17/06/22

Tribulação que vem e que fica

      “Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas.II Coríntios 4.16-18

      Muitas vezes até aceitamos certas tribulações e queremos fazer o que for preciso para as superarmos, mas fazemos isso para que elas sejam anuladas e nunca mais precisemos sofre-las. Não é bem assim, não com tudo, muitas tribulações não vêm para passar, vêm para ficar, são situações ou mesmo pessoas que teremos que conviver sempre, até o final de nossas passagens por este mundo. Por que é assim? Deus sabe, a nós compete identificar esse tipo de tribulação, aceitar e descobrir como vivermos em paz apesar delas. Nisso pode estar não só a superação de um problema externo, mas de um limite interno, nos levando a amadurecer espiritualmente. 
      O que queremos nessa vida, superar dores para termos prazeres, ou conhecermos os misteriosos, eternos e iluminados caminhos da luz espiritual mais alta? Jesus viveu, talvez por toda sua existência como homem, sabendo que sua grande tribulação não seria resolvida, por nada que ele fizesse. Ele até tentou em sua oração no Getsêmani, mas seu pedido não foi atendido, teve que seguir até o fim com a certeza de uma morte cruel e solitária. Isso não o tornou um homem amargo e descrente em sua trajetória, ao contrário, mais vencedor, feliz e espiritual. As perguntas feitas são: qual nosso maior objetivo como seres humanos, onde colocamos nossos olhos? 
      Penso em pais que têm ou que pegam para criar filhos com graves problemas de saúde, cadeirantes, deficientes intelectuais, eis dificuldades que serão para sempre. Confesso que não sei se teria forças para administrar situações assim, mas muitos administram, com amor e esperança, e são seres humanos até melhores que eu, que tenho tempo para usufruir coisas que eles não podem. Muitos procuram igrejas cristãs para conseguirem se livrar de tribulações que vêm para ficar, outros brigam com Deus por causa de problemas assim. A solução é pararmos de brigar com coisas que não podemos resolver, aceitá-las e conviver com elas com serenidade.
      Peso eterno de glória mui excelente por atentar nas coisas que não se vêem, isso é avaliar nossa existência no mundo com objetivos espirituais, tendo os olhos na eternidade, eis a maneira de termos paz com tribulações que vêm e que ficam. Jesus entendeu isso, Paulo aprendeu isso, seres humanos realmente espirituais vivem isso, não, os mais espirituais não são os que têm fé para anularem certos problemas, mas para seguirem com eles em paz. O preço da espiritualidade é sofrimento na carne, não tem outro jeito, não um sofrimento forçado ou artificial, como muitos religiosos tentam se infringir, mas aquele que faz morrer o egoísmo e a vaidade. 
      Para isso você não precisa necessariamente ser pobre, mas precisa ser caridoso, não precisa ser recluso, mas ser humilde, não precisa ser ignorante, mas sábio. Ser espiritual não é não ter, mas é poder dar com desprendimento, não é se esconder, mas estar com muitos sem querer se exaltar, não é não ter títulos, mas usar capacidades para servir os outros, não a si mesmo. Por que Deus permite tribulações que ficam? Para aprendermos que elas não têm tanta importância, não nos definem nem nos limitam, somos definidos pelas virtudes morais e limitados somente pela vontade de Deus, e ainda que nosso homem exterior se corrompa, o interior se renova

16/06/22

Paz, temos de verdade?

      “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus.Filipenses 4.6-7

      Por mais difícil que seja entender é justamente por colocarmos outras virtudes na frente da paz, é que não conseguimos provar essas outras virtudes. Junte à paz a santidade, eis as virtudes que são bases para todas as outras. Somente santos e em paz temos paciência para amar, fé para crer corretamente, e não em qualquer coisa, domínio próprio para vencer o pecado do dia a dia, lucidez para sermos justos e misericordiosos. Sem paz não conseguimos nos aprofundar numa experiência de oração, ficamos com nossas mentes andando em círculos, não conseguimos a leveza para achar a vontade de Deus. 
      Muitas vezes vivemos sem paz, e podemos fazer isso enganados por outros sentimentos, que de alguma maneira não machucam, ainda que nos mantenham sem tranquilidade espiritual. Quando você vai comprar alguma coisa, sabendo que enfim tem grana para pagar, você fica excitado, nessa expectativa não há paz, mas o que importa não haver paz? A sensação de que terá em breve algo agradável para usufruir supera a falta de paz. Contudo, é em situações assim que cometemos grandes erros, pagando mais caro que precisaríamos para termos algo depressa, sem paciência para esperar. 
      Substituímos a paz mais profunda e pura pelos prazeres passageiros da carne, que como vícios precisam ser repetidos e repetidos, para que a falta de paz não nos machuque. Existem coisas que são virtuosas e mesmo religiosas, mas que buscamos pelo prazer que elas nos dão no corpo, novamente para substituirem a paz maior. O cristianismo ocidental, baseado numa vida mais materialista, que busca a Deus mas para ser bem sucedido no mundo físico, prova menos paz que religiosos orientais, por exemplo, que enfatizam meditação e conhecimentos espirituais para estarem preparados para a eternidade. 
      Talvez seja por isso que a mídia promova tanto a ioga e menospreze a oração cristã, e não estou aqui defendendo a boa intenção da mídia nem a eficácia da ioga, contudo, se uma grande maioria precisa de comida, uma minoria, mas que manda na mídia, precisa de paz. Qual a extensão da paz que retêm evangélicos que saem de cultos repletos de música sentimental e alta? Dura quanto essa paz? E não me refiro à impressão emocional que fica na alma, mas à paz profunda, que propicia outras virtudes e que mantém santidade e amor legítimos. Será que essa paz dura até que cheguem em casa? 
      Apesar de sentirmos certa tranquilidade depois que desabafamos, e participarmos de um período de louvor assim como de orações coletivas e em alta voz em igreja evangélica têm utilidade no desabafo, isso pode ser eficiente aos mais jovens, aos insanos ou a quem já estiver em paz. Contudo, para os maduros, a verdadeira paz só é conquistada com um encontro sério com Deus, que mude não só o emocional por algumas horas, mas suas existências de forma mais permanente. Um encontro sério requer escolhas profundas, que implicam em práticas e atitudes, não só em palavras e intenções. 
      Encontrar a paz maior pode não ser processo fácil, principalmente aos mais velhos, que podem ter se acostumado a vícios, incluindo vícios religiosos. Pode exigir de nós longos períodos de oração, onde se diz tudo, se chora tudo, depois se diz mais e se chora ainda mais, e então se cala. Quando calamos nossa primeira reação é parar de orar, mas é nesse ponto que devemos insistir em permanecer na presença de Deus. Ansiosos têm dificuldades de uma busca séria, precisam se acalmar profundamente, isso pode exigir até jejum de comida e bebida, para desintoxicar corpos viciados em excitantes. 
      O processo de busca da paz mais alta é processo de calar vozes, e creia, muitas vozes falam conosco, que podem não ser episódio esquizofrênico, mas sensibilidade espiritual mal direcionada. As outras vozes dizem de tudo, mas nunca nos deixam em paz, só nos fazem sofrer, contudo, se calam-se podemos ouvir somente a voz mansa do Espírito Santo. Ah, meus queridos, terrível e maravilhosa é a voz de Deus, quem a ouve é transformado, entende com clareza a vontade de Deus para sua vida e experimenta realmente a paz maior. Depois disso, e só depois disso, podemos orar sobre outras coisas. 

15/06/22

A verdade vem à tona

      “Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido. Porquanto tudo o que em trevas dissestes, à luz será ouvido; e o que falastes ao ouvido no gabinete, sobre os telhados será apregoado.Lucas 12.2-3

      Não nos deixemos ser confundidos pelas trevas, o que é luz, frutos de luz dá, o que não é, é trevas. Na verdade, muitos sempre foram trevas, só tentavam enganar os homens dizendo que não eram, assim, o que se revela não é novidade. Mas alguns enganam bem, a eles mesmos e depois aos outros, mas não a Deus. O Senhor conhece corações e intenções, e também avalia frutos, ainda que seja paciente com todos, esperando que todos se arrependam. As trevas podem ser escondidas, ainda que por um tempo, a luz não precisa ser. 
      Os que se gabam de estarem de pé, ainda que andando sem sabedoria, abusam da misericórdia de Deus, que para esses um dia acabará. Já os que humildemente confessam que só estão de pé pela misericórdia de Deus, andando sempre com temor a Deus, plantam no amor do Senhor que nunca se finda e dá frutos de justiça. Não se engane, muitos erram porque não aprenderam a acertar, a esses Deus acompanha com carinho, quando aprenderem a agir corretamente mostrarão o que sempre tiveram dentro de si, pura luz. 
      O justo não se conhece pelo início de seu caminho, mas pelo seu fim. O falso, ainda que pareça luz no início, não resistirá às provas da vida, às injustiças e vaidades dos homens, um dia mostrará, com a insana irresponsabilidade dos loucos, o que verdadeiramente tem dentro de si. Nossa intenção é mais forte que nossas palavras, nosso coração mais teimoso que nossas escolhas, um dia a intenção do coração manifesta quem é e faz a escolha final, de luz para os da luz, de trevas aos das trevas, o tempo revelará tudo a todos. 
      Não se orgulhe da mentira, ó tolo, não construa sobre ela tua reputação, não pense que poderá seguir assim até o fim, que nunca será desmascarado. A vida é longa e a morte difícil aos das trevas, a vida é justa e a morte rápida aos da luz. O da luz sofre e mais severamente que o das trevas, na luz se encara verdades de frente, mas na luz se é provado na companhia de amigos verdadeiros e da luz. Ao das trevas o sofrimento parece menor, ele usufrui mais, se embriaga com vaidades e mentiras do mundo, mas acaba só. 
      Não desista de ser luz, justo, não tenha medo da verdade, por mais dura que seja, se necessitar do exílio saiba que é melhor a choupana com Deus que o palácio sem ele. A disciplina do Senhor tem fim, é vivida pelo justo perto de Deus, já sua ira dura a eternidade que o tolo escolher estar longe do Senhor. Não negue tua fé, filho da luz, de tudo o que tu tens tua fé é teu bem mais precioso, ela te levará a um bom lugar, onde há paz, água e pão. Feliz o que guarda a porção de fé que recebeu do Senhor, ela é nossa verdade maior. 

14/06/22

Culpa: assuma-a e deixe-a

      “Falou, pois, outra vez Pilatos, querendo soltar a Jesus. Mas eles clamavam em contrário, dizendo: Crucifica-o, crucifica-o. Então ele, pela terceira vez, lhes disse: Mas que mal fez este? Não acho nele culpa alguma de morte. Castiga-lo-ei pois, e solta-lo-ei. Mas eles instavam com grandes gritos, pedindo que fosse crucificado. E os seus gritos, e os dos principais dos sacerdotes, redobravam. Então Pilatos julgou que devia fazer o que eles pediam.Lucas 23.20-24

      Quem tem sensibilidade moral, que ainda mantém sua alma viva, sente-se mal quando erra, os cruéis, loucos e arrogantes desprezarão a culpa até que ela não exista neles. Esses, contudo, não anularão a culpa do jeito certo, só matarão suas almas, para que o corpo usufrua das vaidades e dos prazeres do mundo. Os humildes nunca deixarão de sentirem-se culpados quando errarem, e na verdade essa sensibilidade ficará maior com o tempo. Entretanto, o processo da culpa tem dois lados importantes, só relacionando-nos corretamente com os dois lados, cresceremos espiritualmente.
      O primeiro lado é o que mencionei acima, sentir profundamente a dor da culpa, entender porque ela existe, achar o erro, nos responsabilizarmos por ele e desejarmos, com todo o nosso coração, não fazermos mais aquilo que nos trouxe culpa. Nessa investigação podemos até descobrir culpa indevida, que não fizemos algo errado, que podemos estar nos sentindo mal porque não entendemos que mesmo atitudes corretas podem nos colocar em situações sociais desconfortáveis. Isso não é erro merecedor de culpa, se humildemente aceitarmos certas situações como vontade de Deus. 
      Jesus deveria sentir-se culpado por causar desconforto em líderes religiosos judeus? Penso que na elevação espiritual que Cristo homem tinha, nunca queria suscitar o pior de alguém, e eis uma prova que se é espiritual, não usar nem a verdade para levar alguém à ira. Como não temos visto isso hoje em dia, muitos cristãos se achando donos da verdade, têm entrado em polêmicas, principalmente na área política, causando situações de desentendimentos e agressões, e nem se sentem culpados por isso. Pensam que se falam em “nome de Deus” podem citar a Bíblia de qualquer jeito. 
      Mas se incorre em erro quem despreza a culpa, também o faz quem a guarda por tempo demais, esse é o segundo lado da culpa que temos que aprender a administrar. Assuma-a e deixe-a, o mais rapidamente possível, senão ela poderá enfraquecê-lo e deixá-lo frágil para errar de novo e depressa. O propósito da culpa é nos fortalecer, não o contrário, é nos purgar, não nos deixar pesados, é nos limpar para seguirmos rumo à vontade de Deus para nossas vidas. É nesse propósito que tudo que representa e é Jesus Cristo nos é tão importante, e de uma maneira que ninguém mais é ou pode ser. 
      Jesus sofreu e muito no corpo e no espírito para que todos nós pudéssemos achar nele alguém que de fato entende nosso sofrimento. Mas ele sofreu também injustamente para entendermos que podemos sofrer sem motivo aparente e ainda assim não devemos reagir do jeito errado. Mas tem mais, depois que ressuscitou e subiu, Jesus permanece num local espiritual exclusivo, acima de todo ser e toda religião. Nessa posição ajuda-nos para que sejamos perdoados colocando-nos em contato direto com Deus, acesso que perdemos temporariamente quando nos achamos culpados. 
      Essa capacidade que Jesus tem, tanto como o homem que viveu entre nós como espiritualmente, e que é a base do cristianismo no mundo, razão porque mesmo um cristianismo corrompido em muitos aspectos ainda siga abençoando a humanidade, essa capacidade muitos de outras religiões menosprezam, ao menos em alguma instância. Nossa salvação é trabalho a quatro mãos, nossa parte é assumir o pecado e fazer diferente, mas Deus em seu grandioso amor nos auxilia com Jesus no céu e o Espírito Santo no meio, para que sintamos a culpa, a deixemos e sigamos em paz.
      Nosso alvo mais alto é ser como Jesus, não ter culpa, isso não significa não sofrer, mas suportar agressão mesmo sem ter feito algo errado. Quando alcançamos esse grau de elevação nossa vida abençoa os outros, não só a nós, temos uma existência de missão, não de provação, anulamos os pecados de muitos por amor e geramos no universo um bem eterno. Enquanto isso, sintamos nosso erro, deixemo-lo, mas sigamos humildemente em paz, confiados na palavra de Jesus, que pega-nos pelas mãos e nos conduz em vitória à paz e à luz mais altas de Deus, nosso pai de amor. 
      Não desista de você, Deus não desiste, mas se vê que um erro é reincidente demais, ore mais a Deus a respeito para saber porque isso ocorre. Culpa deve ser deixada o mais depressa possível, mas não pode ser relevada, felizes os que se sentem culpados, ainda são sensíveis e admoestados por um Deus que sabe que só na santidade há felicidade. Quando a Bíblia diz “Deus limpará de seus olhos toda a lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor” (Apocalipse 21.4) ensina que Deus, mesmo hoje, não tem nenhum interesse com sofrimento fora de tempo e desnecessário. 

13/06/22

Finalize o loop

      “Mas a vós, que isto ouvis, digo: Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam; bendizei os que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam.Lucas 6.27-28

      Muitos não fazem ideia do mistério poderoso que existe por trás do ensino do texto bíblico inicial, aliás, o centro do ensino de Cristo. Não se refere só a uma orientação moral, que por si só já pode ser um contrassenso a uma convivência social mais tradicional, onde o normal é gostarmos de quem gosta da gente e não gostarmos de quem não gosta. Mas Jesus ensina com ênfase, dando uma grande importância a um procedimento oposto em certa situação, justamente na mais difícil, amar os que se põem como nossos inimigos, fazer bem, dizer coisas boas e até orar pelos que nos fazem mal.
      Podemos entender o mistério se olharmos o tema sob a ótica da lei da causa e efeito, ou do colhe-se o que se planta, que é a mesma coisa. Nada é feito de forma impune no universo, no plano natural vemos hoje em dia a natureza respondendo a ações perniciosas dos homens, com aquecimento global, chuvas e temperatura desequilibradas, erosão e fragilidade do solo onde não houve respeito com o curso natural de rios. Todavia no plano moral que interfere não só com nossos corpos mas também com nossos espíritos, há recompensa para o bem e punição para o mal, tudo na mesma proporção. 
      Quando fazemos o mal para alguém criamos uma dívida moral que terá de ser paga, de algum jeito, assim alguém fará mal semelhante para nós. Se nos consertarmos a tempo, recebendo perdão por Cristo e agindo, caso o erro necessite de atitudes mais práticas para ser ressarcido, poderemos até anular parte do efeito, mas de alguma maneira sempre colheremos algum fruto ruim pelo mal que fizemos. Assim quando recebemos o mal de alguém em grande parte isso pode ser pelo fato de termos feito mal semelhante a alguém nesse mundo, o universo só está cobrando-nos uma dívida anterior. 
      Eu disse em grande parte, porque para explicarmos o mal que muitos parecem receber sem terem feito mal a outros neste mundo, parecem porque às vezes não é de fato sofrimento, teríamos que estudar assuntos que muitos cristãos não estão dispostos ou preparados para aceitar. Para esse caso cito as palavras de Jesus em João 9.1-3, entenda-se obras de Deus como algo sendo feito por causa de mistérios que muitos não conhecem, mas que podem explicar porque alguém nunca sofre por injustiça, todos merecemos nossos sofrimentos. Todos nós sofremos, a questão é como reagimos ao sofrimento.
      A primeira reação da maioria de nós é fazer sofrer tanto quanto sofremos, dar um troco imediato e na medida, mesmo que não seja para quem nos fez sofrer, queremos vingança. A vingança existe mesmo que só dentro de nossas almas, ainda que não a pratiquemos imediatamente, mas se persiste como intenção uma hora, de um jeito ou outro, em alguém, será realizada. O mal só existe pelo livre arbítrio humano, não tem corpo, mas acha um dentro de almas rancorosas e vingativas, assim se nos vingarmos passaremos ele à frente, então outra pessoa receberá o mal e também poderá desejar vingar-se. 
      É dessa forma que o loop do mal é estabelecido, e usando uma lei legítima do universo autorizada por Deus, causa, efeito, plantio, colheita, só tem um jeito de interromper esse loop, praticando o ensino de Jesus. Quando respondemos o mal com o bem anulamos o mal, recebemos aquilo que é justo recebermos, não desobedecemos o princípio de colher-se o que se planta, mas passamos a plantar o bem, não mais o mal. Nisso um novo loop se inicia, o bem que fazemos a alguém, alguém terá que fazer a alguém, sendo ou não nós, mas nós com certeza receberemos o mesmo bem, ainda que de outros. 
      Meus queridos e minhas queridas, amar o inimigo traz um benefício que não temos a noção de que proporção tem. Nos abençoa porque anulamos a vingança em nós e nos dá direito de colher o bem, abençoa quem nos fez mal porque a partir daí esse não terá mais direito ao mal, ou começa a fazer o bem ou fica “amarrado” e isolado “digerindo” o mal dentro de si. Mas também abençoa a muitos outros que poderiam ser agentes de continuidade do loop do mal, que agora poderão ser agentes do loop do bem, criado a partir de uma atitude nossa. O amor destrói um velho mal e cria um novo bem. 
      Tem uma enorme diferença entre o mal e o bem, o mal tem fim, o bem é para sempre, o mal é passageiro, o bem é eterno porque Deus é o bem, é eterno e todo-poderoso. Por isso não existem infernos e seres malignos eternos, só céu e seres de luz eternos. Admitir um mal eterno seria diminuir o poder de Deus, seria limitar a superioridade da benignidade, seria fazer menor o capacidade do amor, seria diminuir a missão e a posição espiritual atual de Cristo. Finalize o loop, seja agente do bem, de Deus, crie algo que será para sempre e levará cura a seres que você nem tem ideia que existem. 

12/06/22

Disponha-se e prepare-se

      “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.João 16.33

      Vencemos o pecado quando estamos fortes, somos fortes quando obedecemos a Deus e somos úteis, para sermos úteis precisamos estar preparados e dispostos. Para que estamos dispostos neste mundo? Uns estão dispostos sempre para coisas erradas, mas outros nunca estão dispostos, ainda que façam muitas coisas e até sejam bem sucedidos, no fundo gostariam de fugir para longe e nada fazerem. 
      Isso não significa que esses sejam vagabundos, pode ser bem o contrário, mas eles são infelizes, não se descobriram ainda e nem ao verdadeiro Deus. Fazem por obrigação ou para que os outros vejam e os aprovem, mas não porque sentem-se bem. Neste mundo todos temos que nos esforçar, a vida não é fácil e cada dia é luta, totalmente satisfeitos nunca seremos, isso é fato, viver é superar a dor de viver. 
      Mas podemos ter paz se nos dispusermos a fazer a coisa certa, em Deus entendemos qual é a coisa certa a fazer. Para essa coisa acharemos forças para estarmos preparados, para sermos úteis, servindo não só a nossas necessidades imediatas, mas aos outros. A tarefa mais importante que somos chamados a fazer neste mundo é espiritual, não é material, assim não basta vigor físico, é preciso envergadura moral.
      Ser forte para sair para o mundo, matar um leão por dia, retornar para casa cheio de grana, então relaxar a troco de vícios e remédios, é ser fraco. O forte faz o que precisa para ter uma vida digna neste mundo, mas tem tempo e forças espirituais para servir a Deus, não só a si mesmo. Só quem serve a Deus pode servir os outros, só quem se dispõe a obedecer o Senhor achará alegria na santidade vigilante. 
      Deus fala conosco, muito mais que respondendo às nossas aflições diárias, para nos animar a seguir em nossas provações. O Espírito Santo tem muito a nos ensinar sobre o universo, o mundo espiritual, a razão de existirmos, vivermos e morrermos. Quem ouve Deus revelar mistérios? Quem se dispõe a isso e se prepara com santidade. Para isso é preciso aprender não só a falar com Deus, mas a ouvi-lo. 
      Quando aprender a se equilibrar no estreito caminho, não pendendo nem para os prazeres imediatos da carne, nem para as mistificações das religiões, quando se manter nessa posição não por sua força, mas pela leveza do espírito que não se deixa pesar, nem pela culpa do passado nem pela ansiedade do futuro, então, terá calada a alma o suficiente para ouvir a voz do Espírito Santo, estará preparado e disposto. 

11/06/22

Qual o preço da humildade?

      “Mas deixarei no meio de ti um povo humilde e pobre; e eles confiarão no nome do Senhor.Sofonias 3.12

      Ser humilde é ter consciência que o que se sabe não veio da própria inteligência, que o que se tem não veio das próprias forças, e que o que se é não é devido às próprias virtudes. Humildade é dependência, não dos seres humanos nem de seres espirituais, mas de Deus e só dele, arrogância é abandonar, ainda que por um instante, essa dependência, e se achar suficiente. Ainda que se faça muitas coisas corretas, se é nada sem a misericórdia de Deus. 
      Isso não significa não se esforçar para ser inteligente, forte e virtuoso, mas significa que ainda que nos esforcemos devemos isso em primeiro lugar a Deus. Ser humilde é vencer a si mesmo, mas se submeter a Deus, é ser luz, não por ter energia própria, mas por refletir a luz mais alta de Deus. Isso é simples, é maravilhoso, é o que a eternidade espera de nós para nos dar direito ao céu, contudo, pode exigir de nós muitas e dolorosas renúncias. 
      Só tem que renunciar quem tem posses, só os donos sofrem quando perdem o que possuem, assim quem nada tem, a nada tem que renunciar nem sofre por isso. Novamente é preciso entender que isso não significa não termos ambições ou conquistas neste mundo. Por não compreender isso é que religiosos se insulam em mosteiros em privações e pobreza para tentarem ser humildes, acham que se não tiverem nada, a nada terão que renunciar. 
      Mas creiam, quantidade não faz diferença quando nosso coração está preso a coisas erradas, e alguns têm mais dificuldades para renunciar a dezenas, que outros têm para renunciar a milhões. Assim chegamos ao texto bíblico inicial, Deus pode ter que nos tirar quase tudo, para que sejamos humildes e confiemos nele. Seria melhor que não precisássemos chegar a esse ponto, mas a teimosia e a vaidade são nossas, não é Deus quem é o cruel. 
      O orgulhoso dirá que Deus é injusto e quer lhe condenar a uma vida simplória, ou então criará um ídolo, com aparência de Deus, mas com uma teologia herege, como a da prosperidade, para legitimar sua ganância e dar a ele o status da virtude da fé que lhe fez rico. Mas não existe relação entre Deus e as riquezas e as glórias deste mundo, os que buscam tais coisas se afastarão de Deus e um dia acabarão pobres, sozinhos e infelizes. 
      Contudo, a humildade mais profunda não se prova tendo faltas materiais, muitos estão pobres e ainda assim são arrogantes. A humildade mais alta é espiritual e a entendemos quando temos experiências espirituais, quando vemos que se estamos de pé e recebemos palavras de vida eterna é porque o Espírito Santo nos sustenta e nos ensina, o mérito não é nosso. Quem merece esse mérito pede respeito de nós, humildade que louva só a Deus.