sexta-feira, outubro 22, 2021

José: sonhos, tempo e destino (22/31)

      “Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido.Jó 42.2

      Algumas pessoas fazem de tudo para aparecerem como militantes, principalmente nos dias de hoje, quando causas estão em moda, celebradas pela mídia, contudo, talvez a militância mais verdadeira seja aquela que se faz, não porque se quer, porque se escolhe, mesmo por se gostar ou por se estar preparado para fazê-la. A melhor e mais eficiente luta por uma causa é aquela que nos é imposta pelo destino, mas mais ainda que isso, vocacionada por Deus, é algo que nasce conosco, ainda que não saibamos a princípio e que tudo o mais tente conspirar contra por muito tempo. A Bíblia relata várias histórias com características de sofisticadas obras de ficção, verdadeiros romances literários, mas não é assim toda mitologia? Trabalhada por anos nas cabeças das pessoas que ouvem e recontam até que se transformem em contos épicos? Mas a Bíblia é bem mais que mitologia. 
      Moisés, Davi e Daniel têm histórias assim, mas a de José, em minha opinião, é a mais esplêndida, além de ter suma importância na transformação de um simples clã familiar num povo, pronto para ser uma nação. Há algo interessante na história de José, não é que o pressentimento, ainda que maldoso de seus irmãos lá no início, de que esse queria escravizá-los, acabou se realizando? Depois de José ter sido invejado pelos irmãos, vendido por esses aos ismaelitas, levado ao Egito, comprado e já honrado por um homem rico, mas cobiçado pela mulher desse homem que o caluniou, então preso por isso, decifrado o sonho do faraó egípcio, ganhado desse um cargo de muita importância, e por ter essa posição podido trazer sua família ao Egito num momento de fome na região, e finalmente morrido, depois de tudo isso os descendentes dos irmãos de José se tornaram escravos. 
      A primeira lição da história de José é sobre o tempo, cuidado com ele, ele pode surpreender. O que parece uma coisa no início lá na frente pode se mostrar outra totalmente diferente, ou não, a mesma coisa, só que com proporções maravilhosamente maiores. A segunda lição é sobre o destino, que a princípio pode parecer de tragédia, José parecia alguém que não era nem para ter nascido. Foi o último filho de Jacó já na sua velhice, depois parecia ser uma criança que não era para continuar viva, odiado e invejado por nada menos que pelos próprios irmãos. Depois, ainda que recebendo alguma honra e em terra estrangeira, longe da família, foi novamente cobiçado e injustiçado, sua sina parecia ser morte e prisão no esquecimento. Ah, meus caros, o homem pode ser injusto e se esquecer, mas Deus não se esquece de alguém, muito menos de honra-lo. Deus pode virar a história de cabeça para baixo. 
      Parece até que alguém sabia do final de José e queria de todo jeito impedi-lo. Seria o “diabo” ou só provações para evoluí-lo? Mas há uma terceira lição dessa história, é a importância de se sonhar em Deus, de se ter uma vida espiritual além da realidade física (refletimos sobre isso em “O que há em nossas cabeças?”). José foi, desde o início, um sonhador, não alguém embriagado por ilusões, mas com uma comunhão íntima e especial com Deus, que permitiu a ele ver além do tempo e além de um falso e trágico destino. Deus sempre nos equilibra, se experimentamos algo muito duro, muito cruel, muito injusto, ele nos dá algo especial que nos consola, que nos protege e nos dá condições de seguirmos vivos e com determinação rumo ao melhor de seu plano. José acabou protegendo toda a sua família, fez isso só sendo ele mesmo e pagando os preços por isso. Deus sonha o homem e o realiza. 
      Quem pode impedir as intenções divinas? Ninguém, e acima da inveja dos irmãos e de uma trajetória em que José parecia não escolher, não ser seu próprio protagonista, mas só ir colhendo as escolhas, ruins e boas, que outros faziam por ele, Deus cumpre um plano muito mais alto, transformar uma família numa nação. Israel foi moldada no trabalho duro, servindo os outros, pagando preços altos, Deus em sua onisciente sabedoria sabia que esse era o único jeito, e acreditem, quando Deus faz de um jeito, ainda que pareça difícil, é porque é o único jeito para que no final nós colhamos o melhor. Tempo, destino, sonhos? Deus é mais, nele nossas existências lutarão por militâncias que valham a pena, que terão um objetivo que podemos nem imaginar qual será, mas que será especial, e que ninguém mais poderá executar, só nós, os Josés amados de Deus. Testemunho que tem sido assim comigo. 

      “E Israel amava a José mais do que a todos os seus filhos, porque era filho da sua velhice; e fez-lhe uma túnica de várias cores. Vendo, pois, seus irmãos que seu pai o amava mais do que a todos eles, odiaram-no, e não podiam falar com ele pacificamente. Teve José um sonho, que contou a seus irmãos; por isso o odiaram ainda mais. E disse-lhes: Ouvi, peço-vos, este sonho, que tenho sonhado: Eis que estávamos atando molhos no meio do campo, e eis que o meu molho se levantava, e também ficava em pé, e eis que os vossos molhos o rodeavam, e se inclinavam ao meu molho. Então lhe disseram seus irmãos: Tu, pois, deveras reinarás sobre nós? Tu deveras terás domínio sobre nós? Por isso ainda mais o odiavam por seus sonhos e por suas palavras.” 
Gênesis 37.3-8

      “Depois disse Faraó a José: Pois que Deus te fez saber tudo isto, ninguém há tão entendido e sábio como tu. Tu estarás sobre a minha casa, e por tua boca se governará todo o meu povo, somente no trono eu serei maior que tu. Disse mais Faraó a José: Vês aqui te tenho posto sobre toda a terra do Egito. E tirou Faraó o anel da sua mão, e o pós na mão de José, e o fez vestir de roupas de linho fino, e pós um colar de ouro no seu pescoço. E o fez subir no segundo carro que tinha, e clamavam diante dele: Ajoelhai. Assim o pós sobre toda a terra do Egito. E disse Faraó a José: Eu sou Faraó; porém sem ti ninguém levantará a sua mão ou o seu pé em toda a terra do Egito.” 
Gênesis 41.39-44

      “Faleceu José, e todos os seus irmãos, e toda aquela geração. E os filhos de Israel frutificaram, aumentaram muito, e multiplicaram-se, e foram fortalecidos grandemente; de maneira que a terra se encheu deles. E levantou-se um novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José; o qual disse ao seu povo: Eis que o povo dos filhos de Israel é muito, e mais poderoso do que nós. Eia, usemos de sabedoria para com eles, para que não se multipliquem, e aconteça que, vindo guerra, eles também se ajuntem com os nossos inimigos, e pelejem contra nós, e subam da terra. E puseram sobre eles maiorais de tributos, para os afligirem com suas cargas. Porque edificaram a Faraó cidades-armazéns, Pitom e Ramessés.
Êxodo 1.6-11

Está é a 22ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

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