11/09/23

Será que é só isso?

      “Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. I Coríntios 2.9-10

      Não tome esta reflexão como um ataque a tua fé, aliás, não permita que nada abale tua fé em Deus, que te trouxe até aqui em paz e em vitória. Contudo, todos temos o direito de questionar nossa religião, de pensarmos mais sobre o que cremos, de não aceitarmos doutrinas religiosas como dogmas irrefutáveis. Não é porque a religião fala, que Deus fala. Não é pecado duvidarmos, se fizermos isso num diálogo sincero e humilde com Deus, confiante na palavra final de Deus, não do homem. Muitos ouvem em silêncio o que é dito em igrejas, mas têm medo de admitir que em seus corações duvidam. Deus respeita isso, mas está pronto para esclarecer as dúvidas daqueles que têm coragem de dialogar com ele até a última instância. 
      Será que as certezas que temos sobre Deus e o mundo espiritual, baseadas na religião que escolhemos ter, de fato conhecem as verdades mais altas de Deus? Será que o cânone sagrado de nossa religião, Bíblia e outros textos, está absolutamente certo, é cem por cento palavra pura do Altíssimo? Será que nos alimentarmos daquilo que cremos ser os bons frutos do cristianismo do mundo, sim, porque nosso cristianismo não é o puro de Deus, é construção humana deste mundo, será que isso compensa fecharmos os olhos para os frutos ruins que esse mesmo cristianismo deu e ainda dá, frutos que tanto mal causaram e ainda causam à humanidade? Frutos ruins como a inquisição, perseguição à ciência, frutos que geraram opressão por séculos? 
      O dogma principal do cristianismo do mundo, e sempre identifico assim, do mundo, diferenciando do verdadeiro cristianismo, do Cristo que viveu como homem, que hoje existe com Deus e que nos enviou o Espírito Santo para nos orientar, enfim, a doutrina fundamental desse cristianismo é: há coisas que são de Deus, e as que não são de Deus são do diabo. Essa dicotomia simplifica tudo em dois lados, não havendo variações entre eles, só dois polos extremos. No catolicismo, para surpresa dos desinformados, depois de séculos de encíclicas, concílios e discussões teológicas, até pode haver nuanças, mas a reforma protestante, que desejou restabelecer o cristianismo radical, na verdade fundou uma seita cristã mais extremista. 
      Um exemplo dessas variações é o conceito católico do purgatório, lugar intermediário na eternidade, entre o inferno e o céu, onde espíritos de mortos ficam, sem sofrerem danação eterna, do qual podem sair para os gozos do céu após um tempo de preparação e com auxílio da intercessão dos vivos. O protestantismo não contempla essa possibilidade intermediária, mas só os extremos absolutos. Outro exemplo é a intermediação entre homens e Deus que pode ser feita por espíritos de mortos santificados e beatificados pela Igreja Católica na Terra, no protestantismo a intermediação é exclusiva do Cristo. Sob esse aspecto Igreja Católica está mais próxima ao espiritismo kardecista que está o protestantismo. 
      Baseados em “se não é de Deus é do diabo”, muitas coisas são simplesmente desconsideradas, nem se dão ao trabalho de pensarem mais a respeito, afinal, muitos não querem ir contra Deus, pois ficariam ao lado do diabo, muitos querem a certeza do céu, pois de outra forma estariam condenados ao inferno. Com relação a dons espirituais e intimidade com o Espírito Santo, muitos, principalmente da linha protestante tradicional, presbiterianos, metodistas, batistas, por exemplo, logicamente, não “avivados”, nem isso querem, não se arriscam com a subjetividade de palavras reveladas, preferem o conforto sólido e confiável, conforme ela acham que é, da palavra registrada e aprovada pela tradição e pelos séculos na Bíblia. 
      Até que ponto anjos, seres espirituais, na forma pura ou humana, experiências relatadas na Bíblia em textos como Genesis 18.1-3, Genesis 32.24-30, Ezequiel 1.4-8, Daniel 8.15-16, 10.5-13, Lucas 1.11-19, dentre outros, são de fato seres de extrema e eterna espiritualidade, moralidade e luz, ou são espíritos de mortos iluminados que se tornaram servos do Altíssimo após morte no mundo? Não estou defendendo aqui certas mediunidades exercidas por kardecistas, afro-espíritas e outros religiosos, não acho isso seguro e mesmo útil. Minha fé me permite aceitar só o Espírito Santo enviado por Jesus para termos intimidade espiritual maior com Deus. A verdade é que precisamos buscar mais, ao invés de taxarmos as coisas como “de Deus” ou “do diabo”. 
      Essa crença dicotômica cerceia pelo medo, isso foi e ainda é útil para afastar de coisas preciosas quem não está preparado para elas. Mas será que é só isso? Até que ponto há conhecimentos guardados por papas, hierarquias eclesiásticas e teólogos, que esses sabem que são verdadeiros, mas que não liberam para as massas por acharem perigosos demais? Tais conhecimentos poderiam levar muitos a se afastarem da Igreja Romana, pondo em risco o poder que líderes católicos possuem sobre grande parte da humanidade. Não duvido disso, a liderança católica é bem versada em muitos assuntos, não são pastores ignorantes confiantes só no próprio carisma, tem séculos de know-how trancafiado em salas secretas do Vaticano.

10/09/23

Simão, o mago (2/2)

      “Havia naquela cidade um homem chamado Simão, que praticava artes mágicas e deixava o povo de Samaria admirado. Dizia ser alguém muito importante” “O próprio Simão abraçou a fé e, tendo sido batizado, acompanhava Filipe de perto, observando extasiado os sinais e grandes milagres praticados.” Atos 8.9, 13 (leia no final a passagem bíblica sobre Simão o mago na íntegra)
 
      Magia, no sentido de algo acontecer ou ser provocado por nada, não existe, tudo tem uma causa, ainda que seja de origem invisível, inaudível e intocável por órgãos e membros humanos físicos e por ferramentas e aparelhos. Dizer “isso acontece como mágica”, no sentido que aparece no ar, não procede, sempre há alguma manifestação científica ou truque físico envolvidos. Mas se considerarmos o plano espiritual e nossos espíritos meios e seres que existem, ainda que a ciência hoje não comprove, entenderemos que esses podem provocar muita coisa no plano material. Interessante que até há alguns séculos não se acreditava em vírus e bactérias porque não podiam ser vistos a olhos nus, ainda que provocassem doenças constatáveis.
      Você que não crê em magia ou que crê que ela não é permitida por Deus, o que acha que ocorre quando se ora ou se reza a Deus, com o coração cheio de convicção emocional e com a mente visualizando o que se deseja receber, seja em nome do Cristo, de Maria ou de algum santo? Fé é gerada e movimentada. Foi essa fé que permitiu a Jesus homem e aos apóstolos realizarem milagres e maravilhas no primeiro século. Quem pode dizer que fé não seja algum tipo de energia, que interagindo com Deus de alguma forma atua no mundo material, curando enfermos, influenciando pessoas, manifestando no plano físico a dádiva que o crente pediu a Deus? Há poder na fé, há magia nela, há mistério que atua na matéria e no espírito.
      Magia pode ser feita, vimos isso na postagem anterior, mas o que faz um mago vir ao evangelho, como foi o caso de Simão no livro de Atos? A resposta é uma só, ainda que interação com o plano espiritual seja possível, abra muitas possibilidades e não represente só mentiras de demônios, só Jesus abre caminho direto para o perdão do Deus Altíssimo, que entrega paz e cura o homem, para que esse possa praticar obras de vida eterna. Muitos conhecem espíritos, mas se esquecem do Santo Espírito, outros acham conhecimento sobre mistérios por guias, mas se afastam do mestre Jesus. Nos conectarmos a Deus diretamente pelo Cristo, sem outros intermediários, é experiência exclusiva, completa e transformadora. 
      Interessante que Simão parece ter se convertido a princípio, mas pelo que ele mostra depois, parece que só estava encantado pelo mesmo assunto que o conduziu à magia, fenômenos sobrenaturais. Parece que ele não teve uma experiência pura com o Altíssimo, só achou ter achado uma ferramenta mais eficiente para suas intenções místicas. Se ele experimentava magia, talvez em espíritos, reconheceu que o Espírito sobre Filipe, Pedro e João fazia magia maior, por isso ficou com os cristãos, ele não queria servir, queria ser servido. Penso que Simão se convenceu racional e equivocadamente, mas sem ainda ter recebido o Espírito Santo continuou cego espiritualmente. Sua ganância, contudo, o delatou quando quis comprar os dons.
      “Quando Simão viu que, pelo fato de os apóstolos imporem as mãos, era concedido o Espírito Santo, ofereceu-lhes dinheiro, dizendo: — Deem também a mim este poder, para que a pessoa sobre a qual eu impuser as mãos receba o Espírito Santo. Mas Pedro respondeu: — Que o seu dinheiro seja destruído junto com você, pois você pensou que com ele poderia adquirir o dom de Deus!” (Atos 8.18-20) Muitos podem ler isso e achar que é uma exortação só para bruxos e médiuns, não é, também exorta muitos que se apresentam como pastores e tentam vender o evangelho, usando dons para manipular as pessoas. A espiritualidade mais alta não se vende e não se compra, é dada graciosamente ao que quer glorificar a Deus.
      Penso que havia verdade em Simão, um homem que conhecia magia pôde reconhecer nos líderes cristãos uma espiritualidade mais alta, ele só demorou um pouco para entender a si mesmo, que sua necessidade maior não era ter acesso ao “espírito” mais poderoso para ter “o Grande Poder”. Simão precisava de virtudes morais, essas são os dons mais preciosos que Deus quer dar ao homem, mais que conhecimento do mundo espiritual e possível uso desse para experimentar maravilhas. Muitos conhecem mistérios espirituais, mais que católicos, protestantes e evangélicos conhecem, mas deveriam ser menos conduzidos pela curiosidade corajosa, e mais por um amor puro a Deus, que quer servi-lo, não tentar usá-lo.
      “Peço que vocês orem ao Senhor por mim, para que não me sobrevenha nada do que vocês disseram” (Atos 8.24b), parece que no final Simão reconheceu que precisava de ajuda, que não estava entendendo direito as coisas. Pelo texto bíblico compreendemos que ele não se atreveu nem a orar por si, pediu que os líderes cristãos intercedessem por ele. Simão acreditava, na verdade sempre acreditou, mesmo antes de conhecer o evangelho. Enquanto algumas pessoas são céticas por natureza, outras parece que nascem crentes, não têm qualquer dificuldade para contemplarem o mundo espiritual. Mas ter informações espirituais não significa ter moralidade prática, era isso que Simão precisava entender, no final parece que entendeu.
      Não penso que judaísmo, catolicismo e protestantismo proíbam certas coisas porque não podem ser feitas, mas porque não são convenientes. Podem ser perigosas e não mostram às pessoas comuns o plano mais alto de Deus de forma direta, salvação por Jesus. Mas dons do Espírito Santo não são intimidades espirituais que todos experimentam, ainda que sejam orientados na Bíblia a todos os cristãos. Por outro lado, generalizar como diabólico todo evento espiritual fora do que o cristianismo conservador legitima como aprovado por Deus, não é o mais adequado. A verdade é que há mistérios que grande parte dos cristãos não sabe, assim, tenhamos cuidado para considerá-los, com temor a Deus, mas com mente aberta.

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

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      “Havia naquela cidade um homem chamado Simão, que praticava artes mágicas e deixava o povo de Samaria admirado. Dizia ser alguém muito importante, e todos lhe davam ouvidos, do menor ao maior, dizendo: — Este homem é o poder de Deus, chamado "o Grande Poder". Davam atenção a ele porque durante muito tempo os havia impressionado com as suas artes mágicas. Quando, porém, deram crédito a Filipe, que os evangelizava a respeito do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, iam sendo batizados, tanto homens como mulheres. O próprio Simão abraçou a fé e, tendo sido batizado, acompanhava Filipe de perto, observando extasiado os sinais e grandes milagres praticados. Quando os apóstolos, que estavam em Jerusalém, ouviram que o povo de Samaria tinha recebido a palavra de Deus, enviaram-lhes Pedro e João. Chegando ali, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo, pois o Espírito ainda não havia descido sobre nenhum deles. Tinham apenas sido batizados em nome do Senhor Jesus. 
      Então lhes impuseram as mãos, e eles receberam o Espírito Santo. Quando Simão viu que, pelo fato de os apóstolos imporem as mãos, era concedido o Espírito Santo, ofereceu-lhes dinheiro, dizendo: — Deem também a mim este poder, para que a pessoa sobre a qual eu impuser as mãos receba o Espírito Santo. Mas Pedro respondeu: — Que o seu dinheiro seja destruído junto com você, pois você pensou que com ele poderia adquirir o dom de Deus! Não existe porção nem parte para você neste ministério, porque o seu coração não é reto diante de Deus. Portanto, arrependa-se desse mal e ore ao Senhor. Talvez ele o perdoe por esse intento do seu coração. Pois vejo que você está cheio de inveja e preso em sua maldade. Simão disse aos apóstolos: — Peço que vocês orem ao Senhor por mim, para que não me sobrevenha nada do que vocês disseram.
Atos 8.9-24

09/09/23

Mágica e magia (1/2)

      “Então os discípulos se aproximaram de Jesus e lhe perguntaram: — Por que o senhor fala com eles por meio de parábolas? Ao que Jesus respondeu: — Porque a vocês é dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas àqueles isso não é concedido.Mateus 13.10-11

      A palavra “mágica”, sinônimo de ilusionismo ou prestidigitação, significa criação de ilusão por meio de truques e artifícios. Já “magia” significa “arte, ciência ou prática baseada na crença de ser possível influenciar o curso dos acontecimentos e produzir efeitos não naturais, valendo-se da intervenção de seres fantásticos e da manipulação de algum princípio oculto supostamente presente na natureza, seja por meio de fórmulas rituais ou de ações simbólicas”. Mágica são truques realizados pelo “mágico” no mundo material com finalidade de entretenimento. Magia são fenômenos produzidos pelo plano espiritual no plano fisico, ou nos planos físico e espiritual interagindo o “mago” no plano físico com seres espirituais. 
      Alguns creem na existência de poderes da mente, acreditam que um ser humano usando uma habilidade natural, através de concentração e outros meios, pode, por exemplo, se comunicar com a mente de outros seres, influencia-los, mover objetos, produzir sons ou provocar outros efeitos físicos. Outros acreditam, e eu sou um com essa opinião, que não existem poderes mentais puros, penso que se fenômenos paranormais podem ser feitos, sejam entre seres humanos, ou entre seres humanos e objetos ou espíritos, é por interação do ser no plano físico com seres espirituais, há uma ação híbrida de forças. Sem essa interação só podem ser feitos fenômenos físicos naturais, que podem ser explicados pela ciência atual e não são magia.
      Identificar o puramente físico de espiritual e físico integrados, é entender o que é ciência, o que é mágica, que nada mais é que ciência usada para entreter, e o que é magia. Muitos fenômenos científicos, que crianças fazem hoje, eram considerados magia feita pela alquimia séculos atrás. Por outro lado, fenômenos de magia, que deixaram de ser ocultos a partir do século dezenove, talvez sejam considerados ciência no futuro. Já ciência é usada até hoje como truques por mágicos. Importante entendermos que o homem do passado via ciência, filosofia e espiritualidade como coisas integradas, assim, experiências físicas eram acompanhadas de rituais de magia, e crendo que a moralidade do alquimista interferia nelas. 
      Magia pode ser feita, isso não e superstição, e através de óticas espiritualistas diferentes, fenômenos físicos com interferência espiritual podem ocorrer pelo ocultismo, pelo esoterismo, pelo espiritismo, pela bruxaria, pela feitiçaria, pelo xamanismo. Que fique claro que é injusto e raso colocar todas essas óticas num mesmo nível. Também é sábio não demonizarmos o que não conhecemos, ainda que o cristianismo conservador tradicional tenha colocado muitas dessas óticas na caixinha do capeta. Mas quem estuda com seriedade, ainda que não saiba como ocorrem, sabe que muitos fenômenos ocorrem, não são truques de mágicos, delírios e alucinações de loucos, mas fatos reais realizados por magos, médiuns e outros.
      Ateus, céticos e materialistas, que não creem em coisas espirituais, só em físicas, assim como cristãos que creem que o que vai além de suas crenças é só mentira ou ato do diabo, acreditem, magia pode ser feita, não como poder da mente, mas por interação entre homens e seres espirituais. Dizer que é tudo demônio é desacreditar no próprio Espírito Santo, ao qual o cristianismo tradicional alia a espiritualidade legítima e autorizada por Deus. Muita coisa que cristãos provam é ação também de anjos, arcanjos e outros seres espirituais de luz, experiências registradas bastante na Bíblia. E o que cristãos chamam de milagres, não seriam “magia de Deus”, experimentadas, não através de palavras mágicas, mas pela fé no Cristo? 
      O kardecismo, que não crê em demônios e anjos eternos, mas em seres humanos existindo no outro plano desencarnados, com livre arbítrio e com os quais podemos nos comunicar, tem um entendimento. Para se fazer magia física deve-se entrar em contato com espíritos inferiores, contudo, como tais, são influências morais negativas para o médium. Já quem deseja orientações morais elevadas deve buscar espíritos superiores, que não se prestam a fenômenos físicos, e que podem ser denominados coletivamente de “Espírito Santo”. Usei o termo magia, que nesse texto generalizo para práticas semelhantes, mas com nomes diferentes em crenças diferentes, no lugar de mediunidade, termo mais adequado ao espiritismo.  
      A verdade é que muito que lemos em livros e assistimos em filmes, feiticeiras e bruxos adolescentes movendo objetos e manipulando os elementos, pode ser feito, mas depois de uma interação profunda entre seres humanos e seres espirituais (que pode envolver até terríveis rituais de sangue). Mas se entendermos que os espíritos ligados à matéria, e portanto disponíveis para fazerem magia no plano físico, são os inferiores ou os demônios, concluiremos que a magia possível vem do mal. Espírito Santo e seres espirituais de luz, anjos e outros, estão capacitados com virtudes morais, assim com a missão de orientar seres humanos a serem virtuosos e alcançarem o céu, não dar espetáculos sobrenaturais no mundo material.
      Por que são necessários rituais complicados, evocações determinadas, horários específicos, ambiente preparado, para que o mago faça contato com o mundo espiritual? Ainda que no evangelho original baste orar a Deus no nome de Jesus, a Igreja Católica desenvolveu liturgias e sacramentos para o cristão se relacionar com Deus: não seriam esses protocolos espécies de rituais mágicos? Algo que Deus tem me levado a entender é que a relação com ele pode ser o mais simples possível na forma, contanto que o conteúdo seja santo. Demônios são vaidosos e tradicionais, têm prazer em coisas complicadas e antigas, Deus por sua vez releva aparências e abençoa pela intenção simples do coração, independente da forma. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

08/09/23

Atenção aos sinais

      “Jesus disse ainda às multidões: — Quando vocês veem uma nuvem subindo no oeste, logo dizem que vai chover, e assim acontece. E, quando notam que sopra o vento sul, dizem que fará calor, e assim acontece. Hipócritas! Vocês sabem interpretar a aparência da terra e do céu, mas não sabem discernir esta época?Lucas 12.54-56

      Tenho usado com frequência o termo mistério, de fato há muitas coisas que não sabemos, sobre vários aspectos da existência, do planeta Terra, de nossos corpos, mas muito mais sobre o plano espiritual. Mistérios espirituais, contudo, o são por dois motivos, em primeiro lugar para proteger coisas preciosas, santíssimas, de despreparados e não merecedores, como temos refletido aqui. Contudo, há um segundo motivo de muitas vezes não entendermos mistérios: displicência. A verdade pode estar na nossa cara, mas nós não vemos, ou negamos que estamos vendo, afinal, alguns mistérios podem pedir que abramos mãos de dogmas religiosos nos quais estamos confortavelmente conformados. (Conformar: tomar a forma de algo). 
      Deus não esconde as coisas como nós homens escondemos, por vaidade e insegurança, para nos exaltarmos sobre os outros ou manipulá-los. Há um antagonismo no ser humano, enquanto seu espírito é água, seu corpo é aquário, que não só prende a água, mas congela-a, roubando dela a liberdade, uma de suas importantes características. Ainda que nossos homens interiores não queiram, nossa existência no mundo gosta de ser formatada, usando formas que grupos sociais aprovam em tradições. Isso nos dá um sentimento de pertencimento a algo maior que nós, que faz com que nos sintamos protegidos e abrigados num mundo com coisas desconhecidas e imprevisíveis. Gelo ainda é agua, mas fora de seu melhor estado. 
      Nem água, nem gelo, após a morte Deus nos transformará em ar, que flutua e se eleva, acima da terra dos homens, então, conheceremos como somos conhecidos. De novo, perdoe-me as simbologias, mas se não podemos ser ar no mundo, também não precisamos ser gelo na forma, ainda que como água possamos estar em formas, mas sem deixarmos que nos congelem. Só na liberdade do Espírito Santo podemos ver e entender os sinais para então vivermos a verdade. Os sinais dos tempos são claros, por eles podemos entender que coisas estão próximas de ocorrerem, ainda que não devamos ser paranoicos, achando que certas coisas ocorrerão dramaticamente e desobedecendo leis naturais que Deus estabeleceu. 
      O ponto desta reflexão, contudo, não são sinais para acontecimentos do coletivo, como o fim dos tempos, me refiro desta vez a sinais para nossas vidas pessoais. Quem anda no Espírito é avisado por Deus, creio nisso, principalmente sobre eventos decisivos, mesmo que não tenha experiência com manifestação de dons espirituais, que seja um protestante mais racional. Uso com frequência o termo manifestação junto de dons espirituais, isso porque creio que todo o que tem o selo do Espírito Santo possui dons, mas que podem não ter sido manifestados por alguma trava emocional. Por isso a questão não é o cristão ter ou não dons, mas eles já terem sido manifestados ou não, isso tem a ver com o emocional, não com o espiritual.
      O maduro teve tempo de avaliar escolhas e tempo, entendeu que para toda ação há proporcional reação, sabe que nada ocorre sem antes dar aviso. Cego é o ateu, que por não poder provar cientificamente ou por odiar tudo que se diz representante de Deus, legitimamente ou não, nega-se a usar as ferramentas espirituais que Deus dá a todos. Esse também recebe sinais, Deus não faz acepção de pessoas, mas não dá importância a eles até que a vida lhe ponha numa situação onde o materialismo não pode ajudá-lo, só a fé no espiritual pode. Que sinais a vida tem dado-lhe? Nuvens podem ter coberto o céu, trovões podem estar soando, relâmpagos acontecendo, ainda assim você não se prepara para o temporal que se aproxima no horizonte.
      “De um só homem fez todas as nações para habitarem sobre a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem Deus se, porventura, tateando, o possam achar, ainda que não esteja longe de cada um de nós; pois nele vivemos, nos movemos e existimos, como alguns dos poetas de vocês disseram: "Porque dele também somos geração"” (Atos 17.26-28). Deus é tão real quanto o Sol, aliás, mais real que o Sol, pois existia antes desse e continuará existindo depois que esse se apagar. Quantas provas irrefutáveis já tive da abençoadora presença de Deus, sempre me dando esperança e me livrando. Esse Deus real sempre me avisa sobre a vida e a morte, a tempo de me preparar. 
      “Jesus, porém, disse: Até vós mesmos estais ainda sem entender?” (Mateus 15:16), que os da luz não estejam em trevas, cegados pelas tradições religiosas, por egos moralistas, mas sem a genuína humildade, que não se conformem com o mundo fora dos templos, nem com o mundo dentro de templos. Não e fácil não se deixar congelar em formas, bancos de templos são confortáveis, ficamos lá participando de liturgias legitimadas por décadas, crendo que estamos baseados em crenças do evangelho original, assim fundamentados na verdade maior de Deus. Mas quanto a nossos homens interiores, estão libertos do pecado, têm paz, conseguem pôr em prática o que dizemos crer? Ou são apenas pedras de gelo que não veem os sinais?

07/09/23

Ordem e progresso?

      “Porque assim é a vontade de Deus, que, fazendo bem, tapeis a boca à ignorância dos homens insensatos; como livres, e não tendo a liberdade por cobertura da malícia, mas como servos de Deus.I Pedro 2.15-16

      Forma abreviada de "O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim" (em francês L'amour pour principe et l'ordre pour base; le progrès pour but.), “o lema político "Ordem e Progresso" origina-se da corrente filosófica positivista, criada por Auguste Comte e John Stuart Mill no século XIX. A doutrina positivista preconiza realização dos ideais republicanos: a busca e a manutenção de condições sociais básicas (respeito aos seres humanos, salários dignos etc.) e o melhoramento do país (em termos materiais, intelectuais, etc). O lema "Ordem e Progresso" encontra-se escrito na Bandeira Nacional do Brasil idealizada por Raimundo Teixeira Mendes e desenhada pelo artista Décio Villares, com a fundação da República brasileira por Benjamin Constant.” Fonte 

      Uns dizem que progresso não pode haver junto de ordem. Sob um ponto de vista capitalista, onde livre iniciativa para abrir e manter uma empresa deve ser direito de todos, permitindo que todos tenham chances iguais de prosperidade, essa compreensão pode ser adequada. É preciso algum caos, onde as coisas possam crescer e decrescer em todas as direções, numa ampla liberalidade, sem amarras, para que haja direitos iguais. Contudo, o ser humano não é só um homo economicus, somos seres sociais, assim é preciso certa ordem para existirmos como civilização no mundo, com direitos individuais parando onde começa outros direitos individuais. Viver civilizadamente é seguir regras que permitam justiça a todos. 
      O mais importante, contudo, é que além de capitalistas civilizados, somos seres morais, nisso não cabe caos irresponsável, mas liberdade que é atraída para a luz de Deus. Nisso estou dizendo que não podemos ser totalmente moral, não só na teoria, mas principalmente na prática, sem Deus. Religião, com todos os seus defeitos, auxilia o ser humano nesse aspecto, a conhecer e viver de forma moral, assim, aquilo que se diz espiritualidade ou religiosidade, mas que não conduz o homem a valores morais, é engodo do mal, não religião útil nas mãos de Deus. Em sua graça Deus pode usar muitas religiões para abençoar o homem, ainda que aguarde que todos o conheçam de forma mais alta pelo seu Espírito em Jesus.
      Na genuína liberdade que temos só pelo Espírito Santo, não existe desordem, nem cadeias, mas um seguir direto e reto para Deus, assim há progresso com ordem. Só Deus pode dar ao ser humano ordem e progresso, o mundo e o homem caem nos extremos, assim ou haverá caos irresponsável ou lei delimitadora, e em ambos não poderá haver progresso maior e justo. Por isso tantas ideologias políticas, cada uma com vantagens e desvantagens, e ninguém ache que a democracia é o melhor sistema, isso é só o que os atuais poderes deste mundo, a nação estadunidense e seus aliados da Otan, querem que pensemos. Como disse Winston Churchill, democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as demais.
      Já refletimos aqui sobre caos e liberdade, sobre a liberdade do mundo, mesmo de religiões, e a liberdade de Deus. Liberdade não é poder fazer tudo, quem faz tudo é escravo de tudo e não exerce escolha pelo melhor. Liberdade é, ainda que se possa fazer tudo, escolher fazer a coisa certa, e a coisa certa é a vontade de Deus, e repito, não necessariamente a vontade das religiões cristãs. A liberdade do mundo, a princípio, pode até parecer um horizonte imenso que se abre para infinitas possibilidades, mas quem entra nela acaba escravo. A liberdade de Deus funciona exatamente ao contrário, pode parecer restrita, no início, como é para crianças, mas depois abre-se de forma maravilhosa na luz do Altíssimo. 
      Quem quer progresso financeiro, ainda que se sinta a princípio à vontade para empreender, no final torna-se escravo do dinheiro e do status quo que o dinheiro dá. Dinheiro é deus egoísta e traiçoeiro. Em Deus, por ele nos amar respeitando sempre nossos limites, começamos limitados, muitas vezes em bancos de igrejas ouvindo com temor interpretações tradicionais da Bíblia, e é assim mesmo que tem de ser, e para muitos, até o fim de suas vidas. Mas num Deus santo, e santidade é a característica da luz mais alta, nunca abramos mãos disso, a liberdade se abre, não para desfrutarmos dos apetites da carne, mas para sabermos das verdades espirituais mais altas, que nos conduzem ao verdadeiro progresso espiritual. 

06/09/23

Verdade ou falácias?

      “Ouvi a palavra do Senhor, vós filhos de Israel, porque o Senhor tem uma contenda com os habitantes da terra; porque na terra não há verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus. Só permanecem o perjurar, o mentir, o matar, o furtar e o adulterar; fazem violência, um ato sanguinário segue imediatamente a outro.” “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos.Oseias 4.1-2, 6

      Falácia é um enunciado ou raciocínio falso que simula a veracidade. Há uma falácia lógica denominada “Argumentum ad hominem”, nela alguém procura negar uma proposição com uma crítica ao seu autor e não ao seu conteúdo. Existe uma variação dessa falácia, a “Argumentum ad hominem circunstancial”, que foca a parcialidade do adversário, sugerindo que esse tem algo a ganhar com a defesa de seu ponto de vista. “Argumentum ad temperantiam” é outra variação da falácia inicial, também conhecida como falácia do falso meio-termo, afirma que o meio-termo entre duas propostas é a melhor solução. Este argumento é usado quando duas ideias opostas são defendidas por grupos de extensão semelhante. Sua falha, contudo, vem da pressuposição que os extremos são necessariamente errados, e que o meio-termo é sempre certo.
      A verdade pode estar em muitos pontos, pode estar no centro, mas também pode estar mais à esquerda como mais à direita, assim como em todos as matizes do campo. Por várias vezes tenho refletido aqui sobre necessidade de equilíbrio, e isso é imprescindível para que analisemos as coisas sem interferência de preconceitos, de preferências pessoais ou de manipulações externas. Avaliar com equilíbrio é achar a verdade à esquerda, ainda que quem avalia esteja à direita, assim como é achar a verdade à direita, ainda que quem avalia esteja à esquerda. Podemos fazer escolhas por essa ou aquela ideologia, mesmo extrema, seja na política, na religião etc, mas não podemos nos achar donos da verdade só porque estamos em extremos, e nos acomodarmos nisso sem seguirmos avaliando e se necessário mudando de opinião. 
      Para termos uma visão mais esclarecida e podermos avaliar sem parcialidades, o sábio é nos pormos no centro, nessa posição estamos próximos tanto do extremo da esquerda quanto do extremo da direita. Já quem se coloca sempre num extremo até poderá estar com a verdade, mas também poderá estar o mais distante possível dela se estiver no extremo oposto. Se o sábio é nos colocarmos num ponto médio do campo horizontal, do plano físico, dos homens, o mais espiritual é nos colocarmos no centro do campo vertical, do plano espiritual, e de Deus, não de espíritos rebeldes. A melhor visão se tem de cima, pelo Espírito Santo, que vê tudo, mesmo o que tenta se esconder dos homens. Quem não busca a verdade poderá levar o conflito para o nível pessoal, tentando desqualificar a fonte para não dar à verdade seu devido valor.
      Por que usar meios falaciosos para vencer embates ideológicos? Podemos não querer refletir mais sobre algo, nos darmos ao trabalho de pensar e de conhecer, e conhecer é nos informarmos não só sobre aquilo que concorda com nosso posicionamento inicial, mas sabermos sobre aquilo que vai contra nossas mais dogmáticas verdades. Mas muitas vezes até estamos bem informados e não temos preguiça de conhecer, estudar e avaliar, mas entendemos que mudarmos de opinião implica em comprometermos uma reputação que temos com pessoas que são importantes para nós, das quais nos acostumamos a depender da aprovação. O que é pior, ignorância ou vaidade? Uma nem começa a trabalhar, a outra trabalha mas não aprende o principal do melhor trabalho, estar na luz, ser humilde e confiar em Deus para evoluir espiritualmente. 
      Essa coisa de colocar ideias e atitudes, sobre as mais diversas áreas, nas caixas esquerda e direita, é um jeito humano de organizar as coisas. Na política podemos situar a ideologia marxista à esquerda e a democracia à direita, na religião podemos pôr o progressismo à esquerda e o conservadorismo à direita, de forma mais geral podemos por o ateísmo à esquerda e a crença no mundo espiritual à direita. Esses foram exemplos mais genéricos, mas o cristianismo tradicional usa as caixas para explicar sua mentalidade maniqueísta, assim o diabo está à esquerda e Deus à direita. Percebam que essa dicotomia pode ser perigosa e burra, podendo levar a uma visão simplista das coisas, colocando todas as ideologias de áreas diferentes da esquerda em uma única caixa, e igualmente pondo tudo que se refere à direita em outra única caixa. 
      Desse pensamento preguiçoso pode-se concluir que se alguém é marxista também é progressista, ateu e do diabo, já quem é democrata também é conservador, crente e de Deus. O problema não é só interpretar os outros assim, mas achar algo equivocado sobre si mesmo, portanto se uma pessoa se acha evangélica se sentirá na obrigação de aceitar todos os dogmas do cristianismo tradicional, de ser conservadora na moral, na família e na sexualidade, e de demonizar o comunismo. Ser cristão progressista, por exemplo, pode parecer inadmissível para quem tenta ver o mundo e a humanidade colocando tudo só em duas caixas. Será que é isso que Deus tem de melhor para nós, irmãos cristãos? Até podia ser para homens de séculos atrás e mesmo para muitos do século atual, mas não é para todos. Tirar nossa cabeça da caixa depende só de nós. 

05/09/23

Guarde o bem que viveu

      “Para aquele que está entre os vivos há esperança, porque mais vale um cão vivo do que um leão morto.Eclesiastes 9.4

      Andando pela grande casa de meus sogros, que vivem na mesma residência há mais de cinquenta anos, onde minha esposa e seus irmãos foram criados, vejo aqueles enfeites, bibelôs, estatuetas, porta-retratos, quadros, porcelanas, cristais, móveis e outros objetos de decoração típicos de casas de pessoas na faixa dos oitenta anos. Alguns podem chamar de brega, outros só de antiguidades, uma arquiteta, conhecida minha, diz que essas velharias são desnecessárias, de mau gosto, assim decora o apartamento em que vive com a mãe, uma octagenária, com a modernidade clean e fria. Quando visito o apartamento dessa conhecida, sinto um vazio, sinto gosto de morte, sinto um corpo sem alma, de quem se desfez de memórias antes do tempo.
      Viver é colecionar memórias, quem viveu tem memórias e gosta delas, nem todas são boas, nem todas são bonitas, nem todas ornam com estéticas atuais, nem todas são úteis hoje, mas são nossas identidades, nos fazem existir neste mundo e nas vidas de outras pessoas. Que adianta o corpo estar vivo hoje, se a alma está morta? Quando ando pela casa de meus sogros a vida é tão densa que pode ser tocada, ela é real, minha caçula diz, aqui tem cheiro de vovô e vovó. A conhecida que citei acima, que mora num apartamento que parece aposentos de um hospital, disse-me que foi com uma amiga à residência dos pais dessa amiga, que falecidos deixaram uma casa, conforme ela, repleta de tranqueiras démodés para serem descartadas. 
      Felizes os que têm memórias bregas para serem passadas para filhos, netos, bisnetos e outros, essas são referências, legados que deixaram no mundo, provas que viveram, que amaram, que escolheram, que lutaram e conquistaram o que fazia-lhes felizes, ainda que muitos achem antiquado hoje. Todos somos um pouco acumuladores, e nisso nada há de errado, são nossos corpos segurando suas existências neste plano. Deixemos a modernidade para os novos, mas que esses aprendam a dar valor para o que possuem em seus tempos de juventude. Envelhecer é encerrar certas coisas com satisfação, dar um fim às mudanças da aparência para focar nas transformações do interior. Quem pode ser sempre novo é o espírito, não o corpo. 
      Ainda que se deva manter corpos saudáveis, não se pode ser sempre jovem, mudar e mudar por fora para tentar harmonizar corpo envelhecido com espírito imaturo, precisamos alcançar algo e usarmos isso como fundamento para construirmos algo duradouro, o que dura está dentro de nós, não fora. Alguns até constróem alguma coisa, mas como são egoístas e vaidosos jogam fora o que conseguiram, só para serem vistos como novos e modernos. Talvez algumas pessoas sintam-se bem numa casa com cores, espaços, móveis, eletrodomésticos e outros adereços e utensílios de acordo com a última tendência, mas quem quiser sentirá vida se movendo por casas antigas, verá espíritos na sala, almas na copa, o tempo vívido no ar.
      Ninguém pode ser leão para sempre, esse morre e dá lugar a um cachorro, domesticado, afável, manso, quem quer aparentar um leão no tempo errado só mostrará a morte. Melhor ser um cão, mais fraco que o leão, menos voraz, não mais agressivo, não jovem, mas velho, em paz e vivo. “Mais vale um cão vivo do que um leão morto”, e todos nos tornamos cãozinhos na velhice, ainda que com memórias de jovens leões na cabeça. Feliz o que amansou o leão e que libertou o cão, feliz o que não quer vencer atacando, subjugando, ferindo, matando, mas aliando-se, abraçando, amando, pronto para encontrar seu amigo maior, Deus, no final de um dia de trabalho que se chama vida neste mundo, menor por fora, mas forte por dentro.