quarta-feira, outubro 27, 2021

Jonas, profeta sem amor? (27/31)

      Jonas é o exemplo de um homem que recebeu de Deus uma causa para militar, mas que teimou em não aceitar. Qual o motivo principal que o levou a desobedecer a Deus? Muitos acham legitimidade em qualquer coisa, se empoderam e partem para a luta, mas justamente alguém, que tinha Deus ao seu lado, fugiu da luta, por quê? 

      “E veio a palavra do Senhor a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até à minha presença. Porém, Jonas se levantou para fugir da presença do Senhor para Társis. E descendo a Jope, achou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem, e desceu para dentro dele, para ir com eles para Társis, para longe da presença do Senhor.” Jonas 1.1-3

      O barco, fuga para dentro do mundo. 
      Um homem que foge de Deus pode equivocadamente procurar esconder-se em dois lugares, o primeiro deles é o mundo, o barco simboliza isso. O mundo é como as águas do mar, muitas possibilidades são apresentadas, simulando a liberdade que só existe na água viva do Espírito Santo, mas diferentemente do Espírito, que nos faz voar e subir, para mais perto da vida eterna, o mar do mundo é traiçoeiro, em algum momento nos submergirá, conduzindo-nos à morte. 
      Seremos lançados para as profundezas, traídos por aqueles falsos companheiros de viagem, maldito o homem que confia no homem (Jeremias 17.5b), enquanto o homem ganha alguma coisa conosco, pode até dizer que é nosso amigo, mas quando o perigo se aproximar, ele nos lançará ao mar, para salvar a si mesmo. Pior ainda se aquele que foge no mundo dos homens for um chamado rebelde de Deus, por esse, menos respeito ainda terão aqueles que sempre caminharam longe do Senhor. 

      “E levantaram a Jonas, e o lançaram ao mar, e cessou o mar da sua fúria.” “Preparou, pois, o Senhor um grande peixe, para que tragasse a Jonas; e esteve Jonas três dias e três noites nas entranhas do peixe.” Jonas 1.15, 17

      O peixe, fuga para dentro de si mesmo. 
      Quando o mundo desampara aquele que tenta, equivocadamente, fugir de Deus, como se isso fosse possível, o profeta rebelde tentará fugir para dentro de si mesmo, numa disposição de solidão e descrença de tudo, isso é o que o grande peixe simboliza. Se no mundo ainda existem fugas, prazeres, algum espaço para termos alguma liberdade, ainda que amarga, nas entranhas do peixe o espaço é restrito, o coração do que foge de Deus vai se apertando cada vez mais, deixando o rebelde mais e mais torturado. 
      Lugar terrível é esse, ninguém consegue ficar muito tempo nele, e os que insistem em fugir para dentro de si mesmos podem chegar à insanidade, onde não se tem mais luz moral e intelectual para existir, onde não se vê nada, nem a ninguém, só o próprio reflexo dizendo que se é covarde e medroso, que se está fugindo de sua principal razão de existir, da presença do Deus Altíssimo. 

      “E orou Jonas ao Senhor, seu Deus, das entranhas do peixe.” “Falou, pois, o Senhor ao peixe, e este vomitou a Jonas na terra seca.” “E veio a palavra do Senhor segunda vez a Jonas, dizendo: levanta-te, e vai à grande cidade de Nínive, e prega contra ela a mensagem que eu te digo. E levantou-se Jonas, e foi a Nínive, segundo a palavra do Senhor. Ora, Nínive era uma cidade muito grande, de três dias de caminho.” “E Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha anunciado lhes faria, e não o fez.” “Mas isso desagradou extremamente a Jonas, e ele ficou irado” “E disse o Senhor: Fazes bem que assim te ires?”  Jonas 2.1, 10, 3.1-3, 10, 4.1, 4

      Obediência? Não. 
      Dentro do peixe o profeta rebelde ora, ele não tem outra saída, e um Deus sempre amoroso atende à oração e livra o profeta, então, quase que sem pensar direito, ainda com as lembranças das entranhas do peixe na cabeça, o profeta obedece a ordem inicial de Deus. Entretanto, se o coração não for transformado por amor, o medo não o mudará, ainda que o leve a fazer coisas certas permitindo que Deus cumpra sua vontade com os outros. Mas ordem obedecida com intenção errada não traz paz, logo o profeta rebelde se arrependerá do que fez, a bênção dos outros não sensibilizará seu coração sem amor. 
      Sem amor nada faz sentido, seja família, religião, caridade, amizade, sem amor tudo é desgosto, egoísmo, que exige mas não dá, que critica os outros mas não se avalia, que desobedece mesmo ao Deus Altíssimo. Não nos iludamos com certos cristãos, podem até serem usados por Deus para abençoar os outros, mas se tiverem no coração a intenção errada não abençoarão a si mesmos. No final poderão ser escândalo, para aqueles que falaram do amor de Deus, porque falaram, mas não praticaram. 

      “E fez o Senhor Deus nascer uma aboboreira, e ela subiu por cima de Jonas, para que fizesse sombra sobre a sua cabeça, a fim de o livrar do seu enfado; e Jonas se alegrou em extremo por causa da aboboreira. Mas Deus enviou um verme, no dia seguinte ao subir da alva, o qual feriu a aboboreira, e esta se secou. E aconteceu que, aparecendo o sol, Deus mandou um vento calmoso oriental, e o sol feriu a cabeça de Jonas; e ele desmaiou, e desejou com toda a sua alma morrer, dizendo: Melhor me é morrer do que viver. Então disse Deus a Jonas: Fazes bem que assim te ires por causa da aboboreira? E ele disse: Faço bem que me revolte até à morte.” “E disse o Senhor: Tiveste tu compaixão da aboboreira, na qual não trabalhaste, nem a fizeste crescer, que numa noite nasceu, e numa noite pereceu; E não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive em que estão mais de cento e vinte mil homens que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e também muitos animais?” Jonas 4.6-9, 10-11

      Falta de amor! 
      A hipocrisia pode levar o homem a levantar muitas bandeiras, a militar por muitas causas, pelo planeta, pelos animais, contra preconceitos e injustiças, Jonas, que não queria aceitar a ordem de Deus e militar por pessoas, caiu no ridículo, militou por uma aboboreira, é assim mesmo que pode acontecer com todos nós. Como existem pessoas, que teimando contra a vontade de Deus, que virando as costas para uma chamada verdadeira do Senhor, e toda chamada sempre existe pelo amor de Deus e deve ser realizada no amor de Deus, acabam lutando por qualquer coisa, militando por tolos e estúpidos, sendo manipulados por homens gananciosos e vaidosos. 
      Por que Jonas se negou a obedecer a Deus? Não foi por medo da missão que recebeu, mas foi simplesmente por falta de amor, ele não achou que os ninivitas merecessem seu esforço. Um coração que não aprende a amar e que não se permite ser amado, e Deus amou muito a Jonas, não se apaixonará pela causa maior, pela mais nobre das militâncias, levar a palavra de amor de Deus aos homens. Cuidado, não milite por aboboreiras, um pequeno verme, se for enviado por Deus, pode matá-las, por maior que elas sejam, por mais que elas pareçam dar ao rebelde proteção contra o Sol e o vento, não podem resistir à vontade maior de Deus. 
      O livro de Jonas termina com a pergunta que Deus faz no final do capítulo quatro, versículos dez e onze. Pelo registro bíblico, apesar da oração de arrependimento que Jonas fez no capítulo dois, não sabemos qual foi a posição do profeta depois que ele se revoltou pela aboboreira. Teria ele entendido porque lhe era difícil obedecer a Deus? De fato se tornou alguém melhor com a prova, mesmo que os ninivitas tenham recebido a palavra de Deus e mudado de vida? Não podemos dizer com certeza. Fica uma lição para todos nós, uma causa não é totalmente legítima por ser uma militância relevante, nem mesmo por ser aprovada e ordenada por Deus, mas por ser executada com amor.

Está é a 27ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

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