14/09/23

Humildes até o fim

      “A soberba do homem o abaterá, mas a honra sustentará o humilde de espírito.” Provérbios 29.23

      Você já pensou que assim como uma pessoa te machuca, como usa palavras como facas que parecem acertar teu ponto mais frágil, te provocando e te desestabilizando, você também pode estar fazendo o mesmo com outras pessoas, às vezes com a mesma pessoa que tanto te provoca? Somos rápidos para nos pormos no lugar de oprimidos, mas lentos para assumirmos que somos opressores, de algum modo, dos outros. Temer a Deus é nos preocuparmos com a causa do outro como nos ocupamos com a nossa, ser humilde é amar o outro como a si, e isso ainda que o outro não tenha a elegância de nos respeitar, mas ferindo-nos quando pode. Quem serve o outro terá iluminados servos do Altíssimo servindo-lhe. 
      Já disse isso aqui, muitas vezes não nos damos ao trabalho de sermos pacientes e humildes com alguns porque achamos que esses simplesmente não merecem. Os vemos como pecadores reincidentes, como sujos, ociosos, perdedores, assim pensamos que não precisamos perder tempo usando palavras respeitosas e sendo humildes com eles, se os machucamos, pensamos, “eles merecem”. Mas a verdade é que ninguém sabe o quanto as pessoas lutam para serem melhores, o quando se humilham diante de Deus para mudarem, para vencerem tendências e vícios, ainda, que olhando-as do lado de fora, achemos que anos se passaram e elas em nada mudaram. Precisamos ser humildes com todos, ninguém merece nossa arrogância. 
      A razão de julgarmos errado, principalmente os errados, é usarmos como referência para julgá-los e condená-los nós mesmos, nossa reputação, nossa estabilidade, pensamos que se nós conseguimos, os outros também têm a obrigação de conseguir. Mas a existência não funciona assim, as capacidades que cada um recebe são diferentes, as lutas que cada um passa não são iguais, os desafios interiores que cada um guarda não são os mesmos, a vocação e a missão de cada ser humano são específicas e só Deus sabe e pode avaliar. Sejamos humildes com todos e até o fim de nossas jornadas no mundo, caminhemos nosso caminho e respeitemos a caminhada alheia, a eternidade dirá quem é o quê e onde pôde chegar com o que recebeu.  
      Tenho aprendido a repetir no Espírito algo para mim, principalmente quando saio de casa e preciso me relacionar com outros: seja humilde. Humildade não é assento, é Sol, que por mais que caminhemos em sua direção parece estar sempre longe. Se simplesmente aceitarmos que nunca o alcançaremos ficará ainda mais distante, mas se perseverarmos em nos aproximarmos dele o teremos dentro de nósFacilmente reagimos à vida com arrogância, assim, caminharmos em direção à humildade é trabalho que temos que insistir até o fim, convencendo não os outros, nem a Deus, mas a nós mesmos, que a cura para todos os males, que o consolo para todas as dores, assim como caminho para o Altíssimo, é a mais pura humildade. 
      O soberbo trabalha e trabalha e nunca tem, se esforça e nunca está satisfeito, cobra de si, do mundo, da vida, de Deus, da família, dos amigos, e nunca tem paz. Ele usa-se como referência, assim estabelece-se como seu deus, e o deus-ego é cruel, injusto, mesquinho, ganancioso, pede muito, nunca dando o suficiente, assim abate o soberbo a si mesmo. O humilde de espírito acha a honra e por ela é sustentado pois olha para o Altíssimo e faz dele seu Deus e sua referência. Deus é misericordioso, e quem recebe misericórdia também a dá, gratuita e generosamente, Deus é amor, e quem recebe amor o dá, graciosa e pacientemente. Felizes os humildes porque deles é o reino dos céus, e os mansos, porque herdarão a terra (Mateus 5.3, 5).

13/09/23

A honra de perdoar

      “Olha, ó Deus, escudo nosso, e contempla o rosto do teu ungido. Porque vale mais um dia nos teus átrios do que mil. Preferiria estar à porta da casa do meu Deus, a habitar nas tendas dos ímpios. Porque o Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão. Senhor dos Exércitos, bem-aventurado o homem que em ti põe a sua confiança.” Salmos 84.9-12

      Quem precisou de um perdão, às vezes esperado por décadas, quando se teve certeza que errou, que machucou pessoas, mas que ainda que tenha mudado com o tempo, que seja alguém melhor no presente, não pode modificar o passado, nem a mágoa legítima que muitos podem ter por ele, esse sabe do valor que há em ser perdoado. No momento em que rescrevo este texto, há minutos atrás, acabei de ter essa experiência, e preciso registrar aqui. Eu já havia pedido esse perdão, assim como já mudei há muito tempo, não sou mais aquele que errou, mas só hoje recebi o perdão maduro de um dos que feri. Meus queridos e minhas queridas, que me acompanham aqui, que peso quem me perdoou tirou de mim.
      A conversa que tive me fez acreditar um pouco mais no ser humano, Deus me mostrou que ainda há gente humilde no mundo, e pode ser preciso mais humildade para perdoar que para pedir perdão. O que recebeu o dano pode se esconder no lugar de vítima e não se rebaixar diante do que causou o dano, mas se o que foi prejudicado pode escolher perdoar e ser humilde, o que prejudicou tem a obrigação de ser humilde e de solicitar perdão. Só tenho sobre o que louvar a Deus, quão maravilhoso é, bem algum nega ao que o busca, e no meu caso não peço nada a ele, a não ser, cuidado para minha mulher e filhas e perdão pelo que errei no passado, ainda que mesmo assim o Senhor esteja dando a mim muito mais. 
      Você que errou, admita, para si, para Deus e depois aos homens, peça perdão, sem justificativas, com humildade, e depois aguarde em Deus. Não, o perdão dos homens muitas vezes não é imediato, às vezes demora anos, e nisso também há propósito divino. A demora do perdão nos faz levar a sério nossos erros, não cometê-los mais, mas principalmente experimentar uma paz que depende da aprovação de Deus, de mais ninguém. Não posso negar a realidade, há perdões que os homens não darão neste mundo, e neste caso mais ainda temos que confiar em Deus. Mas o que espera humilde poderá ser perdoado pelo homem ainda aqui, como providência divina nos entregando consolo que precisamos muito.  
      Entretanto, entendamos algo, perdoa quem foi perdoado, é perdoado quem errou, mas só erra quem vive e não se esconde, muitas vezes assumindo falsa moralidade que só disfarça covardia e orgulho. Portanto, não nos iludamos com certas pessoas, essas dificilmente nos perdoarão, pois elas mesmas não pedem perdão e nem se consideram necessitadas dele. Quanto a você que aprendeu o valor do perdão, perdoe, se possível tome a iniciativa para isso, não espere o que errou pedir perdão, esse pode estar humilhado demais, mas que ao ver tua atitude iluminada, tua palavra de amor, a dádiva graciosa de teu perdão, será consolado e fortificado. Há honra de Deus em pedir perdão, mas muito mais em dar perdão. 

José Osório de Souza, 25/03/2022

12/09/23

Quem enxerga melhor?

      “Pois tu, Senhor, és o Altíssimo sobre toda a terra; tu estás muito acima de todos os deuses.Salmos 97.9

      Quem enxerga melhor o horizonte: quem o vê de dentro de uma casa, por uma janela, ou quem está sob um alto monte olhando tudo sem impedimentos? Ambos veem a mesma coisa, olham verdadeiramente o horizonte, não há mentira em nenhuma das visões, contudo, o que está dentro da casa enxerga só uma pequena parte do horizonte. Esse, se alguém mostrar-lhe uma fotografia com uma parte diferente da que ele enxerga, poderá dizer que a imagem não é do horizonte. Por outro lado, o que olha tudo sob o monte poderá não dar valor a uma parte específica do horizonte, que pode ser justamente a parte principal, e justamente a única parte que enxerga o que está na casa com a visão delimitada pela janela. 
      A casa é o cristianismo, a janela é o que as religiões cristãs permitem que se veja de Deus, Deus é o horizonte, o que se vê pela janela é Jesus. Há mais a se ver além de Jesus? Há. Verá quem sair da casa, mas para o que sai, um cuidado, não se perca com o todo e não se afaste do principal. Por outro lado, o que fica na casa está protegido e acompanhado, mas atenção, apesar de ver o principal, não vê tudo, assim seja humilde e não arrogue saber tudo. Há outras casas, essas também possuem janelas, que permitem ver outras partes do mesmo horizonte, e ainda que não seja o principal, também está em Deus e é verdade. Não arrogue, quem está nessas casas, ter visão mais privilegiada que o que está nas outras casas. 
      Deus é criador e Senhor do horizonte, das casas e das janelas, dos que olham o horizonte e mesmo dos que estão fora das casas e só olham o chão. Esses são céticos e materialistas que não creem em Deus nem no mundo espiritual, que por não estarem presos em casas arrogam ser livres, com visões mais amplas e não limitadas por janelas, mas eles estão presos à terra e não olham para o alto. Obviamente que o que está fora de uma casa e olhando o chão conhece mais o chão que os que estão nas casas, por isso o descrente pode usar melhor a ciência que o crente. Mas o que ambos podem não saber é que a ciência da terra também é obra do Deus do céu, assim não deve ser ídolo para o incrédulo, nem diabo para o crédulo. 
      Deus nos chama para entrar nas casas, termos comunhão com aqueles que focam suas visões nas janelas, mas depois nos convida a sair desses locais e olharmos tudo, chão e principalmente o horizonte. Deus nos chama para sermos sábios na ciência da terra e profundos conhecedores dos mistérios do céu. Deus nos chama para vasculhar o universo interior, conhecendo-nos e transformando-nos, à medida que conhecemos o mundo material e o plano espiritual. Deus nos chama para a liberdade maior, de matéria e espírito, de corpo e alma, na terra e no céu, dominando os elementos, mas antes dominando a nós mesmos, dando prioridade para as virtudes morais que levaremos à eternidade espiritual. 

11/09/23

Será que é só isso?

      “Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. I Coríntios 2.9-10

      Não tome esta reflexão como um ataque a tua fé, aliás, não permita que nada abale tua fé em Deus, que te trouxe até aqui em paz e em vitória. Contudo, todos temos o direito de questionar nossa religião, de pensarmos mais sobre o que cremos, de não aceitarmos doutrinas religiosas como dogmas irrefutáveis. Não é porque a religião fala, que Deus fala. Não é pecado duvidarmos, se fizermos isso num diálogo sincero e humilde com Deus, confiante na palavra final de Deus, não do homem. Muitos ouvem em silêncio o que é dito em igrejas, mas têm medo de admitir que em seus corações duvidam. Deus respeita isso, mas está pronto para esclarecer as dúvidas daqueles que têm coragem de dialogar com ele até a última instância. 
      Será que as certezas que temos sobre Deus e o mundo espiritual, baseadas na religião que escolhemos ter, de fato conhecem as verdades mais altas de Deus? Será que o cânone sagrado de nossa religião, Bíblia e outros textos, está absolutamente certo, é cem por cento palavra pura do Altíssimo? Será que nos alimentarmos daquilo que cremos ser os bons frutos do cristianismo do mundo, sim, porque nosso cristianismo não é o puro de Deus, é construção humana deste mundo, será que isso compensa fecharmos os olhos para os frutos ruins que esse mesmo cristianismo deu e ainda dá, frutos que tanto mal causaram e ainda causam à humanidade? Frutos ruins como a inquisição, perseguição à ciência, frutos que geraram opressão por séculos? 
      O dogma principal do cristianismo do mundo, e sempre identifico assim, do mundo, diferenciando do verdadeiro cristianismo, do Cristo que viveu como homem, que hoje existe com Deus e que nos enviou o Espírito Santo para nos orientar, enfim, a doutrina fundamental desse cristianismo é: há coisas que são de Deus, e as que não são de Deus são do diabo. Essa dicotomia simplifica tudo em dois lados, não havendo variações entre eles, só dois polos extremos. No catolicismo, para surpresa dos desinformados, depois de séculos de encíclicas, concílios e discussões teológicas, até pode haver nuanças, mas a reforma protestante, que desejou restabelecer o cristianismo radical, na verdade fundou uma seita cristã mais extremista. 
      Um exemplo dessas variações é o conceito católico do purgatório, lugar intermediário na eternidade, entre o inferno e o céu, onde espíritos de mortos ficam, sem sofrerem danação eterna, do qual podem sair para os gozos do céu após um tempo de preparação e com auxílio da intercessão dos vivos. O protestantismo não contempla essa possibilidade intermediária, mas só os extremos absolutos. Outro exemplo é a intermediação entre homens e Deus que pode ser feita por espíritos de mortos santificados e beatificados pela Igreja Católica na Terra, no protestantismo a intermediação é exclusiva do Cristo. Sob esse aspecto Igreja Católica está mais próxima ao espiritismo kardecista que está o protestantismo. 
      Baseados em “se não é de Deus é do diabo”, muitas coisas são simplesmente desconsideradas, nem se dão ao trabalho de pensarem mais a respeito, afinal, muitos não querem ir contra Deus, pois ficariam ao lado do diabo, muitos querem a certeza do céu, pois de outra forma estariam condenados ao inferno. Com relação a dons espirituais e intimidade com o Espírito Santo, muitos, principalmente da linha protestante tradicional, presbiterianos, metodistas, batistas, por exemplo, logicamente, não “avivados”, nem isso querem, não se arriscam com a subjetividade de palavras reveladas, preferem o conforto sólido e confiável, conforme ela acham que é, da palavra registrada e aprovada pela tradição e pelos séculos na Bíblia. 
      Até que ponto anjos, seres espirituais, na forma pura ou humana, experiências relatadas na Bíblia em textos como Genesis 18.1-3, Genesis 32.24-30, Ezequiel 1.4-8, Daniel 8.15-16, 10.5-13, Lucas 1.11-19, dentre outros, são de fato seres de extrema e eterna espiritualidade, moralidade e luz, ou são espíritos de mortos iluminados que se tornaram servos do Altíssimo após morte no mundo? Não estou defendendo aqui certas mediunidades exercidas por kardecistas, afro-espíritas e outros religiosos, não acho isso seguro e mesmo útil. Minha fé me permite aceitar só o Espírito Santo enviado por Jesus para termos intimidade espiritual maior com Deus. A verdade é que precisamos buscar mais, ao invés de taxarmos as coisas como “de Deus” ou “do diabo”. 
      Essa crença dicotômica cerceia pelo medo, isso foi e ainda é útil para afastar de coisas preciosas quem não está preparado para elas. Mas será que é só isso? Até que ponto há conhecimentos guardados por papas, hierarquias eclesiásticas e teólogos, que esses sabem que são verdadeiros, mas que não liberam para as massas por acharem perigosos demais? Tais conhecimentos poderiam levar muitos a se afastarem da Igreja Romana, pondo em risco o poder que líderes católicos possuem sobre grande parte da humanidade. Não duvido disso, a liderança católica é bem versada em muitos assuntos, não são pastores ignorantes confiantes só no próprio carisma, tem séculos de know-how trancafiado em salas secretas do Vaticano.

10/09/23

Simão, o mago (2/2)

      “Havia naquela cidade um homem chamado Simão, que praticava artes mágicas e deixava o povo de Samaria admirado. Dizia ser alguém muito importante” “O próprio Simão abraçou a fé e, tendo sido batizado, acompanhava Filipe de perto, observando extasiado os sinais e grandes milagres praticados.” Atos 8.9, 13 (leia no final a passagem bíblica sobre Simão o mago na íntegra)
 
      Magia, no sentido de algo acontecer ou ser provocado por nada, não existe, tudo tem uma causa, ainda que seja de origem invisível, inaudível e intocável por órgãos e membros humanos físicos e por ferramentas e aparelhos. Dizer “isso acontece como mágica”, no sentido que aparece no ar, não procede, sempre há alguma manifestação científica ou truque físico envolvidos. Mas se considerarmos o plano espiritual e nossos espíritos meios e seres que existem, ainda que a ciência hoje não comprove, entenderemos que esses podem provocar muita coisa no plano material. Interessante que até há alguns séculos não se acreditava em vírus e bactérias porque não podiam ser vistos a olhos nus, ainda que provocassem doenças constatáveis.
      Você que não crê em magia ou que crê que ela não é permitida por Deus, o que acha que ocorre quando se ora ou se reza a Deus, com o coração cheio de convicção emocional e com a mente visualizando o que se deseja receber, seja em nome do Cristo, de Maria ou de algum santo? Fé é gerada e movimentada. Foi essa fé que permitiu a Jesus homem e aos apóstolos realizarem milagres e maravilhas no primeiro século. Quem pode dizer que fé não seja algum tipo de energia, que interagindo com Deus de alguma forma atua no mundo material, curando enfermos, influenciando pessoas, manifestando no plano físico a dádiva que o crente pediu a Deus? Há poder na fé, há magia nela, há mistério que atua na matéria e no espírito.
      Magia pode ser feita, vimos isso na postagem anterior, mas o que faz um mago vir ao evangelho, como foi o caso de Simão no livro de Atos? A resposta é uma só, ainda que interação com o plano espiritual seja possível, abra muitas possibilidades e não represente só mentiras de demônios, só Jesus abre caminho direto para o perdão do Deus Altíssimo, que entrega paz e cura o homem, para que esse possa praticar obras de vida eterna. Muitos conhecem espíritos, mas se esquecem do Santo Espírito, outros acham conhecimento sobre mistérios por guias, mas se afastam do mestre Jesus. Nos conectarmos a Deus diretamente pelo Cristo, sem outros intermediários, é experiência exclusiva, completa e transformadora. 
      Interessante que Simão parece ter se convertido a princípio, mas pelo que ele mostra depois, parece que só estava encantado pelo mesmo assunto que o conduziu à magia, fenômenos sobrenaturais. Parece que ele não teve uma experiência pura com o Altíssimo, só achou ter achado uma ferramenta mais eficiente para suas intenções místicas. Se ele experimentava magia, talvez em espíritos, reconheceu que o Espírito sobre Filipe, Pedro e João fazia magia maior, por isso ficou com os cristãos, ele não queria servir, queria ser servido. Penso que Simão se convenceu racional e equivocadamente, mas sem ainda ter recebido o Espírito Santo continuou cego espiritualmente. Sua ganância, contudo, o delatou quando quis comprar os dons.
      “Quando Simão viu que, pelo fato de os apóstolos imporem as mãos, era concedido o Espírito Santo, ofereceu-lhes dinheiro, dizendo: — Deem também a mim este poder, para que a pessoa sobre a qual eu impuser as mãos receba o Espírito Santo. Mas Pedro respondeu: — Que o seu dinheiro seja destruído junto com você, pois você pensou que com ele poderia adquirir o dom de Deus!” (Atos 8.18-20) Muitos podem ler isso e achar que é uma exortação só para bruxos e médiuns, não é, também exorta muitos que se apresentam como pastores e tentam vender o evangelho, usando dons para manipular as pessoas. A espiritualidade mais alta não se vende e não se compra, é dada graciosamente ao que quer glorificar a Deus.
      Penso que havia verdade em Simão, um homem que conhecia magia pôde reconhecer nos líderes cristãos uma espiritualidade mais alta, ele só demorou um pouco para entender a si mesmo, que sua necessidade maior não era ter acesso ao “espírito” mais poderoso para ter “o Grande Poder”. Simão precisava de virtudes morais, essas são os dons mais preciosos que Deus quer dar ao homem, mais que conhecimento do mundo espiritual e possível uso desse para experimentar maravilhas. Muitos conhecem mistérios espirituais, mais que católicos, protestantes e evangélicos conhecem, mas deveriam ser menos conduzidos pela curiosidade corajosa, e mais por um amor puro a Deus, que quer servi-lo, não tentar usá-lo.
      “Peço que vocês orem ao Senhor por mim, para que não me sobrevenha nada do que vocês disseram” (Atos 8.24b), parece que no final Simão reconheceu que precisava de ajuda, que não estava entendendo direito as coisas. Pelo texto bíblico compreendemos que ele não se atreveu nem a orar por si, pediu que os líderes cristãos intercedessem por ele. Simão acreditava, na verdade sempre acreditou, mesmo antes de conhecer o evangelho. Enquanto algumas pessoas são céticas por natureza, outras parece que nascem crentes, não têm qualquer dificuldade para contemplarem o mundo espiritual. Mas ter informações espirituais não significa ter moralidade prática, era isso que Simão precisava entender, no final parece que entendeu.
      Não penso que judaísmo, catolicismo e protestantismo proíbam certas coisas porque não podem ser feitas, mas porque não são convenientes. Podem ser perigosas e não mostram às pessoas comuns o plano mais alto de Deus de forma direta, salvação por Jesus. Mas dons do Espírito Santo não são intimidades espirituais que todos experimentam, ainda que sejam orientados na Bíblia a todos os cristãos. Por outro lado, generalizar como diabólico todo evento espiritual fora do que o cristianismo conservador legitima como aprovado por Deus, não é o mais adequado. A verdade é que há mistérios que grande parte dos cristãos não sabe, assim, tenhamos cuidado para considerá-los, com temor a Deus, mas com mente aberta.

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

—————#—————

      “Havia naquela cidade um homem chamado Simão, que praticava artes mágicas e deixava o povo de Samaria admirado. Dizia ser alguém muito importante, e todos lhe davam ouvidos, do menor ao maior, dizendo: — Este homem é o poder de Deus, chamado "o Grande Poder". Davam atenção a ele porque durante muito tempo os havia impressionado com as suas artes mágicas. Quando, porém, deram crédito a Filipe, que os evangelizava a respeito do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, iam sendo batizados, tanto homens como mulheres. O próprio Simão abraçou a fé e, tendo sido batizado, acompanhava Filipe de perto, observando extasiado os sinais e grandes milagres praticados. Quando os apóstolos, que estavam em Jerusalém, ouviram que o povo de Samaria tinha recebido a palavra de Deus, enviaram-lhes Pedro e João. Chegando ali, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo, pois o Espírito ainda não havia descido sobre nenhum deles. Tinham apenas sido batizados em nome do Senhor Jesus. 
      Então lhes impuseram as mãos, e eles receberam o Espírito Santo. Quando Simão viu que, pelo fato de os apóstolos imporem as mãos, era concedido o Espírito Santo, ofereceu-lhes dinheiro, dizendo: — Deem também a mim este poder, para que a pessoa sobre a qual eu impuser as mãos receba o Espírito Santo. Mas Pedro respondeu: — Que o seu dinheiro seja destruído junto com você, pois você pensou que com ele poderia adquirir o dom de Deus! Não existe porção nem parte para você neste ministério, porque o seu coração não é reto diante de Deus. Portanto, arrependa-se desse mal e ore ao Senhor. Talvez ele o perdoe por esse intento do seu coração. Pois vejo que você está cheio de inveja e preso em sua maldade. Simão disse aos apóstolos: — Peço que vocês orem ao Senhor por mim, para que não me sobrevenha nada do que vocês disseram.
Atos 8.9-24

09/09/23

Mágica e magia (1/2)

      “Então os discípulos se aproximaram de Jesus e lhe perguntaram: — Por que o senhor fala com eles por meio de parábolas? Ao que Jesus respondeu: — Porque a vocês é dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas àqueles isso não é concedido.Mateus 13.10-11

      A palavra “mágica”, sinônimo de ilusionismo ou prestidigitação, significa criação de ilusão por meio de truques e artifícios. Já “magia” significa “arte, ciência ou prática baseada na crença de ser possível influenciar o curso dos acontecimentos e produzir efeitos não naturais, valendo-se da intervenção de seres fantásticos e da manipulação de algum princípio oculto supostamente presente na natureza, seja por meio de fórmulas rituais ou de ações simbólicas”. Mágica são truques realizados pelo “mágico” no mundo material com finalidade de entretenimento. Magia são fenômenos produzidos pelo plano espiritual no plano fisico, ou nos planos físico e espiritual interagindo o “mago” no plano físico com seres espirituais. 
      Alguns creem na existência de poderes da mente, acreditam que um ser humano usando uma habilidade natural, através de concentração e outros meios, pode, por exemplo, se comunicar com a mente de outros seres, influencia-los, mover objetos, produzir sons ou provocar outros efeitos físicos. Outros acreditam, e eu sou um com essa opinião, que não existem poderes mentais puros, penso que se fenômenos paranormais podem ser feitos, sejam entre seres humanos, ou entre seres humanos e objetos ou espíritos, é por interação do ser no plano físico com seres espirituais, há uma ação híbrida de forças. Sem essa interação só podem ser feitos fenômenos físicos naturais, que podem ser explicados pela ciência atual e não são magia.
      Identificar o puramente físico de espiritual e físico integrados, é entender o que é ciência, o que é mágica, que nada mais é que ciência usada para entreter, e o que é magia. Muitos fenômenos científicos, que crianças fazem hoje, eram considerados magia feita pela alquimia séculos atrás. Por outro lado, fenômenos de magia, que deixaram de ser ocultos a partir do século dezenove, talvez sejam considerados ciência no futuro. Já ciência é usada até hoje como truques por mágicos. Importante entendermos que o homem do passado via ciência, filosofia e espiritualidade como coisas integradas, assim, experiências físicas eram acompanhadas de rituais de magia, e crendo que a moralidade do alquimista interferia nelas. 
      Magia pode ser feita, isso não e superstição, e através de óticas espiritualistas diferentes, fenômenos físicos com interferência espiritual podem ocorrer pelo ocultismo, pelo esoterismo, pelo espiritismo, pela bruxaria, pela feitiçaria, pelo xamanismo. Que fique claro que é injusto e raso colocar todas essas óticas num mesmo nível. Também é sábio não demonizarmos o que não conhecemos, ainda que o cristianismo conservador tradicional tenha colocado muitas dessas óticas na caixinha do capeta. Mas quem estuda com seriedade, ainda que não saiba como ocorrem, sabe que muitos fenômenos ocorrem, não são truques de mágicos, delírios e alucinações de loucos, mas fatos reais realizados por magos, médiuns e outros.
      Ateus, céticos e materialistas, que não creem em coisas espirituais, só em físicas, assim como cristãos que creem que o que vai além de suas crenças é só mentira ou ato do diabo, acreditem, magia pode ser feita, não como poder da mente, mas por interação entre homens e seres espirituais. Dizer que é tudo demônio é desacreditar no próprio Espírito Santo, ao qual o cristianismo tradicional alia a espiritualidade legítima e autorizada por Deus. Muita coisa que cristãos provam é ação também de anjos, arcanjos e outros seres espirituais de luz, experiências registradas bastante na Bíblia. E o que cristãos chamam de milagres, não seriam “magia de Deus”, experimentadas, não através de palavras mágicas, mas pela fé no Cristo? 
      O kardecismo, que não crê em demônios e anjos eternos, mas em seres humanos existindo no outro plano desencarnados, com livre arbítrio e com os quais podemos nos comunicar, tem um entendimento. Para se fazer magia física deve-se entrar em contato com espíritos inferiores, contudo, como tais, são influências morais negativas para o médium. Já quem deseja orientações morais elevadas deve buscar espíritos superiores, que não se prestam a fenômenos físicos, e que podem ser denominados coletivamente de “Espírito Santo”. Usei o termo magia, que nesse texto generalizo para práticas semelhantes, mas com nomes diferentes em crenças diferentes, no lugar de mediunidade, termo mais adequado ao espiritismo.  
      A verdade é que muito que lemos em livros e assistimos em filmes, feiticeiras e bruxos adolescentes movendo objetos e manipulando os elementos, pode ser feito, mas depois de uma interação profunda entre seres humanos e seres espirituais (que pode envolver até terríveis rituais de sangue). Mas se entendermos que os espíritos ligados à matéria, e portanto disponíveis para fazerem magia no plano físico, são os inferiores ou os demônios, concluiremos que a magia possível vem do mal. Espírito Santo e seres espirituais de luz, anjos e outros, estão capacitados com virtudes morais, assim com a missão de orientar seres humanos a serem virtuosos e alcançarem o céu, não dar espetáculos sobrenaturais no mundo material.
      Por que são necessários rituais complicados, evocações determinadas, horários específicos, ambiente preparado, para que o mago faça contato com o mundo espiritual? Ainda que no evangelho original baste orar a Deus no nome de Jesus, a Igreja Católica desenvolveu liturgias e sacramentos para o cristão se relacionar com Deus: não seriam esses protocolos espécies de rituais mágicos? Algo que Deus tem me levado a entender é que a relação com ele pode ser o mais simples possível na forma, contanto que o conteúdo seja santo. Demônios são vaidosos e tradicionais, têm prazer em coisas complicadas e antigas, Deus por sua vez releva aparências e abençoa pela intenção simples do coração, independente da forma. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

08/09/23

Atenção aos sinais

      “Jesus disse ainda às multidões: — Quando vocês veem uma nuvem subindo no oeste, logo dizem que vai chover, e assim acontece. E, quando notam que sopra o vento sul, dizem que fará calor, e assim acontece. Hipócritas! Vocês sabem interpretar a aparência da terra e do céu, mas não sabem discernir esta época?Lucas 12.54-56

      Tenho usado com frequência o termo mistério, de fato há muitas coisas que não sabemos, sobre vários aspectos da existência, do planeta Terra, de nossos corpos, mas muito mais sobre o plano espiritual. Mistérios espirituais, contudo, o são por dois motivos, em primeiro lugar para proteger coisas preciosas, santíssimas, de despreparados e não merecedores, como temos refletido aqui. Contudo, há um segundo motivo de muitas vezes não entendermos mistérios: displicência. A verdade pode estar na nossa cara, mas nós não vemos, ou negamos que estamos vendo, afinal, alguns mistérios podem pedir que abramos mãos de dogmas religiosos nos quais estamos confortavelmente conformados. (Conformar: tomar a forma de algo). 
      Deus não esconde as coisas como nós homens escondemos, por vaidade e insegurança, para nos exaltarmos sobre os outros ou manipulá-los. Há um antagonismo no ser humano, enquanto seu espírito é água, seu corpo é aquário, que não só prende a água, mas congela-a, roubando dela a liberdade, uma de suas importantes características. Ainda que nossos homens interiores não queiram, nossa existência no mundo gosta de ser formatada, usando formas que grupos sociais aprovam em tradições. Isso nos dá um sentimento de pertencimento a algo maior que nós, que faz com que nos sintamos protegidos e abrigados num mundo com coisas desconhecidas e imprevisíveis. Gelo ainda é agua, mas fora de seu melhor estado. 
      Nem água, nem gelo, após a morte Deus nos transformará em ar, que flutua e se eleva, acima da terra dos homens, então, conheceremos como somos conhecidos. De novo, perdoe-me as simbologias, mas se não podemos ser ar no mundo, também não precisamos ser gelo na forma, ainda que como água possamos estar em formas, mas sem deixarmos que nos congelem. Só na liberdade do Espírito Santo podemos ver e entender os sinais para então vivermos a verdade. Os sinais dos tempos são claros, por eles podemos entender que coisas estão próximas de ocorrerem, ainda que não devamos ser paranoicos, achando que certas coisas ocorrerão dramaticamente e desobedecendo leis naturais que Deus estabeleceu. 
      O ponto desta reflexão, contudo, não são sinais para acontecimentos do coletivo, como o fim dos tempos, me refiro desta vez a sinais para nossas vidas pessoais. Quem anda no Espírito é avisado por Deus, creio nisso, principalmente sobre eventos decisivos, mesmo que não tenha experiência com manifestação de dons espirituais, que seja um protestante mais racional. Uso com frequência o termo manifestação junto de dons espirituais, isso porque creio que todo o que tem o selo do Espírito Santo possui dons, mas que podem não ter sido manifestados por alguma trava emocional. Por isso a questão não é o cristão ter ou não dons, mas eles já terem sido manifestados ou não, isso tem a ver com o emocional, não com o espiritual.
      O maduro teve tempo de avaliar escolhas e tempo, entendeu que para toda ação há proporcional reação, sabe que nada ocorre sem antes dar aviso. Cego é o ateu, que por não poder provar cientificamente ou por odiar tudo que se diz representante de Deus, legitimamente ou não, nega-se a usar as ferramentas espirituais que Deus dá a todos. Esse também recebe sinais, Deus não faz acepção de pessoas, mas não dá importância a eles até que a vida lhe ponha numa situação onde o materialismo não pode ajudá-lo, só a fé no espiritual pode. Que sinais a vida tem dado-lhe? Nuvens podem ter coberto o céu, trovões podem estar soando, relâmpagos acontecendo, ainda assim você não se prepara para o temporal que se aproxima no horizonte.
      “De um só homem fez todas as nações para habitarem sobre a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem Deus se, porventura, tateando, o possam achar, ainda que não esteja longe de cada um de nós; pois nele vivemos, nos movemos e existimos, como alguns dos poetas de vocês disseram: "Porque dele também somos geração"” (Atos 17.26-28). Deus é tão real quanto o Sol, aliás, mais real que o Sol, pois existia antes desse e continuará existindo depois que esse se apagar. Quantas provas irrefutáveis já tive da abençoadora presença de Deus, sempre me dando esperança e me livrando. Esse Deus real sempre me avisa sobre a vida e a morte, a tempo de me preparar. 
      “Jesus, porém, disse: Até vós mesmos estais ainda sem entender?” (Mateus 15:16), que os da luz não estejam em trevas, cegados pelas tradições religiosas, por egos moralistas, mas sem a genuína humildade, que não se conformem com o mundo fora dos templos, nem com o mundo dentro de templos. Não e fácil não se deixar congelar em formas, bancos de templos são confortáveis, ficamos lá participando de liturgias legitimadas por décadas, crendo que estamos baseados em crenças do evangelho original, assim fundamentados na verdade maior de Deus. Mas quanto a nossos homens interiores, estão libertos do pecado, têm paz, conseguem pôr em prática o que dizemos crer? Ou são apenas pedras de gelo que não veem os sinais?