25/11/22

A guerra de cada um

      “Bem-aventurado o homem que suporta a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam.Tiago 1.12

      Não fazemos ideia do que o outro é tentado neste mundo, no que cada pessoa é provada e precisa ser aprovada para ser alguém melhor. Não nos fiemos em aparências, pessoas com faces tranquilas podem estar em terríveis batalhas interiores. Crescer e conhecer a Deus tem preço, humildade e santidade, igual para todos, mas pagas de maneiras diferentes, vencendo guerras em frentes diferentes. Não são assim as guerras no mundo? Algumas se vencem na terra, outras no mar e outras nos ares, com armas e estratégias distintas. 
      Em terra, inimigo ataca dos lados, no mar pode atacar dos lados e por baixo, no ar ataca dos lados, por baixo e por cima. Não se usa submarino em terra firme, nem avião no fundo do mar, muito menos tanques no ar. Por outro lado, pilotos de tanques precisam de formação diferente que os de submarinos e aviões, assim como pilotar esses requer formações diferentes entre si. Cada batalha num lugar e para cada lugar equipamentos e pilotos adequados. Não julguemos mal a ninguém, nem achemos uma guerra mais fácil que a outra. 
      Ainda que todos enfrentem todos os tipos de inimigos, uns enfrentam mais determinado inimigo que outros. Muitos enfrentam conflitos explícitos e básicos, ligados aos apetites do corpo, são os que têm que crescer como indivíduos. Outros se veem mais atacados por potências do mundo físico, ligados à aquisição de poder, seja financeiro, artístico ou intelectual, esses são os que crescem no mundo, mas numa interação mais ampla com muitas pessoas. Alguns, contudo, enxergam constantes e profundos ataques espirituais. 
      Esses três tipos de ataques definem pessoas em níveis espirituais diferentes. Quem consegue discernir os ataques espirituais, e não me refiro aos que acham que conseguem, que muitas vezes só sofrem confusões mentais, são os que entendem as relevâncias do mundo espiritual. Usando a simbologia, na terra inimigos são mais visíveis, na água começam a ficar mais imprevisíveis, é só no ar que os inimigos são invisíveis e espirituais, mas é preciso estar num nível espiritual mais elevado para enfrentar esses últimos.
      “Considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor” (Romanos 6.11), vencer o mal não é aniquilá-lo no lado de fora, isso não é possível. Se o mal vem de espíritos, esses são seres eternos, se vem de homens, esses têm livre arbítrio para escolher o mal. O que podemos fazer é não dar lugar ao mal dentro de nós, com livre arbítrio para o bem, morrendo para o pecado, não tendo qualquer interação emocional ou racional com ele. Sem atenção o mal foge (Tiago 4.7). 
      Não podemos destruir o mundo, nem o físico, nem o espiritual, mas em Deus podemos vencer a nós mesmos, e se ainda isso não for suficiente, podemos confiar em Deus que supre todas as nossas necessidades. Não percamos tempo tentando combater o que está fora de nós, ser exército do Senhor não é aniquilar os outros, sejam espíritos malignos ou homens maus. Ser servo do Altíssimo é vencermos o mal dentro de nós, permitindo que a luz espiritual mais elevada reflita em nós e ilumine nosso caminho até o céu. 

24/11/22

Aceitemos o tratamento de Deus

      “E Jesus, tendo ouvido isto, disse-lhes: Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento.Marcos 2.17

      Quem sabe o melhor tratamento para uma enfermidade é o médico, não o enfermo, Deus sabe como precisamos ser tratados para seguirmos crescendo espiritualmente. Como temos nos comportado como doentes, com humildade e obediência, ou rebeldes às orientações do doutor? Às vezes temos a equivocada arrogância de achar que podemos dar sugestão de tratamento ao especialista na saúde dos seres humanos, aquele que criou todos os espíritos e sabe como e onde devem chegar. 
      “O que Eu faço não sabes tu agora, mas tu o saberás depois” (João 13:7), nem sempre entendemos ou conseguimos enxergar o benefício de um tratamento no momento que o Senhor o está fazendo, assim devemos crer e confiar que Deus sabe o que faz. Se Deus pede silêncio, nos calemos, se ele pede calma e cuidado, tenhamos cautela, se ele pede alegria e louvor, sejamos gratos, mas se ele pede seriedade e mesmo quebrantamento, nos humilhemos em sua presença com todo o coração. 
      Seja como for, não estranhemos desafios, surpresas e a inconstância interior humana, não confiemos no que sentimos, pensamos ou percebemos da realidade, mas pela fé só em Deus. Deus não destrói o navio, mas pode tornar as águas bem turbulentas, para testar a integridade da nau, e creiam, se firmados em Deus de maneira certa e para objetivos corretos, o navio é resistente. Aceitemos o tratamento e seguremos a santidade e a paz, após a prova vem a aprovação de Deus, e essa é maravilhosa. 
      Alguns são tratados tendo que fazer, outros tendo que não fazer, alguns tendo que falar, outros tendo que se calar, alguns são tratados tendo o que dizer, mas não tendo quem ouvi-los, outros são tratados achando que têm muito a dizer e até achando muitos que gostem de ouvi-los, mas que na verdade nada deveriam dizer pois só têm vaidades em si. Uns têm que administrar honra, outros, vergonha, uns, fama, outros, clandestinidade. Qual o teu tratamento? Você o tem aceitado humildemente?
      Penso que a definição mais adequada da vida neste mundo seja a de uma “internação hospitalar”, quem está aqui é porque precisa de tratamento, dessa forma aceitar isso e se deixar ser tratado é a melhor maneira de viver bem. Quanto aos orgulhosos, que se acham doutores, não pacientes, sãos, não enfermos, só postergam para a eternidade seus infernos, lá haverá juízo e cobrança. Aproveitemos bem nossos tempos neste mundo, não acumulando riquezas materiais, mas retendo virtudes morais.   

23/11/22

Vençamos a ansiedade

      “Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.I Pedro 5.7

      Nos livrarmos de ansiedade não é assim algo fácil, ela é um mal que gruda em nós e por mais que dela tentamos nos livrar ela sempre volta. Como toda obsessão é vício, e como vício pode ser necessário um longo processo para nos libertarmos de estilo de vida ansioso. Esse mal manifesta-se não só em disposições interiores perturbadas, mas em hábitos alimentares desequilibrados e em relações descontroladas com as pessoas. Ansioso é rolo compressor que passa por cima de tudo, sua realidade não é a do mundo físico ou das outras pessoas, mas a distorcida que mantém em si.
      Ansiedade, a curto prazo, enfraquece a fé, atingindo dessa maneira nossa virtude mais importante para conhecimento, comunhão e crescimento espiritual. No plano espiritual só se entra pela fé, o ansioso baterá na porta, mas não a abrirá, duvidará que bate, que a porta é porta, que ela pode se abrir, e se abrir duvida que ela disponibiliza algo bom, o ansioso é um pessimista. Quem espera algo, certo que dará certo, também sofre um pouco, mas o ansioso crônico sofre bem mais, dúvida e não descansa, sente que as coisas nunca darão certo, e quando dão ele já acha algo novo para duvidar e sofrer.
      Às vezes só vencemos algo chegando ao extremo do sofrimento, já que não nos livramos da ansiedade por decisão consciente, somos levados a um ponto onde fica impossível viver com ela. Mas isso é perigoso, pode adoecer corpo e mente, ansiedade que nunca acha satisfação na vida leva a um loop doentio. A ansiedade nos deixa eufóricos e a frustração após ela nos deprime, polos perigosos de humor que têm c.i.d. na psiquiatria. A solução mais saudável para ansiedade está no que é solução para tudo em nossas existências, humildade, que se assume instável e que confia num Deus fiel e estável. 
      Esse não é o final do problema, mas o início do processo que poderá nos entregar a solução. Se todos nós precisamos vigiar e orar bastante, o ansioso precisa orar muito mais, lançar sobre o Senhor sua ansiedade, usando a energia que gasta para duvidar para confiar. Ansiedade realimenta-se assim só é vencida na perseverança, à medida que convencemos nossos pensamentos e sentimentos mais profundos que podemos descansar em Deus. Felizmente Deus não se cansa de nós, se nós humanos temos dificuldade para conviver com ansiosos, um Deus perfeito tem paciência conosco e cuida de nós. 
      Se o Senhor cuidou de nós no passado, quando éramos mais imaturos que somos hoje, por que não pode continuar cuidando de nós para sempre? Se ansiedade que descrê em Deus é inválida, mais injustificável é para quem já anda há algum tempo com o Senhor. Não, meus queridos, Deus não é homem, não esquece de promessas, não cria alguém e o põe no mundo sem propósito, também não ensina e aperfeiçoa sem uma intenção, não deixa obra inacabada. Nossa ansiedade não faz sentido, não se já fizemos nossa parte e entregamos nossas vidas ao Senhor, confiemos, fiquemos firmes e em paz.

22/11/22

Paz não precisa de mais nada

      “Nota o homem sincero, e considera o reto, porque o fim desse homem é a paz.Salmos 37.37

      Paz verdadeira não precisa de nada, e se querem saber, não necessita nem de alegria. Podemos estar em paz mesmo em lutas, com faltas, a paz mais profunda, mais legítima, independe das variáveis da matéria, do corpo físico, do mundo, dos homens, ela é espiritual e como tal baseia-se só em Deus. Que profundidade tem aquilo que você chama de paz? Se for superficial pode ser outra coisa, mas não paz. Mas por ser profunda pode estar escondida debaixo de camadas de boas ilusões, de prazeres menores, de medos injustificáveis, de culpas já resolvidas. 
      O homem bom, que teme a Deus, que anda na humildade, sentirá alguma angústia diante da tarefa de passar por este mundo, então, se porá a cavar, dentro de si. Na meditação sincera, que leva a Deus todas as coisas, sem nada esconder, o Espírito Santo ajuda esse homem, assim, pouco a pouco ele vai se avaliando, se descobrindo, deixando no chão tudo o que pesa. O ser humano que se apresenta assim, à verdade de Deus, achará, lá no fundo, bem guardada, a paz, ela o representa, sua sinceridade, suas prioridades, seu bem mais precioso que ele não troca por nada.
      Meus queridos, o início de muitos, ou a superfície de tantos, pode ser alegria, até algo que se parece com paz, mas lá no fundo só há confusão e condenação. Já o que obedece a Deus, e a mais ninguém, que confia sua vida e as dos seus ao Senhor, que crê sem ver e aguarda a glória da eternidade, não a deste mundo, pode até se achar em sofrimento, se ver numa corda fina, alta e bamba, mas esse não cairá, Deus os sustenta, e seu fim será de paz. Essa paz não é falsa, fraca, fantasiosa, mas genuína e eterna, e nada, absolutamente nada, pode abalá-la. 
      Se você cavar fundo em você, às vezes depois de chorar muito sozinho na presença de Deus, o que achará? Verdades que tenta esconder de todos? Medos que nega a você mesmo e que o leva a forçar uma aparência de forte e de intocável? Ou depois que entende pelo Espírito Santo, que está aqui só de passagem, que não pode levar para a eternidade riquezas materiais, nem a aprovação dos homens, você se despe de todas as capas, e acha um espírito humilde, dono de uma paz tão maravilhosa que até te espanta? Que seja paz que você ache, ela basta.

21/11/22

Persevere em buscar a Deus

      “Busquei ao Senhor, e ele me respondeu; livrou-me de todos os meus temores. Olharam para ele, e foram iluminados; e os seus rostos não ficaram confundidos. Clamou este pobre, e o Senhor o ouviu, e o salvou de todas as suas angústias.Salmo 34.4-6

      Deus sempre nos responde! Contudo, à medida que o experimentamos, ele exige de nós uma busca maior e melhor, não porque se afasta de nós, mas porque quer se mostrar mais, assim como deseja que nos conheçamos mais. Dessa forma, não estranhe se depois de ter muitas e maravilhosas experiências com Deus, então sentir como se o céu estivesse fechado, Deus, longe, o Espírito Santo, quieto, é só o Senhor querendo amadurecê-lo mais. Os  mistérios mais elevados, os consolos mais fantásticos, as curas mais profundas, só experimentamos amadurecidos, portanto, em buscas perseverantes que com certeza dão mais trabalho. 
      Não desista, insista! Mesmo que teus sentimentos neguem, creia sem ver, tire do fundo de tua alma uma meditação agradável ao Senhor, um clamor sincero e cheio de fé, que busca a Deus porque isso é o certo a ser feito, por nenhum outro motivo. “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna, e nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente” (João 6.68b-69). Prazeres do corpo passam, festas nos bares com os amigos nos esvaziam ainda mais, mesmo a honra que os homens nos dão não nos ajudam na angústia, falsos deuses não socorrem quanto a pobreza bate forte à nossa porta.
      Busque mais a Deus! Por mais que essa exortação pareça repetitiva, não é, a cada busca há um encontro renovado de vida, uma palavra viva de esperança, um frescor, um sabor, um brilho, que nos fortalecem para seguirmos em frente, isso é algo que só o Espírito Santo pode nos entregar. Enquanto viver busque ao Senhor e agradeça a ele por te atrair a buscá-lo, esse é o maior bem que podemos ter, pode faltar tudo neste mundo, menos a vontade de buscarmos a Deus crendo que ele tem algo bom para nós. Quando passares pelas águas estarei contigo, não te submergirão, quando passares pelo fogo não te queimarás (Isaías 43.2).

20/11/22

Alertas, firmes, corajosos e fortes!

      “Fiquem alertas, permaneçam firmes na fé, mostrem coragem, sejam fortes.” 
I Coríntios 16:13 (Nova Almeida Atualizada)

      Depois que encaramos um grande problema de frente, acertamos nossas vidas, buscamos a Deus e recebemos uma resposta, o problema foi superado, contudo, depois ainda nos resta um trabalho. O trabalho está descrito no texto bíblico inicial, que na versão bíblica usada fica-nos ainda mais claro. Começamos a seguir a Jesus pela fé, no início da caminhada nossos problemas parecem resolverem-se mais facilmente. Por isso mesmo, temos a tendência de amolecer na vigilância, só tornamos a ficar mais atentos quando um novo problema surge e temos que receber de Deus uma resposta.
      Contudo, quando amadurecemos, Deus nos trata diferentemente, a vida não será mais problemas e rápidas soluções para eles, e entenda certo o que vou dizer, a vida se transformará num imenso problema sem solução. Nesse ponto duas opções nos são apresentadas, ou assumimos nosso amadurecimento, ou desistimos de vez de andar com Jesus. Desistir de Jesus não é necessariamente desistir de frequentar igrejas, muitos estão dentro de templos, fiéis às programações de suas comunidades, cantando e orando, mas ainda assim são desviados, que desistirem de Deus há algum tempo. 
      Assumirmos o amadurecimento é enfrentarmos o problema sem solução do jeito correto, o jeito que Deus pede de filhos maduros, o jeito é seguir a orientação do texto bíblico inicial, permanecermos alertas, firmes, corajosos e fortes. Um problema pode ser de fato sem solução? Claro que não, Deus sempre ajuda os que confiam nele, contudo, há soluções que não são definitivas, mas devem ser experimentadas o tempo todo com uma vida o tempo todo alerta, firme, corajosa e forte. Num relacionamento maduro com Deus não há mais momentos de pausas, de descansos “espirituais”. 
      O amadurecimento nos faz alertas contra riscos desnecessários de apetites físicos, de ataques de espíritos maus, de armadilhas de homens egoístas, nos deixa firmes na fé no Deus que conhecemos e que nos trouxe em vitória até aqui. Também nos faz corajosos para enfrentarmos desafios e o desconhecido, sabendo que o Deus que tudo sabe e controla nos guia, assim como fortes mental e emocionalmente, não dando espaço para dúvidas, erros antigos e ansiedades com o futuro. Só o Espírito Santo pode nos fazer plenamente alertas, firmes, corajosos e fortes, por isso oração constante e profunda não é mais opção, mas estilo de vida de seres maduros.
      Quem sabe não precisa crer, e quem não precisa crer não precisa ser forte, ainda que possa se acomodar numa capacidade ou bem que desenvolveu ou adquiriu com esforço próprio. Mas o que busca o Senhor tem a oportunidade de ser fortalecido espiritualmente, já que não pode confiar no que tem ou é, logo, no que sabe e vê, mas só no Deus invisível e em seu amor. Não sejamos, contudo, como os tolos que não fazem suas partes e pensam que Deus pode fazer suas partes por eles, sejamos como os sábios, que se esforçam no que podem, mas ainda assim confiam no Senhor, não em si mesmos. 
      Ainda que estejamos firmes na fé, as outras pessoas podem não estar, aliás, podem nem ter comunhão com Deus. Isso é importante saber porque neste mundo não dependemos só de nós, mas também dos outros. Patrões, familiares, pastores, gerentes de bancos e chefes de tantas empresas e instituições com as quais nos relacionamos de alguma forma, nossas vidas podem depender de decisões de todos esses. Dessa maneira, estarmos vigilantes é pormos todos esses na presença do Senhor em oração, para que suas condutas sejam canais livres de bênçãos para nós, não impedimentos. 

      “Vigiai, estai firmes na fé; portai-vos varonilmente, e fortalecei-vos.” 
I Coríntios 16:13 (versão tradicional)



19/11/22

Emoção, razão e equilíbrio

      “Porque Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação.II Timóteo 1.7

      Os gregos clássicos já faziam coisas semelhantes (“Teoria de Hipócrates”), mas se transformou em ciência moderna com Freud (“Teoria Psicanalítica”), o mapeamento dos humores humanos e da psiquê humana. Esta reflexão propõe só mais uma classificação, dividindo a consciência humana em três partes: emoção, razão e equilíbrio. Sem uma delas nos faltaria alguma coisa, somos completos com as três, ainda que muitas vezes uma parte tente dominar as outras e uma parte possa ter lados positivos e lados negativos. Como sempre digo, não sou profissional da área médica ou de outra, o que faço aqui são só reflexões leigas, que possam ajudar você de alguma forma. 
      A emoção, que quando potencializada podemos chamar de paixão, nos leva tanto a coisas belas, audaciosas, construtivas, como o amor, o estabelecimento de uma família, mesmo de tribos, cidades e nações, mas também leva a coisas terríveis, impulsivas e destrutivas, como guerras. Muitas vezes não fazemos extremismos porque pensamos antes, fazemos porque queremos e queremos porque nos dão prazer, e ódio é tão prazeroso quanto amor. Quem fácil ama, fácil odeia, mas quem nunca odeia, também nunca ama, e aqui me refiro ao amor apaixonado, característica do mundo físico, não ao santo amor espiritual. Certos os gregos antigos, que tinham várias palavras para amor
      A razão acha prazer em teorizar as coisas no tempo, assim, se damos lugar a ela pesamos muito antes de agir ou de falar. Seu lado positivo é que ela procura entender profundamente as coisas, assim é útil para estabelecer fórmulas, que uma vez definidas economizarão tempo, não haverá mais necessidade depois, de se pensar outra vez, basta usar a fórmula. A ciência funciona basicamente sobre a razão, ela não sabe ou quer porque gosta ou desgosta, mas porque é o racional a ser feito, que comprovadamente deu e dará certo. Em nossas cabeças o lado ruim disso é que nem tudo é explicável, sermos racionais demais pode nos amarrar, o ser humano é mais que fria razão.
      Mas talvez a parte que mais nos defina como seres eternos seja a que busca encontrar o equilíbrio entre a emoção e a razão. Se há necessidade de equilíbrio é porque não basta-nos ser só emocionais ou só racionais, por outro lado, só se adquire equilíbrio praticando-o, querer ser espiritual sem enfrentar o mundo material é inútil. Se emoção é característica mais instintiva, material e individual do homem, que ele precisa para sobreviver neste plano, se razão é característica intelectual, desenvolvida para dominar a natureza e sobreviver em sociedade, o equilíbrio melhor é virtude moral que conduz a uma comunhão espiritual com Deus, o Espírito criador de tudo.
      Podemos tentar achar equilíbrio tanto pela emoção quanto pela razão. Os que veneram a ciência, como a um deus, pensam que só pela razão se acha equilíbrio, mas esses negam a intuição, e resumem o homem quase que a uma máquina. Os materialistas pensam que acham equilíbrio priorizando aquilo que lhes dá prazer, mas esses se tornam selvagens hedonistas, ainda que polidos e sofisticados. Ambos desprezam uma área importante do ser, o espírito, é preciso humildade para permitir que o equilíbrio do espírito administre tanta a emoção quanto a razão. Mas mesmo os que conhecem valores espirituais podem ser equilibrados pelo ardor da paixão ou pela fria racionalidade.
      O texto bíblico inicial fala-nos algo sobre três áreas humanas, podemos ligar amor à área emocional, poder à racional, e moderação à espiritual? De certa forma. Amor não pode ser frio, implica em empatia e essa nos leva a chorar com quem chora e nos alegrarmos com quem está feliz, mas podemos ser traídos pelo coração. O ser humano tem dominado o mundo com a inteligência que cria armas e máquinas, vemos a razão, que não se importa com o fim de algo, entregando poder a certos homens. Mas se a emoção por sentir e a razão por poder podem ser parciais, entregarem direitos a alguns e não a outros, só a moderação acha o equilíbrio de um Deus que ama a todos.