sábado, setembro 09, 2023

Mágica e magia (1/2)

      “Então os discípulos se aproximaram de Jesus e lhe perguntaram: — Por que o senhor fala com eles por meio de parábolas? Ao que Jesus respondeu: — Porque a vocês é dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas àqueles isso não é concedido.Mateus 13.10-11

      A palavra “mágica”, sinônimo de ilusionismo ou prestidigitação, significa criação de ilusão por meio de truques e artifícios. Já “magia” significa “arte, ciência ou prática baseada na crença de ser possível influenciar o curso dos acontecimentos e produzir efeitos não naturais, valendo-se da intervenção de seres fantásticos e da manipulação de algum princípio oculto supostamente presente na natureza, seja por meio de fórmulas rituais ou de ações simbólicas”. Mágica são truques realizados pelo “mágico” no mundo material com finalidade de entretenimento. Magia são fenômenos produzidos pelo plano espiritual no plano fisico, ou nos planos físico e espiritual interagindo o “mago” no plano físico com seres espirituais. 
      Alguns creem na existência de poderes da mente, acreditam que um ser humano usando uma habilidade natural, através de concentração e outros meios, pode, por exemplo, se comunicar com a mente de outros seres, influencia-los, mover objetos, produzir sons ou provocar outros efeitos físicos. Outros acreditam, e eu sou um com essa opinião, que não existem poderes mentais puros, penso que se fenômenos paranormais podem ser feitos, sejam entre seres humanos, ou entre seres humanos e objetos ou espíritos, é por interação do ser no plano físico com seres espirituais, há uma ação híbrida de forças. Sem essa interação só podem ser feitos fenômenos físicos naturais, que podem ser explicados pela ciência atual e não são magia.
      Identificar o puramente físico de espiritual e físico integrados, é entender o que é ciência, o que é mágica, que nada mais é que ciência usada para entreter, e o que é magia. Muitos fenômenos científicos, que crianças fazem hoje, eram considerados magia feita pela alquimia séculos atrás. Por outro lado, fenômenos de magia, que deixaram de ser ocultos a partir do século dezenove, talvez sejam considerados ciência no futuro. Já ciência é usada até hoje como truques por mágicos. Importante entendermos que o homem do passado via ciência, filosofia e espiritualidade como coisas integradas, assim, experiências físicas eram acompanhadas de rituais de magia, e crendo que a moralidade do alquimista interferia nelas. 
      Magia pode ser feita, isso não e superstição, e através de óticas espiritualistas diferentes, fenômenos físicos com interferência espiritual podem ocorrer pelo ocultismo, pelo esoterismo, pelo espiritismo, pela bruxaria, pela feitiçaria, pelo xamanismo. Que fique claro que é injusto e raso colocar todas essas óticas num mesmo nível. Também é sábio não demonizarmos o que não conhecemos, ainda que o cristianismo conservador tradicional tenha colocado muitas dessas óticas na caixinha do capeta. Mas quem estuda com seriedade, ainda que não saiba como ocorrem, sabe que muitos fenômenos ocorrem, não são truques de mágicos, delírios e alucinações de loucos, mas fatos reais realizados por magos, médiuns e outros.
      Ateus, céticos e materialistas, que não creem em coisas espirituais, só em físicas, assim como cristãos que creem que o que vai além de suas crenças é só mentira ou ato do diabo, acreditem, magia pode ser feita, não como poder da mente, mas por interação entre homens e seres espirituais. Dizer que é tudo demônio é desacreditar no próprio Espírito Santo, ao qual o cristianismo tradicional alia a espiritualidade legítima e autorizada por Deus. Muita coisa que cristãos provam é ação também de anjos, arcanjos e outros seres espirituais de luz, experiências registradas bastante na Bíblia. E o que cristãos chamam de milagres, não seriam “magia de Deus”, experimentadas, não através de palavras mágicas, mas pela fé no Cristo? 
      O kardecismo, que não crê em demônios e anjos eternos, mas em seres humanos existindo no outro plano desencarnados, com livre arbítrio e com os quais podemos nos comunicar, tem um entendimento. Para se fazer magia física deve-se entrar em contato com espíritos inferiores, contudo, como tais, são influências morais negativas para o médium. Já quem deseja orientações morais elevadas deve buscar espíritos superiores, que não se prestam a fenômenos físicos, e que podem ser denominados coletivamente de “Espírito Santo”. Usei o termo magia, que nesse texto generalizo para práticas semelhantes, mas com nomes diferentes em crenças diferentes, no lugar de mediunidade, termo mais adequado ao espiritismo.  
      A verdade é que muito que lemos em livros e assistimos em filmes, feiticeiras e bruxos adolescentes movendo objetos e manipulando os elementos, pode ser feito, mas depois de uma interação profunda entre seres humanos e seres espirituais (que pode envolver até terríveis rituais de sangue). Mas se entendermos que os espíritos ligados à matéria, e portanto disponíveis para fazerem magia no plano físico, são os inferiores ou os demônios, concluiremos que a magia possível vem do mal. Espírito Santo e seres espirituais de luz, anjos e outros, estão capacitados com virtudes morais, assim com a missão de orientar seres humanos a serem virtuosos e alcançarem o céu, não dar espetáculos sobrenaturais no mundo material.
      Por que são necessários rituais complicados, evocações determinadas, horários específicos, ambiente preparado, para que o mago faça contato com o mundo espiritual? Ainda que no evangelho original baste orar a Deus no nome de Jesus, a Igreja Católica desenvolveu liturgias e sacramentos para o cristão se relacionar com Deus: não seriam esses protocolos espécies de rituais mágicos? Algo que Deus tem me levado a entender é que a relação com ele pode ser o mais simples possível na forma, contanto que o conteúdo seja santo. Demônios são vaidosos e tradicionais, têm prazer em coisas complicadas e antigas, Deus por sua vez releva aparências e abençoa pela intenção simples do coração, independente da forma. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

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