28/10/21

Judas e Pedro, inícios iguais, fins diferentes (28/31)

      “O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca.” 
Lucas 6.45
 
      Judas Iscariotes é um exemplo bíblico de quem milita por si mesmo, para ganhar algum dinheiro ele achou meio e incentivo nas intenções maliciosas de líderes religiosos judeus que tinham o objetivo de calar a militância do Cristo. Quando alguém tem os motivos errados sempre acha simpatizantes, que podem ter intenções muito piores que o usam como fantoche, Judas militou covardemente e só alcançou seu objetivo escondido no meio dos oficiais mandados para prender o salvador. Mas ele já tinha interesse em fazer parte de algo maior quando se tornou um dos doze apóstolos, ser do grupo seleto de discípulos de um mestre que se colocava contra a religião vigente revela sua face militante. Sua intenção desde o início era trair Jesus? Talvez não, e quando resolveu fazê-lo podia pensar que Jesus não saberia, mas Jesus sabia e penso que esperou até o fim que Judas mudasse de atitude, não consigo aceitar que o Cristo passivamente aguardasse que Iscariotes irrevogavelmente o traísse, o amor de Deus não funciona assim.
      Sob alguns aspectos Pedro era parecido com Judas, um deles era a necessidade de militar, o outro aspecto era uma agressividade não resolvida no coração. Contudo, enquanto Judas resolveu isso da pior maneira, entregando à morte aquele que talvez revelasse a ele seu lado pior e que ele não queria aceitar, Pedro tentou fazer justiça com as próprias mãos agredindo um daqueles que tentava prender o líder no qual acreditava. Ambos eram militantes, homens que não querem ser só mais um, mas que tomam partido e lutam por uma causa, ainda que por motivos e para fins distintos, ambos tiveram experiências ruins que revelaram o entendimento equivocado que tinham de suas ideologias. O final de Judas foi pior, o suicídio, proporcional a seu erro, o de Pedro foi parte do plano de Deus para discipliná-lo e melhorá-lo, mas foi amargo, negou por três vezes o Cristo que disse que seguiria até à morte.
      “Alguns pesquisadores acreditam que, assim como Judas Iscariotes, Pedro tenha sido um zelota, grupo que teria surgido dos fariseus e constituía-se de pequenos camponeses e membros das camadas mais pobres da sociedade. Este supostamente estaria comprovado em Marcos 3:18, assim como em Atos 1:13, no entanto, o certo "Simão, o Zelote" é na realidade uma pessoa distinta dentre as nomeações descritas nas referidas citações” (Fonte), eis outra semelhança entre Pedro e Judas Iscariotes? Pode ser. Todas as militâncias são provadas e só prevalecerão se forem aprovadas, assim, cuidado com o começo de certas lutas, um homem apaixonado munido de uma causa que parece legítima pode brilhar de maneira convincente. Contudo, é preciso mais que uma causa certa, é preciso lutar por ela com as ferramentas corretas e não ser seduzido por trocas que o mal possa apresentar. 
      O comunismo parecia uma causa boa, que tiraria o povo russo do despotismo do império Romanov que beneficiava alguns e fazia muitos sucumbirem na miséria. Contudo, milhões foram assassinados pelos bolcheviques e pelo partido comunista, para se impor uma causa. Será que se não fosse desse jeito o comunismo teria resistido por tanto tempo na União Soviética? Militância que vence pela violência não tem fundamento moral elevado, como tal só continuará existindo com mais violência, nunca tendo apoio de homens de bem e de Deus, é assim na China e na Coréia do Norte até hoje. Algumas militâncias são pesadas, podem sangrar as mãos enquanto são conduzidas, e colocá-las no cano de uma metralhadora pode torná-las aparentemente mais leves, mas aí serão só álibis para matar e destruir, tornando militantes originalmente vítimas que reagem a injustiças em agressores cruéis. Quem diz que décadas depois os que foram originalmente vítimas não se tornarão opressores piores que seus opressores originais? Quando algo começa com violência será mantido assim e assim existirá até o fim, não nos enganemos.  
      O final de Pedro foi dar a vida pela causa em que acreditou, mas antes ele cumpriu sua missão, pregou o evangelho de Cristo no mundo em que viveu, deixou frutos que atravessaram os séculos e que abençoaram milhões. “A tradição da Igreja Católica Romana afirma que depois de passar por várias cidades, Pedro haveria sido martirizado em Roma entre 64 e 67 d.C. Desde a Reforma, teólogos e historiadores protestantes afirmaram que Pedro não teria ido a Roma; esta tese foi defendida mais proeminentemente por Ferdinand Christian Baur, da Escola de Tübingen. Outros, como Heinrich Dressel, em 1872, declararam que Pedro teria sido enterrado em Alexandria, no Egito ou em Antioquia. Hoje, porém, os historiadores concordam que Pedro realmente viveu e morreu em Roma. O historiador luterano Adolf Harnack afirmou que as teses anteriores foram tendenciosas e prejudicaram o estudo sobre a vida de Pedro em Roma. Sua vida continua sendo objeto de análise, mas o seu túmulo está localizado na Basílica de São Pedro, no Vaticano, o qual foi descoberto em 1950 após anos de meticulosa investigação.” (Fonte). 

      “Tendo, pois, Judas recebido a coorte e oficiais dos principais sacerdotes e fariseus, veio para ali com lanternas, e archotes e armas. Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se, e disse-lhes: A quem buscais? Responderam-lhe: A Jesus Nazareno. Disse-lhes Jesus: Sou eu. E Judas, que o traía, estava com eles.

João 18.3-5
      “Então Judas, o que o traíra, vendo que fora condenado, trouxe, arrependido, as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, dizendo: Pequei, traindo o sangue inocente. Eles, porém, disseram: Que nos importa? Isso é contigo. E ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar.

Mateus 27.3-5
      “Então Simão Pedro, que tinha espada, desembainhou-a, e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. E o nome do servo era Malco. Mas Jesus disse a Pedro: Põe a tua espada na bainha; não beberei eu o cálice que o Pai me deu? Então a coorte, e o tribuno, e os servos dos judeus prenderam a Jesus e o maniataram.” “E Simão Pedro e outro discípulo seguiam a Jesus. E este discípulo era conhecido do sumo sacerdote, e entrou com Jesus na sala do sumo sacerdote. E Pedro estava da parte de fora, à porta. Saiu então o outro discípulo que era conhecido do sumo sacerdote, e falou à porteira, levando Pedro para dentro. Então a porteira disse a Pedro: Não és tu também dos discípulos deste homem? Disse ele: Não sou.

João 18.10-12, 15-17
      “Pedro, porém, pondo-se em pé com os onze, levantou a sua voz, e disse-lhes: Homens judeus, e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras.” “E com muitas outras palavras isto testificava, e os exortava, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa. De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas

Atos 2.14, 40-41

Está é a 28ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

27/10/21

Jonas, profeta sem amor? (27/31)

      Jonas é o exemplo de um homem que recebeu de Deus uma causa para militar, mas que teimou em não aceitar. Qual o motivo principal que o levou a desobedecer a Deus? Muitos acham legitimidade em qualquer coisa, se empoderam e partem para a luta, mas justamente alguém, que tinha Deus ao seu lado, fugiu da luta, por quê? 

      “E veio a palavra do Senhor a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até à minha presença. Porém, Jonas se levantou para fugir da presença do Senhor para Társis. E descendo a Jope, achou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem, e desceu para dentro dele, para ir com eles para Társis, para longe da presença do Senhor.” Jonas 1.1-3

      O barco, fuga para dentro do mundo. 
      Um homem que foge de Deus pode equivocadamente procurar esconder-se em dois lugares, o primeiro deles é o mundo, o barco simboliza isso. O mundo é como as águas do mar, muitas possibilidades são apresentadas, simulando a liberdade que só existe na água viva do Espírito Santo, mas diferentemente do Espírito, que nos faz voar e subir, para mais perto da vida eterna, o mar do mundo é traiçoeiro, em algum momento nos submergirá, conduzindo-nos à morte. 
      Seremos lançados para as profundezas, traídos por aqueles falsos companheiros de viagem, maldito o homem que confia no homem (Jeremias 17.5b), enquanto o homem ganha alguma coisa conosco, pode até dizer que é nosso amigo, mas quando o perigo se aproximar, ele nos lançará ao mar, para salvar a si mesmo. Pior ainda se aquele que foge no mundo dos homens for um chamado rebelde de Deus, por esse, menos respeito ainda terão aqueles que sempre caminharam longe do Senhor. 

      “E levantaram a Jonas, e o lançaram ao mar, e cessou o mar da sua fúria.” “Preparou, pois, o Senhor um grande peixe, para que tragasse a Jonas; e esteve Jonas três dias e três noites nas entranhas do peixe.” Jonas 1.15, 17

      O peixe, fuga para dentro de si mesmo. 
      Quando o mundo desampara aquele que tenta, equivocadamente, fugir de Deus, como se isso fosse possível, o profeta rebelde tentará fugir para dentro de si mesmo, numa disposição de solidão e descrença de tudo, isso é o que o grande peixe simboliza. Se no mundo ainda existem fugas, prazeres, algum espaço para termos alguma liberdade, ainda que amarga, nas entranhas do peixe o espaço é restrito, o coração do que foge de Deus vai se apertando cada vez mais, deixando o rebelde mais e mais torturado. 
      Lugar terrível é esse, ninguém consegue ficar muito tempo nele, e os que insistem em fugir para dentro de si mesmos podem chegar à insanidade, onde não se tem mais luz moral e intelectual para existir, onde não se vê nada, nem a ninguém, só o próprio reflexo dizendo que se é covarde e medroso, que se está fugindo de sua principal razão de existir, da presença do Deus Altíssimo. 

      “E orou Jonas ao Senhor, seu Deus, das entranhas do peixe.” “Falou, pois, o Senhor ao peixe, e este vomitou a Jonas na terra seca.” “E veio a palavra do Senhor segunda vez a Jonas, dizendo: levanta-te, e vai à grande cidade de Nínive, e prega contra ela a mensagem que eu te digo. E levantou-se Jonas, e foi a Nínive, segundo a palavra do Senhor. Ora, Nínive era uma cidade muito grande, de três dias de caminho.” “E Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha anunciado lhes faria, e não o fez.” “Mas isso desagradou extremamente a Jonas, e ele ficou irado” “E disse o Senhor: Fazes bem que assim te ires?”  Jonas 2.1, 10, 3.1-3, 10, 4.1, 4

      Obediência? Não. 
      Dentro do peixe o profeta rebelde ora, ele não tem outra saída, e um Deus sempre amoroso atende à oração e livra o profeta, então, quase que sem pensar direito, ainda com as lembranças das entranhas do peixe na cabeça, o profeta obedece a ordem inicial de Deus. Entretanto, se o coração não for transformado por amor, o medo não o mudará, ainda que o leve a fazer coisas certas permitindo que Deus cumpra sua vontade com os outros. Mas ordem obedecida com intenção errada não traz paz, logo o profeta rebelde se arrependerá do que fez, a bênção dos outros não sensibilizará seu coração sem amor. 
      Sem amor nada faz sentido, seja família, religião, caridade, amizade, sem amor tudo é desgosto, egoísmo, que exige mas não dá, que critica os outros mas não se avalia, que desobedece mesmo ao Deus Altíssimo. Não nos iludamos com certos cristãos, podem até serem usados por Deus para abençoar os outros, mas se tiverem no coração a intenção errada não abençoarão a si mesmos. No final poderão ser escândalo, para aqueles que falaram do amor de Deus, porque falaram, mas não praticaram. 

      “E fez o Senhor Deus nascer uma aboboreira, e ela subiu por cima de Jonas, para que fizesse sombra sobre a sua cabeça, a fim de o livrar do seu enfado; e Jonas se alegrou em extremo por causa da aboboreira. Mas Deus enviou um verme, no dia seguinte ao subir da alva, o qual feriu a aboboreira, e esta se secou. E aconteceu que, aparecendo o sol, Deus mandou um vento calmoso oriental, e o sol feriu a cabeça de Jonas; e ele desmaiou, e desejou com toda a sua alma morrer, dizendo: Melhor me é morrer do que viver. Então disse Deus a Jonas: Fazes bem que assim te ires por causa da aboboreira? E ele disse: Faço bem que me revolte até à morte.” “E disse o Senhor: Tiveste tu compaixão da aboboreira, na qual não trabalhaste, nem a fizeste crescer, que numa noite nasceu, e numa noite pereceu; E não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive em que estão mais de cento e vinte mil homens que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e também muitos animais?” Jonas 4.6-9, 10-11

      Falta de amor! 
      A hipocrisia pode levar o homem a levantar muitas bandeiras, a militar por muitas causas, pelo planeta, pelos animais, contra preconceitos e injustiças, Jonas, que não queria aceitar a ordem de Deus e militar por pessoas, caiu no ridículo, militou por uma aboboreira, é assim mesmo que pode acontecer com todos nós. Como existem pessoas, que teimando contra a vontade de Deus, que virando as costas para uma chamada verdadeira do Senhor, e toda chamada sempre existe pelo amor de Deus e deve ser realizada no amor de Deus, acabam lutando por qualquer coisa, militando por tolos e estúpidos, sendo manipulados por homens gananciosos e vaidosos. 
      Por que Jonas se negou a obedecer a Deus? Não foi por medo da missão que recebeu, mas foi simplesmente por falta de amor, ele não achou que os ninivitas merecessem seu esforço. Um coração que não aprende a amar e que não se permite ser amado, e Deus amou muito a Jonas, não se apaixonará pela causa maior, pela mais nobre das militâncias, levar a palavra de amor de Deus aos homens. Cuidado, não milite por aboboreiras, um pequeno verme, se for enviado por Deus, pode matá-las, por maior que elas sejam, por mais que elas pareçam dar ao rebelde proteção contra o Sol e o vento, não podem resistir à vontade maior de Deus. 
      O livro de Jonas termina com a pergunta que Deus faz no final do capítulo quatro, versículos dez e onze. Pelo registro bíblico, apesar da oração de arrependimento que Jonas fez no capítulo dois, não sabemos qual foi a posição do profeta depois que ele se revoltou pela aboboreira. Teria ele entendido porque lhe era difícil obedecer a Deus? De fato se tornou alguém melhor com a prova, mesmo que os ninivitas tenham recebido a palavra de Deus e mudado de vida? Não podemos dizer com certeza. Fica uma lição para todos nós, uma causa não é totalmente legítima por ser uma militância relevante, nem mesmo por ser aprovada e ordenada por Deus, mas por ser executada com amor.

Está é a 27ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

26/10/21

Daniel militou certo (26/31)

      “E disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus eunucos, que trouxesse alguns dos filhos de Israel, e da linhagem real e dos príncipes, Jovens em quem não houvesse defeito algum, de boa aparência, e instruídos em toda a sabedoria, e doutos em ciência, e entendidos no conhecimento, e que tivessem habilidade para assistirem no palácio do rei, e que lhes ensinassem as letras e a língua dos caldeus. E o rei lhes determinou a porção diária, das iguarias do rei, e do vinho que ele bebia, e que assim fossem mantidos por três anos, para que no fim destes pudessem estar diante do rei. 
      E entre eles se achavam, dos filhos de Judá, Daniel, Hananias, Misael e Azarias; E o chefe dos eunucos lhes pós outros nomes, a saber: a Daniel pós o de Beltessazar, e a Hananias o de Sadraque, e a Misael o de Mesaque, e a Azarias o de Abednego. E Daniel propôs no seu coração não se contaminar com a porção das iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; portanto pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não se contaminar. Ora, Deus fez com que Daniel achasse graça e misericórdia diante do chefe dos eunucos.” 
Daniel 1.3-9

      Daniel foi o homem certo, ainda que num lugar errado, mas que sempre achava o tempo certo para militar não por ele, e mais até que por seu povo, mas por Deus. Daniel pode representar o arquétipo da militância mais coerente do cristão com o momento histórico atual, por ele entendemos que certas coisas no mundo externo não vão mudar, e nem precisam, não mais, o que deve ser transformado é o homem interior do ser humano. Daniel era acima de tudo um servo de Deus, não de militâncias, e se quisesse militar teria razões bem fortes para isso, por seu povo que estava sendo escravizado. Mas ele mantinha os olhos onde Deus queria que ele os mantivesse naquele momento, no futuro, por isso não sofria mais que o necessário, não lutava em guerras inúteis e era cuidado por Deus de forma especial. Segue texto extraído da reflexão “Três justos” aqui do blog, que avalia três personagens bíblicos em tempos internos diferentes.
      “Daniel era um escravo de luxo, digamos assim... nas sociedades clássicas, grega, romana, e nos tempos bíblicos, os escravos eram espólio de guerra, isso é, os perdedores nas mãos dos vencedores num embate, ou aqueles que se endividavam e não podiam mais pagar suas dívidas. Assim, eles não tinham certos direitos sociais, de ir e vir, de participação política, mas podiam desempenhar atividades em várias áreas profissionais, incluindo algumas bem nobres. Esse era o caso de Daniel, era escravo na corte do rei Nabucodonosor, rei da Babilônia, que havia vencido Judá em batalha e levado seu povo em cativeiro... (Vemos pelo texto inicial) que Daniel era um jovem especial que seria usado em tarefas especiais, que seria tratado de forma especial, mas que ainda assim era um escravo... Daniel estava numa situação ruim que não mudaria, seu cativeiro e de seu povo.  
      Ele seria provado várias vezes, seja com privilégios, seja com privações, seja com honras, seja com calúnias, para que não ficasse confortável com a situação de escravo de luxo e continuasse fiel a Deus. Daniel foi fiel, mas outro adjetivo que o define é sensível.... Sensível suficiente para desvendar mistérios espirituais, só João o evangelista recebeu de Deus (e registrou) mais revelações que Daniel, não só sobre seu povo, mas como sobre todo o mundo e para tempos futuros. Foi através de sua sensibilidade espiritual que Daniel foi ganhando a confiança da monarquia babilônica e conquistando posições políticas importantes. Com Daniel aprendemos que às vezes, o homem que Deus quer que sejamos, é alguém que mantenha-se fiel, vivo e sensível mesmo numa situação que temos certeza que não mudará para melhor a curto prazo, aliás, eis outra característica de Daniel, visão espiritual longa, por isso Deus revelou a ele tantos mistérios sobre o futuro.
      Militâncias por não ao racismo, ao trabalho infantil e ao feminicídio, pelos diretos da mulher e respeito às diversas expressões de sexualidade e às religiões, são legítimas, são causas do presente e de todos, mas é importante que entendamos o que Deus quer exatamente de nós como indivíduos, que pode não ser o geral que a maioria está fazendo. O que segue a Jesus deve enxergar a relevância de ser exceção, não regra, deve ser feliz em uma vocação pessoal, e deve entender quem é seu Senhor, Deus, não os homens. Mas não é fácil ser exceção, alguns até gostariam de ser, mas só se percebem assim por terem visões distorcidas de si mesmos e da realidade, causadas por doenças emocionais não curadas. Existe muito doente mental em igrejas evangélicas, pregando e profetizando, que na verdade precisariam de tratamento psiquiátrico, não de púlpitos. 
      Outros preferem ser regra, para fazerem parte de algo grande que lhes dê objetivo de vida e contrabalanceie seus recalques, mas tanto os que se acham especiais do jeito errado quanto os que querem ser regra por medo, precisam buscar a Deus e entender melhor suas chamadas, senão serão só manipuláveis por seus equívocos e por agendas alheias. Não pense que isso diminui seus “itinerários”, Deus tem tudo em suas mãos e de tudo sabe, algo que pode começar pequeno e desconhecido hoje pode se tornar no futuro algo importante no plano maior do Altíssimo, que abençoará mais que um indivíduo, mas muitos. Se formos fiéis e sensíveis, como foi Daniel, poderemos ter essa experiência, Daniel não devia saber que as orações, que fazia por si e pelo seu povo, conteriam, na resposta de Deus, profecias para o futuro da humanidade.

Está é a 26ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

25/10/21

Davi, paciência para militar (25/31)

      “E disse a Davi: Mais justo és do que eu; pois tu me recompensaste com bem, e eu te recompensei com mal. 
I Samuel 24.17

      Quando muitos verificam uma causa que precisa ser defendida, uma necessidade de militância, isso parece já ser tudo que precisam para saírem militando, a existência do problema é suficiente para que se dê uma solução, imediatamente, mas nem sempre deve ser assim. A história de Davi é bem conhecida, um exemplo de que saber-se a vontade de Deus para sua vida, mesmo ter recebido desse uma palavra profética clara de que se tem algo a fazer, pode não ser o suficiente para que se desempenhe uma missão apressadamente. 
      A lição do início da história de Davi é sobre paciência, do homem e de Deus. Deus é paciente com todos, foi com Davi, mas também foi com Saul, esse não foi retirado do trono logo após ter pecado e perdido o direito a ele, ele teve um tempo, para quê? Para se arrepender? Isso seria possível? Deus sempre espera o arrependimento do homem, sempre, isso é o amor mostrando sua principal característica. Deus é paciente e não guarda mágoas, ainda que nos sujemos e nos sujemos ele sempre nos recebe e torna a nos limpar.  
      Mas para Davi, esperar tinha um objetivo, mesmo sabendo que aquele que ocupava um lugar que Deus já havia lhe dado estava em pecado e numa frágil posição, onde ele poderia resolver o problema imediatamente e do seu jeito. A bênção pode estar lá no fundo, exigindo que nós cavemos com esforço e por um bom tempo para alcançá-la, por quê? Porque o objetivo principal de Deus não está no final, mas no processo, no final recebemos algo e pronto, mas no processo nosso caráter é moldado com trabalho. 
      É o que aprendemos no processo que irá conosco para a eternidade e fará diferença, não a bênção que recebemos no final de um processo no mundo. No final pode haver, por mais maravilhoso que seja entre os homens, só algo material e passageiro, no caso de Davi um reinado, mas no processo há virtudes morais que fazem o nosso espírito mais iluminado, e isso é para sempre. Quando você acha que Davi mais cresceu como ser humano, quando assentou-se no trono pela primeira vez ou quando se negou a matar Saul? 
      A bênção maior neste mundo não está no usufruto da vida, mas na negação da morte, e a morte nos confronta o tempo todo, seja em nossa vida ou nas vidas dos outros. Negar a morte é negar o que conduz à segunda morte, a morte do espírito e das virtudes morais. Isso não é fácil, principalmente na situação de Davi, que tinha motivos legítimos para matar alguém. Dois pontos sobre a passagem bíblica (no fim da reflexão) a serem ressaltados, o primeiro é sobre o termo ungido do Senhor e o segundo sobre o temor ao Senhor e a confiança em Deus de Davi.   
      O que muitos não se dão conta, quando usam a passagem para dizerem que é errado revelarmos líderes em pecado, é que o líder ao qual a Bíblia se refere como ungido do Senhor é alguém em pecado e com dias contados para ser julgado publicamente. A lição é que de fato não temos que pesar a mão sobre alguém que recebeu de Deus uma posição na igreja e está em pecado, Deus faz isso, do jeito e no tempo certo. O termo não é orientação para que pastor nunca seja repreendido, mas só para que esperemos a repreensão de Deus.
      Mas isso não significa que nós não possamos ser usados por Deus para repreender alguém em posição de liderança, podemos, sim, mas se for o caso deverá ser feito com temor a Deus, amor e do jeito correto, como orientado em Mateus 18.15-17. O mais sábio é levarmos a questão à liderança e não sairmos falando do assunto por aí, um líder precisa ser protegido, e não por ele mesmo, ele tem responsabilidades que serão cobradas, mas pelos outros, principalmente pelos novos na fé que são alimentados por ele e veem nele um exemplo. 
      Interessante como homens sem amor e sem sabedoria gostam de colocar palavras na boca de ninguém menos que o próprio Deus, “então os homens de Davi lhe disseram, eis aqui o dia, do qual o Senhor te diz, eis que te dou o teu inimigo nas tuas mãos, e far-lhe-ás como te parecer bem aos teus olhos”. Esses são os que militam errado e pior, que tentam achar legitimidade para suas causas em Deus. Que pecado terrível é esse, se não estivermos vigilantes poderemos ser levados por esses a grandes e estúpidos erros. 
      O segundo ponto que ressaltamos da passagem bíblica são as virtudes de Davi, a primeira é seu temor a Deus, ele chora por ter humilhado Saul diante de seus homens quando cortou a orla de seu vestido, num impulso ele até fez o que estava fácil para fazer, mas depois se arrependeu. Será que eu e você choramos por vermos humilhado alguém que nos odeia e que ocupa um lugar que deveria ser nosso? É por isso que Davi foi o maior líder de Israel, que colocou o povo de Deus como uma nação forte no mundo, e que é a raiz do próprio Cristo. 
      Confiança em Deus é a segunda virtude de Davi, fica clara quando ele diz, “julgue o Senhor entre mim e ti e vingue-me o Senhor de ti”. Temos tal confiança para deixarmos que Deus seja nosso árbitro, escolha entre nós e um rei em uma nação como Saul? Davi conhecia o Deus em quem cria, conhecia a legitimidade de sua chamada, mas temia a Deus o suficiente para esperar, quando desempenharia um papel único na história. Davi teve paciência e fez a mais excelente das militâncias, cumprir uma missão de Deus. 

      “Então tomou Saul três mil homens, escolhidos dentre todo o Israel, e foi em busca de Davi e dos seus homens, até sobre os cumes das penhas das cabras montesas. E chegou a uns currais de ovelhas no caminho, onde estava uma caverna; e entrou nela Saul, a cobrir seus pés; e Davi e os seus homens estavam nos fundos da caverna. Então os homens de Davi lhe disseram: Eis aqui o dia, do qual o Senhor te diz: Eis que te dou o teu inimigo nas tuas mãos, e far-lhe-ás como te parecer bem aos teus olhos. E levantou-se Davi, e mansamente cortou a orla do manto de Saul. Sucedeu, porém, que depois o coração doeu a Davi, por ter cortado a orla do manto de Saul. E disse aos seus homens: O Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, ao ungido do Senhor, estendendo eu a minha mão contra ele; pois é o ungido do Senhor.
      “Depois também Davi se levantou, e saiu da caverna, e gritou por detrás de Saul, dizendo: Rei, meu senhor! E, olhando Saul para trás, Davi se inclinou com o rosto em terra, e se prostrou. E disse Davi a Saul: Por que dás tu ouvidos às palavras dos homens que dizem: Eis que Davi procura o teu mal? Eis que este dia os teus olhos viram, que o Senhor hoje te pós em minhas mãos nesta caverna, e alguns disseram que te matasse; porém a minha mão te poupou; porque disse: Não estenderei a minha mão contra o meu senhor, pois é o ungido do Senhor. Olha, pois, meu pai, vê aqui a orla do teu manto na minha mão; porque cortando-te eu a orla do manto, não te matei. Sabe, pois, e vê que não há na minha mão nem mal nem rebeldia alguma, e não pequei contra ti; porém tu andas à caça da minha vida, para ma tirares. Julgue o Senhor entre mim e ti, e vingue-me o Senhor de ti; porém a minha mão não será contra ti.
      “E sucedeu que, acabando Davi de falar a Saul todas estas palavras, disse Saul: É esta a tua voz, meu filho Davi? Então Saul levantou a sua voz e chorou. E disse a Davi: Mais justo és do que eu; pois tu me recompensaste com bem, e eu te recompensei com mal. E tu mostraste hoje que procedeste bem para comigo, pois o Senhor me tinha posto em tuas mãos, e tu não me mataste. Porque, quem há que, encontrando o seu inimigo, o deixaria ir por bom caminho? O Senhor, pois, te pague com bem, por isso que hoje me fizeste.

I Samuel 24.2-6, 8-12, 16-19
 
Está é a 25ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

24/10/21

Josué, escolheu o lado vencedor (24/31)

      “E falaram a toda a congregação dos filhos de Israel, dizendo: A terra pela qual passamos a espiar é terra muito boa. Se o Senhor se agradar de nós, então nos porá nesta terra, e no-la dará; terra que mana leite e mel. Tão-somente não sejais rebeldes contra o Senhor, e não temais o povo dessa terra, porquanto são eles nosso pão; retirou-se deles o seu amparo, e o Senhor é conosco; não os temais.” 
Números 14.7-9

      Ninguém vive sem lutar por uma causa, causas na verdade têm essências religiosas, não no sentido de nos religar ao divino, mas em nos fornecerem valores para respeitarmos e pelos quais militarmos. Podem ser militâncias mais pessoais, mais privadas, ou mais coletivas, religiosas, políticas, científicas, enfim, ninguém enfrenta a realidade da existência neste mundo sem ter na mão alguma bandeira. Ela é mais que uma capa, é uma consciência, que nos dá a convicção interior de não estarmos aqui sem motivos, ou só para sofrer, mas por uma missão útil. 
      Uns correm atrás de suas profissões, estudam, estudam mais, mudam de empresa, de cidade, até de país, em busca de evolução em sua área, melhores salários, promoções. Outros correm atrás de um amor, passam a vida procurando um relacionamento afetivo satisfatório, isso parece que é mais importante que qualquer outra coisa para eles. Alguns escolhem uma causa e vão com ela até o final, e isso não significa que essa causa seja a melhor ou a melhor para eles, outros demoram para escolher a causa certa, mudam de bandeira por muito tempo até acharem uma que seja sua. 
      Outros, contudo, escolhem a militância correta, para eles e para as pessoas com as quais convivem, e ainda que muitos se coloquem contra, que muitos revezes ocorram, permanecem firmes. Josué é um exemplo bíblico de alguém assim. Ele não era qualquer um em Israel, quando Moisés mandou espias olharem a terra que a nação de Israel possuiria, ele foi escolhido como representante da tribo de Efraim (Números 13.8, 16), mas junto de Calebe, representante da tribo de Judá, foram os únicos espias que não temeram o que viram e confiaram que Deus conduziria Israel em vitória. 
      A conduta incrédula da maioria dos espias deve servir-nos de alerta, caso sejamos escolhidos como representantes de Deus em uma causa, não usemos isso para contrariarmos a causa ou invés de defendê-la. Os espias rebeldes, ao invés de incentivarem a nação de Israel e de compartilharem com ela as virtudes do que Deus estava lhe dando, mostraram as dificuldades e as exacerbaram. Viram gigantes mas não viram o Deus que é maior que tudo, isso inflamou Israel e levou a nação a receber uma terrível punição de Deus, que às portas de Canaã deu meia volta e andou em círculo por décadas. 
      Nem o pedido de Moisés fez Deus mudar de ideia, nem o próprio Moisés deixou de ser punido, só Calebe e Josué foram salvos e entraram em Canaã, de todos os de sua geração, os demais morreram no deserto sem ver a terra prometida. Mas não foi Deus que foi duro e inflexível, foi o povo que foi teimoso e incrédulo por quarenta anos, a palavra de Deus não foi uma determinação, mas uma profecia, assim creio. Como deve ter sido a vida de Josué tendo que pagar um preço por algo que ele não merecia, sabendo que o melhor existia mas que tinha que esperar para usufruir? 
      A história de Josué ensina que escolher a militância certa tem um preço alto, mas que vale a pena se nosso objetivo é agradar a Deus e não aos homens. Josué teve sua recompensa, se tornou o primeiro juiz de Israel em Canaã, substituiu o líder Moisés. Isso é glorioso? Mas caro, ninguém queira lutar por uma causa, principalmente se envolver de forma direta o nome de Deus, sem estar pronto para pagar um preço caro. A Bíblia ensina em mais de um exemplo que a coisa funciona assim no plano de Deus, Josué escolheu o lado vencedor mas teve que esperar o tempo de Deus.

      “E todos os filhos de Israel murmuraram contra Moisés e contra Arão; e toda a congregação lhes disse: Quem dera tivéssemos morrido na terra do Egito! ou, mesmo neste deserto! E por que o Senhor nos traz a esta terra, para cairmos à espada, e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não nos seria melhor voltarmos ao Egito?” 
      “E Josué, filho de Num, e Calebe filho de Jefoné, dos que espiaram a terra, rasgaram as suas vestes. E falaram a toda a congregação dos filhos de Israel, dizendo: A terra pela qual passamos a espiar é terra muito boa. Se o Senhor se agradar de nós, então nos porá nesta terra, e no-la dará; terra que mana leite e mel. Tão-somente não sejais rebeldes contra o Senhor, e não temais o povo dessa terra, porquanto são eles nosso pão; retirou-se deles o seu amparo, e o Senhor é conosco; não os temais. 
      Mas toda a congregação disse que os apedrejassem; porém a glória do Senhor apareceu na tenda da congregação a todos os filhos de Israel. E disse o Senhor a Moisés: Até quando me provocará este povo? e até quando não crerá em mim, apesar de todos os sinais que fiz no meio dele? 
      E disse Moisés ao Senhor: Assim os egípcios o ouvirão; porquanto com a tua força fizeste subir este povo do meio deles.” “E se matares este povo como a um só homem, então as nações, que antes ouviram a tua fama, falarão, dizendo: Porquanto o Senhor não podia por este povo na terra que lhe tinha jurado; por isso os matou no deserto. Agora, pois, rogo-te que a força do meu Senhor se engrandeça; como tens falado, dizendo: O Senhor é longânimo, e grande em misericórdia, que perdoa a iniqüidade e a transgressão, que o culpado não tem por inocente, e visita a iniqüidade dos pais sobre os filhos até à terceira e quarta geração. Perdoa, pois, a iniqüidade deste povo, segundo a grandeza da tua misericórdia; e como também perdoaste a este povo desde a terra do Egito até aqui. 
      E disse o Senhor: Conforme à tua palavra lhe perdoei. Porém, tão certamente como eu vivo, e como a glória do Senhor encherá toda a terra. E que todos os homens que viram a minha glória e os meus sinais, que fiz no Egito e no deserto, e me tentaram estas dez vezes, e não obedeceram à minha voz, não verão a terra de que a seus pais jurei, e nenhum daqueles que me provocaram a verá.” “Neste deserto cairão os vossos cadáveres, como também todos os que de vós foram contados segundo toda a vossa conta, de vinte anos para cima, os que dentre vós contra mim murmurastes; não entrareis na terra, pela qual levantei a minha mão que vos faria habitar nela, salvo Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num.
      “Então disse o Senhor a Moisés: Toma a Josué, filho de Num, homem em quem há o Espírito, e impõe a tua mão sobre ele. E apresenta-o perante Eleazar, o sacerdote, e perante toda a congregação, e dá-lhe as tuas ordens na presença deles. E põe sobre ele da tua glória, para que lhe obedeça toda a congregação dos filhos de Israel.

Números 14.2-3, 6-11, 13, 15-23, 29-30, 27.18-20

Está é a 24ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

23/10/21

Moisés, tempo certo para militar (23/31)

      “E nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o Senhor conhecera face a face; nem semelhante em todos os sinais e maravilhas, que o Senhor o enviou para fazer na terra do Egito, a Faraó, e a todos os seus servos, e a toda a sua terra. E em toda a mão forte, e em todo o grande espanto, que praticou Moisés aos olhos de todo o Israel.” 
Deuteronômio 34.10-12

      Enquanto existem pessoas que inventam causas para militar para terem identidade que não precisam ter, e outras que militam por causas equivocadas, temos um exemplo bíblico de homem que tinha uma causa legítima para militar, com autorização de Deus, mas que tentou fazer isso no tempo errado. Moisés era israelita de nascimento, mas por causa da perseguição do faraó contra seu povo, foi lançado num rio ainda bebê por sua mãe de sangue para protegê-lo. Depois foi achado pela filha do faraó que o criou com a formação intelectual e religiosa, mais os luxos, da corte egípcia. 
      “O nome Moisés é tradicionalmente traduzido como "tirado das águas", embora um estudo linguístico aponte que tenha origem egípcia e signifique simplesmente "filho", já que o fonema "séis" é a representação de "filho de" em egípcio, assim como Ramessés” (Fonte). Irônico como quando alguém tenta com violência fazer fracassar o plano de Deus, poder ser usado pela própria providência divina para que o plano original tenha sucesso. O faraó, achando que matando mais um bebê enfraqueceria um povo, acabou fortalecendo um líder que comandaria todo o povo para libertar-se dele. 
      Eis uma lição para todos que se sentem injustiçados, se confiamos em Deus ele cumpre seu plano maior, de um jeito ou de outro. Ninguém pode frustrar os planos de Deus, se ele quer usar, mesmo um frágil bebê condenado à morte como líder de um povo, ele usará. Para isso Deus fará o impossível diante dos homens, mesmo criar um filho de escravo como filho de um rei. Deus faz isso no tempo certo, o conceito de tempo certo, contudo, era algo que um Moisés, já na faixa dos quarenta anos, idade que um homem já pode estar maduro e saber discernir as coisas, não entendia. 
      Moisés achou-se preparado porque tinha a intenção certa, a sensibilidade de perceber o sofrimento do oprimido, e tinha também um meio poderoso, a posição privilegiada de príncipe egípcio, mas na verdade não tinha ainda noção de qual eram os meios divinos para executar sua intenção. Que lição essa para todos nós e para tantos militantes, que acham que podem fazer qualquer coisa pelo fato de lutarem por uma causa legítima. A coisa não funciona assim, não se quisermos agir sincronizados com Deus, a única coisa que nos dá direito de termos a proteção, a capacitação e ao aval de Deus. 
      Se Moisés tinha quarenta, teve que esperar mais quarenta anos, para que sua impulsividade de querer fazer justiça com as próprias mãos desse lugar à mão de Deus, e que mão poderosa de Deus provou Moisés depois de amansado por quarenta anos pastoreando ovelhas no deserto, longe da luxuosa corte egípcia. O que Deus fez na vida de Moises foi desconstruir uma identidade e reconstruir a original, aquela que ele já possuía quando bebê e que tinha sido esquecida, quando viveu como privilegiado com os opressores. Moisés precisava de identidade de oprimido, sentir na pele o sofrimento alheio. 
      Essa é a história de todo servo genuíno de Deus, não dos que acham serem servos, mas dos que são em verdade, esses precisam sofrer para entenderem e executarem suas chamadas adequadamente. Por isso não podemos aliar sucesso com quantidade, com tempo neste mundo, se forem necessárias décadas de preparo para um ano de execução da chamada de Deus, que seja, em primeiro lugar o homem deve salvar a si, para depois salvar os outros. Infelizmente muitos constróem reputações, profissionais e ministeriais, como o Moises de só quarenta anos de idade, com imposição humana. 
      O que é imposto pelo homem, mesmo que não seja por violência, mas com algum artifício de falsidade, boa lábia, como se costuma dizer, não permanece de pé. Quando os próprios israelitas disseram a Moisés, “quem te tem posto a ti por maioral e juiz sobre nós? pensas matar-me, como mataste o egípcio?, penso que ele se sentiu muito humilhado. Mas aquilo não foi seta de inimigo, foi a disciplina de Deus mostrando ao homem que a força do homem de nada vale, aquilo foi o bofetão não cara que Moisés precisava para acordar para a importante chamada divina que tinha a desempenhar. 
      Cuidado, não interprete as coisas erradamente, você pode estar achando que está sendo desrespeitado pelos homens, que não estão reconhecendo tua chamada, quando na verdade é Deus mostrando que é você que não está reconhecendo a importância de tua chamada, e a está tentando desempenhar do jeito errado, no lugar errado ou no tempo errado. Precisamos dar o devido valor à chamada que Deus nos dá, até Jesus só começou seu ministério após seus trinta anos de idade. Por que muitos, às vezes recém formados, querem já desempenhar e colher frutos de algo que ainda nem sabem bem o que é? 
      Por outro lado, e foi o caso de Moisés, estarmos amadurecidos em muitas áreas, pode não conferir legitimidade à nossa chamada, principalmente se for ministerial, basicamente espiritual, e não na área secular ou profissional. Amadurecimento espiritual se ganha com muita oração, depois com prática de amor em humildade, e depois com muito mais oração, que vence o protocolo de pedir e agradecer pelo que se recebeu na área material e se aventura na luz do Altíssimo para conhecer os mistérios do plano espiritual. Será que queremos de fato exercer chamadas de Deus ou só matar uns egípcios? 

      “E aconteceu naqueles dias que, sendo Moisés já homem, saiu a seus irmãos, e atentou para as suas cargas; e viu que um egípcio feria a um hebreu, homem de seus irmãos. E olhou a um e a outro lado e, vendo que não havia ninguém ali, matou ao egípcio, e escondeu-o na areia. E tornou a sair no dia seguinte, e eis que dois homens hebreus contendiam; e disse ao injusto: Por que feres a teu próximo? O qual disse: Quem te tem posto a ti por maioral e juiz sobre nós? Pensas matar-me, como mataste o egípcio? Então temeu Moisés, e disse: Certamente este negócio foi descoberto. Ouvindo, pois, Faraó este caso, procurou matar a Moisés; mas Moisés fugiu de diante da face de Faraó, e habitou na terra de Midiã, e assentou-se junto a um poço.” 
Êxodo 2.11-15 

      “E, quando completou a idade de quarenta anos, veio-lhe ao coração ir visitar seus irmãos, os filhos de Israel.” “E, completados quarenta anos, apareceu-lhe o anjo do Senhor no deserto do monte Sinai, numa chama de fogo no meio de uma sarça.” 
Atos 7.23, 30

Está é a 23ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

22/10/21

José: sonhos, tempo e destino (22/31)

      “Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido.Jó 42.2

      Algumas pessoas fazem de tudo para aparecerem como militantes, principalmente nos dias de hoje, quando causas estão em moda, celebradas pela mídia, contudo, talvez a militância mais verdadeira seja aquela que se faz, não porque se quer, porque se escolhe, mesmo por se gostar ou por se estar preparado para fazê-la. A melhor e mais eficiente luta por uma causa é aquela que nos é imposta pelo destino, mas mais ainda que isso, vocacionada por Deus, é algo que nasce conosco, ainda que não saibamos a princípio e que tudo o mais tente conspirar contra por muito tempo. A Bíblia relata várias histórias com características de sofisticadas obras de ficção, verdadeiros romances literários, mas não é assim toda mitologia? Trabalhada por anos nas cabeças das pessoas que ouvem e recontam até que se transformem em contos épicos? Mas a Bíblia é bem mais que mitologia. 
      Moisés, Davi e Daniel têm histórias assim, mas a de José, em minha opinião, é a mais esplêndida, além de ter suma importância na transformação de um simples clã familiar num povo, pronto para ser uma nação. Há algo interessante na história de José, não é que o pressentimento, ainda que maldoso de seus irmãos lá no início, de que esse queria escravizá-los, acabou se realizando? Depois de José ter sido invejado pelos irmãos, vendido por esses aos ismaelitas, levado ao Egito, comprado e já honrado por um homem rico, mas cobiçado pela mulher desse homem que o caluniou, então preso por isso, decifrado o sonho do faraó egípcio, ganhado desse um cargo de muita importância, e por ter essa posição podido trazer sua família ao Egito num momento de fome na região, e finalmente morrido, depois de tudo isso os descendentes dos irmãos de José se tornaram escravos. 
      A primeira lição da história de José é sobre o tempo, cuidado com ele, ele pode surpreender. O que parece uma coisa no início lá na frente pode se mostrar outra totalmente diferente, ou não, a mesma coisa, só que com proporções maravilhosamente maiores. A segunda lição é sobre o destino, que a princípio pode parecer de tragédia, José parecia alguém que não era nem para ter nascido. Foi o último filho de Jacó já na sua velhice, depois parecia ser uma criança que não era para continuar viva, odiado e invejado por nada menos que pelos próprios irmãos. Depois, ainda que recebendo alguma honra e em terra estrangeira, longe da família, foi novamente cobiçado e injustiçado, sua sina parecia ser morte e prisão no esquecimento. Ah, meus caros, o homem pode ser injusto e se esquecer, mas Deus não se esquece de alguém, muito menos de honra-lo. Deus pode virar a história de cabeça para baixo. 
      Parece até que alguém sabia do final de José e queria de todo jeito impedi-lo. Seria o “diabo” ou só provações para evoluí-lo? Mas há uma terceira lição dessa história, é a importância de se sonhar em Deus, de se ter uma vida espiritual além da realidade física (refletimos sobre isso em “O que há em nossas cabeças?”). José foi, desde o início, um sonhador, não alguém embriagado por ilusões, mas com uma comunhão íntima e especial com Deus, que permitiu a ele ver além do tempo e além de um falso e trágico destino. Deus sempre nos equilibra, se experimentamos algo muito duro, muito cruel, muito injusto, ele nos dá algo especial que nos consola, que nos protege e nos dá condições de seguirmos vivos e com determinação rumo ao melhor de seu plano. José acabou protegendo toda a sua família, fez isso só sendo ele mesmo e pagando os preços por isso. Deus sonha o homem e o realiza. 
      Quem pode impedir as intenções divinas? Ninguém, e acima da inveja dos irmãos e de uma trajetória em que José parecia não escolher, não ser seu próprio protagonista, mas só ir colhendo as escolhas, ruins e boas, que outros faziam por ele, Deus cumpre um plano muito mais alto, transformar uma família numa nação. Israel foi moldada no trabalho duro, servindo os outros, pagando preços altos, Deus em sua onisciente sabedoria sabia que esse era o único jeito, e acreditem, quando Deus faz de um jeito, ainda que pareça difícil, é porque é o único jeito para que no final nós colhamos o melhor. Tempo, destino, sonhos? Deus é mais, nele nossas existências lutarão por militâncias que valham a pena, que terão um objetivo que podemos nem imaginar qual será, mas que será especial, e que ninguém mais poderá executar, só nós, os Josés amados de Deus. Testemunho que tem sido assim comigo. 

      “E Israel amava a José mais do que a todos os seus filhos, porque era filho da sua velhice; e fez-lhe uma túnica de várias cores. Vendo, pois, seus irmãos que seu pai o amava mais do que a todos eles, odiaram-no, e não podiam falar com ele pacificamente. Teve José um sonho, que contou a seus irmãos; por isso o odiaram ainda mais. E disse-lhes: Ouvi, peço-vos, este sonho, que tenho sonhado: Eis que estávamos atando molhos no meio do campo, e eis que o meu molho se levantava, e também ficava em pé, e eis que os vossos molhos o rodeavam, e se inclinavam ao meu molho. Então lhe disseram seus irmãos: Tu, pois, deveras reinarás sobre nós? Tu deveras terás domínio sobre nós? Por isso ainda mais o odiavam por seus sonhos e por suas palavras.” 
Gênesis 37.3-8

      “Depois disse Faraó a José: Pois que Deus te fez saber tudo isto, ninguém há tão entendido e sábio como tu. Tu estarás sobre a minha casa, e por tua boca se governará todo o meu povo, somente no trono eu serei maior que tu. Disse mais Faraó a José: Vês aqui te tenho posto sobre toda a terra do Egito. E tirou Faraó o anel da sua mão, e o pós na mão de José, e o fez vestir de roupas de linho fino, e pós um colar de ouro no seu pescoço. E o fez subir no segundo carro que tinha, e clamavam diante dele: Ajoelhai. Assim o pós sobre toda a terra do Egito. E disse Faraó a José: Eu sou Faraó; porém sem ti ninguém levantará a sua mão ou o seu pé em toda a terra do Egito.” 
Gênesis 41.39-44

      “Faleceu José, e todos os seus irmãos, e toda aquela geração. E os filhos de Israel frutificaram, aumentaram muito, e multiplicaram-se, e foram fortalecidos grandemente; de maneira que a terra se encheu deles. E levantou-se um novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José; o qual disse ao seu povo: Eis que o povo dos filhos de Israel é muito, e mais poderoso do que nós. Eia, usemos de sabedoria para com eles, para que não se multipliquem, e aconteça que, vindo guerra, eles também se ajuntem com os nossos inimigos, e pelejem contra nós, e subam da terra. E puseram sobre eles maiorais de tributos, para os afligirem com suas cargas. Porque edificaram a Faraó cidades-armazéns, Pitom e Ramessés.
Êxodo 1.6-11

Está é a 22ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021