas se isso não ocorrer em Deus e para Deus será carne, não espírito. 
      Tem crescido bastante o número de pessoas que pega animais para criar, contudo, como toda solução de solidão, implica em conviver com o outro e isso dá trabalho. O solitário é basicamente alguém que por algum motivo não quer pagar o preço da companhia, seja inicialmente procurando-a, selecionando-a e finalmente mantendo-a, e aqui não estou fazendo juízo de valor, a escolha é pessoal e livre. Mesmo animais de estimação dão trabalho, mais ainda cônjuges e filhos, sendo assim por que seria diferente nossa amizade com o maior amigo de todos, Deus? Ter a companhia do Senhor é conhecê-lo, isso requer tempo, mas conhecimento de Deus gera vida, assim quem quer tê-lo por perto terá sua vida mudada para melhor. Essa amizade requer persistência, mas é a única que nos completa. 
      Olhando para cima as pessoas podem até ver o mesmo Sol que nós vemos, mas cercadas pelos altos muros da solidão que elas constróem, elas podem achar que veem algo exclusivo, diferente daquilo que os outros veem. O que limita e afasta não está na vertical, mas na horizontal, não é construído por Deus, mas pelos homens, sendo assim mesmo que Deus abençoe a todos com o mesmo carinho muitas pessoas poderão achar que creem num Deus diferente do Deus dos outros, eis uma das coisas que mais encarceram os seres humanos em solidões. Assim preconceitos e sofrimentos desnecessários são criados e mantidos, separando os seres neste mundo, gerando arrogâncias e mágoas, visto que dentro dos muros todos podem se achar melhores ou piores, mas dificilmente semelhantes. 
      A coisa mais importante que precisamos saber é que como nós as pessoas sofrem com a solidão, e algumas mais que nós pois não têm a companhia de esposas, esposos e filhos por perto. Portanto, sempre que pudermos, nos demos ao trabalho de sermos boas companhias, principalmente para os mais solitários, uma ligação pelo celular, uma mensagem pelo computador, algo simples e nem tão demorado, mas que pode ser o suficiente para alegrar alguém. Solitários não são pessoas fáceis, se fossem não seriam solitários, assim podem requerer de nós paciência, cuidado, respeito, mas essa é uma dádiva que Deus se alegra em nos ver dando, amor sem segundas intenções para quem mais precisa. Quanto a nós, busquemos a Deus, Deus é amigo sempre, quem o busca nunca deixa sua presença na solidão. 
      O texto bíblico inicial ensina sobre a importância de assistirmos os solitários, viúvas sem maridos, órfãos sem pais, e existem viúvas e órfãos diferentes nos dias atuais, mas ainda necessitando de companhia afetiva e suporte material. A recompensa é perdão de pecados, pecados brancos como a neve, e prosperidade financeira, comereis o bem da terra, é claro nesse ensino que pecados não são perdoados e riquezas não são conquistadas só pela fé, mas por obras, quem discordar disso que rasgue a página de sua Bíblia com o texto acima. Que antes se creia no perdão por Jesus para se ter a paz, mas depois que nessa paz se trabalhe pelos outros, então, Deus suprirá o que for preciso, “buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6.33).

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

23/09/21

Sozinho o ser sofre (1/2)

      “Porque o Senhor consolará a Sião; consolará a todos os seus lugares assolados, e fará o seu deserto como o Éden, e a sua solidão como o jardim do Senhor; gozo e alegria se achará nela, ação de graças, e voz de melodia.Isaías 51.3

      Solidão, a maior dor e o principal motivo das pessoas se perderem em escapismos e vícios. O ser humano é só? Sim, ainda que busque no mundo o tempo todo por apoio, ainda que queira achar nas relações sexuais mais companhia que prazer, no casamento mais cumplicidade que status, e nas amizades a família que pode não ter tido, o ser é só. É como se no plano físico ele quisesse negar o que é no plano espiritual, uma entidade independente, que deve responder por si, que não precisa responsabilizar os outros por seus erros e carências. Espírito também não se reproduz, assim não tem sexualidade, característica predominante no ser enquanto matéria, característica responsável por tantas escolhas e descaminhos. Sexo sempre busca companhia, ainda que só mental ou virtual. 
      Entretanto, o ser não sofre por ser só, mas por fugir da companhia daquele que o completa, seu criador, que depois lhe dá a companhia de outros seres para que ele os sirva em amor. No mundo isso é mais difícil, Deus coloca o espírito num corpo físico e sexual, assim está criado o conflito. Deus permite esse conflito para que o ser sofra? Não, para que seja provado, aprovado, conheça a Deus, dê a ele a relevância certa, então cresça. O fato de Jesus homem, diferente de outros fundadores de religiões, ter sido solteiro em sua caminhada neste mundo, nos fala muito sobre o ideal e a vocação maior do ser humano. Mas essa é só mais uma diferença que faz do Cristo a verdade mais alta do Altíssimo dada aos homens, existem outras, e essa característica não foi causa de sua espiritualidade, só efeito. 
      Não temos ideia do que as pessoas fazem para se consolarem em suas solidões, os preços que pagam, as alianças que fazem e as que traem, só Deus na “causa”, como se diz, mas vencer a solidão é nosso maior desafio no mundo. Muitos, ainda que se mostrem prósperos financeiramente e profissionalmente, ainda que sejam versáteis para se moverem entre lugares, empresas e eventos, ainda que tenham o respeito de muitos, são solitários, e à noite, num quarto confortável de hotel, entre um compromisso e outro, sofrem. Outros sofrem mesmo em famílias bonitas e honradas pela sociedade, homens, mulheres, mas antes de tudo, seres humanos, cujos espíritos não se satisfazem com sexualidades binárias, ou mesmo nem com as não binárias. O ser sofre sempre sendo só. Mas o que é a solidão? 
      Solidão é morte presente na ausência de movimento espiritual para Deus, quando se para, desliga-se de Deus, se morre e nisso o espirito está só. O inferno é solitário, e mesmo que os seres procurem a proximidade de outros seres também parados, serão companhias frias e negras, sem o calor e a luz do amor de Deus. João 17.21, “para que todos sejam um como tu, ó Pai o és em mim e eu em ti, que também eles sejam um em nós para que o mundo creia que tu me enviaste”, é um dos meus textos bíblicos favoritos, cito-o com frequência aqui, tem uma das revelações espirituais mais profundas e importantes. Ele fala justamente da interação espiritual que existe entre seres e seu criador, possível através de Jesus, essa interação é a única coisa que livra o ser da solidão. 
      No céu, a melhor eternidade com Deus, não haverá solidão porque os seres estarão unidos numa comunhão que vai além de proximidade física e compartilhamento de coisas em comum. Não podemos ter, como homens no mundo, a exata noção do que é essa interação, mas ela é muito mais plena e livre, visto que no céu não seremos delimitados por matéria, espaço e tempo. “As coisas que o olho não viu, o ouvido não ouviu e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam, mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito” (I Coríntios 2.9-10a). Provará a companhia espiritual maior quem se libertou das falsas companhias da carne, por isso persistamos nas melhores virtudes, ainda que sozinhos entre os homens, com a companhia do Espírito de Deus. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão.

22/09/21

Deus do tempo presente

      “E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais.João 8.10-11
      “Não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.Mateus 6.34

      Permanecer em Deus e consequentemente permanecer na paz que nos dá forças para vencer o “pecado” e seguir em frente, é permanecer no tempo espiritual melhor, o “presente de Deus”. Somos tentados o tempo todo, e antes que por seres espirituais ou homens maus, pela nossa própria mente, ela não para de pensar, de imaginar, de lembrar, de querer, de não querer. Nas viagens que nossas mentes fazem somos levados numa máquina do tempo, que ora nos lança ao passado, ora ao futuro, e ambos podem ser mentiras. Se do futuro ninguém sabe do passado também não temos certeza, não quando tentamos interpretar as coisas só sob o nosso ponto de vista humano e pequeno. 
      Por isso precisamos aprender a permanecer espiritualmente em Deus, só o Espírito Santo pode assentar nossas emoções e nossos pensamentos e nos conduzir a uma disposição de vitória no tempo presente de Deus. Preste atenção em como começa um “pecado”, usando o termo aqui para definir tudo que fere de alguma forma nossa paz em Deus, avalie com cuidado o processo que nos tira de uma disposição de vitória e nos entrega ao mal. Sempre se inicia com devaneios temporais, que nos tiram da realidade, do aqui e agora, e nos colocam numa ilusão, seja passada, seja futura. Daí nasce o desconforto e esse pode nos levar a buscar consolo nos prazeres mais baixos do corpo, consumando o pecado. 
      O trabalho de vigilância moral é o trabalho de não embarcarmos na máquina do tempo de nossas mentes. Sim, podemos reavaliar o passado para nos conscientizar de erros, assumi-los e obter perdão deles, também podemos planejar o futuro, querer o melhor e visualizar isso. Contudo, para melhorar de forma prática nosso tempo presente, seja não repetindo erros passados, seja trabalhando para construir o futuro, mas de forma alguma para reter culpa ou instalar ansiedade. Deus é um ser presente, para ele não existe passado nem futuro, ele sabe e faz tudo aqui e agora, assim o Espírito Santo nunca nos acusa nem nos pesa, ele é direto e possível, orientando-nos a sermos nosso melhor hoje. 
      Quem tem experiência real com o Espírito Santo, ouvindo sua voz em profecia, tendo revelação ou interpretando línguas estranhas, e eu disse experiência real, não falsificações como as que existem por aí, que na melhor das circunstâncias só usam clichês de palavras que um dia podem até terem vindo de Deus, sabe que o Espírito Santo é sempre positivo, sempre luz, sempre conduz à paz. Essa palavra realmente espiritual sempre levanta e põe em movimento o espírito humano em direção ao Altíssimo, a assunção do pecado ocupa só um instante, no qual Deus não perde “tempo”. O nosso tempo deve ser usado para agirmos certo, não para nos culparmos pelos erros e muito menos para tornarmos a errar. 
      Permanecer no presente espiritual é permanecer vivo espiritualmente, experimentando pelo menos em parte o que teremos na melhor eternidade de Deus, onde não seremos corrompidos, quando só teremos um trabalho a fazer, amar. Os textos iniciais mostram Jesus interagindo com o tempo de forma direta e positiva, sobre o pecado passado, ele diz está perdoado, simplesmente vai-te, e não peques mais. Sobre as necessidades futuras, basta a cada dia o seu mal, eis uma orientação realista, que não nega a existência de problemas e erros futuros, mas que ensina a não nos ocuparmos antecipadamente com isso. Viver o tempo que se chama hoje em Deus, eis o desafio maior neste mundo para todos nós. 

      “Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado.” Hebreus 3.13

21/09/21

Não deixe nem começar!

       “Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele.Provérbios 22.6

     Algumas coisas temos dificuldades para terminar, mas podemos evitar que comecem. Vício é fazer algo errado pela segunda vez, só bastam duas vezes para nos viciarmos em algo. Não se vicia em coisas diretamente ruins, pelo menos não são ruins para quem as faz, ninguém cheira cocaína porque é ruim, cheira porque lhe dá prazer. O que livra as pessoas de vícios não é dizer a elas que algo é ruim, mas é acostumá-las com algo melhor. Vamos diferenciar vício de costume, costume não é vício, vício é aquilo que nos controla, costume é só a repetição de algo, sobre isso temos controle.  
     O ser humano até poderia provar algumas coisas, ao menos uma vez, e eu disse algumas coisas, se tivesse controle sobre si mesmo e se conhecesse. Temos controle sobre algo quando percebemos que algo não nos oferece uma satisfação completa, que de alguma maneira prejudica nosso corpo, nossa alma ou ambos, por isso o rejeitamos. Conseguimos nos livrar de vícios quando temos percepção suficiente para discernir se algo nos faz bem ou não, ainda que seja agradável. Só temos essa percepção quando temos sensibilidade baseada em referências altas de qualidade de vida física e moral. 
      Tem gente que prova uma vez bebida alcoólica, não gosta e nunca mais prova, outros, ainda que não gostem, por motivos diversos, incluindo ser aceito num grupo social, tornam a provar até que se viciam. Uma das principais características do ser humano é a adaptabilidade, ela é necessária para sobrevivência neste mundo. Contudo, assim como o ser humano pode se adaptar e gostar de algo que a princípio lhe é desconhecido, mesmo desagradável, mas que lhe faz bem, ele também pode se adaptar, e infelizmente com mais facilidade, a algo que não lhe faz bem e que lhe dá um prazer. 
      Bebidas alcoólicas podem prejudicar o fígado, assim como tabagismo pode prejudicar os pulmões, mas entorpecem o cérebro e entregam prazer, seja de calma ou de euforia. A quem interessa esses prazeres artificiais? A quem não encontra prazer equilibrado e não nocivo na vida real, no que bebe, no que come, na ocupação produtiva que exerce, nos relacionamento sociais e íntimos que tem. Alma angustiada, magoada, solitária, desocupada, é terra fértil para vícios, solução para todos esses problemas só vida com Deus, que experimenta e entrega perdão, que respeita a si e aos outros. 
      Ensine uma criança o que é melhor, seja na área que for, e ela não será presa do mal e de vícios, mas ensine-a de forma que ela tenha alegria no melhor, senão poderá ter efeito contrário. Muitos pecam simplesmente por falta de opção, não conhecem nada melhor para fazerem e terem prazer, assim se entregam a sexo antes do tempo e com pessoas erradas, buscam apoio em amizades tóxicas, porque não têm ninguém mais perto e com melhor intenção por companhia. Mas outros ainda que tenham tudo se viciam, porque insistem em andar longe de Deus, e eu disse de Deus, não de religião.
     Mas ensinemos a criança do jeito certo, dando exemplos práticos do que é ensinado e monitorando de perto, com amor e paciência. Falar sem dar exemplo ou estar longe, pode levar a criança a sentir aversão pelo que aprende, ainda que seja algo bom. O melhor é ocuparmos tempo e energia com coisas boas, assim o mal não terá oportunidade nem para uma primeira vez. Muitos têm se viciado na internet por acharem no mundo virtual companhia e prazer que não têm no mundo real, mas ela pode ser uma grande mentira, nos aproximemos de quem nos ama de verdade, isso nos protege de vícios. 

20/09/21

Só pelo prazer?

      “Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.Isaías 53.3-5

      Como o Cristo Jesus conseguiu exercer por três anos um ministério, vivendo, ensinando, amando, com paciência, com esperança, com calma, com alegria, sabendo que no final lhe aguardava algo terrível, extremamente doloroso e cruel? Ainda se ele soubesse que o que construiu por três anos o ajudaria de alguma maneira, não para livrá-lo da morte, mas pelo menos para dar a ele companhia de amigos que o apoiassem, gratos pelos milagres, curas e maravilhas que provaram através de seu trabalho, mas não.
      Se ele olhasse só para o final poderia achar até que era inútil se esforçar tanto, amar tanto, se sacrificar tanto, afinal muitos dos que foram abençoados por ele fariam parte do coro que escolheria livrar o criminoso Barrabás em seu lugar. Mas ele cumpriu sua missão até o final, e só colheu de fato um resultado bom depois que ressuscitou, a salvação de toda a humanidade. Jesus não teve nenhum prazer como recompensa, sua passagem no mundo foi dor e injustiça, e ainda assim foi o modelo de homem perfeito. 
      Ah, como estamos distantes desse ideal de vida, somos seres viciados em prazer, tudo o que fazemos é visando prazer, ainda que trabalhemos e soframos um pouco, o fazemos porque sabemos que logo depois poderemos desfrutar algum prazer. Somos seres mimados, imaturos, todos carnais, ainda que disfarçados de espirituais, não estamos preparados para sofrer. Alguns visam prazeres baratos, outros mais caros, outros ainda mais sofisticados e eruditos, não materiais mas intelectuais e artísticos, mas sempre prazer egoísta. 
      Mas mesmo religiosos visam prazeres, ainda que seja cantando louvores, usando os dons espirituais, ainda que não seja prazer diretamente no corpo, mas querem sentir na alma êxtases resultantes de experiências espirituais. Será que nós cristãos, se Deus nos dissesse que não teríamos mais que o suficiente para estarmos fisicamente vivos e que ainda assim teríamos que ser santos e servir os outros, sem esperar nenhum prazer como pagamento, pelo menos neste mundo, será que ainda assim seríamos cristãos?