terça-feira, junho 14, 2022

Culpa: assuma-a e deixe-a

      “Falou, pois, outra vez Pilatos, querendo soltar a Jesus. Mas eles clamavam em contrário, dizendo: Crucifica-o, crucifica-o. Então ele, pela terceira vez, lhes disse: Mas que mal fez este? Não acho nele culpa alguma de morte. Castiga-lo-ei pois, e solta-lo-ei. Mas eles instavam com grandes gritos, pedindo que fosse crucificado. E os seus gritos, e os dos principais dos sacerdotes, redobravam. Então Pilatos julgou que devia fazer o que eles pediam.Lucas 23.20-24

      Quem tem sensibilidade moral, que ainda mantém sua alma viva, sente-se mal quando erra, os cruéis, loucos e arrogantes desprezarão a culpa até que ela não exista neles. Esses, contudo, não anularão a culpa do jeito certo, só matarão suas almas, para que o corpo usufrua das vaidades e dos prazeres do mundo. Os humildes nunca deixarão de sentirem-se culpados quando errarem, e na verdade essa sensibilidade ficará maior com o tempo. Entretanto, o processo da culpa tem dois lados importantes, só relacionando-nos corretamente com os dois lados, cresceremos espiritualmente.
      O primeiro lado é o que mencionei acima, sentir profundamente a dor da culpa, entender porque ela existe, achar o erro, nos responsabilizarmos por ele e desejarmos, com todo o nosso coração, não fazermos mais aquilo que nos trouxe culpa. Nessa investigação podemos até descobrir culpa indevida, que não fizemos algo errado, que podemos estar nos sentindo mal porque não entendemos que mesmo atitudes corretas podem nos colocar em situações sociais desconfortáveis. Isso não é erro merecedor de culpa, se humildemente aceitarmos certas situações como vontade de Deus. 
      Jesus deveria sentir-se culpado por causar desconforto em líderes religiosos judeus? Penso que na elevação espiritual que Cristo homem tinha, nunca queria suscitar o pior de alguém, e eis uma prova que se é espiritual, não usar nem a verdade para levar alguém à ira. Como não temos visto isso hoje em dia, muitos cristãos se achando donos da verdade, têm entrado em polêmicas, principalmente na área política, causando situações de desentendimentos e agressões, e nem se sentem culpados por isso. Pensam que se falam em “nome de Deus” podem citar a Bíblia de qualquer jeito. 
      Mas se incorre em erro quem despreza a culpa, também o faz quem a guarda por tempo demais, esse é o segundo lado da culpa que temos que aprender a administrar. Assuma-a e deixe-a, o mais rapidamente possível, senão ela poderá enfraquecê-lo e deixá-lo frágil para errar de novo e depressa. O propósito da culpa é nos fortalecer, não o contrário, é nos purgar, não nos deixar pesados, é nos limpar para seguirmos rumo à vontade de Deus para nossas vidas. É nesse propósito que tudo que representa e é Jesus Cristo nos é tão importante, e de uma maneira que ninguém mais é ou pode ser. 
      Jesus sofreu e muito no corpo e no espírito para que todos nós pudéssemos achar nele alguém que de fato entende nosso sofrimento. Mas ele sofreu também injustamente para entendermos que podemos sofrer sem motivo aparente e ainda assim não devemos reagir do jeito errado. Mas tem mais, depois que ressuscitou e subiu, Jesus permanece num local espiritual exclusivo, acima de todo ser e toda religião. Nessa posição ajuda-nos para que sejamos perdoados colocando-nos em contato direto com Deus, acesso que perdemos temporariamente quando nos achamos culpados. 
      Essa capacidade que Jesus tem, tanto como o homem que viveu entre nós como espiritualmente, e que é a base do cristianismo no mundo, razão porque mesmo um cristianismo corrompido em muitos aspectos ainda siga abençoando a humanidade, essa capacidade muitos de outras religiões menosprezam, ao menos em alguma instância. Nossa salvação é trabalho a quatro mãos, nossa parte é assumir o pecado e fazer diferente, mas Deus em seu grandioso amor nos auxilia com Jesus no céu e o Espírito Santo no meio, para que sintamos a culpa, a deixemos e sigamos em paz.
      Nosso alvo mais alto é ser como Jesus, não ter culpa, isso não significa não sofrer, mas suportar agressão mesmo sem ter feito algo errado. Quando alcançamos esse grau de elevação nossa vida abençoa os outros, não só a nós, temos uma existência de missão, não de provação, anulamos os pecados de muitos por amor e geramos no universo um bem eterno. Enquanto isso, sintamos nosso erro, deixemo-lo, mas sigamos humildemente em paz, confiados na palavra de Jesus, que pega-nos pelas mãos e nos conduz em vitória à paz e à luz mais altas de Deus, nosso pai de amor. 
      Não desista de você, Deus não desiste, mas se vê que um erro é reincidente demais, ore mais a Deus a respeito para saber porque isso ocorre. Culpa deve ser deixada o mais depressa possível, mas não pode ser relevada, felizes os que se sentem culpados, ainda são sensíveis e admoestados por um Deus que sabe que só na santidade há felicidade. Quando a Bíblia diz “Deus limpará de seus olhos toda a lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor” (Apocalipse 21.4) ensina que Deus, mesmo hoje, não tem nenhum interesse com sofrimento fora de tempo e desnecessário. 

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