17/01/22

Não há virtude na ansiedade

      “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus.Filipenses 4.6-7

      O ansioso deseja uma coisa que ainda não aconteceu, mas acreditando que algo ruim pode ocorrer. Já o esperançoso também aguarda algo, mas na certeza que as coisas de algum jeito vão dar certo. Ansiedade só se transforma em esperança quando temos uma experiência viva com Deus em oração, onde conseguimos entregar algo, abrindo mão de querer ter controle sobre as coisas, confiando que Deus tem a posse do que entregamos e fará o melhor.
      Essa transformação requer consciência racional, mas também experiência emocional, e ambas só são possíveis com profunda comunhão espiritual em Deus. Disso assenta-se em nós a paz maior, que nos protege das acusações dos maliciosos e do ceticismo dos que não temem ao Senhor. Você sempre tem direito à paz, não se esqueça disso, assim não permita que situações ou pessoas construam contingências desnecessárias em você. 
      Ansiedade não alia trabalho a alguém, não há vantagens em andar ansioso, nos mostrarmos ansiosos não exibe para os outros que somos pessoas responsáveis, esforçadas, ocupadas, ansiedade não é virtude, não se ganha horas extras sendo ansioso. Ansiedade é oração que não foi feita, é doença construída em nossos corpos e mentes, é vaidade e incredulidade, é ver o problema maior que Deus, portanto, confiar em ídolo vazio, não no Senhor. 
      Muitos de nós, talvez a maioria, são ansiosos crônicos, disso nascem vícios buscados para que prazeres fáceis anulem a dor da ansiedade. Se todos devem ter vidas diárias de oração, muito mais os ansiosos, que podem transformar pequenos problemas em torturantes sofrimentos. O ansioso aguça sua criatividade de forma negativa, vive mais no plano imaginário e mental que no físico e real, a esse só experiência espiritual com Deus traz cura e paz. 

16/01/22

Abrir mão da coisa certa

      “Pois os braços dos ímpios se quebrarão, mas o Senhor sustém os justos. O Senhor conhece os dias dos retos, e a sua herança permanecerá para sempre. Não serão envergonhados nos dias maus, e nos dias de fome se fartarão.Salmos 37.17-19

      Em algumas situações, por mais que queiram e mesmo que se esforcem, muitos não conseguem mudar suas vidas, aceitar isso com humildade, seguindo com honestidade, principalmente quando o que tem que ser aceito é na área financeira, pode levar as pessoas a crescerem espiritualmente. Ainda que possa ser, não resiliência legítima, mas só aceitação passiva de uma situação onde se acomoda a ela, podemos crescer quando aprendemos a viver com a falta de algumas coisas. Mas e aquilo que temos e merecemos ter, conseguimos administrar bem, possuindo ou abrindo mão de possuir? 
      Com o que recebemos sem merecermos podemos nem nos sentir na responsabilidade de administrar, e isso em nada pode contribuir para nosso crescimento, ganhar uma fortuna em loteria pode até nos prejudicar e nos fazer piores que éramos antes de ganhar, o que fácil vem, fácil vai. Mas ter algo sabendo que se merece de alguma maneira, seja por se ter trabalhado para ter, ou por se ter recebido como herança e na herança há o mérito de se ser ligado legitimamente a alguém que tem algo, ter que abrir mão disso depois pode amadurecer muito mais que só aceitar uma situação de falta. 
      Citei a condição de herança porque um não tem culpa de nascer rico, como não tem culpa outro de nascer pobre, e tentem explicar a justiça de Deus diante disso, cristãos, baseados em sua doutrina tradicional. Tenho certa dificuldade de explicar isso assim, mas esse não é o ponto desta reflexão, o ponto é que indiferente do que recebemos podemos crescer espiritualmente neste mundo. O que não podemos é nos achar melhores, desconsiderando quem não tem, ou piores, odiando quem tem, a todos cabe humildade e ajudar quem não tem, e sempre há alguém que tem menos que nós. 
      A verdade é que quantidade não importa, todos podemos abrir mão de algo para que aprendamos a viver com menos, a não vangloriar-nos pelo que temos, para que cedamos um direito nosso por amor a alguém que precisa mais que nós. Quem dá nove partes de dez dá tanto quanto quem dá noventa partes de cem, mas quem dá uma parte de uma dá muito mais. Não somos avaliados espiritualmente baseados em aparência no mundo, em riquezas materiais, naquilo que a maioria dos homens considera muito ou valoroso, mas nas virtudes morais que nos permitem ser humildes e amorosos. 
      Muitos abrem mão de tempo de amar para trabalharem mais e serem prósperos materialmente, quando cresceriam mais espiritualmente se contentassem-se com menos, podendo trabalhar menos e amar mais. Outros são ociosos, têm tempo de sobra para amar e não amam, porque no excesso material sempre há dolo e negligência, mas deixando de trabalhar não beneficiam materialmente os que dizem amar. É tudo muito relativo, só Deus sabe o que alguém tem que abrir mão para crescer, se do excesso ou da falta, se de fazer ou de não fazer, se de reter ou de conceder, se de falar ou de calar.
      Não julguemos ninguém, mas não façamos as coisas para sermos vistos por homens, o excesso material sempre tem razão de existir na vaidade e no egoísmo, nos preocupemos com o que Deus pensa de nós, com o que ele quer de nós. Cada um de nós veio a este mundo com uma prova principal, ainda que muitas coisas aconteçam a nós, muitas perdas e muitos ganhos, existe uma coisa que nos é pedida que definirá toda nossa eternidade. Descobrir que coisa é essa, aceitá-la com humildade e vivê-la com temor a Deus, é o que nos dá o crescimento espiritual que nos acompanhará no outro mundo. 
      Tantos fazendo e acontecendo na vida, outros sofrendo e reclamando de homens, mas sempre fugindo dessa prova principal, assim têm existências inúteis, ainda que com tipos distintos de excessos. “Pois os braços dos ímpios se quebrarão, mas o Senhor sustém os justos… não serão envergonhados nos dias maus”, o que adianta se esforçar sem confiar em Deus? Dias maus chegam a todos, nesses dias uns não terão mais forças, porque se esforçaram no momento errado, outros acharão forças e paz quando muitos não acharem, porque confiam em Deus em todos os momentos e a ele são gratos.

15/01/22

Hobby, estilo de vida ou trabalho?

      “Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério.II Timóteo 4.5

      Como você desempenha suas atividades religiosas, a oração, o estudo bíblico, os cultos: como hobby, como estilo de vida ou como trabalho? Alguns exercem religiosidade como hobby, gostam de ir a cultos e outras reuniões, sentem-se bem nessas atividades, têm respondidas questões importantes nelas. Esses apreciam o convívio social que essas atividades proporcionam, a sensação de pertencimento a algo maior, serem aprovados por um grupo, terem cúmplices, querem Deus, mas amam as pessoas que falam o que eles querem ouvir sobre Deus. Esses separam as coisas, têm outras vidas em outros lugares, usam uma sala de seus corações para religião, mas não ocupam a casa inteira com ela, por pouca coisa se mudam de igreja.
      Muitos têm nas atividades religiosas um estilo de vida, são os mais assíduos em cultos e conhecem profundamente suas doutrinas. Geralmente foram criados em igrejas, têm uma tradição familiar em suas crenças, se não se agruparem nos templos suas vidas não terão sentido, se pudessem viveriam dentro de igrejas, suas religiões são o único jeito que aceitam para viver e as aceitam sem críticas. Não dependem de opinião alheia para serem o que são e crerem no que creem, todavia, como amam extremamente algo, podem não gostar com mesma intensidade de outras coisas, mesmo que não externem isso e sejam educados com todos. Ligados à religião de homens, creem nela como a verdadeira e para mudar o mundo. 
      Outros exercem religião como trabalhadores profissionais, não precisam sentir para fazer, fazem porque é preciso, liderança de igreja é a que mais vê vida religiosa assim. Mas eles não são só líderes remunerados, há outros profissionais nas igrejas, que se sentem bem servindo, mesmo que não ganhem nada por isso, abrem e fecham templos, participam de vigílias em horários e lugares mais difíceis. Os hobistas saem e voltam, os “estilo de vida” são, digamos assim, meio alienados, mas os profissionais são a base de trabalho dos ministérios e a ligação desses com o mundo. A diferença entre eles e os outros é que são pragmáticos, têm noção que suas religiões não são perfeitas, e são mais politicamente corretos com outras religiões. 
      Você se identificou com alguma das análises? Sabe qual é o tipo mais correto? Na verdade os três, um pouco de cada um. Muitos precisam ver religião como algo socialmente sadio, não como um deus, mas como um meio para conhecer a Deus, e sempre achando algo bom, que faça bem, e se não fizer, que se mude, não de Deus, mas de templo, de igreja, mesmo de religião. Muitos precisam descobrir a felicidade que é ter na vida com Deus um estilo de vida, ao invés de ter isso na vida de bares, da noite, da bebida e das relações afetivas rápidas, mas novamente, não estilo de vida religiosa, mas de amizade com Deus, de forma natural. Outros, contudo, precisam entender a utilidade de trabalhar, não para uma religião, mas em Deus. 
      O que me levou a esta reflexão foi a experiência de vida com Deus como trabalho, e entenda certo, não com frieza, não no mau sentido de trabalho religioso profissional, que leva muitos a usar ministério como empresa com fins lucrativos materiais. Também não me refiro ao trabalho pela sobrevivência no mundo, que pode não precisar de qualidade moral, só de força física e preparo intelectual. Há um meio termo, e muitos são sustentados por Deus e de maneiras diversas para alimentarem os espíritos humanos com o pão da vida. Esses não ganham de igreja salário para desempenharem atividades em tempo integral, nem são reconhecidos como obreiros por homens, mas trabalham em segredo, servindo diretamente ao Senhor. 
      Deus chama muitos para esse trabalho direto, mesmo entre os que têm profissões seculares, entregando horas diárias para empresas para ganharem o suficiente para terem vidas dignas no mundo. O trabalho espiritual legítimo não depende de quantidade, mas de qualidade e fidelidade, quem é chamado para fazê-lo deverá estar disponível, não necessariamente para uma igreja ou para líderes cristãos, mas para o Espírito Santo de Deus. Os que têm essa chamada sentem uma inclinação forte, clara e em amor para ajudar os outros, mesmo que seja só intercedendo em oração. Apesar disso ter que ser encarado como trabalho, não é algo frio, mas vivido no calor do fogo do Espírito Santo e feito com humildade, de um jeito ou de outro. 
      Tenha religião como um hobby, tenha a amizade com Deus como estilo de vida, mas tenha o amor com que deve tratar os outros, ajudando-os, orando por eles, abençoando-os, como um trabalho, que deve ser feito todos os dias, pela fé, independente de como você se sente. Isso não é fazer a obra de Deus de qualquer jeito, mas é se esforçar para estar de pé, crente, mesmo com as lutas do mundo, com as injustiças dos homens, com as inconstâncias de nossas almas, mesmo com pecados do dia a dia (assumidos e perdoados), para ser instrumento do Espírito Santo para ser luz do Altíssimo no universo. Hobby pode ser vivido às vezes, estilo de vida é algo natural, mas trabalho é duro, e se não fizermos, ninguém fará por nós. 
      Que ninguém se escandalize ao ler que religião deve ser hobby, nisso, como sempre fazemos aqui no “Como o ar que respiro”, separamos religião de Deus. O ideal seria que nossas religiões e nossas igrejas representassem perfeitamente a vontade de Deus para os homens, no mundo e na eternidade, mas a história do cristianismo já provou que isso não acontece. Não é por isso que não devemos participar de igrejas, nem é por isso que não podemos descobrir o maravilhoso estilo de vida de Jesus, mas de um jeito ou outro todos somos chamados para trabalhar em Deus pelo próximo. Esse trabalho, mais que qualquer outra atividade, remunerada ou não, é o que leva os homens a crescerem e serem felizes, sentindo-se úteis no universo.

14/01/22

Poucas palavras

      “Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor. Nisto se manifesta o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos.” I João 4.8-9

      Tudo que tem que ser explicado demais é porque não é para ser explicado, a verdade maior é sempre fácil de ser dita, ainda que se refira a conhecimentos profundos. Explicações verbais são manifestações da matéria, o plano espiritual não precisa delas, o Espírito Santo não se comunica com quantidade de detalhes repetitivos, mas com uma única emanação de luz do Altíssimo. Somos nós, humanos encarnados, que sentindo essa manifestação espiritual tentamos expressá-la com nossa pobre e vaidosa semântica. Deus é amor! A explicação completa do que Deus é está nessas três palavras, e a manifestação física desse amor está no Cristo homem, João diz isso de maneira econômica e espiritual. 
      Você já deve ter tido a experiência de se relacionar com algumas pessoas, de se esforçar para ser amigo delas, mas de repente, por uma bobagem, ver a relação se acabar. Alguma coisa é dita e não é entendida, ou melhor é mal entendida, e depois, por mais que você tente explicar não tem jeito, as pessoas insistem em que entenderam outra coisa, que elas estão certas e que o errado é você. Aos meus sessenta e dois anos, eu tenho um certo pressentimento sobre algumas pessoas, é como se algo me dissesse, “cuidado, não insista, por mais que você tente isso um dia vai dar ruim, e o problema não é você, nem sofra com isso”. Não que sejamos perfeitos, mas com alguns nem perfeição basta.
      A verdade é que ninguém sabe o que vai nas cabeças das pessoas, as expectativas que elas têm sobre nós e as ideias que elas fazem sobre elas mesmas, só Deus. Muitos de nós nos levamos a sério demais, nos damos valores que não temos e que nem precisamos ter, e eu me incluo nesses. Assim, muitas vezes nos pegamos tentando convencer a nós mesmos, e por isso dizendo aos outros tantas palavras, tantas justificativas, tantos motivos para sermos isso e não sermos aquilo. Temos que ser seres humanos do bem e o bem é simples, não precisa de muitas explicações, só de amor. Deus teria todas as explicações do mundo para nos dar, mas ele amou, entregou seu filho para morrer, simples assim. 
      Quando temos uma experiência verdadeira com o Espírito Santo encontramos a paz, e muitas vezes numa situação que a princípio achávamos impossível ser resolvida, isso acontece porque recebemos de Deus uma palavra. Seja lendo a Bíblia, seja ouvindo uma pregação, seja em oração, a palavra de Deus é sempre simples, uma pequena frase, mas que nos faz ver a luz no fim do túnel. Se é numa pregação, às vezes de mais de uma hora de duração, uma frase que o pregador disser ficará em nossas mentes, porque essa era a palavra que Deus tinha para nós no meio do extenso discurso do homem, e pessoas diferentes poderão ser abençoadas por palavras diferentes de uma mesma pregação. 
      Deus não joga conversa fora, quando ele fala algo acontece, cumpre um propósito, e faz isso com poucas palavras, mas nem tudo que o homem diz, ainda que usando a Bíblia e citando Deus, é palavra do Espírito Santo. “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hebreus 4.12), lindo esse versículo, comparando a palavra de Deus a uma espada afiada e precisa, que discerne intenções, verdade de mentira. Contudo, muitos cristãos não vivenciam o privilégio de poderem receber essa palavra quando precisam.
      Que nível de maturidade atingimos em nossa relação com Deus? Que grau de intimidade temos com o Senhor em nossas orações? Aprendemos a ouvir a voz do Espírito Santo? O Senhor pode nos falar pelas pregações de homens de Deus e pelo maravilhoso cânone bíblico, mas o consolador enviado por Jesus é a palavra viva de Deus conosco o tempo todo. Viver em oração, como nos orienta Paulo em Efésios 6.18, não é só louvar e pedir, é ouvir, e para isso é preciso calar todos os discursos que muitas vezes amamos dizer a nós mesmos. A semântica de Deus não é explicação ou som, é ação, é poder, é vida, e é simples e direta, como um raio puro de Sol que cai sobre nós após uma fria tempestade. 

13/01/22

A bênção vem do desconhecido

      “Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações diante de sua face, e descingir os lombos dos reis, para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão. Eu irei adiante de ti, e endireitarei os caminhos tortuosos; quebrarei as portas de bronze, e despedaçarei os ferrolhos de ferro. Dar-te-ei os tesouros escondidos, e as riquezas encobertas, para que saibas que eu sou o Senhor, o Deus de Israel, que te chama pelo teu nome.
      Por amor de meu servo Jacó, e de Israel, meu eleito, eu te chamei pelo teu nome, pus o teu sobrenome, ainda que não me conhecesses. Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que tu não me conheças; Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.
  Isaías 45.1-7

      Muitas vezes duvidamos porque não fazemos ideia de quem Deus pode usar para nos dar uma bênção. Num momento em que Israel estava aprisionado pelo povo babilônico, Deus levanta um povo estranho e mais poderoso para libertar Israel. A chamada de Ciro é peculiar, o Senhor lhe diz, “te cingirei, ainda que tu não me conheças”, “dar-te-ei os tesouros escondidos… para que saibas que eu sou o Senhor… que te chama pelo teu nome”. 
      Maravilhoso como Deus capacita o que chama para um trabalho, e não se engane, Deus chama quem e quando ele quer. “Tomo pela mão direita para abater as nações diante de sua face… irei adiante de ti e endireitarei os caminhos tortuosos”, Deus chama e prepara o caminho do chamado antes desse começar a caminhar, Deus, Senhor do tempo e dos destinos.
      O trabalho pode ser duro, mas mandado por Deus tem objetivo poderoso, semelhante à chamada de Ciro, Deus sempre nos chama para libertar os homens, de um jeito ou de outro. Às vezes, também como Ciro, homens com os quais nem temos uma ligação direta, às vezes verdadeiros desconhecidos para nós. Mas também como com Ciro, Deus nos prepara antes assim como aqueles que temos que ajudar, de maneira que destinos diferentes se cruzem e o nome do Senhor seja exaltado. 
      Quem precisa da libertação, como no caso de Israel, pode não ter ideia de que Deus pode levantar um desconhecido, mais forte que aquele que o oprime, para que seja libertado, mas Ciro era o homem certo para vencer Babilônia. Deus sempre tem o homem certo para anular as forças das Babilônias que nos oprimem, confie nisso, se não vemos isso é porque não sabemos tudo. 
      O final do texto bíblico inicial é fantástico, “eu sou o Senhor e não há outro, eu formo a luz e crio as trevas, eu faço a paz e crio o mal, eu, o Senhor, faço todas estas coisas”, mistérios poderosos são revelados, ainda que sob a ótica temporal de Isaías, um profeta dos tempos antigos. O diabo não cria o mal, os homens não produzem as guerras, mas mesmo o mal e as guerras podem ser instrumentos de Deus para abençoar os quem temem seu nome. 
      Nada acontece sem a permissão do Senhor e tudo está previsto em seus planos, assim como será útil, na maravilhosa máquina cósmica do universo, para que a vontade de Deus seja feita, abençoando quem precisa, disciplinando quem necessita e punindo quem merece, num equilíbrio perfeito. Não duvide, Deus está preparando um Ciro específico para você, ainda que você não o conheça. 

12/01/22

“Escudo do bem” (2/2)

      “Vós, portanto, amados, sabendo isto de antemão, guardai-vos de que, pelo engano dos homens abomináveis, sejais juntamente arrebatados, e descaiais da vossa firmeza; antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como no dia da eternidade. Amém.” II Pedro 3.17-18

      O poder é perigoso e quando se diz representante do bem é duplamente perigoso. Sem Deus o ser humano é inviável para administrar poder, assim muito menos será possível a ele exercer poder para o bem de todos. Se isso não é possível, muito menos é ser representante do Deus de poder e do bem no mundo. O homem já foi mais honesto, ainda que mais bruto era menos hipócrita, e vivemos um momento especial de hipocrisia no mundo, do politicamente correto utópico e chato. Não se pode mudar o mundo sem mudar o espírito humano, e esse só Deus, o verdadeiro escudo do bem, muda.
     Pode-se argumentar, o que há de errado em usar o “escudo do bem”, esse não é defensor de causas legítimas? Sim, as causas são legítimas, mas a intenção que leva muitos a usá-las não é boa. Primeiro porque muitas empresas adotaram essas causas só para serem aceitas por aqueles que se consideram os novos sacerdotes de uma nova religião, ciência e meio acadêmico. Ciência tem muita relevância, é bênção de Deus, mas não para substituir Deus e os valores espirituais, esses são referências que não fazem parte da competência científica, que pode tratar da matéria, não do espírito. 
      O meio acadêmico, que antigamente era dominado pelo cristianismo católico e já há algum tempo é dominado pela “esquerda”, tem formado os jovens para acreditarem que podem mudar o mundo (sem Deus). Assim os que se iniciam nas empresas já vêm com a “cabeça feita” assim, só o tempo para lhes ensinar que o mundo não funciona dessa maneira, mas até isso acontecer teremos um momento no mundo onde a nova religião ganha adeptos. Os publicitários só fazem se aproveitar desse momento, para vender a equivocados é preciso dar importância a equívocos, depois aliar produtos a esses.
      A internet e as redes sociais têm papel importantíssimo no estabelecimento do poder e na divulgação do “escudo do bem”, redes sociais são supranacionais, não pertencem a nenhuma nação, ainda que seus donos pertençam, coletam dados e distribuem informações para todo o globo. Mas a internet não é isenta, direciona as pessoas para aquilo que convém aos donos das páginas e sites, nos convence sobre necessidades que pouco antes nem sabíamos que existiam. Mas ela é meio para todos, ciência, ensino, empresas, publicidade, seja de esquerda, seja de direita, seja do centro. 
      Em segundo lugar, causas são boas e intenções não são, porque a relevância de muitas causas acha lugar nas pessoas de fora para dentro, de homens para o homem, e não de dentro para fora, do espírito humano para o Espírito de Deus. Muitos não sabem e muitos que sabem não assumem, mas o “escudo do bem” tem sido uma obrigação para empresas existirem e lucrarem, assim como para pessoas terem empregos e mantê-los, ainda que muitas não concordem com os “escudos”. A curto prazo isso é positivo? Sim, e necessário. A médio prazo isso terá eficiência? Sim, para surpreza de muitos. 
      Mas a longo prazo, como sempre no mundo, novos modismos surgirão e mesmo liberdade e respeito, se não forem virtudes espirituais no interior do homem, cederão lugares a outras coisas. O “diabo” cansou de ser mal, os seres humanos não acreditam mais, não a maioria, no pan (se puder leia matéria no link) católico medieval, um ser vermelho, de chifres, rabo e cascos. Por outro lado muitos homens não querem o verdadeiro Deus, mas colocam em seu lugar algo mais light, que lhes dê liberdade, respeito, serenidade, que os ajude a ter uma vida mais duradoura e de qualidade e a conservar o planeta.
      Não sejamos enganados pelos “escudos do bem” que publicitários e empresários têm usado para vender seus produtos. Por mais benignas que sejam as intenções, não se sustentarão sem o verdadeiro Deus. O “diabo”, como construção humana, e não o ser espiritual genuíno, tem sido modificado pelos séculos, assim fica um alerta. Que cristãos, arrogantemente achando-se com mais discernimento espiritual que os outros, não façam guerra contra um “diabo” que não existe mais, se é que algum dia existiu, enquanto são manipulados por um “diabo” mais inteligente, da internet e dentro de suas igrejas.

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão.

11/01/22

“Escudo do bem” (1/2)

      “Senhor julgará os povos; julga-me, Senhor, conforme a minha justiça, e conforme a integridade que há em mim. Tenha já fim a malícia dos ímpios; mas estabeleça-se o justo; pois tu, ó justo Deus, provas os corações e os rins. O meu escudo é de Deus, que salva os retos de coração.Salmos 7.8-10

      O poder é perigoso e quando se diz representante do bem é duplamente perigoso. O homem ter poder no mundo é ter controle sobre outros homens, levá-los a fazer algo, antigamente isso era feito de forma beligerante, com guerras que conquistavam e faziam os perdedores escravos. Atualmente o ser humano, fantasiado de civilizado, usa meios menos violentos, mas que no final têm o mesmo objetivo, permitir que alguns tirem proveito de muitos. O capitalismo é a guerra hoje usada para conquistar, para que ele estabeleça poder precisa convencer as pessoas a comprarem coisas e ideias.
      Poder hoje está relacionado à manipulação das massas para consumirem, a humanidade, contudo, está numa fase dois do capitalismo. Aos produtos não bastam mais resolverem problemas imediatos, saciar fome e sede, vestir pessoas, ajudar em serviços domésticos e profissionais, levar pessoas a lugares, eles precisam ser sustentáveis, não prejudicar meio ambiente e saúde das pessoas assim como não restringir direitos. Tudo deve estar disponível para todos, sem preconceitos, por isso tem sido aliado à programação de TV, assim como à venda de serviços e produtos, causas sociais e humanitárias. 
      Usar causas do bem como argumento de convencimento de venda é o que chamaremos aqui de “escudo do bem”, entenda que há certa ironia nisso. A informação é uma arma importante do poder do capitalismo no mundo atual, usada para veicular esse escudo. A ciência legitimiza a informação, o meio educacional a ensina, as empresas a usam e a publicidade convence a sociedade que ela é boa, o poder é estabelecido por esses quatro braços. Os políticos servem a esse poder, a internet, a alma virtual do mundo real, transmite essa informação. Não há bem para todos nesse poder, só lucros para alguns, não há verdade, só conveniências. 
      Tanto os de esquerda quanto os de direita usam “escudos do bem”. Os que se dizem de esquerda, que têm maior apoio de professores, jornalistas e publicitários, constróem o tal “escudo do bem” dizendo-se representantes da ecologia, das diversidades e das minorias. Os que se dizem de direita têm tal escudo construído com os valores da tradição judaica-cristã, mas tudo é só o mal usando meios para seduzir e se aproveitar das pessoas, vendendo e obtendo lucros. Essa reflexão pode parecer uma visão pessimista e incrédula da realidade atual, mas não é, assim como não é só a deste que vos escreve.
      Aquilo que na “era anterior” era papel do cristianismo, principalmente do católico, agora, na chamada nova era, é papel da mídia e da publicidade, parece que o cristianismo não fez direito sua tarefa e outros usurparam seu lugar. Podemos argumentar que quando era papel da religião o objetivo era espiritual, e que agora, sendo de empresários e políticos, o objetivo é material, mas não é bem assim. Poder neste mundo sempre tem objetivos materiais. Ocorre que antes só a religião se sentia no direito de lutar por certas causas, agora outros se acham nesse direito. (Se tornaram as novas religiões?)
      A verdade é que o poder e o bem pertencem a Deus, qualquer um, religião ou outro, que se disser dono dele é usurpador, e ainda que acredite sinceramente que possa desempenhar poder e bem com justiça, se não for mau, será louco. Tivemos os dois tipos nos últimos anos na função política principal do nosso país, primeiro um pilantra e depois um insano. Pilantra porque roubou, louco porque acredita ser representante de Deus, não que alguém não possa ser as duas coisas, mas o pilantra tenta enganar os outros e sabe disso, enquanto que o louco tenta enganar os outros e a si mesmo.
      Tempos difíceis vivemos, os corações escondem a mentira lá no fundo, ainda que com fotos felizes na internet, com palavras de ordem em manifestações, engajados em lutas sociais, munidos da modernidade. Querem liberdade, mas para libertinagens, defendem as religiões, mas não amam a Deus, querem direito de serem o que querem ser, mas são todos iguais e não percebem. Nunca o bem esteve tão confuso, fantasiado de modismos, por isso nunca foi tão importante buscarmos com todo o coração o Deus verdadeiro, o único que nos livra de toda confusão dos falsos “escudos do bem”.

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão.