segunda-feira, outubro 25, 2021

Davi, paciência para militar (25/31)

      “E disse a Davi: Mais justo és do que eu; pois tu me recompensaste com bem, e eu te recompensei com mal. 
I Samuel 24.17

      Quando muitos verificam uma causa que precisa ser defendida, uma necessidade de militância, isso parece já ser tudo que precisam para saírem militando, a existência do problema é suficiente para que se dê uma solução, imediatamente, mas nem sempre deve ser assim. A história de Davi é bem conhecida, um exemplo de que saber-se a vontade de Deus para sua vida, mesmo ter recebido desse uma palavra profética clara de que se tem algo a fazer, pode não ser o suficiente para que se desempenhe uma missão apressadamente. 
      A lição do início da história de Davi é sobre paciência, do homem e de Deus. Deus é paciente com todos, foi com Davi, mas também foi com Saul, esse não foi retirado do trono logo após ter pecado e perdido o direito a ele, ele teve um tempo, para quê? Para se arrepender? Isso seria possível? Deus sempre espera o arrependimento do homem, sempre, isso é o amor mostrando sua principal característica. Deus é paciente e não guarda mágoas, ainda que nos sujemos e nos sujemos ele sempre nos recebe e torna a nos limpar.  
      Mas para Davi, esperar tinha um objetivo, mesmo sabendo que aquele que ocupava um lugar que Deus já havia lhe dado estava em pecado e numa frágil posição, onde ele poderia resolver o problema imediatamente e do seu jeito. A bênção pode estar lá no fundo, exigindo que nós cavemos com esforço e por um bom tempo para alcançá-la, por quê? Porque o objetivo principal de Deus não está no final, mas no processo, no final recebemos algo e pronto, mas no processo nosso caráter é moldado com trabalho. 
      É o que aprendemos no processo que irá conosco para a eternidade e fará diferença, não a bênção que recebemos no final de um processo no mundo. No final pode haver, por mais maravilhoso que seja entre os homens, só algo material e passageiro, no caso de Davi um reinado, mas no processo há virtudes morais que fazem o nosso espírito mais iluminado, e isso é para sempre. Quando você acha que Davi mais cresceu como ser humano, quando assentou-se no trono pela primeira vez ou quando se negou a matar Saul? 
      A bênção maior neste mundo não está no usufruto da vida, mas na negação da morte, e a morte nos confronta o tempo todo, seja em nossa vida ou nas vidas dos outros. Negar a morte é negar o que conduz à segunda morte, a morte do espírito e das virtudes morais. Isso não é fácil, principalmente na situação de Davi, que tinha motivos legítimos para matar alguém. Dois pontos sobre a passagem bíblica (no fim da reflexão) a serem ressaltados, o primeiro é sobre o termo ungido do Senhor e o segundo sobre o temor ao Senhor e a confiança em Deus de Davi.   
      O que muitos não se dão conta, quando usam a passagem para dizerem que é errado revelarmos líderes em pecado, é que o líder ao qual a Bíblia se refere como ungido do Senhor é alguém em pecado e com dias contados para ser julgado publicamente. A lição é que de fato não temos que pesar a mão sobre alguém que recebeu de Deus uma posição na igreja e está em pecado, Deus faz isso, do jeito e no tempo certo. O termo não é orientação para que pastor nunca seja repreendido, mas só para que esperemos a repreensão de Deus.
      Mas isso não significa que nós não possamos ser usados por Deus para repreender alguém em posição de liderança, podemos, sim, mas se for o caso deverá ser feito com temor a Deus, amor e do jeito correto, como orientado em Mateus 18.15-17. O mais sábio é levarmos a questão à liderança e não sairmos falando do assunto por aí, um líder precisa ser protegido, e não por ele mesmo, ele tem responsabilidades que serão cobradas, mas pelos outros, principalmente pelos novos na fé que são alimentados por ele e veem nele um exemplo. 
      Interessante como homens sem amor e sem sabedoria gostam de colocar palavras na boca de ninguém menos que o próprio Deus, “então os homens de Davi lhe disseram, eis aqui o dia, do qual o Senhor te diz, eis que te dou o teu inimigo nas tuas mãos, e far-lhe-ás como te parecer bem aos teus olhos”. Esses são os que militam errado e pior, que tentam achar legitimidade para suas causas em Deus. Que pecado terrível é esse, se não estivermos vigilantes poderemos ser levados por esses a grandes e estúpidos erros. 
      O segundo ponto que ressaltamos da passagem bíblica são as virtudes de Davi, a primeira é seu temor a Deus, ele chora por ter humilhado Saul diante de seus homens quando cortou a orla de seu vestido, num impulso ele até fez o que estava fácil para fazer, mas depois se arrependeu. Será que eu e você choramos por vermos humilhado alguém que nos odeia e que ocupa um lugar que deveria ser nosso? É por isso que Davi foi o maior líder de Israel, que colocou o povo de Deus como uma nação forte no mundo, e que é a raiz do próprio Cristo. 
      Confiança em Deus é a segunda virtude de Davi, fica clara quando ele diz, “julgue o Senhor entre mim e ti e vingue-me o Senhor de ti”. Temos tal confiança para deixarmos que Deus seja nosso árbitro, escolha entre nós e um rei em uma nação como Saul? Davi conhecia o Deus em quem cria, conhecia a legitimidade de sua chamada, mas temia a Deus o suficiente para esperar, quando desempenharia um papel único na história. Davi teve paciência e fez a mais excelente das militâncias, cumprir uma missão de Deus. 

      “Então tomou Saul três mil homens, escolhidos dentre todo o Israel, e foi em busca de Davi e dos seus homens, até sobre os cumes das penhas das cabras montesas. E chegou a uns currais de ovelhas no caminho, onde estava uma caverna; e entrou nela Saul, a cobrir seus pés; e Davi e os seus homens estavam nos fundos da caverna. Então os homens de Davi lhe disseram: Eis aqui o dia, do qual o Senhor te diz: Eis que te dou o teu inimigo nas tuas mãos, e far-lhe-ás como te parecer bem aos teus olhos. E levantou-se Davi, e mansamente cortou a orla do manto de Saul. Sucedeu, porém, que depois o coração doeu a Davi, por ter cortado a orla do manto de Saul. E disse aos seus homens: O Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, ao ungido do Senhor, estendendo eu a minha mão contra ele; pois é o ungido do Senhor.
      “Depois também Davi se levantou, e saiu da caverna, e gritou por detrás de Saul, dizendo: Rei, meu senhor! E, olhando Saul para trás, Davi se inclinou com o rosto em terra, e se prostrou. E disse Davi a Saul: Por que dás tu ouvidos às palavras dos homens que dizem: Eis que Davi procura o teu mal? Eis que este dia os teus olhos viram, que o Senhor hoje te pós em minhas mãos nesta caverna, e alguns disseram que te matasse; porém a minha mão te poupou; porque disse: Não estenderei a minha mão contra o meu senhor, pois é o ungido do Senhor. Olha, pois, meu pai, vê aqui a orla do teu manto na minha mão; porque cortando-te eu a orla do manto, não te matei. Sabe, pois, e vê que não há na minha mão nem mal nem rebeldia alguma, e não pequei contra ti; porém tu andas à caça da minha vida, para ma tirares. Julgue o Senhor entre mim e ti, e vingue-me o Senhor de ti; porém a minha mão não será contra ti.
      “E sucedeu que, acabando Davi de falar a Saul todas estas palavras, disse Saul: É esta a tua voz, meu filho Davi? Então Saul levantou a sua voz e chorou. E disse a Davi: Mais justo és do que eu; pois tu me recompensaste com bem, e eu te recompensei com mal. E tu mostraste hoje que procedeste bem para comigo, pois o Senhor me tinha posto em tuas mãos, e tu não me mataste. Porque, quem há que, encontrando o seu inimigo, o deixaria ir por bom caminho? O Senhor, pois, te pague com bem, por isso que hoje me fizeste.

I Samuel 24.2-6, 8-12, 16-19
 
Está é a 25ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

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