21/05/23

Nem tradições, nem seitas (2/2)

      “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.” Gálatas 5.1

      “”Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado.” A frase, plenamente oportuna aos dias atuais, é parte do slogan do Partido, figura utilizada por George Orwell para representar o Estado totalitário em seu universo distópico, criado no fim da década de 1940. O futuro, simbolizado pelo ano 1984 – antes distante –, prevê uma sociedade completamente autômata, onde não existe livre arbítrio nem liberdade: os indivíduos são monitorados e controlados, literalmente, de forma absoluta e integral. Assim como a mídia, a cultura e a ciência, que servem de ferramentas para alimentar o poder de quem domina e a alienação de quem é dominado.“ Fonte

      Não é só no meio religioso que existe manipulação, também existe em partidos políticos, em torcidas organizadas de futebol e mesmo em carreiras militares. Carentes por fazerem parte de algo maior que eles, que lhes dê identidade e propósito, pagarão todos os preços para vestirem uniformes e serem mais um em fileiras sem individualidades, sendo só números e parte de uma coletividade impessoal. Toda igreja cristã, em graduações diferentes, pode manipular seres humanos, mesmo que nem seja esse o objetivo da igreja ou do líder. Insisto nisso, a eficácia da manipulação está antes no manipulável, não no manipulador, quem quer ser manipulado será escravizável mesmo num clube do livro ou em reunião para vender tupperware
      Há, contudo, algo abominável que pode ocorrer em seitas. Ao mesmo tempo que exigem moralidade extremada, podem ser liberais no sexo, usando o argumento de que isso é a vontade de Deus. Algumas seitas são verdadeiros grupos de swing e locais para trocas de casais, chegando mesmo a incentivarem sexo com menores. Se puder leia “Meninos de deus” (não ouso pôr Deus como nome próprio nesse caso), mas vá com estômago preparado, é das seitas mais horrorosas que já apareceram. Por mais deplorável que essa seita seja, não existiu porque obrigou pessoas a participarem dela, ainda que muitas crianças tenham sido levadas a ela pelos pais. Quando vemos coisas assim perdemos a fé na humanidade, mas Deus é mais. 
      Sob determinado ponto de vista, cristianismo é seita do judaísmo, catolicismo é seita do cristianismo, a maior das seitas, protestantismo é seita do catolicismo, pentecostalismo é seita do protestantismo. O termo seita aqui significa cisão, não necessariamente no pior sentido, como as seitas norte-americanas do século XX, mas usado para identificar seitas com algum grau de desvio da religião original. O cristianismo tradicional manipula as pessoas até hoje, controlando a interpretação do passado. Quem controla o passado, controla o futuro, e no caso do conservadorismo cristão, mantém interpretações da Bíblia ao pé da letra e fora de contexto, para impedir que os homens vivam aquilo que Deus tem para eles no futuro. 
      O apelo da tradição é vender algo como melhor por ter resistido ao tempo, por ter conservado qualidade por séculos desde a origem. Se queremos ser tradicionais sejamos com Jesus homem e Jesus Deus, quem tiver fé, humildade e santidade buscará a Deus e entenderá porque Jesus é especial, porque seu exemplo de vida no mundo, assim como sua posição espiritual hoje, são eternos. Mas o que os homens entenderam e mantiveram de Jesus, construindo religiões e as usando para seus benefícios egoístas e materialistas, pode ser antigo, guardado em enormes catedrais e sob dogmas extremos, mas não é uma tradição que agrada a Deus, ainda que o Senhor possa usá-la para abençoar quem não tem outro meio de conhecê-lo. 
      Tradição cristã e o verdadeiro cristianismo não combinam. Tradição se valoriza por manter algo velho e intacto, já a palavra que o Cristo entregou, pode ser antiga no mundo, mas nunca fica velha, é vivificada em nossos espíritos pelo Espírito Santo. Faz-se uso de tradição quando a palavra pura morre, assim cria-se ritos e liturgias para encenarem algo que foi vivo e não é mais. Jesus não precisa de tradição, nem de ritos, nem de liturgias, ele é palavra viva no coração dos homens que dão liberdade para o Espírito de Deus agir. Assim, não sejamos enganados, nem por seitas novas, nem por velhas tradições, façamos parte de religiões e igrejas, mas ouvindo antes a voz do Espírito Santo, que sempre nos conduz para a liberdade de Deus. 
      Cuidado, muitas vezes começamos certo, mas como na parábola do semeador (Mateus 13.3-23), acabamos nos desviando da pureza e da singeleza do evangelho do Cristo, isso dentro de igrejas. O segredo é sempre verificarmos teoria e prática, o que escutamos como sendo vontade de Deus e o que conseguimos viver. Se não estivermos vivendo e não por não querermos agradar a Deus, e todo aquele que avalia seu coração sabe se não vive porque não quer ou porque não consegue, pode ser que estejamos tentando viver o cristianismo de homens, não de Deus. Uma coisa é certa, o humilde e crente sempre acha forças para seguir os passos de Jesus, ser santo, amoroso, colher bons frutos que permanecem e segurar no coração a paz maior. 

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a 1ª parte desta reflexão

20/05/23

Manipuláveis seres que somos (1/2)

      “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.João 8.32

      Seitas extremistas do cristianismo sempre me chamam a atenção, ainda que se dizendo pregadoras de leis morais bíblicas, não levam-nos a saber mais sobre Deus, nem sobre homens maus que chegam à insanidade para manipularem outros homens e os usarem, seja para terem bens no mundo, mas muito mais para serem adorados como deuses, o que é muito pior. Seitas nos mostram o quanto nós, eu, você e tantos outros, somos manipuláveis, seitas não são sobre líderes, muito menos sobre Deus, são sobre nós. Usar religião como sistema totalitário de controle do pensamento, creio ser o mais requintado e talvez mais eficiente meio de desviar o ser humano de Deus, pois utiliza o próprio nome de Deus para isso. 
      A necessidade de proteção, consolo e salvação que temos e que só Deus pode satisfazer, não some quando nos colocamos como ateus ou materialistas. Quem não admite uma potência espiritual que criou e mantém tudo, colocará esse papel no acaso ou na ciência, e essa, por mais que seja a ferramenta legítima para entendermos o plano físico, não pode explicar, ao menos até o momento, o plano espiritual. Assim a sede de nosso espírito por Deus está implícita nele, contudo, como saciar essa sede é escolha nossa. Uma grande necessidade só é saciada com uma grande dádiva, nossos egos, todavia, podem ser enganados sobre o que é essa grande dádiva, principalmente se a necessidade é conhecer um Deus imensurável.
      Mas será que o alimento deve ser grande ou é nossa fome, obsessiva e descontrolada, que acha que só algo grande pode alimentá-la? A verdadeira espiritualidade nos conduz a consumir pouco e nos sentirmos satisfeitos com isso, ensina que podemos ser ricos, não por termos muito, mas por termos poucas necessidades a satisfazer. Mas quem acha relevância em seitas não tem essa espiritualidade, se tivesse não seria enganado, e as seitas vendem exatamente os produtos que homens enganados procuram para comprar, produtos exagerados que saciarão suas necessidades malucas. Se, por exemplo, Deus pede fé, a seita venderá a necessidade de uma fé maior que a que Deus pede. Seitas sempre trabalham com extremos. 
      A seita não compartilha o Deus verdadeiro, mas um super-deus, que responde não ao humilde, mas ao rebelde que quer algo que vá além de Deus. Quem acha que basta uma grande fé para obter algo de Deus e passa anos numa igreja sem receber o que pede, sairá dessa igreja e buscará outra, não que lhe ensine a verdade, equilibrada e genuína, mas uma igreja que venda o produto que ele quer. Nesse exemplo a pessoa insistirá na fé, e fará qualquer sacrifício que a igreja pedir para receber o que pede pela sua fé. O rebelde se recusa a aceitar que não basta fé, mas aprovação de Deus para o que pedimos, Deus só aprova quando o que pedimos nos conduz ao centro de sua vontade, nesse lugar sempre há paz, santidade e amor. 
      Mas como dar acesso à livre atuação do Espírito Santo, a única experiência que pode dar ao ser humano capacidade para pôr em prática a vontade de Deus, se a seita nega o verdadeiro Deus? Sem o Espírito Santo e tendo que fazer obras maiores que Deus pede, fazer sacrifícios inúteis e devastadores, o ser humano cai numa armadilha terrível quando se deixa encarcerar por seitas. Ele não consegue viver o que lhe é exigido e ainda é convencido que será gravemente punido e pelo próprio Deus por não viver da maneira como lhe dizem que Deus quer que ele viva. Isso é tão sério, faz uma lavagem cerebral tão danosa na cabeça da pessoa, que só tempo e sofrimento farão que ela se liberte e aceite que Deus não escraviza, mas liberta. 
      O poder da manipulação não está no manipulador, mas em pessoas fracas que se tornam manipuláveis. Quem tem uma criação familiar equilibrada, com valores morais, mas sem preconceitos nem legalismos, que aprende que precisa ter vida correta, mas que tem direito de errar e sempre tem novas oportunidades em amor para acertar, não cai em armadilha de seitas. Quem procura pastor extremista e carismático geralmente não teve bons pais, assim transfere para um líder religioso, e para a estética do divino que esse vende, a figura paternal que pode protegê-lo e orientá-lo. Quanto mais a pessoa for obsessiva e exigir de si mesma, mais fácil será presa de líderes extremistas que vendo a fragilidade da pessoa a manipula.
      O mal é sujo, manipuladores usam versículos para manipularem, ainda assim o texto bíblico inicial é adequado a esta reflexão. Quem não prova de fato uma libertação de Jesus, quem não recebe a iluminação da luz mais alta de Deus, quem não se expõe à verdade do Senhor e entende a verdade sobre a existência e sobre o universo, poderá ser manipulável. O propósito do manipulador é um, possuir escravos. Deus não faz escravos, mas atrai filhos para a posição espiritual que ele está para serem seus amigos. Se de alguma maneira você não está conseguindo viver o que uma igreja exige, pare e reavalie tua religião, às vezes é melhor se perder da religião para se achar em Deus, que ser escravo de religião e nunca ser livre em Deus. 

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a 2ª parte desta reflexão

19/05/23

Não há novo, só antigo mal entendido

      “Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.João 16.13-14

      No evangelho não existe algo novo, revolucionário, diferente, só algo antigo que as pessoas não têm visto até então. Essa afirmação não é minha, quem a usou, ainda que muito bem intencionado, usou para realçar uma interpretação tradicional e velha da Bíblia. Mas ela é pertinente, muito mais que quem a usou achou, para dizer que o que as pessoas não viram e muitos, inclusive o que usou a frase originalmente, ainda não veem, mesmo que soe como novo, revolucionário, diferente no evangelho, sempre esteve contido nas palavras que Jesus disse no século I. 
      Seitas e outras religiões que contemplam em alguma instância o evangelho, desde seitas com boas intenções, passando pelas mal intencionadas e chegando a religiões que consideram doutrinas bem diferentes às do evangelho conservador, acham na Bíblia argumentos os mais exdrúxulos possíveis, ou os mais profundos, para apoiarem suas doutrinas. Dizer que algo é heresia ou desvio porque não está na Bíblia, não é argumento tão eficiente como muitos acham. Quem quer pode achar na Bíblia o que desejar e dizer que tem apoio de Deus para o que crê. 
      Para os que acham que a Bíblia deve seguir com entendimentos superficiais, que isso é evangelho genuíno e que novidades são heresias, só podemos fazer uma pergunta: o homem do século XXI é o mesmo do século I? Não, então, o evangelho deve ser aprofundado. A isso pode-se contra-argumentar: ainda que o homem mude, Deus não muda. Sim, isso é verdade, mas não é Deus quem deve mudar, mas o que o ser humano pode saber dele. Contudo, mesmo assim o principal do evangelho não muda e não precisa mudar, vale para homens de todos os séculos. 
      É sobre isso que falamos aqui, sobre o principal do evangelho, esse não é para onde as pessoas irão se não entenderem a palavra do Cristo, mas como podem ir para o melhor lugar. Como podem ir? Crendo em Jesus como mediador exclusivo e mais alto, sim, mas isso é só o início, depois temos que trabalhar, praticarmos obras em amor para servirmos o outro. Servir o outro não é só pregar o evangelho, adicionar membros às igrejas, mas é ajudar mesmo quem não entende ou não quer o evangelho, isso nunca vai mudar, isso estava nas palavras do Cristo homem. 
      O antigo que Jesus ensinou, mas muitos não entendem até hoje, é que Deus ama toda a humanidade. Mas evangélico, seja sábio, principalmente se julga outras religiões sem nunca ter se dado ao trabalho de conhecer profundamente sobre elas. Muitos evangélicos fazem com espíritas, esotéricos e mesmo com católicos, o que outros fazem com eles, condenam pelos maus exemplos, sem verem que há homens de bem em todas as religiões e mesmo fora delas. Quem acha, por exemplo, que espírita kardecista não encontra base bíblica para suas crenças, engana-se. 
      Encontra, não só aprofundando-se na prática do amor que cristãos conservadores limitam, como achando aprovação para doutrinas como penas espirituais, diabo, demônios e anjos não eternos, assim como para comunicação com o mundo espiritual com espíritos de luz, não restringindo-se ao Espírito Santo e a espíritos das trevas. O kardecismo se vê como continuação da velha aliança israelita e da nova aliança do Cristo, para ele os conhecimentos e experiências com o mundo espiritual é cumprimento da promessa de Jesus citada, por exemplo, no texto bíblico inicial. 
      Evangélicos, sigam na fé que os trouxe até aqui em vitória e em paz, se não sentirem com clareza que Deus pode lhes mostrar algo que até então não viram no evangelho, não se abalem. Mas entendam, a coisa não é tão simples, tão branco e preto, como muitos acham. Condenar ao inferno, dizer que é do diabo, não aceitar porque não está na Bíblia, não são verdades absolutas assim. Repetindo, podemos achar aprovação de Deus para um monte de coisas na Bíblia, e nem precisamos distorcer de forma exagerada o que está nela, basta-nos um pouco de fé e mente aberta. 
      Melhor não saber, que saber e não viver. Muitos são ousados, batem na porta dos mistérios, conseguem os segredos das trancas, mas depois se perdem na iluminação que acharam. Queriam saber, mas só para a própria vaidade, ou pior, para terem controle sobre o mundo espiritual e usá-lo em seus benefícios egoístas. Como já dissemos, um cristianismo, mesmo corrompido e raso, permanece por séculos no mundo, usado por Deus para abençoar a humanidade, porque mantém o mínimo e principal, Jesus, que sempre fortalece o que quer viver como ele viveu, ainda que pouco saiba. 
      Vou aproveitar a oportunidade para deixar algo claro. Engana-se quem acha que aqui negamos o catolicismo, engana-se também quem acha que negamos o protestantismo, as igrejas evangélicas, as pentecostais e outra seitas. Engana-se também quem pensa que defendemos qualquer espécie de esoterismo, ocultismo e mesmo de espiritismos. Tentamos alertar a todos do perigo que é ser manipulado por homens, seja na religião que for ou fora dela, que religião contém Deus, mas não é Deus. Busquemos ao Deus verdadeiro, com fé, santidade e em amor. 

18/05/23

É interessante porque não sabemos

      “Quando aumentam as palavras, aumenta a vaidade. Qual o proveito que se tem disso? Pois quem sabe o que é bom para uma pessoa durante os poucos dias da sua vida de vaidade, os quais ela gasta como sombra? Quem poderá lhe dizer o que vai acontecer debaixo do sol depois que ela morrer?Eclesiastes 6.11-12 

      Se adquirirmos conhecimento é o que nos liberta do medo do desconhecido, é justamente por não sabermos o que de fato a vida nos reserva no futuro, que viver ganha seu maior significado. Muitos, contudo, ainda que tenham o suficiente para vidas confortáveis, e às vezes até luxuosas, amedrontados diante da aventura de viver, pedem a morte. Ingratos, não percebem que outros, que são maioria no mundo, têm pouco, trabalham demais, sofrem bastante, mas acordam a cada manhã, não com o Sol na cara, muitos despertam com a Lua para ganharem o pão, mas com a luz de Deus na alma, felizes por mais um dia. 
      Que valor damos à vida? Muitos são ativos, mas por dentro estão deprimidos, querendo sair de cena antes da hora. Muitos pensam, “já fiz a minha parte, agora quero desfrutar mais”, mas outros pensam assim, “já desfrutei tudo que podia, a vida perdeu a graça para mim”. Interessante que os que mais pensam em morte são os que têm medo da vida, mas esses são os menos preparados para morrer. A chama espiritual nunca se apaga, sempre seremos incentivados a nos aventurarmos na vida, mas se essa chama parece mais fraca com o tempo, é só para nos desligarmos da matéria e deixarmos a chama brilhar com mais plenitude.
      Se quando somos jovens a chama parece mais forte, é porque está disputando lugar com as paixões e os prazeres do corpo, esses também têm suas luminosidades. Mas chamas artificiais são sempre passageiras, um dia se apagam, e quem estiver importando-se demais com elas poderá achar que já pode morrer, isso não é verdade. A chama espiritual nunca se apaga, os que a priorizarem acharão forças para seguirem se aventurando no mundo, no desconhecido, nas surpresas, só que agora, não para serem importantes para homens e terem riquezas materiais, mas para conquistarem, e com mais foco, valores espirituais eternos. 
      Se saber é ter controle sobre a matéria, pelos conhecimentos e posses que nos permitem irmos e virmos, comprarmos e vendermos, não saber na área espiritual é se aventurar em Deus. O Altíssimo é eterno desconhecido, se deixa ver, mas sempre nos chama para ver além, sabermos de algo que ainda não sabemos e que é muito melhor que o que já sabemos até então. Isso é viver, sabermos que nada sabemos, e continuarmos querendo saber. Se não sabermos na matéria é entrarmos em zonas escuras, não sabermos no espírito é vislumbrarmos áreas ainda mais claras, que pedem de nós mais santidade e fé para nos deixarem entrar. 
      Sombras espirituais podem estar mais dentro de igrejas que no mundo, quem aprende a voar quer ir sempre mais alto, religião ensina a voar, mas engaiola. Se conhecimento material, mesmo limitado, dá poderes no mundo, conhecimento espiritual restringido sufoca, pois o que sabemos nessa área nunca é suficiente, não por sermos insaciáveis, mas por Deus ser imensurável em virtudes e potências. Um camponês pode ser tão feliz quanto um banqueiro, ambos sabem o que precisam para serem felizes em seus lugares. Mas quem não persiste conhecendo a Deus morrerá de sede com os pés na beirada de um riacho.
      Quem adormece em certezas, acordará morto, cercado de vampiros que sugaram seu sangue enquanto dormia. No mundo não temos tempo a perder, não podemos dormir, nem em bancos de igrejas, descansarmos, sim, em Deus, mas sem nos acomodarmos com o que homens dizem serem os limites. Devemos ter algumas certezas, que Deus nos ama, nos perdoa e nos oferece sempre outras chances para melhorarmos trabalhando, mas essas certezas devem ser bases, mantidas e prontas a receberem os alicerces do templo espiritual eterno. Duvide de tuas certezas, tenha certeza de tuas dúvidas, prossiga para o alto. 

17/05/23

Não tema, conheça (2/2)

      “Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; e eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.” Mateus 16.15-19

      Medo é ver algo como irreversível, impossível, imponderável. Situação que não pode ser mudada, por mais que queiramos e precisemos, pode nos angustiar a ponto de causar sérias doenças emocionais. Mas em muitas situações fé pode bastar para nos curar. Sem ver e sem saber podemos simplesmente entregar algo nas mãos de um Deus sem início e sem fiz, em todas as virtudes da luz e potências do bem, e confiarmos que ele pode mudar algo, ainda que não saibamos como, onde e quando. Se usamos tal fé para achar esperança em tantas questões do nosso dia a dia, por que não podemos usá-la para saber mais sobre mistérios espirituais, que a religião só responde com coisas irreversíveis, impossíveis e imponderáveis? 
      Irreversível, impossível e imponderável só nossa incredulidade e orgulho podem tornar algo assim, para Deus isso não existe. Deus pode reverter tudo, tornar possível tudo, avaliar e definir tudo, assim sabe de tudo e pode compartilhar isso com o que quer e está preparado. Confesso que sou um ser humano com um medo intrínseco, desde pequeno sou assim, mas o escape que Deus me dá é estar aberto para tudo, para mudar de opinião e crer. Penso que a pessoa que pode saber, Deus a encaminha de um jeito na vida, que ela não terá outra escolha, se não saber, ainda que tenha que superar um medo terrível. Fazemos isso levando algo à presença de Deus e pedindo para ultrapassar um limite, ainda que isso a princípio nos aterrorize demais. 
      Entendamos certo, não estou dizendo que devemos fazer algo errado, que nos causa medo e ainda acharmos que Deus aprova isso, como pedirmos para “ficar” com alguém que tem compromisso com outra pessoa só porque estamos apaixonados. Falo de conhecimentos espirituais, que sabemos que podem nos esclarecer sobre coisas que a religião responde, mas não nos convence. Contudo, para sabermos de coisas assim, o primeiro medo que temos que vencer é aquele que a própria religião inventa para ser muro para o que ela não quer que saibamos. Deus não coloca muros, a não ser para aquilo que nos prejudica moral e fisicamente, ele põe portas, portas, ainda que com trancas com segredos, podem ser abertas. 
      Tem gente que tem medo do diabo, outras temem o inferno. Muitos não sentem paz, ainda que não admitam a ninguém, quando ouvem pastores pregando que o inferno é eterno. Outros sentem que mesmo sendo bons cristãos e assíduos em cultos, não têm certeza se irão ou não para o céu. Outros, contudo, não têm medo de saber e sabem, por outros “espíritos”, não pelo Espírito Santo, esses têm conhecimento, mas para a própria perdição. Sobre o mundo espiritual podemos ter informações e acessos se buscarmos a Deus com fé, portas se abrem, trancas com segredos são destravadas, e todo o medo se vai. Quem conhece não tem medo, ainda que no plano espiritual tenhamos antes que crer para depois conhecer. 
      O texto bíblico inicial contém um tema que se tornou polêmico quando homens quiseram achar na Bíblia álibi para estabelecerem propósitos gananciosos no mundo. Jesus se refere a Pedro, que teve um papel importante, fez a pregação inaugural do evangelho após a descida do Espírito Santo à Terra. Ainda que protestantes tendam a interpretar as palavras de Jesus como referindo-se a ele mesmo, não a Pedro, Jesus pode ter dito que Pedro seria um fundamento da Igreja, contudo, todos nós também podemos ser. Pelos fatos históricos disponíveis em livros de história, sobre a Igreja Católica e tantos papas, é impossível afirmarmos que essa igreja e seus líderes sejam representantes exclusivos e plenos de Deus no mundo. 
      Mas o ponto desta reflexão não é discutir legitimidade de papa, o ponto está em “as portas do inferno não prevalecerão contra ela, e eu te darei as chaves do reino dos céus e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”. Jesus com certeza não se referiu a uma igreja e a um líder, esses nunca possuíram o poder que o texto cita. Mas Jesus também não se referiu a nenhuma outra igreja ou denominação cristã, ele referiu-se à nova vocação que seu ministério trouxe à humanidade, à nova aliança do evangelho, Jesus homem e Jesus Deus. Como Deus, Jesus é porta única e mais alta para Deus, como homem, é exemplo de como podemos viver no mundo ligados a Deus.
      Qual a relevância do texto bíblico inicial para esta reflexão sobre medo? Que não existe mal, diabo ou inferno irreversível, impossível e imponderável. As portas do inferno não prevalecerão contra a igreja, contra a nova e eterna vocação que Deus deu ao ser humano por meio de Jesus, assim os homens não estarão presos para sempre, por mais que tenham errado, numa região espiritual de sofrimento sem fim. O que Pedro começou, Paulo fundamentou e todos nós podemos provar pelo nome de Jesus e pelo Santo Espírito, é salvação eterna, não condenação eterna. Se é assim não há razão de temermos o mal, o diabo ou o inferno, o que liberta as pessoas do medo do desconhecido espiritual é ter esse conhecimento.

      “Mas, à quarta vigília da noite, dirigiu-se Jesus para eles, andando por cima do mar. E os discípulos, vendo-o andando sobre o mar, assustaram-se, dizendo: É um fantasma. E gritaram com medo. Jesus, porém, lhes falou logo, dizendo: Tende bom ânimo, sou eu, não temais.Mateus 14.25-27

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

16/05/23

Não há medo em Deus (1/2)

      “Não terás medo do terror de noite nem da seta que voa de dia, nem da peste que anda na escuridão, nem da mortandade que assola ao meio-dia. Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti.Salmos 91.5-7

      Muitas coisas muitos não sabem, em áreas variadas, material, emocional, espiritual, e por não terem conhecimento têm medo. A primeira coisa que temos que saber é que muitas coisas não sabemos porque não queremos saber, ainda que a aquisição do conhecimento sobre certas coisas exija de nós esforços e tempo que podemos não dispor com facilidade. Ainda assim, com boa vontade e paciência, grande parte das pessoas pode conhecer muitas coisas, ainda que umas demorem mais tempo que outras. O conhecimento intelectual, que implica diretamente na qualidade de nossa profissão e respectiva melhor remuneração, pode ser alcançado com estudo, mesmo que numa faculdade que exija menos esforço que outras.
      O conhecimento emocional também pode ser adquirido, também com orientação científica e com honesta e humilde autoavaliação, que deseja saber para ser melhor, para si e para os outros. Esse conhecimento está diretamente ligado à qualidade moral que desejamos ter. Buscarmos limpeza do corpo e da alma, amando as pessoas, dá-nos clareza mental para nos enxergarmos como somos, os outros, e melhorarmos, entendendo que felicidade real e que permanece só acontece com valores morais. Mas tanto conhecimento material quanto conhecimento emocional, só podem ser plenos quando temos conhecimento espiritual, esse por sua vez só alcançamos quando temos uma conexão profunda com o verdadeiro Deus. 
      A teologia tradicional cristã dá informações sobre o mundo espiritual, contudo, colocando em extremo o mal, mais confundi que explica. A doutrina cristã diz, o diabo é o responsável pelo mal, os maus serão condenados a uma danação eterna no plano espiritual, não temos acesso ao mundo espiritual, só a Deus pai, Deus filho e Deus espírito, só Cristo salva. Essas afirmações é tudo que a teologia tradicional cristã oferece para muitos mistérios, assim, para serem amparados pelas igrejas, cristãos devem se conformar com elas. Mas será que na prática elas bastam? Cristãos sentem-se satisfeitos com elas, de maneira a não terem medo do desconhecido? O problema dessas afirmações é que deixam mais coisas em trevas que na luz. 
       Não podemos conhecer música erudita se nosso rádio estiver sintonizado o tempo todo em estação de rock and roll. O mundo espiritual conhece-se sintonizando-se nele, mas isso não é tão restrito como muitos evangélicos acham. O máximo que muitos sabem é: pessoas de religiões satanistas conectam-se com demônios, crentes conectam-se pelo Espírito Santo. Mas será que é só isso? Na verdade é isso, ainda que haja termos melhores que esses. Ocorre que assim como espíritos malignos possuem níveis, influências e conhecimentos diferentes, o Espírito Santo revela coisas diferentes para pessoas com níveis diferentes. Jesus como meio mais elevado para Deus é verdade maior e mais útil, mas existem outras nuanças. 
      Considere esta reflexão como conjecturas, e não é pecado fazê-las, você não precisa aceitá-las, mas penso que deve considerá-las, depois orar com convicção a Deus, pedindo que se você estiver errado em alguma crença que ele te mostre isso de forma clara. Medo no mundo espiritual não é só um sistema de alerta contra mentiras, é também uma porta espessa de ferro, com uma tranca cheia de segredos, para verdades espirituais, que obviamente poderão ser perigos para o que não está preparado para elas. O povo judeu assim como os primeiros cristãos e depois os católicos, sabiam disso, assim usaram um regra única: coisas que a maioria das pessoa não pode saber, devem ser protegidas com dogmas extremos. 
      Não devemos temer o desconhecido porque na verdade o único desconhecido que existe é aquele que escolhemos não conhecer, assim, quem cria o que nos causa medo somos nós mesmos. Mas pode-se dizer: eu não sei porque a religião diz que eu não devo saber, a responsabilidade é da religião, não minha. Não, isso não é verdade, você escolhe obedecer a religião. Mas pode-se responder: mas a religião é de Deus, é Deus que diz que eu não posso saber. Não, não é verdade, Deus pode usar a religião, mas a religião não é Deus, Deus é muito maior que a religião. A responsabilidade é sempre pessoal, por errar e por acertar, por saber e por não saber, por se deixar ser enganado, e para dizer não ao medo e conhecer a verdade.
      Se na infância humana fez, hoje o medo não faz parte do plano de Deus para a humanidade. Deus não precisa usar em nenhuma circunstância medo para nos restringir ou nos aperfeiçoar. Não há medo em Deus, não há trevas, mentiras, nem qualquer espécie de violência. Medos podem ser vencidos se nos dermos ao trabalho de saber mais. Medo de ficarmos doentes, a ciência pode nos ajudar a resolver, de ficarmos desempregados, mais estudo pode nos habilitar para acharmos mais oportunidades de emprego. Medo de ficarmos deprimidos, mesmo loucos, amor verdadeiro e médicos adequados podem nos auxiliar. Mas medo do desconhecido espiritual depende de nós, em fé, santidade e humildade, vencermos em Deus. 

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a 2ª parte desta reflexão

15/05/23

O ser humano

      “Por que se concede luz ao miserável e vida aos de coração amargurado, que esperam a morte, e ela não vem, que cavam em procura dela mais do que tesouros ocultos, que se alegrariam por um túmulo e exultariam se achassem a sepultura? Por que se concede luz ao homem cujo caminho é oculto, e a quem Deus cercou de todos os lados?Jó 3.20-23

      Ah, o ser humano, quão maravilhoso é. Quantos mundos cabem dentro dele, que universo infinito de sonhos e pesadelos, dores e alegrias sustenta. Quem pode dizer onde sua imaginação, sua paixão, sua curiosidade podem levá-lo? Falar do homem não é ser menor, egoísta, carnal, é falar de Deus, ser espiritual, é glorificar o supremo criador por sua obra prima. Pobres dos religiosos, que prendem ao invés libertarem, que deixam vagar num pequeno quarto o ser humano que foi feito para voar, elevar-se às maiores alturas, transcender a Terra, conquistar o paraíso. A morte, temida e necessária, que não finda, mas eterniza, revela ao ser humano sua maior vocação, que ele conhece por fé antes da morte chegar. 
     A imaginação, eis uma ferramenta poderosa que o todo-poderoso entrega ao homem, não é só instrumento de criação de vãs e fantasiosas imagens mentais, de poesia e música que descobrem que o plano físico é só metáfora do plano espiritual, que vislumbra o paraíso ainda neste mundo. Imaginar é separar as espessas cortinas da matéria, de veludo pesado e negro azul, e enxergar o mundo dos espíritos, todos atraídos por feixes da luz mais alta emanada do Altíssimo. Quem imagina liberta-se, acha-se, voa, e se insistir, se deixar e se tornar leve como criança, será arrebatado por aquele que nada faz sem propósito, por acaso ou por algum capricho pessoal, mas com amor, para ter perto, ensinar e cuidar.
      Engana-se quem mata a imaginação, quem a vê como ferramenta de liberalidades, da perdição, que enxerga só o corpo e tenta subjugar esse à moral divina. Nisso há morte, não vida, e morte do espírito, mas o desejo de libertar-se está implícito na essência humana, é uma ideia imortal, e ideias não podem ser mortas. Sofre o espírito neste mundo, seu único consolo é fazer arte e buscar o divino, nisso voa, ainda que preso ao corpo por um fino mas resistente fio de prata. Sofre o espírito, se teimar em quebrar esse fio antes do tempo, mas acha paz se respeitar os limites do voo, assim, ainda que preso, manter-se, durante o sonho do sono, quando ora e quando faz arte, à alguma distância do cárcere do corpo material. 
      Por que alguns textos bíblicos nos tocam mais que outros? Porque não são só leis morais, mas obras de arte. Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, as parábolas de Jesus, são textos espirituais, mas são arte. Toda arte é espiritual, ainda que não leve o ser humano à sala do trono de Deus, vasculha os escuros quartos da alma humana. O texto bíblico inicial é artístico, Jó amaldiçoa seu nascimento, sua vida, reclama com Deus, não vê sentido no sofrimento, mas ele estava em meio a um processo de autoconhecimento, assim como  do conhecimento de Deus. Esses conhecimentos estão diretamente relacionados, quem se conhece, conhece a Deus, quem conhece a Deus, se conhece. “Na tua luz veremos a luz” (Salmos 36.9b). 
      Por que se concede luz ao homem cujo caminho é oculto? Jó se refere à luz do mundo, ainda que o homem desfrute dela, não enxerga de fato seu caminho, de onde veio, para onde vai. Mas a interpretação pessimista da vida que Jó teve, pode ser mudada quando o ser humano descobre a luz espiritual, que leva-o a mais que à prosperidade material e aos prazeres físicos. O segredo da vida eterna só nosso espírito pode descobrir, esse encontra consolo quando liberta-se espiritualmente. Esperar tal iluminação do ser humano do antigo testamento, que via a vida só neste mundo, é exigir demais, olhemos para Jesus, esse sofreu mais que Jó e não teve direitos devolvidos aqui como Jó teve, eis o exemplo a seguirmos.