Sabedoria no tempo certo

      “A Sabedoria grita nas ruas; nas praças, levanta a sua voz. Do alto das muralhas clama, à entrada dos portões e nas cidades profere as suas palavras: 

      “Até quando vocês, ingênuos, amarão a ingenuidade? E vocês, zombadores, até quando terão prazer na zombaria? E vocês, tolos, até quando odiarão o conhecimento? Deem ouvidos à minha repreensão; eis que derramarei o meu espírito sobre vocês e lhes darei a conhecer as minhas palavras. 

      Mas porque clamei, e vocês se recusaram a ouvir; porque estendi a minha mão, e não houve quem atendesse; — pelo contrário, rejeitaram todo o meu conselho e não quiseram a minha repreensão — também eu darei risada da desgraça de vocês; ficarei zombando quando chegar o terror, quando o terror chegar como a tormenta, quando a calamidade chegar como o redemoinho, quando lhes sobrevierem o aperto e a angústia.”” 

Provérbios 1.20-27

      Se você tem algo a dizer, qualquer coisa, diga, nada há de errado nisso, mas diga no melhor momento e para as pessoas certas. Todos nós temos algo de importante para dizer e ajudar alguém, todos temos porções de sabedoria da vida, sopradas em nossos ouvidos pelo Espírito Santo. Podemos ser mais estudados, mais cultos, mais articulados, e muitas vezes em temas que os mais importantes e poderosos do mundo acham mais relevantes, mas ninguém se considere mais legítimo para ajudar alguém, com mais prioridade para ser ouvido. É importante, contudo, que aceitemos humildemente o grau de importância do que temos a dizer.

      Ainda que para o Altíssimo ciência e religião, saber e crer, tenham valores igualmente úteis, a sabedoria que conduz a valores morais, à santidade genuína, ao amor paciente e à profunda verdade espiritual, pode fazer um bem muito mais alto, mesmo a uma pessoa mais bem informada e através da boca de alguém com nenhuma formação acadêmica. A utilidade da ciência acaba na morte, já experiências com Deus leva-nos a usarmos a ciência para vivermos bem aqui e tratarmos bem as pessoas e ao planeta, mas também nos preparam para a melhor eternidade com Deus. Ateus, não se enganem, a sabedoria maior está em Deus. 

      É certo que existe um tipo de pessoa que paga para ficar quieto, são naturalmente tímidas, mas não se enganem sobre essas, também têm muito a dizer, apreciam serem ouvidas, só são mais cautelosas. Mas se na cautela exagerada pode haver covardia, na coragem irresponsável pode haver estupidez. As pessoas do tipo que não tem receio de expressar o que sentem, a qualquer hora e lugar, e para qualquer um, cuidado. Nossas palavras são úteis quando são construtivas, encharcadas em amor, mas principalmente quando ditas no tempo e para o público certo. Sabedoria implica diretamente em amor que sabe aguardar o tempo. 

      Há sabedoria no tempo, não só no argumento. Quando aprendemos a amar as pessoas, entendemos que muitas vezes temos que esperar por anos, até que elas estejam preparadas pela vida e por Deus, para ouvirem um conselho que temos certeza que pode livrá-las de dores. Muitos terão que sofrer, enquanto sabemos que o que temos a dizer a eles pode livra-los do sofrimento, até que aceitem o sábio conselho e mudem de vida. Nós, enquanto isso, devemos amar, orar e calar, palavra dita no tempo errado, mesmo a certa, se torna errada, e pode vulgarizar uma chance exclusiva que alguém tem para mudar de vida. 

      Vivemos um tempo onde a sabedoria da Bíblia tem sido vulgarizada, maravilhosos textos bíblicos têm sido usados de qualquer maneira, por qualquer um e para qualquer fim. O versículo João 8.32 é uma prova disso, isso é algo que deveria entristecer bastante os que amam verdadeiramente a palavra de Deus. O texto bíblico inicial não fala de uma pessoa, de um sábio, de um falador, mas da própria sabedoria. Quem a diz? Meus queridos, Deus sempre levanta alguém, nas vidas de todos nós, para nos exortar de maneira sábia, para chamar nossa atenção para uma correção de percurso, para fazermos uma escolha de mais qualidade. 

      O texto bíblico acima exorta alguns tipos especiais de pessoas, ingênuo, zombador e tolo. Uns se fazem de ignorantes, argumentam que não foram avisados, outros se fazem de cínicos, zombam dos avisos, e outros simplesmente são tolos, agem com irreverência diante dos alertas. Ninguém será tido por inocente quando o momento do juízo chegar, e ateus e materialistas, não se enganem, o momento seguinte às suas mortes neste mundo será de confronto com a luz daquele que administra, distribui e a todos dá oportunidades justas para conhecerem os caminhos mais sábios, que levam às prioridades mais altas. 

      O alerta é seríssimo, porque clamei e vocês se recusaram a ouvir, rejeitaram todo o meu conselho, darei risada da desgraça de vocês, quando lhes sobrevierem o aperto e a angústia. De maneira nenhuma pensemos que essa é a atitude de Deus, o Senhor não zomba de ninguém em nenhuma hipótese, quem faz esse trabalho são outros que também não deram ouvidos à sabedoria, homens maus e espíritos malignos. Quando não somos sábios, e o caminho da sabedoria começa na humildade e na fé, Deus pode permitir algo muito grave, para que acordemos, algo vergonhoso e humilhante, diante de homens e do mundo espiritual. 

      Quanto a você, que tem algo a dizer, seguem conselhos de um prolixo assumido. Espaços virtuais como o “Como o ar que respiro” podem ser instrumentos bem úteis nas mãos do Espírito Santo, nossas reflexões ficam anotadas na internet, a ninguém perturbamos, e se Deus quiser poderá usá-las para ajudar alguém. Por outro lado, com alguns, que Deus já nos mostrou que estão andando errado e persistindo nisso, sejamos pacientes, oremos por eles, vigiando para não nos apressarmos em falar o que Deus nos revelou. Se muitos são tratados para estarem preparados para ouvir, outros são para esperarem o melhor momento de falar.

Milagre não é criar, é saber

      “Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.” João 15.15

      Muitos querem um final dos tempos interpretando profecias bíblicas ao pé da letra e no plano físico, assim esperam uma segunda vinda de Jesus no mundo, ainda que dessa vez como rei e não salvador. Mas as coisas não vão acontecer como muitos acham simplesmente porque o universo não funciona assim, Deus não trabalha dessa maneira. O texto “não ignoreis uma coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia” (II Pedro 3.8) nos revela o mistério do modus operandi de Deus, tudo é feito muito lentamente no plano físico, respeitando a natureza, suas transformações, ações e reações. Deus pode ter feito uma única coisa, disparado o big bang, que depois desencadeou tudo o mais no cosmos. 

      Pode-se argumentar: “e os milagres que, por exemplo, Moisés realizou quando libertou Israel do faraó egípcio? e os milagres que Jesus fez curando e libertando possessos?” Contra-argumento assim: será que foram ações extraordinárias ou conhecimento extraordinário? Vou explicar, Deus na verdade já fez tudo! Para uma potência eterna e toda-poderosa, que fez e administra tudo em amor, santidade e justiça, não há tempo. O Senhor não precisa e nunca precisará fazer coisas novas ou em cima da hora para atender necessidades, ele já fez. O que precisamos hoje ou necessitaremos no futuro, Deus já providenciou para nós, o que desencadeará a bênção já foi disparado. Para Deus não há exceções, só leis eternas. 

      Orar não é pedir que algo aconteça, ainda que em nossas lutas em oração diante do Senhor peçamos, em nossas mentes limitadas, que Deus faça acontecer isso ou aquilo. Orar é nos colocarmos de tal maneira em conexão pelo Espírito Santo que possamos conhecer a vontade de Deus, como, onde e quando ele vai agir. Aquele que busca, conhece e obedece a vontade do Senhor, harmoniza sua limitada existência humana com a vontade de Deus, assim com todos os sistemas, hierarquias e eventos do universo. Obviamente, cada pessoa tem estabelecido, pela providência divina, seu nível de ação nessa harmonia, não basta fé e boa vontade, deve haver obediência a uma chamada específica de Deus. Como Moisés, só houve um. 

      Moisés, Elias e Jesus eram homens que sabiam e faziam a vontade de Deus, assim conheciam o que Deus queria e podia fazer. Deus pode tudo, mas não faz tudo, não como, onde e quando queremos. Nessa sincronia, aos olhos dos homens, aos nossos olhos hoje, parece que pela fé esses homens realizaram atos extraordinários, impossíveis, poderosos, mas não foi isso. Nossa fé não tem poder de criar e destruir, mas pode conhecer quem cria e destrói, então, dizer que algo será criado ou destruído. Quem faz é Deus, não o ser humano, e muitas vezes por eventos, na natureza e nas sociedades humanas, que foram disparados dias, meses, anos, séculos antes. Deus sempre usa o tempo e nele trabalha, com muita paciência. 

      Se analisarmos sob certo aspecto, as pragas que ocorreram no Egito enquanto Moisés solicitava ao faraó liberação para a partida dos israelitas, são uma sequência de eventos naturais, baseados em desequilíbrios da flora e da fauna do Egito, que já deveria ter sido desencadeada antes mesmo que Moisés começasse exercer sua missão. O “milagre” maravilhoso, usando o termo, está na sincronia que têm os homens com o planeta, com a natureza, com o universo, quando estão harmonizados com a vontade do Senhor. Ah, meus querido, ao humilde, crente e obediente, nada será negado, aos olhos dos homens será engrandecido sobremaneira, ainda que o humilde saiba que só fez conhecer a vontade de Deus em oração. 

      Hoje já podemos compreender o processo por trás de muitos eventos bíblicos que homens do passado identificaram como milagres, principalmente os relacionados à natureza e a enfermidades psiquiátricas, nesse último caso, muitos milagres que Jesus fez curando e expulsando “demônios”. Contudo, há muita coisa que ainda não entendemos pela ciência, isso não é motivo para duvidarmos da eficácia que há em buscarmos e crermos em Deus, pedindo dele ações que para nós pareçam impossíveis, extraordinárias, poderosas. Mas o sábio será cauteloso, crerá em Deus, mas respeitará a ciência, a natureza, e tantos mistérios que ainda não entendemos, mas que podemos ver manifestarem-se se conhecermos a vontade de Deus para nós. 

Verdade ou mentira? Amor

      “Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade. E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.” João 17.17-21

      Pior que a mentira deslavada, é a manipulação de verdades para induzir a uma conclusão falsa. Uma combinação de fatos, arranjada maliciosamente, gera uma falsa notícia. Interpretações com juízos de valores diferentes geram opiniões diferentes. Mas opinião diferente não é necessariamente mentira. O que é fato e o que é opinião? Fake news é uma maliciosa interpretação de fatos reais. Em meias verdades estão contidas meias mentiras. Mentira não surge sem intenção, é criada para beneficiar alguém, assim conhecer a prática e a reputação de quem diz algo, é básico para sabermos se algo, por mais que pareça verdade, não é. O que importa mais: impormos a verdade, confrontarmos a mentira, ou amarmos? 

      Achei interessante citar as considerações acima sobre um tema tão relevante atualmente, fake news. Vivemos um momento que mentira e verdade não são mais conceitos absolutos, parece que tudo ficou relativo, com todos tendo direito à liberdade de expressão, nada podendo ser proibido. Mas será que em algum momento na história da humanidade o que muitos acreditavam que era verdade realmente era? O que muitos diziam ser mentira, era de fato? Talvez no passado muitos entendimentos, por serem apoiados por poderosos, sejam governantes ou religiosos, eram aceitos pela maioria como uma coisa ou outra, sem questionamentos, não havia verdade ou mentira escolhidas, mas só leis e dogmas impostos. 

      Abrigar-se nesses entendimentos era mais fácil, principalmente para uma maioria que ainda não sabia pensar e agir sem medo de algo maior e desconhecido. Hoje o ser humano civilizado adquiriu certas autotomias, liberto de opressores, de preconceitos, do machismo, do sexismo, do homem branco ocidental se colocando como superior e ditador de verdades e mentiras. A democracia, a psicologia, a física, as tecnologias, nivelaram todos, ninguém é mais que ninguém, homem de mulher, branco de negro, hétero de homoafetivo, tanto no trabalho quanto nas relações sociais. O relativismo redefiniu o conceito de verdade, não é mais imposta, de fora para dentro, mas descoberta, de dentro para fora do ser. 

      A minha verdade não é melhor que a tua, mas no mínimo é mais importante para que eu me conheça e viva com dignidade e justiça, desde que ela não impeça que você tenha a tua verdade e também viva com dignidade e justiça. Levando em consideração a existência de um plano espiritual, de um Deus que trata todos como filhos, e que atrai esses para serem seus amigos nas regiões espirituais mais elevadas em Cristo por meio do Espírito Santo, toda verdade pessoal deveria harmonizar-se com a verdade maior de Deus. Contudo, o livre arbítrio que Deus dá a todos pode levar muitos a terem verdades, que ainda que justas e produtivas no mundo, não aceitam a existência de Deus como sua verdade mais alta. 

      Contudo, o problema principal de muitos nem está em defenderem uma verdade, mas em se acharem no direito de imporem essa verdade por crerem que ela tem aval de Deus, ainda que passando por cima do amor desse mesmo Deus. Amor menosprezado não permite que alguém saia da condição de pecador, de seguidor do diabo, de condenado ao inferno e de pecador, de acordo com a doutrina tradicional cristã. Se ao menos muitos que acham ter a verdade, ainda que equivocada, procurassem conduzir outros a ela com amor paciente, mostrando o céu e não condenando ao inferno, fariam menos mal. Mas que cristãos de direita, que demonizam homoafetivos e esquerdistas, têm amor paciente por esses? 

      Na verdade o que tem sido provado nos últimos tempos, na família, na sexualidade, na política, nem é a verdade, mas o amor. Nem a verdade é mais importante que o amor, se fosse assim Deus teria condenado toda a humanidade ao inferno há muito tempo. A maior verdade que precisamos entender e praticar é o amor, e onde ele é mais necessário é na diferença, portanto, num mundo de mentiras, não dentro de templos cristãos. Para essa missão Deus tem chamado o cristianismo do mundo e muitos cristãos não a tem executado. Mentira é tudo que nega o amor de Deus, faltando com respeito com as pessoas, impondo-se com violência, julgando e condenando antes do tempo, ainda que só Deus seja juiz. 

      O texto bíblico inicial diz algo importante sobre a verdade maior da palavra do Cristo, e entendamos certo, a verdade não é das igrejas cristãs, ainda que usem e contenham parte dessa verdade, não é de homens, nem de tradição, mas de Jesus. A verdade da palavra de Jesus conduz os homens à união, entre eles e com Deus. Será que Jesus se referiu a dogmas e doutrinas? Será que impormos isso basta para que a humanidade se una? Não. Jesus se refere ao amor, se esse for puro e vivo poderá conduzir, mesmo pessoas com verdades pessoais distintas, a uma verdade maior e eterna. Não nos enganemos, fora do amor não há salvação, amor que leva a um santo Deus, e quem ama de fato sempre é verdadeiro. 

Amar dói

      “A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei.” Romanos 13.8

      Se queremos um motivo pelo qual realmente valha a pena sofrermos, soframos pelos outros, que precisam tanto do nosso amor e nós não temos amor suficiente para dar a eles. Quando atingirmos esse nível de sofrimento, começaremos a entender nossa razão de existir no universo. Todos somos egoístas, nossos direitos são prioritários, nossa felicidade vem em primeiro lugar, nosso prazer é mais importante, mas também nosso sofrimento é maior, nosso trabalho mais pesado, nossa história mais dolorida. Mesmo quando nos colocamos em posições de auxílio ao próximo, achamos que nossa espiritualidade é mais relevante, e consequentemente teremos na eternidade honras melhores que os outros. 

      Contudo, há algumas virtudes, que se de fato compreendermos o que são, não diremos que as temos mais que os outros têm tão facilmente, me refiro à humildade e ao amor. Nos acharmos mais humildes que os outros é abrirmos mão de direitos nossos para lutarmos pelos direitos dos outros. Nos acharmos com mais amor que os outros, é nos colocarmos na obrigação de sermos mais pacientes, misericordiosos e generosos, para nos ocuparmos, seja fazendo algo ou mesmo só orando, com o benefício dos outros através de um amor puro, que não pede algo em troca por ser dado, que põe o outro sempre como prioridade. Arrogar posse de humildade e de amor é se comprometer em servir. 

      O que sentimos quando sabemos que alguém sofreu uma injustiça? Podemos responder, à nossa própria sensibilidade, ao nosso orgulho, ou ao Espírito Santo nos orientando, assim: “todo mundo sofre, cada um com seus problemas”, ou, “eu sofri mais e sobrevivi, a pessoa que aprenda e siga em frente”, ou, então, “tem gente má neste mundo, quem foi injusto que desfaça a injustiça, eu não tenha nada a ver com isso”, ou, então, algo pior, “essa pessoa deve merecer a injustiça, ninguém é inocente”. O fato é que em todas essas respostas há alguma verdade, contudo, o Espírito Santo dá só uma resposta sempre: “ame, ajude, esqueça de você e pense no outro, Deus recompensa quem ama no tempo certo”. 

      Só atingimos o nível de sentirmos na própria carne o sofrimento de alguém, principalmente de alguém que não tem nenhuma relação direta conosco em alguma área, quando já sentimos nossas próprias dores, em toda à extensão e profundidade, sozinhos e diante de Deus, e recebemos do Senhor a palavra de cura para essas dores. Muitos sofrem e diante de Deus, mas vitimizando-se e colocando a culpa nos outros, ainda não assumiram a responsabilidade pessoal que o universo pede de todos para que amadureçam em Deus. Por pior que seja a injustiça que cometam contra nós, aceitarmos que de algum maneira ela nos foi permitida por Deus para que sejamos melhores é o que pode no permitir amar o outro. 

      Só tenhamos cuidado para não confundirmos amor que ajuda muitos, com um outro sentimento, que leva-nos a fazer alianças afetivas especiais com alguns. Podemos ter a tendência de nos apaixonarmos por problemas, assim nos encantarmos com gente problemática, o que nos conduz a namorarmos e até a nos casarmos com problemáticos. Isso pode ser vontade de Deus, assim tenha certeza quando realmente é. Contudo, muitos acabam virando, não servos em amor, mas escravos doentios, o que cria, em amizades, mas principalmente em namoros e casamentos, relações tóxicas, que facilmente se perdem em possessividade e violência, sem eficácia para que problemas sejam solucionados em amor. 

      Muitos deveriam ser enfermeiros, médicos, terapeutas, pastores de alguns, não cônjuges desses. Ainda que devamos nos proteger, para que a pessoa amada tenha em nós apoio firme para se erguer, assim não podemos nos desmanchar em lágrimas, publicamente e em todo o tempo, amor não é frio. Sentirmos muita dor pela dor do outro é empatia importante, semente que gera amor verdadeiro em nós, que depois pode produzir atitudes como frutos, mesmo que sejam só orações. Mas só se coloca na posição de servo quem saiu da posição de ser servido. É pai, não quem tem filhos, mas quem não é mais filho no sentido afetivo dependente. Só ama quem crucificou o próprio ego com Cristo e com ele ressuscitou. 

Luz, amor e paz

      “E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpada nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os ilumina; e reinarão para todo o sempre.” Apocalipse 22.5

      “Há muito que o Senhor me apareceu, dizendo: Porquanto com amor eterno te amei, por isso com benignidade te atraí.” Jeremias 31.3

      “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” Romanos 5.1

      O que te vem à mente quando você imagina o plano espiritual? O que você acha que verá um instante após teu corpo físico parar de funcionar e teu espírito for liberado? Uns imaginam uma longa fila em frente de um juiz, colocando uns à sua direita e outros à sua esquerda. Outros imaginam duas áreas externas diferentes, uma com palácios de metais e pedras preciosas, cercado de um maravilhoso jardim, com rios de águas limpas e frescas, e outra com lagos de fogo cheirando a enxofre. A verdade é que no plano espiritual só existe a luz santa de Deus, atraindo a todos às regiões espirituais mais altas em Cristo. 

      Não haverá lugar para penas nem para recompensas, só a luz de Deus, que também existe no plano físico, mas que não vemos por causa dos véus da matéria. Imagina se pudéssemos ver encarnados, o plano espiritual como ele é, e se pudéssemos ter comunicação fácil com esse lugar? Habitado por “anjos”, “demônios”, espíritos de mortos aguardando juízo, tantos outros seres espirituais, assim como o próprio Deus? Poucos hoje têm qualidade moral e espiritual para terem intimidade espiritual, e muitos, ainda que não tenham, acham ter e perdem mais tempo com outros espíritos que com o Espírito Santo. 

      O véu da matéria não é restrição, mas proteção, afinal, se estamos no mundo é para nos relacionarmos prioritariamente com os vivos, não com os mortos. O cristianismo tradicional criou e manteve limites por motivos legítimos, úteis para a providência divina, pelo menos até o nível espiritual atual da humanidade, focar o ser em sua missão principal. Contudo, os que querem saber e se preparam, sabem, não há trevas eternas, muito menos exteriores, só a luz é eterna, porque é emanada de um Deus eterno. Também não há castigo eterno, só amor eterno, porque ele é o movimento divino que faz funcionar tudo. 

      Se Deus fosse só luz, poderíamos contemplá-lo, adorá-lo, respeitá-lo, mas de longe, seria impossível nos aproximarmos dele. Mas Deus é amor, e esse se manifesta de duas maneiras. A primeira maneira é um movimento de cima para baixo, o amor de Deus veio até nós e em carne, por meio de Jesus, que viveu como homem e nos mostrou como devemos andar no mundo. A segunda maneira é um movimento de baixo para cima, o Espírito Santo enviado por Jesus nos atrai para Deus. Maravilhoso é Deus em seu amor, não nos deixa longe, nos chama para sermos seus amigos e vivermos com ele em santidade. 

      Quem se deixa atrair pelo amor de Deus para sua luz, tem paz, e eis as três virtudes mestras. O efeito principal de vivermos corretamente é sentirmos paz, a verdadeira e eterna paz, escrita com uma palavrinha, mas que representa um sentimento tão grande para se reter. Não desanimemos, falta de paz, ainda que estejamos obedecendo a Deus, é só um alerta que nos lembra que ainda temos muito a melhorar, para termos direito a novos céus e nova Terra, onde está a luz mais alta de Deus. Nosso consolo é que o amor de Deus não se cansa, não desiste, está sempre nos pondo em movimento pelo Espírito Santo. 

A luz e a verdade

      “Envia a tua luz e a tua verdade, para que me guiem e me levem ao teu santo monte, e aos teus tabernáculos. Então irei ao altar de Deus, a Deus, que é a minha grande alegria, e com harpa te louvarei, ó Deus, Deus meu.” Salmos 43.3-4

      A emanação mais alta de Deus tem duas faces, luz e verdade. É luz do Altíssimo que envolve os que andam em verdade, luz e verdade se encontram e põem Deus em comunhão com o homem. Essa comunhão é a estrada e o combustível que move o ser humano em direção às virtudes morais e espirituais mais elevadas. Contudo, não basta ao homem ser franco, não ter medo de revelar o que ele é quando é mal e egoísta, isso pode ser verdadeiro, mas não representa a verdade que Deus procura nos seres humanos. A verdade que purifica o homem, constitui assunção de pecados, posse de perdão e prática do bem, sem deixar nada escondido pela mentira. 

      Essa verdade limpa o espírito humano, o deixa transparente o suficiente para que a luz mais alta de Deus o envolva por inteiro, assim envolvido ele tem forças para seguir em direção a Deus. O mesmo Deus que toma a iniciativa para vir até as regiões espirituais inferiores ao nosso encontro, nos capacita e mostra-nos como ir às regiões superiores ao seu encontro. Jesus veio, nos mandou seu Santo Espírito e é porta nas regiões espirituais mais altas para Deus, é iniciativa, força e caminho, amor, perdão e conhecimento. A luz emanada do Altíssimo deixa nosso espírito limpo e leve para que ele possa sair das amarras da matéria e do pecado e elevar-se de volta a Deus. 

      Os tolos acham que podem se proteger na mentira, ostentam o que não são para que os homens os honrem, se fazem de fortes, mas temem a verdade pois confiam neles, não em Deus. Eles fogem da luz mais alta, têm medo dela, buscam refúgio nas trevas, junto de outros mentirosos, são sujos demais para serem traspassados pela luz, pesados demais para serem elevados. Os iluminados do Senhor persistem na verdade, ainda que momentaneamente sejam humilhados por ela. O prazer maior deles é estar nas regiões espirituais mais altas, no santo monte, e para isso não temem serem exibidos pela verdade. Eles amam a verdade, amam a luz, amam a Deus. 

      Deus busca a verdade em seus filhos, não existe outra maneira deles seres totalmente livres e felizes se não forem verdadeiros. Para que entendamos isso, se formos teimosos, Deus pode usar instrumentos duros, pessoas que nos jogarão contra a parede e exigirão de nós a verdade. Mesmo que essas pessoas façam isso com intenções pouco benignas, se forem autorizadas por Deus serão úteis em nosso crescimento espiritual. Assim, não temamos as pessoas e menos ainda a verdade, melhor sermos humilhados na disciplina de Deus que pela mentira diante dos homens. A dor da mentira não passa e deixa frutos amargos, já a dor da verdade logo acaba e deixa doces frutos.

      Deus pode usar até o mal intencionado para que a verdade seja mostrada, Judas Iscariotes não foi usado para entregar Jesus à morte? Judas e os líderes judeus podiam até achar que tinham prevalecido, os discípulos de Jesus podiam até pensar que a injustiça tinha tido vitória, que Deus os havia abandonado. Mas não, tudo estava sob controle do Altíssimo, como sempre está, era só parte de um plano maior cujo final iluminaria a humanidade. A verdade foi mostrada, tanto a da maldade humana quanto a do amor de Deus, e isso custou mais caro para o filho primogênito de Deus que para o ser humano, mas esse foi o único jeito da luz mais alta ser disponibilizada para todos nós. 

Sem condenação não há pena

      “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte.” Romanos 8.1-2

      Se não há condenação não há pena, se não há pena não há sofrimento, assim, ainda que no mundo possamos sofrer, não tem que ser como castigo. Contudo, principalmente sofrimentos em nossos corpos físicos, podem ser só consequências de má administração de nossa saúde. Deus perdoa, nos dá novas oportunidades e se as aproveitarmos com trabalho, na área material, mas principalmente na moral, que se refere diretamente à nossa saúde emocional e espiritual, teremos direito à paz dos que não levam em si qualquer condenação de Deus. Sempre que usamos os termos “condenação de Deus” precisamos deixar claro que Deus não pune diretamente ninguém, somos nós que nos punimos quando nos afastamos dele.

      Como cristão que ama Deus, e foi orientado pela Bíblia por anos em igrejas protestantes, confesso que por muito tempo lutei para ter cura emocional e santidade moral, mas deixei de lado cuidados com a saúde física. Hoje, aos sessenta e poucos anos, controlo diabetes, luto com a balança, sinto dores ocasionais no lado esquerdo, uso medicação para me ajudar a dormir, mesmo depois de um câncer curado ao quarenta anos, e uma crise emocional séria que tive aos cinquenta anos sanada. Tenho paz com Deus, experimento vitória em minha família, filhas e esposa que só me dão alegria, mas não sofrerei no final da vida? Sofrerei, mas estou certo que não como tratamento de Deus para me atrair a ele, é só efeito de saúde física relegada. 

      Lucidez que assume erros pessoais, não joga a culpa nos outros e sabe que toda causa tem igual efeito, é importante, muitas vezes nem para resolver problemas, mas para não permitir que problemas sejam maiores que precisam ser. A certeza principal que temos que ter é sabermos se somos ou não aprovados por Deus. Nisso temos que considerar a ajuda de quem nos ama de verdade, mas não nos importarmos com outras opiniões, ainda que sejam baseadas em alguém errado que fomos no passado. Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito! Temos que chegar num ponto da vida em que podemos tomar posse dessas palavras e permanecermos inabaláveis.

      Podemos sofrer até nossos últimos instantes no mundo, devemos sofrer para aprendermos a buscar as prioridades de Deus para nossas vidas, mas não temos que sofrer por assuntos que podíamos ter resolvido e resolvemos. Lutemos até o final por santidade, sejamos fiéis a alianças, principalmente a conjugal, nos esforcemos para amar com paciência, dando aos outros o que queremos deles receber. Mas nunca permitamos que uma palavra de acusação, seja de homem ou de espírito maligno, ache descanso em nossas almas. Dúvida abre brecha para certeza, e nesse caso não de salvação, mas de condenação. Se acertou-se com Deus, ele não te condena, assim não se sinta condenado, nenhuma pena você sofrerá, esteja em paz. 

      Uma última palavra nesta reflexão, o texto de Romanos 8.1-2 enfatiza uma vida sob orientação do Espírito Santo. Isso era importante para homens evangelizados no primeiro século, principalmente de judeus religiosos. Era preciso deixar claro que Jesus e o Espírito Santo são superiores à Lei de Moisés e às palavras dos profetas e escritores do antigo testamento. Mas será que isso também não é importante hoje? Até que ponto Igreja Católica e reforma protestante fizeram só uma troca, a Torá pela Bíblia e dogmas? Sim, a Bíblia é e sempre será bênção, mas a palavra viva do Espírito Santo precisa ter primazia em nossos corações, só conhecimento intelectual bíblico não pode dar a paz e a luz que Jesus dá pelo seu Espírito.