sábado, setembro 02, 2023

Quando mundos se cruzam

      “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.Efésios 6.12

      “Então me disse: Não temas, Daniel, porque desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras; e eu vim por causa das tuas palavras. Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu vinte e um dias, e eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu fiquei ali com os reis da Pérsia.Daniel 10.12-13

      “Por isso bem quisemos uma e outra vez ir ter convosco, pelo menos eu, Paulo, mas Satanás no-lo impediu.I Tessalonicenses 1.18

      Não sabemos tudo o que ocorre no plano espiritual, aliás, a grande maioria de nós sabe muito pouco, e desses, grande parte não acredita que deva saber mais que aquilo que sabe, ou mesmo que exista algo mais a se saber, ainda que seja religiosa, creia em Deus e confie em Jesus como salvador. A primeira passagem bíblica acima é básica para entendermos duas coisas. A primeira é algo que é uma das ênfases do “Como o ar que respiro”: a batalha principal e inicial entre o bem e o mal ocorre nas mentes humanas! Somos nós, seres humanos, que pelo nosso livre arbítrio damos autorização para que bem e mal sejam feitos, assim somos nós que atraímos ou repudiamos ações de espíritos malignos no plano físico. 
      Penso ser importante começar com essa afirmação para evitar uma crença comum e rasa que muitos têm, que coloca a culpa do mal no diabo, e de uma certa forma, isenta-se de certas responsabilidades. Nossa principal batalha é contra nós mesmos, não é contra o diabo e nem contra os homens. Se nos fortalecermos em Deus, espíritos malignos não acharão em nós consonância, não terão como agir no plano físico, se manterão restritos às trevas do plano espiritual. Diabo e demônios não têm corpos físicos, assim precisam dos nossos para agirem no mundo, seja vencendo-nos nas tentações, seja oprimindo-nos nos sentimentos e nos pensamentos, seja possuindo os corpos dos que autorizam uma obsessão mais íntima.
      Posto isso entendamos o segundo ensino da primeira passagem bíblica acima (Efésios 6.12). Sim, existe uma guerra entre legiões de espíritos malignos, rebeldes ao melhor de Deus e portanto em situação interior de trevas, contra legiões de seres espirituais de luz, anjos, arcanjos e outros. Isso fica claro na segunda passagem bíblica acima (Daniel 10.12-13), parte de um de meus textos bíblicos favoritos, junto de alguns textos de João o evangelista. Já refletimos sobre essa experiência de Daniel aqui, mas o importante para esta reflexão é entendermos como nossas orações e nossas vidas podem interagir e influenciar ações no plano espiritual. Que fique claro: experiência como a de Daniel é para quem merece e está preparado.
      Independente se sabemos ou cremos, muita coisa pode acontecer no plano espiritual por causa de nós, Deus ama a todos e seus servos de luz lutam e protegem a todos. Alguns, contudo, estão santificados, são humildes e abertos o suficiente para saberem mais que a maioria, e se essa percepção for permitida por Deus é porque o Senhor tem um propósito. No caso de Daniel era a vitória de toda uma nação que estava em jogo, Israel, assim como informações finais sobre todo o mundo, que por Daniel deveriam ficar registradas na Bíblia para cumprir providência divina. Daniel se consagrou, não só para uma oração, esse era seu estilo de vida, Daniel merecia a intimidade de Deus, tinha mente aberta, crente e humilde. 
      “Desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras, e eu vim por causa das tuas palavras, mas o “príncipe do reino da Pérsia” me resistiu vinte e um dias, e eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me”. Essas palavras, ditas a Daniel por um ser descrito como “um homem vestido de linho, e os seus lombos cingidos com ouro fino de Ufaz, e o seu corpo era como berilo, e o seu rosto parecia um relâmpago, e os seus olhos como tochas de fogo, e os seus braços e os seus pés brilhavam como bronze polido, e a voz das suas palavras era como a voz de uma multidão” (Daniel 10.5-6), sempre me causam impacto.
      Se tantos que estudam e creem na Bíblia entendessem os mistérios que experiências como as de Daniel revelam, saberiam que a existência é muito mais espiritual que material, eterna, não passageira, e vai muito além do que a ciência de nosso século pode explicar. O príncipe do reino da Pérsia podemos entender como um líder de um exército espiritual inimigo, talvez responsável por influenciar para o mal a nação persa. Miguel podemos entender como o líder do exército espiritual de luz, responsável por proteger Israel. Assim como individualmente temos demônios e anjos interagindo conosco, no nível de nação também podem haver líderes de legiões das trevas e da luz responsáveis por grandes movimentações espirituais. 
      Interessante que os vinte e um dias que durou o embate cósmico, e que impediu a chegada do ser espiritual até Daniel, foi o período que Daniel orou. No versículo dois do capítulo dez Daniel diz, “naqueles dias eu, Daniel, estive triste por três semanas”, três semanas são vinte e um dias. Isso nos faz pensar em algumas coisas, orações que demoram para serem feitas, até que sintamos paz, que entendamos que Deus tomou em suas mãos nossa causa, e irá resolvê-la, podem ser períodos de conflitos espirituais, que nós não vemos, nem sabemos. Mas quem fez a diferença, foram Miguel e os anjos lutando por Daniel ou foi a oração persistente do profeta? Eu creio que foi uma ação conjunta, entre plano espiritual e físico. 
      A terceira passagem acima (I Tessalonicenses 1.18), também já estudada aqui, chama a atenção por nos mostrar Paulo admitindo que Satanás prevaleceu numa ocasião. Isso é possível, não só na vida do apóstolo-teólogo, mas também em nossas vidas, mas não ocorre fora da vontade maior de Deus. Tudo e todos são usados pelo Altíssimo, e os sujos são usados para serviços sujos. Para a providência divina foi útil que Paulo não visitasse os tessalonicenses naquela vez, mesmo que o próprio Paulo não tenha entendido assim. Como sempre, devemos aprender com o princípio geral que se harmoniza com a maior parte do ensino bíblico, nesse caso a lição é: respeitemos o mundo espiritual e o quanto ele pode interferir no plano físico. 

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