07/09/23

Ordem e progresso?

      “Porque assim é a vontade de Deus, que, fazendo bem, tapeis a boca à ignorância dos homens insensatos; como livres, e não tendo a liberdade por cobertura da malícia, mas como servos de Deus.I Pedro 2.15-16

      Forma abreviada de "O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim" (em francês L'amour pour principe et l'ordre pour base; le progrès pour but.), “o lema político "Ordem e Progresso" origina-se da corrente filosófica positivista, criada por Auguste Comte e John Stuart Mill no século XIX. A doutrina positivista preconiza realização dos ideais republicanos: a busca e a manutenção de condições sociais básicas (respeito aos seres humanos, salários dignos etc.) e o melhoramento do país (em termos materiais, intelectuais, etc). O lema "Ordem e Progresso" encontra-se escrito na Bandeira Nacional do Brasil idealizada por Raimundo Teixeira Mendes e desenhada pelo artista Décio Villares, com a fundação da República brasileira por Benjamin Constant.” Fonte 

      Uns dizem que progresso não pode haver junto de ordem. Sob um ponto de vista capitalista, onde livre iniciativa para abrir e manter uma empresa deve ser direito de todos, permitindo que todos tenham chances iguais de prosperidade, essa compreensão pode ser adequada. É preciso algum caos, onde as coisas possam crescer e decrescer em todas as direções, numa ampla liberalidade, sem amarras, para que haja direitos iguais. Contudo, o ser humano não é só um homo economicus, somos seres sociais, assim é preciso certa ordem para existirmos como civilização no mundo, com direitos individuais parando onde começa outros direitos individuais. Viver civilizadamente é seguir regras que permitam justiça a todos. 
      O mais importante, contudo, é que além de capitalistas civilizados, somos seres morais, nisso não cabe caos irresponsável, mas liberdade que é atraída para a luz de Deus. Nisso estou dizendo que não podemos ser totalmente moral, não só na teoria, mas principalmente na prática, sem Deus. Religião, com todos os seus defeitos, auxilia o ser humano nesse aspecto, a conhecer e viver de forma moral, assim, aquilo que se diz espiritualidade ou religiosidade, mas que não conduz o homem a valores morais, é engodo do mal, não religião útil nas mãos de Deus. Em sua graça Deus pode usar muitas religiões para abençoar o homem, ainda que aguarde que todos o conheçam de forma mais alta pelo seu Espírito em Jesus.
      Na genuína liberdade que temos só pelo Espírito Santo, não existe desordem, nem cadeias, mas um seguir direto e reto para Deus, assim há progresso com ordem. Só Deus pode dar ao ser humano ordem e progresso, o mundo e o homem caem nos extremos, assim ou haverá caos irresponsável ou lei delimitadora, e em ambos não poderá haver progresso maior e justo. Por isso tantas ideologias políticas, cada uma com vantagens e desvantagens, e ninguém ache que a democracia é o melhor sistema, isso é só o que os atuais poderes deste mundo, a nação estadunidense e seus aliados da Otan, querem que pensemos. Como disse Winston Churchill, democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as demais.
      Já refletimos aqui sobre caos e liberdade, sobre a liberdade do mundo, mesmo de religiões, e a liberdade de Deus. Liberdade não é poder fazer tudo, quem faz tudo é escravo de tudo e não exerce escolha pelo melhor. Liberdade é, ainda que se possa fazer tudo, escolher fazer a coisa certa, e a coisa certa é a vontade de Deus, e repito, não necessariamente a vontade das religiões cristãs. A liberdade do mundo, a princípio, pode até parecer um horizonte imenso que se abre para infinitas possibilidades, mas quem entra nela acaba escravo. A liberdade de Deus funciona exatamente ao contrário, pode parecer restrita, no início, como é para crianças, mas depois abre-se de forma maravilhosa na luz do Altíssimo. 
      Quem quer progresso financeiro, ainda que se sinta a princípio à vontade para empreender, no final torna-se escravo do dinheiro e do status quo que o dinheiro dá. Dinheiro é deus egoísta e traiçoeiro. Em Deus, por ele nos amar respeitando sempre nossos limites, começamos limitados, muitas vezes em bancos de igrejas ouvindo com temor interpretações tradicionais da Bíblia, e é assim mesmo que tem de ser, e para muitos, até o fim de suas vidas. Mas num Deus santo, e santidade é a característica da luz mais alta, nunca abramos mãos disso, a liberdade se abre, não para desfrutarmos dos apetites da carne, mas para sabermos das verdades espirituais mais altas, que nos conduzem ao verdadeiro progresso espiritual. 

06/09/23

Verdade ou falácias?

      “Ouvi a palavra do Senhor, vós filhos de Israel, porque o Senhor tem uma contenda com os habitantes da terra; porque na terra não há verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus. Só permanecem o perjurar, o mentir, o matar, o furtar e o adulterar; fazem violência, um ato sanguinário segue imediatamente a outro.” “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos.Oseias 4.1-2, 6

      Falácia é um enunciado ou raciocínio falso que simula a veracidade. Há uma falácia lógica denominada “Argumentum ad hominem”, nela alguém procura negar uma proposição com uma crítica ao seu autor e não ao seu conteúdo. Existe uma variação dessa falácia, a “Argumentum ad hominem circunstancial”, que foca a parcialidade do adversário, sugerindo que esse tem algo a ganhar com a defesa de seu ponto de vista. “Argumentum ad temperantiam” é outra variação da falácia inicial, também conhecida como falácia do falso meio-termo, afirma que o meio-termo entre duas propostas é a melhor solução. Este argumento é usado quando duas ideias opostas são defendidas por grupos de extensão semelhante. Sua falha, contudo, vem da pressuposição que os extremos são necessariamente errados, e que o meio-termo é sempre certo.
      A verdade pode estar em muitos pontos, pode estar no centro, mas também pode estar mais à esquerda como mais à direita, assim como em todos as matizes do campo. Por várias vezes tenho refletido aqui sobre necessidade de equilíbrio, e isso é imprescindível para que analisemos as coisas sem interferência de preconceitos, de preferências pessoais ou de manipulações externas. Avaliar com equilíbrio é achar a verdade à esquerda, ainda que quem avalia esteja à direita, assim como é achar a verdade à direita, ainda que quem avalia esteja à esquerda. Podemos fazer escolhas por essa ou aquela ideologia, mesmo extrema, seja na política, na religião etc, mas não podemos nos achar donos da verdade só porque estamos em extremos, e nos acomodarmos nisso sem seguirmos avaliando e se necessário mudando de opinião. 
      Para termos uma visão mais esclarecida e podermos avaliar sem parcialidades, o sábio é nos pormos no centro, nessa posição estamos próximos tanto do extremo da esquerda quanto do extremo da direita. Já quem se coloca sempre num extremo até poderá estar com a verdade, mas também poderá estar o mais distante possível dela se estiver no extremo oposto. Se o sábio é nos colocarmos num ponto médio do campo horizontal, do plano físico, dos homens, o mais espiritual é nos colocarmos no centro do campo vertical, do plano espiritual, e de Deus, não de espíritos rebeldes. A melhor visão se tem de cima, pelo Espírito Santo, que vê tudo, mesmo o que tenta se esconder dos homens. Quem não busca a verdade poderá levar o conflito para o nível pessoal, tentando desqualificar a fonte para não dar à verdade seu devido valor.
      Por que usar meios falaciosos para vencer embates ideológicos? Podemos não querer refletir mais sobre algo, nos darmos ao trabalho de pensar e de conhecer, e conhecer é nos informarmos não só sobre aquilo que concorda com nosso posicionamento inicial, mas sabermos sobre aquilo que vai contra nossas mais dogmáticas verdades. Mas muitas vezes até estamos bem informados e não temos preguiça de conhecer, estudar e avaliar, mas entendemos que mudarmos de opinião implica em comprometermos uma reputação que temos com pessoas que são importantes para nós, das quais nos acostumamos a depender da aprovação. O que é pior, ignorância ou vaidade? Uma nem começa a trabalhar, a outra trabalha mas não aprende o principal do melhor trabalho, estar na luz, ser humilde e confiar em Deus para evoluir espiritualmente. 
      Essa coisa de colocar ideias e atitudes, sobre as mais diversas áreas, nas caixas esquerda e direita, é um jeito humano de organizar as coisas. Na política podemos situar a ideologia marxista à esquerda e a democracia à direita, na religião podemos pôr o progressismo à esquerda e o conservadorismo à direita, de forma mais geral podemos por o ateísmo à esquerda e a crença no mundo espiritual à direita. Esses foram exemplos mais genéricos, mas o cristianismo tradicional usa as caixas para explicar sua mentalidade maniqueísta, assim o diabo está à esquerda e Deus à direita. Percebam que essa dicotomia pode ser perigosa e burra, podendo levar a uma visão simplista das coisas, colocando todas as ideologias de áreas diferentes da esquerda em uma única caixa, e igualmente pondo tudo que se refere à direita em outra única caixa. 
      Desse pensamento preguiçoso pode-se concluir que se alguém é marxista também é progressista, ateu e do diabo, já quem é democrata também é conservador, crente e de Deus. O problema não é só interpretar os outros assim, mas achar algo equivocado sobre si mesmo, portanto se uma pessoa se acha evangélica se sentirá na obrigação de aceitar todos os dogmas do cristianismo tradicional, de ser conservadora na moral, na família e na sexualidade, e de demonizar o comunismo. Ser cristão progressista, por exemplo, pode parecer inadmissível para quem tenta ver o mundo e a humanidade colocando tudo só em duas caixas. Será que é isso que Deus tem de melhor para nós, irmãos cristãos? Até podia ser para homens de séculos atrás e mesmo para muitos do século atual, mas não é para todos. Tirar nossa cabeça da caixa depende só de nós. 

05/09/23

Guarde o bem que viveu

      “Para aquele que está entre os vivos há esperança, porque mais vale um cão vivo do que um leão morto.Eclesiastes 9.4

      Andando pela grande casa de meus sogros, que vivem na mesma residência há mais de cinquenta anos, onde minha esposa e seus irmãos foram criados, vejo aqueles enfeites, bibelôs, estatuetas, porta-retratos, quadros, porcelanas, cristais, móveis e outros objetos de decoração típicos de casas de pessoas na faixa dos oitenta anos. Alguns podem chamar de brega, outros só de antiguidades, uma arquiteta, conhecida minha, diz que essas velharias são desnecessárias, de mau gosto, assim decora o apartamento em que vive com a mãe, uma octagenária, com a modernidade clean e fria. Quando visito o apartamento dessa conhecida, sinto um vazio, sinto gosto de morte, sinto um corpo sem alma, de quem se desfez de memórias antes do tempo.
      Viver é colecionar memórias, quem viveu tem memórias e gosta delas, nem todas são boas, nem todas são bonitas, nem todas ornam com estéticas atuais, nem todas são úteis hoje, mas são nossas identidades, nos fazem existir neste mundo e nas vidas de outras pessoas. Que adianta o corpo estar vivo hoje, se a alma está morta? Quando ando pela casa de meus sogros a vida é tão densa que pode ser tocada, ela é real, minha caçula diz, aqui tem cheiro de vovô e vovó. A conhecida que citei acima, que mora num apartamento que parece aposentos de um hospital, disse-me que foi com uma amiga à residência dos pais dessa amiga, que falecidos deixaram uma casa, conforme ela, repleta de tranqueiras démodés para serem descartadas. 
      Felizes os que têm memórias bregas para serem passadas para filhos, netos, bisnetos e outros, essas são referências, legados que deixaram no mundo, provas que viveram, que amaram, que escolheram, que lutaram e conquistaram o que fazia-lhes felizes, ainda que muitos achem antiquado hoje. Todos somos um pouco acumuladores, e nisso nada há de errado, são nossos corpos segurando suas existências neste plano. Deixemos a modernidade para os novos, mas que esses aprendam a dar valor para o que possuem em seus tempos de juventude. Envelhecer é encerrar certas coisas com satisfação, dar um fim às mudanças da aparência para focar nas transformações do interior. Quem pode ser sempre novo é o espírito, não o corpo. 
      Ainda que se deva manter corpos saudáveis, não se pode ser sempre jovem, mudar e mudar por fora para tentar harmonizar corpo envelhecido com espírito imaturo, precisamos alcançar algo e usarmos isso como fundamento para construirmos algo duradouro, o que dura está dentro de nós, não fora. Alguns até constróem alguma coisa, mas como são egoístas e vaidosos jogam fora o que conseguiram, só para serem vistos como novos e modernos. Talvez algumas pessoas sintam-se bem numa casa com cores, espaços, móveis, eletrodomésticos e outros adereços e utensílios de acordo com a última tendência, mas quem quiser sentirá vida se movendo por casas antigas, verá espíritos na sala, almas na copa, o tempo vívido no ar.
      Ninguém pode ser leão para sempre, esse morre e dá lugar a um cachorro, domesticado, afável, manso, quem quer aparentar um leão no tempo errado só mostrará a morte. Melhor ser um cão, mais fraco que o leão, menos voraz, não mais agressivo, não jovem, mas velho, em paz e vivo. “Mais vale um cão vivo do que um leão morto”, e todos nos tornamos cãozinhos na velhice, ainda que com memórias de jovens leões na cabeça. Feliz o que amansou o leão e que libertou o cão, feliz o que não quer vencer atacando, subjugando, ferindo, matando, mas aliando-se, abraçando, amando, pronto para encontrar seu amigo maior, Deus, no final de um dia de trabalho que se chama vida neste mundo, menor por fora, mas forte por dentro. 

04/09/23

Envelheça bem para viver

      “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor.” Romanos 6.23

      A morte exibe-se em cada esquina, a decadência apresenta-se sem vergonha em cada casa e prédio, vemos isso quando andamos pela cidade envelhecida pelo tempo. Moro em Itú/SP, cidade histórica, berço da república brasileira, com muitas construções tombadas pelo Patrimônio Histórico, sem falar das igrejas e capelas centenárias que existem na região central do município. Passear pelo centro antigo dessa cidade num domingo à tarde, quando o comércio está fechado, é assistir ao desfile da morte, em casarões precisando de reforma, em paredes necessitando de pintura, em cantos lascados pedindo por conserto. Isso é o plano fisico, que os propósitos divinos criaram para que vivamos por um tempo. 
      Mas há elegância na decadência, e a arte, consolo que Deus nos permite em existências sofridas que perseguem a morte, achar beleza nos templos antigos e em museus vazios, nos fazendo ver luzes fortes mesmo na escuridão, residência de fantasmas do passado. A arte, contudo, é só uma simulação que a matéria faz das maravilhas espirituais, o altar barroco mais rico em rococó nada valerá na eternidade. Se o plano físico é atraído pela morte, se nada permanece novo para sempre, se tudo passa e tudo perde a graça, nosso espírito é atraído pelo amor de Deus à luz do altíssimo. Esse movimento é vida eterna, que pode nos colocar sempre em posições mais altas e limpas, nele falecimento perene não há. 
      Achar beleza na morte e charme no envelhecimento é resistência sadia, negar a morte e não querer envelhecer é limitar a existência a sua metade. Que a matéria tenha direitos até o fim, mas que o espírito tenha prioridade. Entretanto, não é porque o plano espiritual é eterno que importa mais que o físico, foi conveniente à providência divina que o ser passasse algum tempo preso à matéria, tentando desvendar os mistérios espirituais sob o véu, limitado em muitas coisas, mas com uma vontade implícita de se aventurar, experimentar e amar. Assim, mesmo quando tudo fica velho e gasto, há saudade, há uma nostalgia quente dentro das almas, ainda que o melhor da passagem seja só sombras do que há no eterno.
      Tristes os que olham o mundo só com olhos físicos, esses só veem a morte, os olhos que veem a vida são os espirituais. Se o espírito estiver conectado com o pai de todos os espíritos, ainda que velhos casarões estejam caindo aos pedaços, suplicando por restauração, enxergará além, sentirá os seres que habitaram esses locais, que experimentaram paixões e realizaram sonhos, e que hoje são espíritos livres no reino eterno de Deus. O mundo é morte, o corpo envelhece, nossos pensamentos ficam lentos, nossas emoções esfriam, mas o espírito azeitado pelo Santo Espírito de Deus se renova a cada dia, cada vez mais feliz por ver aproximar-se o momento quando será abraçado, sem véus, pela alta luz de Deus.

03/09/23

Sofrimento além deste mundo

      “Porque vocês receberam a graça de sofrer por Cristo, e não somente de crer nele.Filipenses 1.29

      Sofremos porque pecamos. Essa é um das primeiras assunções que temos que fazer para iniciarmos nossa caminhada em Deus e para Deus. Culpa não é fraqueza ou problema psicológico não resolvido, é consequência de estarmos fora do melhor de Deus para nossas vidas. Ainda que “nos lavemos no sangue de Cristo”, que tomemos posse da paz com Deus por Jesus, continuaremos a sofrer, assim nossa aliança com o evangelho deve ser renovada todos os dias à medida que anexamos virtudes morais ao nosso espírito, e isso até o fim de nossas passagens neste mundo. Amadurecer não torna-nos mais frios, mas mais sensíveis ao pecado, assim poderemos sofrer mais, mas uma dor que nos leva mais perto da luz do Altíssimo.
      Sofremos porque vivemos. Na verdade existir na matéria é sofrer, pois é tentar harmonizar o não harmonizável, corpo com espírito, mas é nesse desafio difícil que nos tornamos mais humildes e mais tementes a Deus. Enquanto o corpo quer companhia, quer se casar, quer prazer, quer honra, o espírito sabe que é só, que só poder ser satisfeito em Deus, o pai de todos os espíritos. Por isso fazer morrer a carne é o que traz vida espiritual, negar o ego é o que dá liberdade ao Espírito de Deus, perder é ganhar, suportar é crescer. Quem nega o sofrimento, tentando agradar os homens, colher suas aprovações e honras, sofrerá mais, mas quem foca na eternidade e nos seus valores será servido pelos servos de luz do Senhor. 
      Sofremos porque somos luzes no mundo. O mundo é lugar onde os seres humanos podem escolher estarem fora da melhor vontade de Deus e ainda assim terem algum prazer, alguma posição de honra, por isso o mundo jaz no maligno e está em trevas. Isso não ocorrerá na eternidade, lá as trevas trazem agonia e tormento, já a luz alegria e glória. No plano espiritual os das trevas se unem e se separaram dos da luz, enquanto aqui os da luz vivem nos mesmos locais que os das trevas, como nos ambientes de trabalho e de estudo. Ser diferente é ser luz, mas resistir nessa luz num ambiente onde há trevas não é fácil, há perseguição, há desconfiança, por isso os filhos da luz sofrem no mundo, por isso Jesus foi crucificado. 
      Sofremos porque somos luzes do universo. Mundos espiritual e físico interagem entre si, espíritos das trevas entram em consonância com intenções e obras más dos homens, assim como o Espírito Santo, anjos e outros seres espirituais de luz, harmonizam-se com intenções e obras feitas na luz pelos homens. Confrontos são travados no plano espiritual, entre exércitos de luz e das trevas, não para disputarem vitória, a vitória sempre é da luz, a luz vence só por ser luz. A vitória não se dá quando seres de luz atingem seres das trevas com “armas” espirituais e os ferem ou os aniquilam, seres espirituais não podem ser danificados ou destruídos. A vitória existe quando um ser das trevas se rende às virtudes da luz por livre arbítrio.
      Nenhuma treva é eterna, só a luz é. Se a luz age na velocidade da luz, instantaneamente, a demora das trevas em aceitarem a luz pode levar um tempo, por isso bênçãos podem demorar para se manifestarem no plano físico. Em suas providências Deus usa todos os seres, de trevas e da luz, para cumprirem seus propósitos nas existências de todos os seres, principalmente nos que vivem no plano material provações, expiações e missões. Por isso muitas vezes enfrentamos sofrimento estranho, não causado por culpa, pela solidão, por confrontos de homens ao nosso testemunho, mas pela demora na solução de conflitos espirituais no outro plano. Esse sofrimento deve ser vivido ainda com mais vigilância e temor a Deus. 
      “O servo do homem de Deus levantou-se bem cedo e, ao sair, eis que tropas, cavalos e carros de guerra haviam cercado a cidade. Então o moço disse a Eliseu: — Ai, meu senhor! Que faremos? Ele respondeu: — Não tenha medo, porque são mais os que estão conosco do que os que estão com eles. E Eliseu orou e disse: — Senhor, peço-te que abras os olhos dele para que veja. O Senhor abriu os olhos do moço, e ele viu que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, ao redor de Eliseu.” (II Reis 6.15-17) Se pudéssemos ver o plano espiritual, se soubéssemos o que ocorre nele, se crêssemos que não estamos sós em nossas lutas, mas muitos lutam por nós, assim como nossas vitórias aqui dão testemunho a muitos no outro plano. 
      Meus queridos irmãos católicos, protestantes e evangélicos, homens como Abraão, Jacó, José, Moisés, Samuel, Salomão, Ezequiel, Daniel, Elias, Eliseu, João o evangelista, sabiam muito mais que imaginamos, que se Deus lhes tivesse permitido registrar, ou se Deus tivesse permitido que esses registros chegassem a nós hoje, não seríamos tão fechados no cristianismo, demonizando tantas coisas, achando-nos donos da verdade, mas ainda assim deficientes em tantos dons espirituais. Mas convinha à providência divina ser assim, pelo menos por alguns séculos. Hoje, contudo, eventos cósmicos importantes e singulares estão prestes a acontecer, assim, é tempo de termos os olhos abertos como teve o servo do homem de Deus.

José Osório de Souza, 28/03/2022

02/09/23

Quando mundos se cruzam

      “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.Efésios 6.12

      “Então me disse: Não temas, Daniel, porque desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras; e eu vim por causa das tuas palavras. Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu vinte e um dias, e eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu fiquei ali com os reis da Pérsia.Daniel 10.12-13

      “Por isso bem quisemos uma e outra vez ir ter convosco, pelo menos eu, Paulo, mas Satanás no-lo impediu.I Tessalonicenses 1.18

      Não sabemos tudo o que ocorre no plano espiritual, aliás, a grande maioria de nós sabe muito pouco, e desses, grande parte não acredita que deva saber mais que aquilo que sabe, ou mesmo que exista algo mais a se saber, ainda que seja religiosa, creia em Deus e confie em Jesus como salvador. A primeira passagem bíblica acima é básica para entendermos duas coisas. A primeira é algo que é uma das ênfases do “Como o ar que respiro”: a batalha principal e inicial entre o bem e o mal ocorre nas mentes humanas! Somos nós, seres humanos, que pelo nosso livre arbítrio damos autorização para que bem e mal sejam feitos, assim somos nós que atraímos ou repudiamos ações de espíritos malignos no plano físico. 
      Penso ser importante começar com essa afirmação para evitar uma crença comum e rasa que muitos têm, que coloca a culpa do mal no diabo, e de uma certa forma, isenta-se de certas responsabilidades. Nossa principal batalha é contra nós mesmos, não é contra o diabo e nem contra os homens. Se nos fortalecermos em Deus, espíritos malignos não acharão em nós consonância, não terão como agir no plano físico, se manterão restritos às trevas do plano espiritual. Diabo e demônios não têm corpos físicos, assim precisam dos nossos para agirem no mundo, seja vencendo-nos nas tentações, seja oprimindo-nos nos sentimentos e nos pensamentos, seja possuindo os corpos dos que autorizam uma obsessão mais íntima.
      Posto isso entendamos o segundo ensino da primeira passagem bíblica acima (Efésios 6.12). Sim, existe uma guerra entre legiões de espíritos malignos, rebeldes ao melhor de Deus e portanto em situação interior de trevas, contra legiões de seres espirituais de luz, anjos, arcanjos e outros. Isso fica claro na segunda passagem bíblica acima (Daniel 10.12-13), parte de um de meus textos bíblicos favoritos, junto de alguns textos de João o evangelista. Já refletimos sobre essa experiência de Daniel aqui, mas o importante para esta reflexão é entendermos como nossas orações e nossas vidas podem interagir e influenciar ações no plano espiritual. Que fique claro: experiência como a de Daniel é para quem merece e está preparado.
      Independente se sabemos ou cremos, muita coisa pode acontecer no plano espiritual por causa de nós, Deus ama a todos e seus servos de luz lutam e protegem a todos. Alguns, contudo, estão santificados, são humildes e abertos o suficiente para saberem mais que a maioria, e se essa percepção for permitida por Deus é porque o Senhor tem um propósito. No caso de Daniel era a vitória de toda uma nação que estava em jogo, Israel, assim como informações finais sobre todo o mundo, que por Daniel deveriam ficar registradas na Bíblia para cumprir providência divina. Daniel se consagrou, não só para uma oração, esse era seu estilo de vida, Daniel merecia a intimidade de Deus, tinha mente aberta, crente e humilde. 
      “Desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras, e eu vim por causa das tuas palavras, mas o “príncipe do reino da Pérsia” me resistiu vinte e um dias, e eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me”. Essas palavras, ditas a Daniel por um ser descrito como “um homem vestido de linho, e os seus lombos cingidos com ouro fino de Ufaz, e o seu corpo era como berilo, e o seu rosto parecia um relâmpago, e os seus olhos como tochas de fogo, e os seus braços e os seus pés brilhavam como bronze polido, e a voz das suas palavras era como a voz de uma multidão” (Daniel 10.5-6), sempre me causam impacto.
      Se tantos que estudam e creem na Bíblia entendessem os mistérios que experiências como as de Daniel revelam, saberiam que a existência é muito mais espiritual que material, eterna, não passageira, e vai muito além do que a ciência de nosso século pode explicar. O príncipe do reino da Pérsia podemos entender como um líder de um exército espiritual inimigo, talvez responsável por influenciar para o mal a nação persa. Miguel podemos entender como o líder do exército espiritual de luz, responsável por proteger Israel. Assim como individualmente temos demônios e anjos interagindo conosco, no nível de nação também podem haver líderes de legiões das trevas e da luz responsáveis por grandes movimentações espirituais. 
      Interessante que os vinte e um dias que durou o embate cósmico, e que impediu a chegada do ser espiritual até Daniel, foi o período que Daniel orou. No versículo dois do capítulo dez Daniel diz, “naqueles dias eu, Daniel, estive triste por três semanas”, três semanas são vinte e um dias. Isso nos faz pensar em algumas coisas, orações que demoram para serem feitas, até que sintamos paz, que entendamos que Deus tomou em suas mãos nossa causa, e irá resolvê-la, podem ser períodos de conflitos espirituais, que nós não vemos, nem sabemos. Mas quem fez a diferença, foram Miguel e os anjos lutando por Daniel ou foi a oração persistente do profeta? Eu creio que foi uma ação conjunta, entre plano espiritual e físico. 
      A terceira passagem acima (I Tessalonicenses 1.18), também já estudada aqui, chama a atenção por nos mostrar Paulo admitindo que Satanás prevaleceu numa ocasião. Isso é possível, não só na vida do apóstolo-teólogo, mas também em nossas vidas, mas não ocorre fora da vontade maior de Deus. Tudo e todos são usados pelo Altíssimo, e os sujos são usados para serviços sujos. Para a providência divina foi útil que Paulo não visitasse os tessalonicenses naquela vez, mesmo que o próprio Paulo não tenha entendido assim. Como sempre, devemos aprender com o princípio geral que se harmoniza com a maior parte do ensino bíblico, nesse caso a lição é: respeitemos o mundo espiritual e o quanto ele pode interferir no plano físico. 

01/09/23

Preparado e Merecedor

      “Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo. Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” Apocalipse 3.20-22

      Aqui no “Como o ar que respiro” tenho procurado, já há alguns anos, estabelecer uma diferença entre experiências com Deus e o mundo espiritual. Pelo cristianismo tradicional, há uma primeira experiência, o encontro inicial com o evangelho que permite às pessoas aceitarem o Cristo como único e suficiente salvador. A partir dessa experiência as pessoas, conforme o cristianismo tradicional protestante, podem ter perdão dos pecados, um lugar no céu e ajuda de Deus para terem vidas dignas no mundo. Além dessa conexão com Deus as pessoas também se conectam com igrejas, sendo batizadas, aprendendo da Bíblia e tendo um grupo social com o qual compartilhar sua espiritualidade cristã. 
      Mas existe uma segunda experiência, conforme o cristianismo tradicional mais pentecostal, que inicia-se com a manifestação dos dons espirituais. Com essas ferramentas podemos ter uma vida mais forte espiritualmente para melhorarmos moralmente, além disso podemos ter conhecimentos de informações, que ainda que devam estar debaixo da autorização da Bíblia, nos dão palavras mais vivas, diretas, específicas sobre a vontade do Senhor para nós. A diferença que busco estabelecer aqui é entre essas experiências ensinadas pelo cristianismo tradicional protestante e uma terceira, que na verdade pode começar onde a segunda, que muitos acham que é o final autorizado pelo cristianismo, acaba. 
      Enquanto as duas primeiras experiências são compartilhadas com o homem por um Deus agindo como um pai age com seus filhos menores, assim as iniciativas são mais de Deus que dos homens, a terceira experiência pode ser vivida por aqueles que amadurecem espiritualmente. Como já disse aqui, maduro espiritual não é só ter uma vida moral equilibrada e um conhecimento bíblico mais profundo, mesmo alguma experiência com dons espirituais não faz alguém amadurecido espiritualmente para saber mais sobre o mundo espiritual e as verdades mais elevadas de Deus. Precisamos estar preparados e sermos merecedores para recebermos o ensino que Deus dá aos maduros que buscam mais.  
      Alguns estão preparados, e pode estar mesmo fora do cristianismo tradicional. Esses são os que buscam religiões espíritas e esotéricas, eles não temem o desconhecido, principalmente o desconhecido que o cristianismo chama de diabólico, eles se metem a fazer comunicação com entidades, com espíritos, com anjos e demônios, conhecem protocolos mágicos, estudam as minúcias de tudo que é exigido para que potências espirituais se manifestem. Não, ser mágico, bruxo, feiticeiro, não é algo fácil e romântico como lemos nos livros de J. K. Rowling, que encantaram multidões no mundo todo quando se transformaram em filmes. Para poder “voar” e fazer “encantamentos” é preciso muitos “sacrifícios”. 
      Evangélicos, que acham que sabem tudo, mas que olham só os próprios umbigos, se surpreenderiam com a complexidade que existe nas comunicações com uma parte do mundo espiritual. Coisas específicas devem ser feitas em horas, dias, semanas e meses específicos, com cores, formas geométricas, cheiros específicos, acompanhados de evocações específicas, para que seres específicos se revelem. O “diabo” não tem moral para exigir nada, assim como nada pode dar, dessa forma ele enfeita as coisas, cria e vende aparências fantásticas para esconder seu interior vazio e negro. Ele complica as coisas, para que perdendo tempo no caminho, os homens nunca cheguem ao destino que na verdade nem existe. 
      O caminho para Deus é reto e direto, pelo Espírito Santo que nos conduz até Jesus, a porta para as verdades mais elevadas. O caminho de Deus é iluminado e nele nos movemos atraídos pelo amor do Altíssimo, esse caminho só pede duas coisas, humildade e santidade. Muitos acham que estão preparados pois têm mentes abertas, mas não são merecedores. O que devemos temer não são obsessões que espíritos malignos podem exercer, mas entrarmos na sala do trono de Deus com vestes espirituais sujas. Temer a Deus é respeitar antes sua santidade. Por outro lado outros se acham merecedores da intimidade com Deus, pois perseveram na santidade, mas será que estão preparados para os mistérios? 
      Preparado não é ser mais forte, mais inteligente, mais aberto, mesmo mais crente, mas mais humilde. O humilde põe Deus sempre à sua frente e nada faz sem Deus autorizar, assim não teme nada, mesmo que nada conheça. Merecedor não é ter créditos com Deus por ser fiel, seja às religiões e mesmo diretamente a Deus, merece quem respeita e respeita a Deus quem pratica santidade genuína. Por outro lado está preparado quem está limpo, Deus não pode ser infiel com ele mesmo habitando vaso ou templo sujo, outros “espíritos” até habitam tais lugares, mas não o Santo Espírito. Também é merecedor quem não se acha merecedor, assim é humilde, não faz cobranças, o que Deus dá, lhe basta.