04/04/23

Vaidade, a pior tentação

      “E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna? E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus.Mateus 19.16-17a

      O ponto desta reflexão não é a passagem do jovem que se achava um ótimo religioso, mas que tinha o coração preso à riqueza (Mateus 19.22), o ponto são as tentações que Jesus teve. De cara podemos dizer que foram duas, as iniciais, colocadas diretamente por satanás no deserto, no início de seu ministério (Mateus 4.1-11), e sua prisão, tortura e morte que seguiram a oração que ele fez no jardim de Getsêmani, onde nos parece que ele adquiriu a noção exata de como seria seu terrível fim (Mateus 26.36-46). 
      Ambas as tentações acima foram extremas, mas foram rápidas, penso que a grande tentação que Jesus sofreu por mais tempo, foi a do tipo que o jovem do texto bíblico inicial o submeteu, quando o chamou de bom mestre, nela foi tentada sua vaidade, talvez a área mais perigosa que o mal nos tente. Muitos pastores, pregadores e músicos começam certo, com humildade, sem fazer exigências, mas à medida que se tornam conhecidos podem cair na tentação de se acharem dignos demais. 
      Todos nós, que desempenhamos nossas chamadas e vocações de Deus, em Deus e para Deus, somos dignos, mas daquilo que Deus nos dá. Deus não dá nada que faça com que nos percamos, e a pior perdição não é no mundo, mas dentro de nós, quando tiramos o Senhor do trono de nossos corações e nos colocamos. Deus é exclusivo, o lugar que ele ocupa ninguém mais ocupa, e quando isso acontece o Senhor honra o humilde que o deixa reinar em seu trono com dignidade. 
      Contudo, quando nós assumimos o trono de nossos homens interiores, junto de nós, usurpadores ganham lugar e holofotes, são os homens manipuladores, gananciosos, assim como seres espirituais malignos, que usando uma carência mal resolvida em vaidade, nos usam e nos fazem usar as outras pessoas. Jesus resistiu à vaidade, e tenha certeza, o mal deve tê-lo tentado muito nisso, quando via os milagres, as curas e as libertações que Deus fazia por seu intermédio entre os homens.
      Muitos de nós clamamos que sejamos usados por Deus como Jesus foi, e muitas vezes usando textos bíblicos como álibis para isso (João 14.12). Contudo, será que estamos preparados para o day after, o que pode ocorrer depois de Deus nos usar, a reincidente veneração que os homens fazem aos milagreiros? Deus não dá asas a cobra, nem medo de água ao peixe, muitos de nós sucumbiríamos à vaidade, e depois nos acharíamos no direito de fazer exigências pelas maravilhas que fizemos. 
      Isso não é motivo para não sermos usados formidavelmente por Deus, mas com certeza é razão para sabermos o que Deus tem para nós, então, fazermos isso com humildade e muita vigilância. Por isso existem muitos homens e mulheres de Deus atualmente, mas muitos dos genuínos estão no anonimato, discretamente amando, servindo e orando, poucos sabem deles. Esses não são ricos, não por serem reconhecidos por igrejas, mas são cuidados especialmente por Deus, o céu os honrará. 

03/04/23

Na luz as trevas somem

      “Bom é ter esperança e aguardar em silêncio a salvação do Senhor.Lamentações 3.26

      Muitas acusações que recebemos dos homens, às vezes verbalizadas, outras vezes assopradas por espíritos malignos que acham legalidade na maldade alheia ou em nossa sensibilidade, não devem ser refutadas no mesmo nível. Bem, isso é o que aprendemos nas bem-aventuranças de Mateus capítulo cinco, podemos anular essas acusações reagindo certo, perdoando quem nos acusou, deixando claro para o mundo espiritual que a mentira não nos pertence. Contudo, às vezes a acusação deve ser acolhida, aceita de todo o coração, mas não para sermos torturados por ela, mas para anulá-la. 
      Alguém pode perguntar, “como assim, aceitar acusação mentirosa, sem reagir, em silêncio?”, isso mesmo. Fazer com que a acusação ecoe e nos atormente ou fazer com que ela desapareça, depende da qualidade de nosso homem interior, de nossa vida mais constante e profunda com Deus e suas virtudes. O humilde que acolhe a acusação, não a reterá mais que por um instante, trevas desaparecem sob a luz, mentiras não resistem à verdade. Assim, muitas acusações, aceite-as, não resista nem reaja, se o que você tem dentro de você for boa verdade, a mentira que entrou simplesmente sumirá. 
      Cuidado, o mal é ardiloso, muitas vezes estamos bem, andando próximos ao Senhor, em amor com as pessoas, cumprindo todas as nossas obrigações, então, o mal nos lança uma mentira que consegue nos desestabilizar. O mal não precisa da verdade, só de tempo e de espaço, assim, mesmo uma oração sincera para confrontá-lo e expulsá-lo, já é muito mais que ele merece. Se estamos em paz com Deus o mal não precisa mais que de nosso silêncio, mostrando a ele que temos mais o que fazer, que nosso templo interno não tem espaço para ele, que esse espaço já está ocupado com o Espírito Santo.

02/04/23

Nova Babel ou Espírito Santo? (2/2)

      “Em toda a terra havia apenas uma língua e uma só maneira de falar. Os homens partiram do Oriente, encontraram uma planície na terra de Sinar e habitaram ali. E disseram uns aos outros: — Venham, vamos fazer tijolos e queimá-los bem. Os tijolos lhes serviram de pedra, e o betume, de argamassa. Disseram: — Venham, vamos construir uma cidade e uma torre cujo topo chegue até os céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra. Então o Senhor desceu para ver a cidade e a torre, que os filhos dos homens estavam construindo. 
      E o Senhor disse: — Eis que o povo é um, e todos têm a mesma língua. Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo o que planejam fazer. Venham, vamos descer e confundir a língua que eles falam, para que um não entenda o que o outro está dizendo. Assim o Senhor os dispersou dali pela superfície da terra; e pararam de edificar a cidade. Por isso a cidade foi chamada de Babel, porque ali o Senhor confundiu a língua de toda a terra e dali o Senhor os dispersou por toda a superfície dela.” 
Gênesis 11.1-9

      Alguns estudiosos de ocultismo e magia dizem que a língua que se falava até a torre de Babel, era um idioma único vindo desde o Jardim do Éden, e era uma língua com capacidades mágicas. Esses estudiosos dizem que Deus, confundido os seres humanos em Babel, distribuindo idiomas diferentes aleatoriamente, teve a intenção de fazer com que essa língua mágica fosse perdida, para que o homem não a usasse mais, não banalmente por qualquer um. A Bíblia não nos oferece argumentos para essa tese, mas algo é claro, a união de homens maus é um perigo para a própria humanidade, assim, Deus quebrou essa união de um jeito prático e simples, impediu que eles tivessem facilidade de se comunicar. 
      Interpretarei a lição de Deus sobre isso, não pelo fato em si, mas pelo simbolismo por traz daquilo que Moisés registrou sobre a Torre de Babel, dessa forma não como um acontecimento ao pé da letra. Mas não se escandalize, quem crê num Gênesis ao pé da letra, ainda que seja isso, existe uma lição simbólica e atemporal nesses textos, assim como em toda a Bíblia, que nos revela coisas mais profundas. Entender ou não a Bíblia ao pé da letra, é só uma questão de em quanto tempo cremos que Deus fez algo, assim, que Deus confundiu os homens com línguas diferentes não tenho dúvida, mas se ele fez isso num dia ou em séculos, aí está a diferença, que para o propósito de Deus não faz diferença. 
      Se uma língua “espiritual” teve quer ser esquecida para que o ser humano não se afastasse mais de Deus, uma língua espiritual pode aproximar todos os homens do Senhor, a língua do Espírito Santo. Ah, quantos mistérios há nisso, se evangélicos entendessem, e mesmo muitos que se denominam pentecostais e carismáticos não entendem. Sentem os primeiros êxtases que a comunhão mais íntima com Deus traz a seus débeis corpos e param aí, querem os primeiros efeitos, não a causa primal em toda sua plenitude. Mas Deus é amor, atrai a todos sem acepção, cuida de todos sem preferências, ainda que muitos, beneficiados com seus dons, administrem o cristianismo no mundo de forma tão equivocada. 
      Por outro lado, se muitos negam o dom do Espírito de Deus, todos os maravilhosos ensinos que o Santo Espírito pode dar, toda a força moral que o conhecimento da palavra desse Espírito pode oferecer, muitos têm escancarado suas vidas para uma nova Babel, que tem reunido o mundo inteiro num só lugar, onde o ego humano é adorado e o nome Deus, no máximo, é usado, ou tentado ser. Essa nova Babel é a internet, as redes sociais, o comércio virtual, hoje as pessoas não são possuídas por espíritos malignos, mas por celulares. Entendam certo, não estou demonizando celular e internet, podem ser instrumentos do Espírito, mas para isso ocorrer talvez uma nova confusão de línguas deva ocorrer. 
      Os covardes se fortalecem quando se unem, mas o verdadeiro filho de Deus será invencível, ainda que sozinho, pois fala a língua do Espírito Santo, e essa é vida eterna. Esse falará, não será entendido por muitos, mas a todos entenderá, esse conhece os corações dos homens, discerne trevas de luz, mentiras da verdade, esse não ficará confuso no que muitos chamam de “final dos tempos”, pois esse sabe que não existe fim, não existe morte, só passagens, atraindo sempre o ser humano para Deus Altíssimo. Que língua você fala, com quem você se identifica, com Babel, promovendo fake news, negacionismo científico e vaidades na internet? Ou com Deus, falando a língua do Santíssimo Espírito? 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

01/04/23

Que língua você fala? (1/2)

      “E nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, a pessoa natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura. E ela não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém a pessoa espiritual julga todas as coisas, mas ela não é julgada por ninguém.” I Coríntios 2.12-15 
(amo essa passagem, perdoe-me por usá-la com frequência)

      “São 6.909 línguas diferentes faladas ao redor do mundo, segundo o compêndio Ethnologue, que cataloga os idiomas do nosso planeta desde 1950. Mas a maioria desses idiomas a gente quase não ouve: 6.520 línguas (cerca de 94% do total) estão na boca de apenas 6% dos habitantes da Terra, enquanto o restante da população mundial usa apenas 389 idiomas.” Fonte

      Não somos chamados para falar com todos, sermos entendidos por todos, não com respeito a certas visões de mundo e experiências espirituais. Alguns assuntos muito importantes para nós, somente alguns poderão ouvir, entender, crescer e nos fazer crescer. É como se houvesse um outro idioma, não ligado ao país ou região em que fomos criados neste mundo, nem à formação intelectual e profissional que recebemos, mas à visão e vivência morais e espirituais. Entendermos isso é sermos eficientes, felizes, assim como instrumentos de bênção para pessoas específicas, que podemos encontrar quando ouvimos a voz do Espírito Santo, obedecendo a chamada que Deus nos dá neste mundo. 
      Entenda corretamente o que foi dito, todos temos a obrigação, se não por amor cristão por educação social, de nos comunicarmos com todos, com respeito e objetividade. Isso é necessário não só no nosso crescimento como ser humano, visto que somos chamados para viver em sociedade, como para desempenharmos atividades profissionais, como prestadores de serviço, compradores, vendedores, consultores, empregados, patrões etc. A restrição a que me refiro tem a ver com preferências e percepções mais pessoais, como ideologia política e religião, nessas áreas uma pessoa não precisa pensar como a outra, assim como não deve achar que pode ou deve mudar o pensamento alheio. 
      Ainda assim uma tentativa, serena, educada, com amor, expondo-se, não impondo-se, pode ser feita para compartilhar determinado ponto de vista com quem sabe-se que tem ponto de vista diferente, mas nesse caso, surgindo uma oposição onde não se acha concordância, alguém deve encerrar a polêmica, podendo seguirem como amigos, ainda que com pontos de vista diferentes. O mais espiritual deve se calar primeiro, e de maneira alguma sentir-se melhor por isso, ainda que saiba que tem argumentos mais legítimos. O ideal é que todos sejam espirituais, e se há divergência que não acrescenta algo, alguém não é, espirituais são humildes e aprendem mesmo com as diferenças. 
      Por exemplo, católico tentar convencer evangélico que sua fé em santos é legítima e  não é idolatria, ou evangélico tentar convencer afro-espírita que as entidades com as quais esses se relacionam não são de Deus, são discussões inúteis. O melhor que pode ser feito, quando houver abertura e muitos de nós são amigos próximos de pessoas com religiões diferentes das nossas, é explicarmos nossa maneira de crer, com muita calma e amor, e depois ouvirmos, também com muita calma e amor, a maneira do outro crer, não fazendo juízo de valor, só constatando diferenças. O que pode convencer são nossas obras práticas de vida moral, santidade, amor e justiça, não as teorias e as doutrinas em que cremos.  
      A verdade, contudo, é uma, e agora chegamos no ponto desta reflexão: certas pessoas falam o nosso idioma e outras não. Me refiro a um “idioma” espiritual, moral, afetivo, assim, algumas pessoas, mesmo que tenham religiões diferentes das nossas, nos entenderão e nos ouvirão até que com facilidade. Outras, contudo, ainda que frequentem a mesma igreja que a gente, nunca entenderão de fato o que queremos em Deus e como entendemos espiritualidade. Irmão em Cristo, eis um termo que tenho muito cuidado em usar, já achei melhores irmãos espirituais fora de igrejas evangélicas que dentro, que são amigos para todas as horas, sem falso moralismo, preconceitos ou sob concessões. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

31/03/23

Enoque andou com Deus (4/4)

      “E foram todos os dias de Enoque trezentos e sessenta e cinco anos. E andou Enoque com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou.Gênesis 5.23-24

      Adão gerou a Sete que gerou a Enos que gerou a Cainã que gerou a Maalalel que gerou a Jerede que gerou a Enoque, assim, pela narrativa bíblica, Enoque é a sétima geração de homens na Terra, ou conforme pode ser mais lúcido entender, a sétima geração de homens “selecionados” a partir de Adão, o primeiro homem “selecionado”. Com “selecionado” não entendo que só houve esses homens, essas famílias, mas esses foram selecionados pela narrativa de Moisés como patriarcas da nação de Israel, do povo judeu atual. Enoque, nessa narrativa, gerou a Matusalém, esse a Lameque, esse a Noé e esse a Sem, do qual descendeu Abraão, portanto, Sem é o décimo primeiro homem “selecionado” pela narrativa em I Crônicas 1.1-4 (autoria atribuída a Esdras). 
      Para a Cabala, o esoterismo judaico, assim como para ocultismos e outras filosofias mágicas, essa genealogia e principalmente Enoque e sua experiência peculiar, têm muita importância. Há até um livro aliado a Enoque, com cópia mais antiga de 200 a.C. e considerado apócrifo pelo cristianismo, onde descrições precisas de seres espirituais, suas hierarquias e funções, são colocadas. Judas (1.14-15), livro do cânone bíblico oficial tanto da Bíblia católica quanto da protestante, cita claramente uma passagem do livro de Enoque, prova que esse livro era conhecido e aceito no primeiro século, mesmo por discípulos de Jesus. A religião oficial que Moisés parece começar a descrever com Enos, tem uma excessão em Enoque?
      Enoque andou com Deus e não apareceu mais, com certeza das passagens mais intrigantes da Bíblia, sobre ela não temos maiores explicações, mas podemos conjecturar. Não tem como não aliar isso a arrebatamento do Espírito Santo, experiência que pode-se ter ainda em vida, como teve Paulo (II Coríntios 12.2-4), ainda que no caso de Enoque ele foi e não voltou, assim, experiência mais semelhante com a de Elias, que desapareceu ainda vivo num carro de fogo (II Reis 2.11). Há citações fantásticas na Bíblia, que a rasa doutrina tradicional cristã não pode explicar, se muitos evangélicos quisessem, poderiam perguntar a Deus e conheceriam mistérios, que para eles são assuntos proibidos e mesmo diabólicos, quando não são. 
      Pode-se entender a narrativa de Moisés na Torá como exotérica, isso é, um texto primário e para o povo comum sobre a relação do ser humano com espiritualidade. Algumas coisas até são citadas, mas não aprofundadas, devem ter sido citadas porque já faziam parte da tradição oral, da mitologia israelita, eram de conhecimento popular. A narrativa esotérica, contudo, ficou para outros livros e outros leitores, que textos da Cabala estudam com mais aprofundamento. Sabe quem quer saber, contudo, quem escolhe não querer saber, não fica só com restrições de informações, mas limita também seu fortalecimento moral, assim como pode se tornar presa fácil de manipuladores religiosos, que dominam pelo medo do desconhecido. 
      Penso que o questionamento mais importante, e mais útil, não seja como Enoque sumiu, mas por que ele sumiu. Muitos se atêm a como e a o que ocorreu depois, fazendo uso de especulações, que apesar de poderem revelar mistérios sobre o mundo espiritual não oferecem aquilo de mais importante que Deus quer nos ensinar. É importante conhecermos mais o mundo espiritual? Eu creio que sim, mas o mais importante é termos virtudes morais, sermos mais santos, amarmos mais, sermos mais pacientes, não julgarmos nem termos preconceitos. Enoque foi tomado por Deus ainda em vida, sendo livrado de enfrentar a morte física, porque tinha virtudes morais elevadas, tinha entendido e cumprido sua missão no tempo e na Terra. 
      Muitos querem ser arrebatados no espírito para conhecerem mistérios, e muitos até conseguem isso, ainda que não pelo Espírito Santo. Contudo, poucos querem pagar o preço que Paulo, Elias e Enoque pagaram, com certeza vidas consagradas, humildes e fiéis. O importante é que Enoque andou com Deus, se ele não apareceu mais depois, ou não, se Deus o tomou para si em vida, ou não, isso é com Deus. Sou um ferrenho defensor de que quem quer saber, sabe, e tem direito a isso, ainda que as instituições religiosas digam que não, mas mais importante que isso é termos vidas práticas como a de Jesus. Isso será avaliado em nós na eternidade, e não sabermos nomes de anjos e mesmo termos mais ou menos dons espirituais. 

30/03/23

Origem de uma religião (3/4)

      “E tornou Adão a conhecer a sua mulher; e ela deu à luz um filho, e chamou o seu nome Sete; porque, disse ela, Deus me deu outro filho em lugar de Abel; porquanto Caim o matou. E a Sete também nasceu um filho; e chamou o seu nome Enos; então se começou a invocar o nome do Senhor.Gênesis 4.25-26

      A afirmação de Moisés no final do versículo vinte e seis do capítulo quatro de Gênesis é intrigante: se começou a invocar o nome do Senhor. Mas como assim, antes isso não era feito? A Bíblia não deixa claro o que significa essa informação, assim o que podemos fazer são suposições. Penso que com “invocar” o escritor se refere a uma busca de Deus de maneira mais formal, isso pode ser o registo do surgimento de uma religião, no sentido de se estabelecer um contato com o divino de forma institucional. Pelo time (leia como tempo em inglês) da narrativa bíblica, o período que se passou entre a criação do primeiro casal, o nascimento dos dois primeiros irmãos, o assassinato de Abel, o exílio de Caim, o nascimento de Sete e a vida de Enos, nos parece rápido e ininterrupto, uma pessoa sendo diretamente conectada a outra. 
      Se foi mesmo assim não podemos afirmar, na verdade, e aqui vai uma grande conjectura, nem sabemos se a “história” relatada nos quatro primeiros capítulos de Gênesis se refere à humanidade em todo o planeta Terra, ou apenas a um povo específico, o israelita ou judeu, em uma região no Golfo Pérsico. A favor dessa possibilidade podemos argumentar com a pergunta clássica: como o homem se multiplicou existindo só Caim, Abel e Sete? O mais sábio e para mim o que o Espírito Santo orienta, é entendermos que os personagens selecionados e relatados por Moisés têm o propósito de nos ensinar lições que para Deus são relevantes aprendermos, assim busquemos entender esse propósito divino, e não usar os textos de Gênesis como informações históricas e científicas. Isso não é pecado, meus caros evangélicos. 
      Existe um princípio no estudo científico da história, o texto muitas vezes pode revelar muito mais sobre o escritor e seu tempo, que sobre os fatos, os personagens e os tempos desses no texto. Gênesis pode nos dizer muito sobre Moisés, dito autor do livro, sobre suas relevâncias e propósitos ao ter escrito o livro, assim como boa parte do Pentateuco. Moisés construiu não só a religião e o estado de Israel antigo, quando libertou a nação do Egito e recebeu a Lei de Deus, como também estabeleceu a base cultural dos judeus, e fez isso de uma maneira moderna e eficiente, registrando em textos a criação de Adão e Eva, a seleção de Noé e seus filhos, a chamada de Abraão, até a transformação dos filhos de Jacó em famílias e finalmente numa nação. Se Moisés tinha propósito, Deus ainda mais com a visão de mundo de Moisés. 
     Por isso, ainda que levado como escravo, migrando de um país para outro, vivendo em várias regiões do mundo durante milênios, o povo judeu manteve, não só sua saúde física, visto que a Torá também dá orientações sobre higiene e saúde, mas também sua integridade cultural. Pode-se matar pessoas, mesmo milhões delas, mas não se extermina uma ideia, a “ideia Israel” está bem definida nos textos de Moisés e em outros textos israelitas. Podemos dizer, que mais até que Abraão ou Davi, Moisés é o criador do povo judeu, e é sobre essa cultura que o cristianismo de Jesus, Paulo e João evangelista, foi construído, dando origem depois ao catolicismo e ao protestantismo. Cristãos são muito mais membros de seitas judaicas que outra coisa, retire a história e a religião do povo judeu deles e não haverá cristianismo institucional. 
      Usei o termo institucional referindo-me ao cristianismo como religião desenvolvida neste mundo, já o verdadeiro cristianismo, que está no coração de Deus, no centro de sua vontade, dele podemos retirar muita coisa que não fará diferença. O que deve ficar? Jesus, sua vida e morte como homem e sua existência eterna como Deus. A Bíblia é maravilhosa, aprendo com ela todos os dias, mas como sempre digo, entendemos sua melhor relevância quando a lemos com inteligência científica e unção genuína do Espírito Santo, uma leitura assim nos direcionará a Cristo. Qual o objetivo de Moisés registrando a declaração “então se começou a invocar o nome do Senhor”? Informar a origem de sua religião, aquela que se concretizaria com as leis, os mandamentos e os protocolos de festas e sacrifícios e ofertas oferecidos num templo. 
      Algo precisa ser dito sobre religiões institucionalizadas neste mundo, elas só nascem quando a origem espiritual pura que veio do outro mundo morre. Até Sete o ser humano buscava a Deus? Sim, buscava, mas de uma maneira mais direta, informal, pura, vide a oferta aprovada por Deus de Abel. O homem ainda tinha viva, de alguma forma, o contato original com Deus que Adão e Eva fizeram, assim não precisava de rituais e regras. Quando o Espírito Santo esfria porque os homens se desviam em algum nível, é preciso criar ritos e liturgias para “encenar” (ritualizar) procedimentos que não podem mais ser exercidos de maneira mais viva e livre. O melhor exemplo disso é o catolicismo, ele não é uma evolução do cristianismo, mas uma seita que surgiu desse, uma visão de homens desviados de uma revelação espiritual direta de Deus, o verdadeiro Cristo. 

29/03/23

A ti cabe dominar teu desejo (2/4)

      “E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar. E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou.Gênesis 4.7b-8

      Pelo texto bíblico abaixo podemos ter a impressão que a vida de Caim e Abel era solitária, que não tinham muita gente para conviver, mas eu não creio que foi assim com Caim e Abel verdadeiros, e penso que houve uma história real na qual o mito foi estabelecido. Que seja, aprendamos a lição como Deus nos permite aprender pelo texto registrado por Moisés, se Caim só tivesse que conviver com Abel isso já seria suficiente para que o ponto de seu caráter que precisava ser tratado fosse confrontado. Ninguém se engane, se Deus quer tratar-nos achará um jeito, independente do ambiente externo, das pessoas com que vivemos, de nossa profissão ou de nosso nível financeiro, ninguém vem ao mundo de férias, sempre há propósito. 
      Há nisso uma lição, o tratamento mais pesado a que Deus nos submete é com aqueles que vivem próximos a nós, principalmente pais e irmãos. Deus insistiu em abrir os olhos de Caim, “se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar”, simples assim, e eis a luta de todos os seres humanos e de todos os tempos resumida, encarar tendências prejudiciais e vencê-las. Contudo, hoje parece que o mundo incentiva jovens a fazerem justamente o contrário, deixarem correr soltos desejos e impulsos. Por exemplo, se as mulheres querem andar expondo seus corpos, em qualquer hora e lugar, podem, se algo ruim ocorrer a culpa não é delas, mas de homens que não se controlaram. 
      Entendam-me certo, não sou falso moralista e muito menos sexista, não culpo mulheres, não digo que elas se vitimizam, por outro lado não inocento homens e muito menos os demonizo, com equilíbrio e bom senso pode haver liberdade para todos, respeito e boa moral que prioriza o espírito, não o corpo. Mas a orientação de Deus é clara, a ti cabe dominar teu desejo, aqui desejo são coisas ruins, ou inconvenientes que apesar de a princípio serem boas podem desencadear algo ruim. Tem gente tendo intenção boa e não sendo ativamente errada, mas fazendo isso no lugar errado, na hora errada e com pessoas erradas, o resultado é que algo dará errado, numa passividade irresponsável que o mundo chama de direito. 
      Voltemos a Caim e Abel, olhando a história pelo lado de Abel ele parece ter recebido uma injustiça, não tido oportunidade para se defender dela e simplesmente sido mandado para o outro mundo antes do tempo. Mas como sempre o ponto de vista de Deus é o que explica tudo com justiça, Abel cumpriu sua missão, sofrendo violência e traição? Sim, mas que importa, ele estava no centro da vontade de Deus e foi usado pelo Senhor, ainda que fosse só para trazer à tona a verdade sobre Caim, um mal que ele escondia bem. Sejamos sábios, só saberemos de fato nossa missão neste mundo na eternidade, e pode ser algo bem mais subjetivo que achamos que é, algo que homens não dão valor, que só Deus vê e dá um valor eterno. 
      Muitos se acham como perdedores porque não conhecem, e se conhecem não aceitam, suas missões principais no mundo, querem ser uma coisa, acham que isso é o mais importante, e como não conseguem ser, frustram-se. Muitos estão fazendo a vontade de Deus e não sabem, ou não aceitam que estão, Deus os usa e ainda assim não são felizes. Fazer o que se gosta e gostar do que se faz, diz o ditado. Caim queria ser Abel, por isso o invejava, mas não sabia que a missão de Abel era morrer por ele, a exemplo de Cristo. Se soubesse disso será que Caim invejaria o irmão? Quem não ama a ponto de morrer por alguém viverá ainda que matando alguém, não necessariamente matando a pessoa, mas assassinando sua reputação.
      Morremos por alguém quando dominamos nosso egoísmo, nossas vaidades, nosso desejo de prevalecer, de darmos a última palavra, de nos aparentarmos como superiores. Mas quem não se aceita não amará, não se sentirá satisfeito, invejará e será um assassino, ainda que só de reputações. Abel também devia ter desejos que devia dominar, todos temos, mas pelo que entendemos na Bíblia ele teve vitória, ainda que para o violento Caim tenha sido um fraco vencido por sua inveja. Não importa, Deus sabe quem somos, não se deixa enganar pela aparência, por isso aceitou o sacrifício de Abel e não aceitou o de Caim. Felizes os que ainda que tendo que morrer de algum jeito no mundo, terão vidas agradáveis ao Senhor na eternidade. 

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      “E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz a Caim, e disse: Alcancei do Senhor um homem. E deu à luz mais a seu irmão Abel; e Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da terra. E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante. 
      E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar. E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou. E disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; sou eu guardador do meu irmão? E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra.
Gênesis 4.1-10
 
Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão